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Vgn Vagner 09/04/2021 17:27
    Travessia Selvagem: Rio Cubatão de Cima x Rio Melvi

    Travessia Selvagem: Rio Cubatão de Cima x Rio Melvi

    Início: São Bernardo do Campo Término: Praia Grande Dificuldade: extrema Desgaste físico: elevado Navegação: muito difícil

    Trekking Cachoeira Cânion

    São Bernardo do Campo, 05 de Setembro de 2020...

    Era exatamente 8h, quando entramos na galeria fluvial que cede passagem ao fluxo de água que atravessa por baixo a rodovia dos Imigrantes. A euforia era contagiante dentre o grupo: Luciano Carvalho, Tony Eduardo, Rafael Soares, Eu, João Vitor e Ibaé. Esses dois últimos eu não os conhecia. Estávamos todos alegres e descontraídos, e, a maioria não sabia da dimensão da encrenca que iríamos enfrentar a partir dalí. Já que, somente eu e o Rafael já havíamos descido todo o Vale do Rio Cubatão de Cima, três anos antes. Por conta disso, fomos convidados a participar de um projeto mais ousado, idealizado pelo Luciano: estender a Travessia até a planície litorânea de Praia Grande, descendo também o Vale do Rio Melvi.

    A galeria fluvial serviu como uma espécie de portal para um outro mundo. Tão perto da civilização, mas, ao mesmo tempo, tão distante e isolado. Já dentro deste mundo, nossos primeiros passos foram com água cobrindo os tornozelos, no Ribeirão das Antas. Seguimos pela discreta picada a esquerda que acompanha o fluxo d'água até ele encontrar o, até então, manso Rio Cubatão de Cima. Seguimos por dentro de seu raso leito de coloração caramelada até o mesmo nos dar como passagem, poções com água na altura do peito. As mochilas que não eram de lona encharcavam, submergiam escorrendo água, e, bem mais pesadas que antes. Seguimos nesse processo por algumas horas, até a tonalidade do rio começar a esverdear. Perto das 11h, o céu que, às 7h, se mostrava cinzento, com frio e garoa, passara a ser azul cerúleo, e dissipava facilmente as nuvens. O "Aquatrekking" já durava umas quatro horas. E, para aliviar o cansaço vindo do forte esforço de caminhar dentre as águas, nada melhor do que aquela pausa para lanches e mergulhos no primeiro poção. Ficamos um bom tempo ali, sem se preocupar com nada. Apenas comer, nadar e dar risadas sob um sol que fritava nossas cacholas. Demos continuidade a caminhada, não mais pelo leito do rio, pois já não era mais possível, pulando de pedra em pedra, sem a necessidade de varar mato. Às 12h30, chegamos no primeira cachoeira do rio, com um poção gigantesco de cor verde bandeira bastante escuro. Paramos um longo tempo na borda do poço, mas, dessa vez não foi para nadar ou comer. Luciano começava a sentir dores no joelho. Uma pausa para remédio + descanso se fez necessária. Deixamos a recreação para o enorme poção da Segunda cachoeira, onde chegamos às 13h30, mas a tão desejada recreação não veio. O que veio mesmo foi um densa neblina que tomou conta de todo o vale, encobriu a cachoeira, e trouxe junto um ar frio que não deixava nenhum piscinão convidativo para mergulhos. Aproveitamos apenas para registrar a passagem, com várias fotos na cabeceira e na parte baixa dela. Logo após o poço dessa Cachoeira temos a borda da Terceira cachoeira. Um monstro que chega +ou- perto de uns 70 metros de altura. Apenas uma parede rochosa, de uns 6 mts, separa as duas quedas. E, é exatamente escalando por essa parede que está a passagem para continuar a descida. Um dos maiores desafios daquele vale. Por acharem mais seguro, os batedores evitaram a escalada na rocha e foram mais pela direita, onde foi possível se agarrar em árvores, raízes e rochas para se impulsionar. Mas, obrigatoriamente fomos levados ao topo de onde evitamos passar. Nessa hora sofremos o primeiro grande golpe:

    - Vegê, deixa eu trocar uma idéia com você, mano. - disse o Rafa, me puxando pra mais distante dos amigos.

