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Willian Fae 06/10/2015 08:38
    Patagônia El Chalten - Part 1

    Patagônia El Chalten - Part 1

    Trilhas realizadas na cidade de el chalten na patagônia argentina

    Blog Mochilão América do Sul
    www.meumochilao.com

    Neste post vou comentar sobre uma cidade que tive a oportunidade de visitar em Março de 2015 e que nunca mais irá sair das minhas melhores lembranças.

    A Cidade a qual falo é El chalten localizada na Patagônia Argentina.

    O que me levou até essa cidade, foram suas trilhas e paisagens. Para mim que sou um amante de montanhas, trilhas e acampamentos el chalten sempre foi um sonho de consumo. Além das trilhas El chalten possui um dos picos mais difíceis do mundo para se escalar que é o fitzroy e Cerro torre. A dificuldade existe porque suas faces são verticais e cobertas de gelo, os ventos são fortíssimos, e as condições climáticas são totalmente imprevisíveis, suas crostas de gelo se soltam facilmente. O Alpinista precisa ser classe A para encará-los. Mas obviamente isso não era para mim desta vez.

    El chalten é um povoado muito jovem, fundada em 1985. Hoje e a capital do trekking da Patagônia argentina. Sua população é muito pequena com cerca de 1.000 habitantes e recebe por ano mais de 80.000 turistas quase todos estrangeiros. No inverno a população reduz, e os turistas desaparecem com suas trilhas fechadas.

    El chalten é uma cidade de arrepios, suor e esforços. Tudo lá é baseado em trilhas, a trilha principal é a que chega até o Fitz Roy (citado anteriormente) que é um maciço de granito de 3.375 m que os tehuelches chamavam Chaltén (em língua ahonikenk significa “montanha que joga fumaça”) e que deu origem ao nome do povoado. A montanha pode ser vista do povoado, mas você pode vê-lo de perto fazendo a trilha, vou falar sobre ela em meu post abaixo.

    Fui levado até essa cidade pelas suas trilhas porem vi que o povoado tinha muito mais coisas que me fizeram ficar ainda mais apaixonado.

    • O Povoado possui um charme nas suas construções. Tudo e muito lindo desde hostel, restaurantes, colégios, ginásios, ruas e calçadas.
    • Tudo é muito limpo.
    • O Pessoal que trabalha na cidade possui uma simpatia fantástica. Fui bem atendido em todos os lugares que fui desde restaurantes, terminais, livrarias, hostel ou simples pedido de informação na rua.
    • Existem muitos cachorros lindos soltos pela cidade mas todos muito bem cuidado e todos amáveis.
    • La se você deixar seu celular cair no chão e ele acidentalmente tirar uma foto, a foto ira ficar linda, tudo lá e fantástico.
    • A chance de você ser roubado nos hostel da cidade é minúscula.

    Bom agora que passei algumas informações da cidade vou contar como foi minha grande Aventura nessa linda cidade.

    Início de nossa aventura

    Fiz essa viagem acompanhado do meu irmão Gustavo, e um amigo que conheci eventualmente pela internet, por termos as mesmas afinidades por montanhas e trilhas seu nome é Leonardo, de Brasília alguém com vasta experiência em várias montanhas do mundo, ele se tornou nosso Pai na Patagônia. Para meu irmão Gustavo foi a primeira vez como mochileiro e a primeira vez em trilhas com mais de 1hora de duração, então já dá para imaginar o sufoco do garoto.

    Partimos de El calafate em direção a El Chalten uma viagem de aproximadamente 3h. Os ônibus que fazem esse trajeto são ótimos e custa cerca de 250 pesos apenas ida. Quando chegamos na cidade o clima estava horrível, com muita neblina e uma chuva fininha. Por lá existe uma parada obrigatória no centro de turismo da cidade, onde você irá receber informações de segurança, como se comportar no parque e um mapa das trilhas. La existe uma maquete das trilhas bem legal e você já pode ter base de todas as trilhas disponíveis na região.

    Chegamos por 11:00 e saímos andando a procura do nosso hostel debaixo de chuva com todas as mochilas penduradas, só eu tinha três. Depois de achar o hostel, deixamos nossas coisas e saímos novamente a procura de um local para alugar equipamentos pois o Gustavo não tinha barraca e saco de dormir. Achamos 3 locais que alugavam equipamentos e não era barato, meu irmão alugou uma barraca para duas pessoas por 200 pesos por dia mais um saco de dormir por 40 pesos por dia e um isolante por 20 pesos por dia. Depois disso fomos comprar comida para os 3 dias de trilha.

    Nesse dia já aproveitamos para fazer uma trilha curta de 1h até a cachoeirra chorrillo del salto. Na ida já pegamos um vento absurdo que quase não nos deixava caminhar, mas acreditamos que era o vento de boas vindas da Patagônia. As vezes era preciso se inclinar para frente para não ser derrubado pelo vento.

    A Cachoeira é bem bacana, encantadora como as que temos no Brasil, a caminhada vale a pena e também ela não fica longe. Quando voltamos ao hostel começamos a nos preparar para a trilha maior no outro dia.

