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Jose Elias Martins Neto 23/10/2015 06:35
    10h Selvagens na Serra do Cipó

    10h Selvagens na Serra do Cipó

    Saída de Pack Raft (Bote Portátil) e Trekking nos arredores do Rio Parauninha e Cânion Rasgo da Égua

    Domingo de manhãzinha. Horário de verão começando mas mesmo assim junto forças para partir rumo à Serra do Cipó para um dia de explorações e aventuras.

    A idéia éra descer o Rio Parauninha por 10km no Pack Raft (Bote infllável e portátil que tive que comprar para participar de uma competição no Pantanal em nov/15 : https://www.youtube.com/watch?v=VC_A618SBQo), sair numa estradinha antiga que leva à Lapinha da Serra e no platô descer remando a parte alta do Parauninha até a Cachoeira da Usina, descer o restante da trilha pra terminar o dia!

    Comecei a remar cedo, o dia amanheceu meio nublado, a água estava deliciosa e vim descendo o rio curtindo o dia. Testando o packraft, acompanhava a velocidade pelo GPS. Meio decepcionante (3km/h) mas mesmo assim estava super contente com o equipamento. Recomendo a todos aventureiros!

    Com pouco mais de 1h30 de remo avistei a Lapa da Sucupira, um paredão calcário gigante na margem esquerda do Parauninha. Encostei o raft e desci pra procurar algumas das várias pinturas rupestres que tinha ouvido dizer que existiam na área. Acabei encontrando apenas um setor pequeno, mas mesmo assim foi emocionante ver o registro histórico de homens que viviam numa era completamente distinta da nossa mas que ainda assim reconheciam aquele lugar espetacular como sagrado.

    Voltei para a margem do rio, lanchei e continuei a descer o rio. Desde o começo vim observando um monte de jambeiros na beira, mas todos com os frutos verdes ainda. Qual não foi minha surpresa ao encontrar um pé de jambo carregado logo após uma curva do rio. Curti por ali um pouco me deliciando com as fruta e continuei a remar.

    Quando estava com quase 3 horas dentro d´água vi um matuto se banhando e pegando água no rio. Troquei umas idéias com ele e decidi sair pro trekking ali mesmo, já que tinha uma trilha que ia dali até a estrada, melhor que o projeto inicial de rasgar mato quando desce 10km de rio. Eram 10h30 da manhã.

    Trilha perdida no tempo, cerrado bonito, paredão do Espinhaço à direita. Dia perfeito. Alcancei a estradinha e vi umas mangas comidas no chão. Como tinha acabado de pensar que minha comida podia ser pouca pro dia longo, fiquei feliz. Realmente menos de 5 minutos depois dei com uma mangueira carregada de mangas "coquinho". Comi umas 3 ali mesmo, doces como mel, e coloquei mais umas 5 na mochila. Segui feliz pela estradinha e perto de uma fazenda vi o chão todo vermelho! Era pitanga!! Não podia acreditar na sorte. Mais uma parada alimenticia e reparti para a aventura!

    Passaram uns cavaleiros por mim um pouqinho antes da entrada prevista da trilha e me perguntaram pra onde eu ia. Como respondi "Lapinha da Serra" eles com interjeições típicas dos mineiros me desanimaram que estava ainda muito longe. Fiquei pensando como as trilhas hoje em dia foram quase abandonadas mesmo pelos matutos. Pela trilha, Lapinha fica a não mais que 8km dali, e pela estrada por onde seguiam mais de 20km. Agradeci ao Google Earth por me permitir visualizar a trilha, torci pra ela estar em bom estado e continuei a pernada.

    No alto de uma subidona, ali estava escondida a entradinha do acesso ao platô do Espinhaço. Começo de pedras, mas a trilha estava bem marcada. A esta altura, quase meio dia, o calor estava forte e eu estava ficando sem água. Minha esperança era de achar água assim que começasse a subir a ravina central por onde passava a trilha.

    Bazinga! Exatamente onde previa achei um riozinho lindo, todo com sua matinha ciliar perfeita, com água pura, transparente e geladinha! Comemorei sentando um pouquinho por ali na sombra das árvores e chupei uma manga.

    Continuei a subir e no fim da encosta a trilha bifurcava. Pra esquerda (norte) ia pra Lapinha da Serra, em 5km chegaria ao lado da represa oposto ao povoado. Era onde eu tinha planejado ir. Pra direita (sudeste) era o desconhecido, mas já na direção que eu precisava ir pra voltar pro carro.