    E, só pela feição no semblante dele, e o conhecendo de longas datas, já imaginava que viria algum B.Ó pela frente. E veio!

    - mano, eu vou voltar! - disse ele
    - como assim Rafa? - questionei.
    - mano, não estou confiante, vai dar merda, a gente tá muito atrasado, tem vara mato pra caráleo pela frente, a árvore do polidance... Vixi, mano, vai dar merda!

    Ciente de que ele é muito experiente, conhecedor do caminho, e decidido como estava, disse a ele que tudo bem. Eu não iria segurá-lo. Mas desejava que ele prosseguisse conosco. Chamei o pessoal para anunciar a novidade. O Luciano arregalou os olhos, e ficou perplexo.

    - como assim, mano, vai voltar? - perguntou.
    - vou, mano! Não estou na vibe, tô angustiado, e sei que não vai ser legal eu continuar com vocês. Eu volto, acampo numa Prainha de areia a beira rio, e amanhã cedo saio na rodovia.

    Ficamos nesse impasse por um bom tempo, tentando persuadir o nosso "Mamute." E ele aceitou continuar com a gente, já que dissemos fugir do abismo e seguirmos apenas pela mata extremamente fechada. Mas, quando retomamos o vara mato ferrenho, numa inclinação de respeito, e chegamos cume daquela encosta, estávamos literalmente sobre uma parede. Um muro que, se não houvesse neblina, nos permitiria uma visão bastante ampla da baixada Santista. Foi nessa hora que ouvimos novamente:

    - mano, vou voltar! Sem chance, não tô afim, perdi a vibe do rolê, etc e tal. - disse o Rafa.

    Conversamos por mais um período de tempo, chegando a conclusão de que não iríamos "dobrar" nosso amigo. A melhor opção era deixá-lo ir. E, sem exitar, ele foi! Em menos de um minuto o grandalhão sumiu no meio da mata.
    Foi um golpe que abalou a estrutura emocional do grupo. Mas, como todos estavam fisicamente bem, inclusive o Mamute, e foi tudo fechado em consenso, continuamos nosso desafio.

    Onde paramos era nítido que só sairíamos dali de tivéssemos asas. Então, retornamos varando mato até o poção da Segunda cachoeira, e fizemos a escalada na rocha. Do lado oposto, o trecho técnico que, supostamente, travou nosso amigo.
    Às bordas duma queda gigantesca a rocha exposta, lisa feito sabão, com uma bruma de neblina espessa e gélida, durante uns 20 mts, foi nosso único caminho. Deixei minha mochila com os meninos, e desci um trecho para investigar nossa segurança. Voltei com o sinal verde, e, depois disso tocamos pra baixo, desescalando a parte alta da Cachoeira. Fui na frente, tateando com cuidado, procurando as melhores fendas que servissem como agarras para minimizar o perigo. Quando avistei a grande árvore a nossa direita, fiquei aliviado, pois, ali estava nosso portal para um terreno relativamente mais seguro: o interior da mata. Foi um trecho de bastante tensão, mas, após sairmos da rota de perigo, pudemos relaxar nossos nervos e mentes, que estavam sob alta pressão psicológica.
    Varamos mato a uma distância bastante segura, até às proximidades da base da queda. Quando o trecho aparentou arrefecer um tanto, sofremos mais um golpe: outra Cachoeira igualmente gigante se apresentou à nossa frente. E, eu, o único dali que já havido descido aquele vale, não lembrava daquele cânion logo em seguida, pois, na primeira vez que estive ali, estávamos mais pra dentro da mata, e passamos direto, não avistando a magnetude daquele perímetro. Atravessamos pela cabeceira, entramos varando mato mais a esquerda possível, pois era área de desmoronamento, e o terreno tinha muitas pedras soltas e lama escorregadia. Era instável demais.
    Vencer aquele pedaço foi um trâmite pesado, a progresso lento, e, com as horas voando. Quando tal trecho foi dado como vencido, já estávamos perto das 17h30. Horário enxuto. Por isso já descemos procurando área para montar acampamento e dar por encerrado aquele dia. E, após a descida por um afluente seco, encontramos nosso Xangrilá para pernoitar!

