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Trilhas Perdidas 18/10/2016 22:46
    Cachoeiras do Constantino

    Cachoeiras do Constantino

    Os estudos e as expedições que aos poucos descortinaram as lindas e estranhas paisagens interioranas do estado de Goiás.

    Quando encontrei nas imagens de satélite aquela formação brutalmente linda e perdida no interior de Goiás, confesso que os pulmões falharam por alguns instantes. Eram três quedas altas, uma após a outra, jorrando água em poços levemente azulados. Tudo envolto de uma boa porção de mata ciliar. Era uma noite calorenta de quarta-feira e depois de ver aquilo, fiquei horas sem dormir.

    Um breve resumo sobre a região. Ela fica no município de Niquelândia, mas muito longe de lá. Não há cidades grandes num raio de muitos quilômetros. A região é irregular: morros e chapadões dos mais variados formatos formam-se ali. Junte isso à quantidade de rios e córregos da região e terá um composição perfeita para a existência de cachoeiras e belos cenários. Especificamente, as cachoeiras que eu vira nas imagens ficavam num rio chamado Marrecas, mas que com o tempo convencionamos chamar de Constantino. São 7 cachoeiras num intervalo de poucos quilômetros de rio.

    Algumas semanas se passaram até que a primeira expedição fosse montada. Reunimos 5 pessoas para conhecer o que era possível em apenas 2 dias. Foram 400km de carro, ida e volta. Uma longa estrada no interior de Goiás. Quando chegamos na fazenda base vimos uma lavoura de médio porte. Fomos bem recebidos. Perguntamos sobre as enormes cachoeiras que não estariam tão longe dali e descobrimos que elas ainda não tinham nome.

    Tão logo começamos a caminhada, notamos a existência de uma trilha. Relativamente batida, ela ía descendo a serra num cerrado esparso. Em cerca de 40 minutos, já estávamos no leito do rio. Não muito distante dali encontramos uma tapera: um pequena casa de pau a pique. Lá estava uma família e o Sr. Constantino. Eram os donos daquela região. A tapera era só uma posto avançado para acessar as cachoeiras. Conversa vai, conversa vem, perguntamos o nome do rio. Constantino, esse era o nome, segundo o próprio Constantino. Pois bem, justo!

    Depois de uma breve despedida, partimos para chegar no alto das cachoeiras, que naquele momento já chamávamos de Cachoeiras do Constantino (no plural, porque são três quedas consecutivas). Passamos por 2 cachoeiras menores, mas com poços gigantes e águas verdíssimas. A segunda, com as encostas infestadas de tiriricas, era levemente mais difícil de descer. Foram 45 minutos andando no leito do rio para chegar no topo da primeira queda das Cachoeiras do Constantino. A água caía com força. Tudo muito alto, muito lindo. Mas como já suspeitávamos, o acesso à cachoeira do meio - a maior, com quase 90 metros - era impossível sem técnicas verticais (e a propósito, uma equipe de canionismo já tinha grampeado o lugar).

    Na primeira expedição conhecemos pouco da região que, advinha, viemos a chamar de Região do Constantino. A segunda não foi diferente, mas fomos por outro caminho, tentando acessar por terra as laterais das Cachoeiras. Dias quentes aqueles da segunda expedição. Chegamos a visitar uma cachoeira nova no caminho - Buraco da Selva, na imagem abaixo - mas ela tinha pouca água. Já nas proximidades do Rio Constantino, parte da equipe tentou descer por uma grota seca para ver a possibilidade de acesso às Cachoeiras principais, mas não tiveram sucesso. Esbarraram num precipício de muitos metros. De modo geral, foi uma expedição problemática: envolveu contusões sérias, falta de água e sensação térmica chegando na casa dos 40.

    A terceira expedição foi a divisora de águas. Foram 4 dias varrendo toda a parte alta do Rio Constantino, alternando entre o leito e sobe e desce dos morros adjacentes. Encontramos cachoeiras incríveis, de um verde espetacular. Matas ciliares muito bem preservadas. Havíamos mapeado completamente o constantino. Sem contar as 3 quedas das Cachoeiras do Constantino, eram mais 4: Cachoeira 4 Quedas, Cachoeira da Jade, Cachoeira Safirão e Cachoeira Squash. A terceira expedição nos revelou também muitas trilhas pré-existentes. Muitas honras para uma parte da equipe que conseguira acessar - vindo de cima - a primeira queda das Cachoeiras do Constantino.

    A quarta e última expedição teve como objetivo visitar o córrego tributário do Constantino, quando este já está lá embaixo no sopé da Serra do Mutum. É o córrego Boiadeiros. Dono de uma mata ciliar espetacular, é um leito menor e mais sujeito a mudar de cor com as chuvas (o Constantino parece sempre estar verde, independente da época). São cerca de 4 cachoeiras ao longo do seu percurso, e mais 3 se contarmos com os seus tributários. Essa região parece também ser conhecida como Espinhaço do Chicão. Nossa caminhada durou pouco: tão logo passamos da primeira cachoeira, fomos cercados por uma queimada violenta. Tivemos que recuar. E sabe quem teve que nos aguentar novamente? Sim, ele mesmo.

    O rio constantino já estava bem mapeado. Mas na quarta expedição descobrimos mirantes incríveis e trilhas novas. Obtivemos também informações valiosas, como a existência da garimpos de quartzo (o que explica algumas das trilhas que já existiam por lá), nomes originais de algumas cachoeiras e antigos donos das fazendas próximas (Roriz, ex-governador do Distrito Federal, por exemplo).

    Enfim, esse foi um relato resumido das 4 expedições que mapearam uma das região mais interessantes e desconhecidas de Goiás. Uma segunda Chapada dos Veadeiros, talvez. Uma região dona de interessantíssimas formações geológicas e cachoeiras de tirar o fôlego. Para finalizar, uma imagem panorâmica da região. A região do Constantino está nos morros em primeiro plano. Tudo isso junto é o que chamamos genericamente de Serras do Bagaginha.

    Trilhas Perdidas
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    Publicado em 18/10/2016 22:46

    Realizada de 10/07/2015 até 16/10/2016

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    3 Comentários
    Renan Cavichi 19/10/2016 16:15

    Sensacional!

    Bruna Fávaro 19/10/2016 18:27

    Guilherme, tenho acompanhado o trampo de vcs em descobrir novos destinos na região e putz, que vontade de morar por aí e acompanhá-los nessas pernadas!! Continuo daqui, acompanhando de longe e desejando força nas canelas de vcs! Parabéns pela empreitada!

    Trilhas Perdidas 19/10/2016 20:08

    Venha pra cá quando tiver um tempo, Bruna! Tá sobrando lugar a ser explorado e faltando gente para ir conosco!

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    Brasília - DF

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