    Primeiro dia de Trilha – El chalten até De Agostini e Laguna Torre

    Não tinha conseguido dormir pois além de estar ansioso, choveu muito, mas muito mesmo. Fiquei preocupado se teria como iniciar a trilha sobre aquela chuva. A Trilha desse dia tinha como objetivo chegar até o acampamento Agostini armar barraca e depois subir até a laguna torre. Isso daria 14km e cerca de 4h de caminhada

    Iniciamos a trilha às 8:00 sobre uma chuva bem fina. No início da trilha já tem algumas subidas, mas depois a trilha se torna mais tranquila, muito bem sinalizada e a todo momento linda. Depois de 1h de caminhada já podemos ver o cerro torre. A cada paisagem era possível notar nossos rostos impressionados com tal beleza. A beleza era tanta que não sentíamos o cansaço, peso da mochila ou a chuva.

    Outro ponto mágico da trilha era os pontos de agua que são muitos, pois com o derretimento da neve nas montanhas e geleiras cria-se riachos, e você terá o privilégio de beber a agua mais pura e gelada.

    Depois de 4horas de caminhada chegamos ao acampamento Agostini. Foi nessa hora que meu irmão falou que nunca tinha arrumado uma barraca na vida e lá fomos nos ajudar ele. Depois de arrumar as barracas ficamos cerca de 1hora deitados descansando para depois iniciar os preparativos para nosso almoço e depois subir até a laguna torre.

    Na hora de fazer a comida vimos que seria impossível utilizar o fogareiro ao ar livre pois o vento era muito forte. Entramos na barraca do meu irmão e fizemos a comida lá dentro mesmo.

    Depois de descansados e alimentados subimos até a laguna torre que fica muito próximo ao acampamento cerca de 5min.Ficamos no ponto tradicional onde você tem uma visão de frente da lagoa e aos fundos o glaciar. Depois seguimos até o mirador maestri que leva cerca de 1h ida e uns 30min de volta e lá se pode ficar bem mais perto da geleira. Por 17:00 voltamos ao acampamento. Ficamos um pouco frustrado pois o tempo estava fechado e não era possível ver as torres por completo.

    Mirador Maestri. Esse e o ponto mais próximo que se está autorizado a chegar.

    Um fato marcante nesse dia pois foi a noite que mais passei frio na minha vida. E olha que levei equipamentos bons porem pequei no saco de dormir. Meu saco de dormir era de até -3 e o que meu irmão alugou era -10. Durante a noite era impossível dormir e coloquei todas as roupas que tinha, e ainda precisei me movimentar para não congelar. Não sei qual foi a temperatura dessa madrugada mas até meu irmão passou frio, com um saco de dormir muito melhor. De uma coisa eu sei; nunca irei esquecer do frio que passei essa noite.

    Segundo dia de trilha – Agostini – Poincenot – Laguna de los 3

    Acho que em toda noite consegui dormir 2horas somando as cochilada. Fizemos nosso café dentro das barracas e iniciamos nosso deslocamento ate poincenot que seria nosso acampamento.

    Não me recordo exatamente quantos KM deu mas acho que fica em torno de 10km a 14km. Para se chegar ao poincenot temos que voltar cerca de 1:30 a trilha que viemos e ai pegar uma bifurcação em direção ao poincenot. No caminho tivemos o privilégio de ver um arco íris lindo.

    Depois que pegamos a bifurcação pegamos uma subida terrível cerca de 1hora. Depois de subir, subir e subir chegamos em um local onde duas lagoas se encontravam e o vento continuava terrível.

    O Caminho desse dia também foi de tirar o fôlego mesmo com o tempo meio fechado. O Destaque desse Segundo dia são os lagos ao longo da trilha.

    Quando chegamos ao acampamento tivemos uma nova descoberta. O Vento que pegamos até então não era o vento mais forte da patagônia e sim o vento desse dia. O vento estava mais forte ainda. O Barulho que o vento fazia era igual a uma turbina de avião só que ao seu lado. Algo absurdo.

    Nesse dia resolvi que iria dormir com meu irmão pois não iria querer passar mais frio novamente, e dois corpos na mesma barraca geraria mais calor. Tivemos que colocar muitas pedras na barraca por conta do vento, a minha barraca ficou então apenas como cozinha. Uma coisa legal dessas trilhas é que água pura não falta.

    E não há dinheiro no mundo que pague a sensação de beber essa água vinda direto da mãe natureza

    Depois de armar barracas e comer seguimos para mais uma etapa de trilha nesse dia queríamos subir até a laguna de los 3, onde já se pode ver o fitz roy , porém a subida era bem difícil cerca de 1h 1000metros de subida. Aliás quase sempre se fala em quantidade de tempo e não km.

    A Subida é sem a cargueira mas mesmo assim é bem pesada e o vento estava muito forte chegando a certos momentos a ser perigoso.

    Depois de muito sofrimento chegamos a laguna e o vento absurdo que chega ser difícil descrever pois é algo que você só sente na Patagônia.