    Foi um tanto engraçado, ver marmanjo desesperado (sem dar nome aos bois, rs), procurando árvore para esticar sua rede, e viver sua segunda experiência com rede na mata. Eu mostrava as melhores arvores, tentava ajudar, mas o "cego" não me ouvia. Só olhava ao redor, com os olhos arregalados, e dizia: EU NÃO VOU ACAMPAR LONGE DE VOCÊS! NÃO VOU!!!
    Mas, no final das contas, mesmo com a árvore quase caindo sobre nossas cabeças, por termos amarrado 4 redes numa Jussara, tudo correu bem. Tivemos uma noite super agradável, com calor, perto da água, e sem mosquito!

    Na manhã seguinte, levantando para desmontar acampamento, a rede do Luciano inventa de rasgar mais de 1 metro, e jogá-lo ao chão. Que zica! Tínhamos a intenção de sair andando, no máximo, às 7h30 para fazer render o atraso do dia anterior. Nosso amigo até que tentou costurar o mais rápido que pode, mas, a agulha quebrou quando ele chegava na metade do serviço! Que fase, hein!? rs
    Enquanto nada acontecia, fui dar um giro nos arredores imaginando que, em 10 minutos, subindo pela mata, logo eu chegaria na enorme cachoeira que contornamos pelo desmoronamento. E, para minha surpresa, por um curto caminho escorregadio e espinhento, em 5 minutos eu estava de front com um cânion imponente onde despenca água por três patamares e se afunila numa extensa garganta rio abaixo. O trecho mais imponente do Rio Cubatão de Cima. Registrei tudo com fotos e vídeos, voltei ao acampamento mencionando o "fácil acesso" à grande queda, e, logo depois estávamos todos juntos, boqueabertos com aquele lugar.

    Depois de tanto atraso, às 9h20, demos início a mais um dia de desafio. Nos mantivemos no lado esquerdo, até por que não era possível atravessar para o outro lado. E, pra esquentar os músculos, não deu cinco minutos, a lei de Murphy deu o ar de sua graça. Um rasgo lateral, com uns 30 mts de profundidade, sai do Vale e sobe as escarpas da Serra, formando um precipício intransponível até o topo da crista. Tivemos que subir contornando toooda a fenda seca, com o calor fervendo nossos corpos, "comendo mato" até seu início e voltar numa inclinação absurda até rio novamente. Como eu sempre estava na frente, a linha de tiro era toda sobre mim. Pedras enormes rolavam rios abaixo. Tratei de descer rápido, pedindo cuidados aos amigos, e fiquei esperando na margem que tive melhor acesso. Mas só até ver uma rocha descendo a milhão e explodindo em outra rocha ao meu lado. Se pegasse na cabeça de qualquer um, a morte era certa. Por segurança, desci uns 10 mts e esperei os meninos na beira de um poção verde, enorme e de profundidade incalculável. Como já batia 10h, o sol fritava nossos cocos, e acabávamos de sair de uma etapa pesada da travessia, já chegamos soltando nossas mochilas, desprendemos perneiras e botas pra nos jogarmos na água e ficar por ali o quanto desse, esquecendo da vida.
    Durante uma hora e meia, nadamos muito, saltamos do das rochas, cozinhamos, nadamos mais um pouquinho. Mas a alegria deveria dar lugar ao sofrimento novamente, rs.
    O desnível mor do CDC já era passado. Dali pra frente fomos serpenteando por dentro do rio, ou, nas poucas vezes que invadimos a mata, para desviarmos de algum degrau mais arriscado a descer, sempre se deu pela direita. Inclusive, na cabeceira da próxima cachoeira o rio recebe um tributário, também vindo da direita, cachoeira, que acaba inviabilizando progresso por qualquer um dos lados. O único avanço, rápido e seguro nesse trecho, é fazer um "polidance" de uns 4,5 mts numa árvore que está rente a uma espécie de mirante dentro do vale.
    Passei a respirar mais aliviado após essa parte, pois, era certo de que não haveriam graaanndes obstáculos pela frente. A não ser quedas com 6 mts de altura, aproximadamente. O semblante da galera já estampava o cansaço. Principal para o João, que caíra por duas vezes, levando duas "paulistinhas" no mesmo lugar da perna.
    Depois de pular de pedra em pedra por um bom tempo, passar pela ilha central, área de nosso acampamento em 2017, às 15h chegamos na cachoeira da Barragem, com seus 10m de altura, talvez, e um poço que impressiona pelo tamanho. Ela está localizada exatamente na confluência com o Rio Cubatão. Extrategicamente, estabelecemos 20 min para descanso, recreação e alimentação. Somente eu e Ibaé usufruimos da parte recreativa do poço. Os demais preferiram comer, descansar e acertar os detalhes para os próximos desafios que se aproximavam junto com o final da tarde.
    Pegamos o contrafluxo do Rio Cubatão por uns vinte minutos. Uma pulação de pedras bem rápida de ser vencida. Quando o primeiro afluente, a nossa esquerda, deu as caras matei a dúvida de primeira. É uma porta de entrada inconfundível. Conseguimos avançar como em 2017, com os pés na água, e, escalaminhando por encostas quando as pequenas quedas do tributário não permitiam.
    Quando apontamos de frente com a muralha que sustenta a linha férrea, quebramos pra esquerda já tentando visualizar alguma área para pernoite. Não foi difícil. Mesmo sendo em terreno um pouco inclinado, como estávamos com redes, a área livre estava perfeita. O que não estava perfeito era o rumo que as coisas estavam tomando. Ibaé e João vinham 2 minutos logo atrás de nós, e traziam com eles mais um forte golpe pra abalar a estrutura do grupo:

