Subindo à pé pela Serra da Bocaina
Serra da Bocaina e Parque Nacional da Serra da Bocaina, São José do Barreiro
Trekking CampingQuando você chama uma galera para curtir o mesmo nipe de uma aventura é uma coisa. Mas quando decide ir sozinho é outra coisa. O panorama muda, sua história muda e cada passo alcançando também muda. Eu descobri isso, pois raramente faço uma aventura em grupo. O máximo um amigo ou dois ou somente eu e minha mochila nas costas desbravando o desconhecido. Essa é mais uma história contada por um caminhante solitário.
Era uma obsessão fazer essa trilha, queria de qualquer jeito e maneiras, que nem eu acreditava em fazer. Apenas decidi fazer-la. Logico que estudei todos os movimentos do xadres, e a logística do traking logo foi montado. Como eu gosto de coisas difíceis, resolvi comesar pelo improvavel.
Do terminal Tietê fui direto ao terminal rodoviário de Guaratinguetá. Até aí uma maravilha, a viagem foi rápida e não cansativa, e fui direto para o guiche comprar a passagem para São José do Barreiro, que era o meu destino inicial da trilha, ou quase inicial. O próximo ônibu até São José era 5:40 da tarde, e eu tinha chegado em Guaratingutá 11:30 da manhã. Foi uma longa espera até o embarque para o destino. O que fazer agora? Bom pensei, vou até a catedral da Basílica de Aparecida, que é bem próximo e voltar, andar pelo shopping e voltar. O que que um judeu como eu ia fazer nessa ocasião? Se converter é lógico. Fui até a catedral com mochila e tudo, entrei, rezei e voltei para o terminal rodoviário de Guaratinguetá uma hora antes do embarque para São José do Barreiro. Comi e bebi alguma coisa na rodoviária da cidade.
Bom, embarquei no horário e só chequei em São José do Barreiro ás 8:30 da noite. São três horas de viagem. Procurei uma pousada, pois a caminhada ia começar no outro dia. Mas como a noite é apenas uma criança, resolvi explorar essa cidadezinha bucólica, que carrega um mistério incrível. Só eles sabem. Mas eu era apenas um viajante, forasteiro naquela cidade. Resolvi parar em um dos poucos bares que estavam abertos neste final de semana para comer e beber lógico. Bem em frente á praça principal, comecei a pesquisar o costume noturno da cidade. Fiquei por algumas horas observando.
Depois caminhei pelas ruas hitóricas da cidade até me deparar com uma rua e um escadão enorme, que sem saber que me levava para o cemitério dos escravos, li a placa depois. Como não ando sem minhas lanternas na pochete, resolvi explorar esse tão famoso cemitério...a noite.
Bom, a noite foi longa e produtiva. Fiz vídeos para o meu canal do cemitério abandonado à noite, depois de pular um muro baixo em rua sem saída. Voltei à pousada da dona Maria tarde da noite e dormi para levantar bem cedo e pegar o rumo do Parque Nacional da Serra da Bocaina, que fica à 27 km da cidade, bem em cima da Serra da Bocaina, por uma estrada longa que serpenteia toda a serra. Para encurtar o relato tive que fazer duas pernoites na estrada sem fim. Ora em um pasto, que não tinha nem um animal por perto, ora em algum lugar qualquer, que conseguia montar acampamento, que nessa área era muito difícil encontrar algum lugar apropriado. A minha mochila estava pesada, com mantimentos para 5 dias, para a travessia do parque. Não foi fácil subir toda essa colina íngreme. Por outro lado prazerosa, em fazer parte daquele ambiênte natural e belo, que só poderia ser deslumbrado à pé.
Normalmente os aventureiros que fazem o Parque Naciona da Serra da Bocaina, sobem a árdua colina de carro alugado, e bem caro pelo aluguel. Quando se está em grupo tudo se torna mais fácil. Mas estava só, e resolvi subir pela forma mais difícil e prazerosa ao mesmo tempo.
Água é que não falta pelo percurso da serra. Sempre você encontra uma geladinha descendo pelos cantos da estrada. Estava chegando no km 7, confesso que já estava esgotado, cansado e deslumbrado. É uma mistura de sentimentos engraçados, que é difícil explicar. Parei um pouco para descançar próximo de uma nascente, comi alguns biscoitos e olhando para essa estrada sem fim, onde que ainda tinha que caminhar. E bem distante onde estava, percebi que vinha um vulto de um animal descendo a estrada e logo depois vi que era um cachorro. Era uma cadela, que logo se aproximou de mim e já me fez um amigo. Dei alguns biscoitos para ela, que devorou em segundos. O engraçado é que não havia nem um sítio por perto naquele ponto da estrada, que significa que ela vinha de muito longe, sei lá da onde.
A única coisa que sabia naquele momento, é que ela seria minha companheira de trilha. Dito e feito. comecei a subir a estrada e ela logo se propôs a me acompanhar, e resolvi chama-la de Seven. Como era inverno e as noites na serra eram muito frias, coloquei a Seven dentro da minha barraca, que logo se acomodou em um canto.
E a longa subida não dava trégua, parecia que ela estava rindo da minha cara, com um forte som de gargalhada que vinha em um dos lados da estrada. Que nada erão os pássaros rindo de mim.
Quando você faz uma travessia sozinho, todos seus pensamentos se dispersam de uma maneira que te faz se sentir só no mundo. É aí que você começa conversar com sigo mesmo. Eu conversava muito com a Seven, ora em inglês, italiano, françês e até hebraico e soltava a minha voz ouvindo Creed no meu headfone. Coitada ela teve que aturar isso.

Eu e a Seven estavamos cheganto no km 25 quando havia uma pousada e algumas casas ao lado e lógico alguns cachorros que vinham ao nosso lado abanando o rabo, e a Seven também recontribuiu com alegria. Foi neste momento que percebi que a nossa despedida estava próxima e que alí era a casa dela, os amigos dela e que não nos veríamos mais. Ela parou, olhou para mim, como que estivesse me agradecendo e saiu correndo com seus amigos para o fundo de uma casa. Confesso que deixei cair algumas lágrimas dos meus olhos, mas dado alguns passos pela estrada, não consegui mais e desabei. Uma forte sensação de abandono e solidão invadiu todo o meu ser. Parei, respirei e continuei a minha jornada, coloquei meu headfone e comecei a cantar freneticamente. Estava muito feliz naquela hora, pois eu estava quase conseguindo completar a primeira e árdua parte do meu objetivo. As boas coisa vem e vão e virão outras e mais outras em nossas vidas. Novas conquistas, sonhos e muito aprendizado é o que faz crescer um ser humano, apto à encarar as piores decepções da vida e com coragem e bravura.
Chegando ao Parque percebi que minha mochila estava mais pesada de quando eu comecei a minha longa caminhada. Lá dentro havia uma caixa, e quando eu abri encontrei todos os meus aprendizados que havia tido durante toda a minha jornada, a minha coragem lá estava também, meus desejos, sonhos, em fim toda a minha felicidade, pois sabia que era apenas o começo de mais uma longa jornada que teria que conquistar.
Este é um singelo relado de um caminhante solitário perdido pela Serra da Bocaina.