    Descemos até a laguna e em um momento o vento foi tão forte que derrubou o Gustavo, ele começou a rolar com a força do vento tive que me jogar em cima dele para ajudar. Nesse dia o fitz roy estava fechado e não se podia ver nada o que é normal na Patagônia. Essa é outra lição, nunca vá com tempo apertado para el chalten pois o risco de você sair de lá sem ver as torres é alto. Sai de lá frustrado pois não tinha conseguido fazer minha foto do fitz roy que era meu objetivo de viagem, mas sabia que teria dias de sobra para voltar quando o tempo estivesse melhor.

    Voltamos para nosso acampamento iniciar os preparativos para nossa janta. Novamente fizemos nossa janta na barraca e claro tomando todo o cuidado para evitar acidentes. Nessa noite consegui dormir melhor pois fez menos frio.

    Terceiro dia – Poincenot – Piedras Blancas – Laguna Capri

    O Objetivo deste dia seria ir fazer uma trilha curta até piedras blancas e depois ir até o acampamento na laguna capri. O Dia tinha amanhecido melhor do que no dia anterior e até fiquei sentado esperando o Fitzroy das as caras por completo mas não tive sorte novamente.

    Fizemos nosso café e iniciamos a trilha até piedras blancas. Nos dias anteriores eu tinha usado apenas a calça da segunda pela pois apesar do frio era melhor caminhar assim pois acabava aquecendo e ficando melhor para caminhar.

    Iniciamos a trilha e depois de 40min caminhando chegamos ao mirador das piedras blancas, muito bonito por sinal mas não tinha lógica, estávamos longe dele, e devíamos estar mais perto. Neste momento passou algumas pessoas e pedimos informações então ai fomos ver que pegamos a trilha errada, a trilha certa seria do outro lado, costeando o rio. Voltamos mais 40 min até pegar o caminho certo.

    Iniciamos a trilha pelo caminho certo e essa trilha não é muito comum e não está com boas marcações, as vezes ficavamos na dúvida se era aquele mesmo o caminho. Depois de uns 30min caminhando o tempo mudou, o que é comum por lá e veio uma chuva muito forte com muito vento e muito frio e eu estava apenas com a segunda pele. Um erro enorme pois na Patagônia sempre se deve sair prevenido. Mas não tinha muito o que fazer andamos mais 30 minutos até chegar ao local. Chegamos nas piedras e para variar erramos a entrada, e para se aproximar da lagoa estava muito difícil com o frio chuva e vento resolvemos voltar. A volta foi mais rápida mas também mais difícil, pois neste ponto todo nós estávamos totalmente molhados. Chegamos no acampamento tremendo de frio e desmontamos tudo na corrida e iniciamos nossa ida até o próximo acampamento.

    Logo de início vimos que não teria nenhuma condição de acampar novamente pois tudo estava molhando, roupas, botas, meias, mochila, barraca.. Mesmo tudo sendo impermeável, a chuva e vento eram fortíssimos e nada iria resistir a isso. Tomamos a decisão de voltar a cidade o que levaria mais umas 4h.

    Entramos em um ritmo de sobrevivência, eu só lembro de baixar a cabeça e caminhar; não sentia o peso da mochila ou o cansaço em meus pés, só pensava em chegar logo e tomar um banho quente e comer um bife enorme. Não paramos em nenhum momento para descansar e o que era para se fazer em 4 horas fizemos em 2:30. Quando chegamos no hostel até a recepcionista ficou com pena do nosso estado, estávamos totalmente molhados, cansados um estado deprimente.

    Essa noite foi uma das mais gratas de nossas vidas pois conseguimos tomar um banho quente, secar nossas roupas, comer um ótimo bife e tomar um ótimo vinho.

    Mas mesmo esses dias terem sidos maravilhosos eu ainda estava frustrado pois o fitz roy não tinha aparecido para mim. Mas eu tinha ainda 5 dias nessa cidade e iria esperar o dia certo para voltar até a laguna de los 3.

    E ele resolveu aparecer só pra mim, me mostrando o verdadeiro significado de grandiosidade e beleza, esse dia lindo me marcou e marcou também a trilha mais linda que fiz em minha vida, vou relatar esse dia em meu próximo post.

    Willian Fae
    Willian Fae

    Publicado em 06/10/2015 08:38

    Realizada de 03/03/2015 até 12/03/2015

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    2 Comentários
    Edson Maia 07/10/2015 10:47

    Belo relato Willian! P.s. perrengue esse seu com o saco de dormir hein? Quando fiz o Torres del Paine, uma das minhas maiores preocupações foi com ele...levei um para -5, volumoso, mas deu tudo certo.

    Willian Fae 07/10/2015 17:15

    Verdade Edson, fiz depois torres e aluguei um e sofri pra levar o bicho hehehe.

    Willian Fae

    Willian Fae

    Chapecó - SC

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    Sou um mochileiro nas horas vagas, e tenho uma paixão por viajar, conhecer novas culturas, apreciar a boa qualidade que todos os países tem.

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