    Mano, vou abandonar a Travessia! - foi a primeira coisa que o João disse.

    Não botamos fé. Pensamos que ele, brincalhão do jeito que é, estivesse brincando, se referindo a desistência do Rafa. Mas não. Ele falava sério, e enfatizou sua decisão:

    - minha perna está doendo muito! Já faz um bom tempo que deixei de curtir o rolê. Está sendo só sofrimento. Então prefiro "pegar o trem" aqui, descer até a baixada, pegar a trilha que conheço por lá, e ir pra casa.

    Ibaé apenas disse: tô com ele. Vou junto!

    - mas vocês vão subir no trem a essa hora? Já está escurecendo, manos. Vocês estão cansados, com peso, dor nas pernas, e ainda vão tem que correr para pular e se agarrarem ao trem cargueiro. É perigoso! - disse o Luciano.

    Assim como o Rafa, tentamos convencer que desistissem da ideia. Mas, estavam firmes na decisão! E, depois de 15 minutos de conversa, doação de mantimentos e empréstimo de rede, sumiram na mata já quase escura.
    A partir dalí estariam por suas contas e riscos, e, com aqueles que ficaram a múltipla preocupação fez morada nas mentes. Pois, se já estávamos preocupados com o Rafa, sem saber se ele estava bem, agora tínhamos mais motivos para pedirmos apoio à força maior.

    O tempo foi passando lentamente, e, quando já estávamos com nossas redes esticadas, já no breu da mata, escutamos a minhoca de metal emitindo o som estridente do atrito dos metais. É um som que lembra a angustia, como se estivesse em sofrimento por carregar milhares de toneladas em grãos enquanto desce a Serra.
    Ficamos aflitos enquanto o barulho permaneceu audível. Desejando que aqueles loucos tivessem êxito na missão. Pois precisávamos aliviar a tensão.
    Demoramos para iniciar a janta. Eu tinha refeição pronta, Tony faria macarrão instantâneo, Luciano: arroz, farofa e calabresa. Como complemento, fizemos uma porção generosa de polenta que o Ibaé deixou conosco. Tony fez a divisão certinha daquele 1kg de polenta que estava na panela:

    Luciano = 80g
    Vagner = 120g - com muita insistência
    Tony = todo o restante (800g). Kkkk


    Como tínhamos apenas 1 dia para terminar de subir os 200 mts do Morro Pai Matias, depois descer mais 650 mts de altimetria até a planície da Baixada Santista, acordamos às 6h. O bom dia do Tony foi:

    - bora pegar esse trem, e finalizar essa travessia logo. - dizia dando risada.