    Com o avançado da hora (já era 13h30) e o desânimo em descer mais 12km de rio a 3km/h, acabei optando por abortar o plano inicial e toquei pra sudeste pra explorar essa parte que eu não tinha passado no Espinhaço.

    A trilha era meio antiga, sumia às vezes mas os campos de altitude possuem a virtude de quase nunca impedirem nossa passgem numa caminhada.

    Quando acabei de subir mais um "andar" no platô me deparei com um vale gigantesco e lindo, barrado por um paredão à leste de onde me encontrava. Com a perspectiva da viagem de bike com escalada que vou fazer em janeiro no Chile e Argentina, decidi encarar o paredão. Alcancei o vale, me sentei no riozinho que passava ali pra me refrescar e fiquei tentando encontrar uma linha "subível" naquele rochoso a minha frente.

    Visualizei a linha desejada e parti pra encará-la. Excitado pela escalada, nem vi direito a hora passar ou senti o esforço. Uma hora depois e quase 400 metros verticais depois eu estava num belissimo cume, com vista 360 graus e a sensação inigualável de estar num ambiente totalmente selvagem integrado a ele.

    Passei um tempão por ali, curtindo o vento e os elementos e então recomecei minha jornada às 15h. Agora o rumo era sul, em direção ao Cânion Rasgo da Égua.

    Mais lugares perdidos no tempo, nenhum vestigio de seres humanos por ali e acabei chegando à boca do Cânion. Já tinha descido ali num levantamento de prova com meu parceiro Juninho, e tinha sido barrado por uma cachoeira. Mas sabia que ali era o caminho mais rápido pra descer a serra e tentei a sorte.

    Dentro do Cânion é um mundo perdido. O microclima criado ali pelos paredões de mais de 80m de cada lado com um vão de no máximo 50m proporciona uma vegetação exuberante e totalmente diferente do que encontramos no Cipó. Vim curtindo as borboletas, descendo os grandes monolitos que fazem o leito do rio que passa no meio do Cânion.

    Até que dei com a cachoeira. Frio na barriga. Dei uma olhada e achei que não dava pra passar. Fui pro outro lado e realmente a passagem era muito perigosa. Eu tinha desescalado um degrau que tem lá quando fui da outra vez e minha idéia era fazer o mesmo agora e no 2o degrau pular na água do poço da cachoeira.

    Dei uma adrenada e não consegui fazer nada. Frustrado, comecei a subir de volta todo o caminho que tinha descido feliz da vida.

    Sai do cânion às 17h30, fim de tarde. O alto da serra estava exuberante com as misturas de luz e sombras. Mais uma vez tinha uma decisão pra tomar. Seguir por uma trilha mais longa e batida que descia para a parte alta do rio Parauninha (ele de novo!), passando pela cachoeira da Usina e chegar ao carro na boa ou encarar uma "trilha" que ia mais diretamente ao carro mas que tinha várias dúvidas se eu daria conta de encontrar.

    Mais uma vez escolhei errado rsrs. A trilha meio perdida começou bem, e fui andando descendo suavemente até que cheguei na cabeceira de um córrego que descia a encosta super ingreme e onde a tal trilha simplesmente acabou.

    Sem refletir muito comecei a procurar um lugar melhor pra encarar a descida e com custo acabei chegando ao leito do riozinho onde por pedras escorregadias acabei conseguindo chegar à parte baixa da serra. Pensei que meus problemas tinham terminado. Já estava escurecendo, tipo 18h45, e nada de eu achar a trilha que me tiraria dali. Minha última passada havia sido a mais de 3 anos e naquela época a trilha não era mais que um vestígio no meio da vegetação.

    Vi ao longe uma clareira que eu reconheci, e rumei pra lá sem trilha mesmo. Muito rasga mato depois, às 19h40, acabei chegando na estradinha e 10 minutos depois no carro.

    Dia incrivel explorando essa serra maravilhosa!

    A continuar :)

    Jose Elias Martins Neto

    Jose Elias Martins Neto

    Belo Horizonte-MG

    Rox
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    Amante da natureza e dos esportes outdoor, tenho feito excursões em lugares inóspitos desde criança. Cada vez mais vou me aproximando de uma vida mais simples.

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