    Ele insistiu nessa "brincadeira" por mais umas 4 ou 5 vezes. Se o Luciano ou Eu abraçasse o "verde" que ele jogou, o rapazinho pularia de alegria. Conheço a peça de longa data! Hahaha

    Comecamos a caminhar às 7h20. Logo atravessamos a linha férrea, furamos o bloqueio da mata alta, e caímos no afluente novamente. Ele sobe num inclinação bastante forte, calçado por uma enorme escadaria de concreto até certo ponto. Isso nos ajudou muito! Quando a calha do afluente não nos favoreceu mais, abandonamos para margem esquerda, onde o espaçamento entre as árvores nos permitia um avanço mais rápido e fácil! Calculamos 2h para toda a subida, mas, 1h40 depois de sair do acampamento sentamos no vasto celado plano do Pai Matias para uma breve pausa de descanso. Retomando, tomamos o nordeste como mira, cruzamos com "nosso" afluente rasinho, nascendo entre as pedras. Por ser um caminho de fácil progresso fomos indo, indo... seguimos além do que deveríamos. Consertando a direção, mas caímos numa pirambeira com um bambuzal dos infernos, recheado de "unhas de gato" pra rasgar até nossas almas. Por isso fomos nos esquivando vagarosamente, com todo o cuidado possível. Qualquer deslize por ali nos renderia, no mínimo, muita dor. Não tinha para onde escapar. O único lugar que não víamos bambu era no céu. Ficamos nessa batalha por um longo tempo, até conseguirmos tocar na direção da crista a direita e fugirmos definitivamente sofrimento.
    Pisamos no leito do Rio Melvi às 10h20. Três horas depois de levantarmos acampamento. A partir dali tínhamos 7h30 da claridade do dia para vencer quase todo o desnível da Serrado Mar, por um rio que não conhecíamos. E, que por sinal, era muito desnível.

    Confesso, e foi nítido para o Luciano, pois meu semblante denunciava, que eu estava decepcionado com a chegada ao rio. Pois, com tanto estudo de terreno via mapa, especulações sobre cachoeira e piscinas naturais, e um desnível considerável, fomos recepcionados por um filete de água que mal cobria nossos pés. Mas, como não tinha o que fazer, prosseguimos cada qual com sua emoção. Quando os pocinhos começaram a aparecer, vinham rasos, mas com aguas cristalinas. Coisa que já agitava alguma animação. Degraus de 2,5 e 3 mts eram as quedas que apareciam pelo caminho. Na primeira cachoeira com poço para banho, chegamos com ânimo apenas para fotos. Mas, chegando junto a queda, ouvi um chamado mais forte, que não resisti. Entrei sob a pancada d'água que lavava não apenas meu corpo, mas, também minha alma. Os caras também entraram na onda, e isso revigorou a alto estima do grupo.
    Não tão depois, vislumbrando uma suposta cabeceira, marcamos ponto em outra Cachoeira que é dividia em três quedas laterais, e outra mais volumosa vinda dum afluente ao lado, forma um espetáculo em 180° C.
    Distraído, com imensa beleza ao redor, dando um giro com o olhar fixo nas cachoeiras, sem prestar atenção no solo, pisei numa pequena rampa cheia de limo, e ...vraaau, levei um capote feio, que me fez colar o peito no chão. Onde fiquei por uns três minutos. sentindo dor enquanto meus comparsas se acabavam em dar risadas. Mas os risos não foram suficientes para dar o vigor que o menino Tony precisava. O cansaço era tamanho, que o fez sentar em uma pedra para tentar se recompor enquanto eu e Luciano apreciavamos a cachu do afluente, e registra amos o momentos em cliques.
    Em média, a cada pacote de 70, 80 mts de altimetria vencida a surpresa vinha cada vez melhor, superando em beleza absurda. Cada centímetro de vara mato era recompensado por cachoeiras incríveis. Passamos pela CACHOEIRA ESMERALDA, com uma formação única, parecendo ter sido lapidada pelo homem. Suas pedras são perfeitamente no esquadro. Propiciando o pulo direto em seu poção de um verde escuro, porém transparente, e profundidade estimada em uns 5 mts. Uma das, se não a mais, bonita daquele Vale.
    Continuamos a varar a mata pela direita, sem grandes dificuldades. A não ser cipós e espinhos emaranhados.
    A avistarmos a cabeceira que se abriu a nossa frente, fomos até sua beirada, e constatamos que se tratava de outra cachoeira espetacularmente linda. A CACHOEIRA DO CORAÇÃO. Com traços de água escorrendo em curvas por ambos os lados dando forma ao título de seu nome. Seu poço engana. Por ter a água muito cristalina aparenta ser raso. Mas vai ganhando profundidade a ponto de cobrir qualquer um que chegue junto a base.
    Para sairmos dessa cachoeira batemos cabeça em busca de um caminho favorável. Mas foi bastante difícil. Muitas árvores tombadas, cipós e toda quiçassa de mata fechavam os caminhos laterais. Pelo rio rochas muito grandes também não facilitava a passagem, nos fazendo rodar feito baratas tontas. Indo de uma margem a outra e voltando acuados. Até que, por fim, a mata foi o meio menos pior para avançar. Abrimos distância do leito, contornamos os bloqueios e saímos pouco acima da maior cachoeira da região de Praia Grande, a CACHOEIRA DA CAPTAÇÃO (SABESP), onde haviam cerva de 8 rapazes, aparentando entre 19 e 25 anos, jogando conversa fora e apreciando o visual no topo da gigantesca cachoeira. A princípio ficamos ariscos em avançar, pois a aquela região da baixada andava sendo muito perigosa nós últimos tempos, tendo casos de assaltos, e até mesmo latrocínio numa clareira que fica próxima a principal cachoeira. Local que já é de fácil acesso.
    Ficamos um tempo à espreita na mata, observando os mesmos, mas não tinha jeito, devíamos prosseguir. Saímos da mata, um deles notou com espanto, comunicou os demais, que se juntaram para assistir nossa chegada. Chegamos de guarda baixa, cumprimentando todos e dando ar de homens de bem. Contamos nosso feito, e os rapazes ficaram fascinados com tudo que estávamos acabando de realizar. Perguntaram se carregávamos armas, dissemos que não. Eles classificaram isso como coragem demais, passar dias na mata e não levar um "oitão." Um deles possuía um facão, outro carregava uma pá, alguns não tinham feições das mais amigáveis. Isso nos causava um certo desconforto. Mas nos entrosamos, buscamos infos de como descer dali, mas eles também já estavam partindo, e decidiram "nos escoltar" em mais um vara mato até a cabeceira do patamar abaixo, onde todos frequentadores locais costumam chegar. De lá ela foram embora, enquanto nós fomos até a CACHOEIRA DA CAPTAÇÃO, que impressionantemente se apresenta diante de um buracão, uma cratera aberta nas escarpas da Serra. Cair dali é certa a fatalidade. Fato que já foi noticiado antes.
    Haviam dois caras tomando whisky com energético, e cerveja. Um deles mal parava de pé e falava mais que papagaio. Dava aflição de vê-lo transitar na beira do abismo.
    Nossa pausa por ali foi bastante rápida. O suficiente para um mergulho e algumas fotos, pois já estava ficando tarde, e ainda tínhamos que vencer quase 8 km de estrada de chão, em quase duas horas de caminhada. Estávamos só o bagaço.

    Quando faltavam poucos minutos para o cair da noite, finalizamos nossa jornada. Nos jogamos ao canto de um terreno baldio para nos trocar e comer algo que ainda restava em nossas mochilas. Depois disso foi só chamar um Uber, ir para a rodoviária e pegar um busão até São Paulo, onde encontramos com o Rafa em uma lanchonete no Jabaquara, para tomar uma brecha, comer alguns salgados e atualizarmos as situações de ambos os lados, e ter a certeza de que todos estavam bem. Só assim poderíamos dar a empreitada como bem sucedida. Logo depois soubemos que João e Ibaé também chegaram bem em suas casas!

    Vgn Vagner
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    Publicado em 09/04/2021 17:27

    Realizada de 05/09/2020 até 07/09/2020

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    1 Comentários
    Priscila Nascimento 19/04/2021 12:23

    Pelo título da aventura pensei não ser tão perrengue se comparado as outras, mas para ter 2 desistência parece que a aventura foi tensa mesmo. Aee qualé da árvore do polidance?😂

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