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Jose Elias Martins Neto 10/03/2016 07:16
    Na Puna do Atacama

    Na Puna do Atacama

    Cruzando os Andes de Bike pelo PASO DE SICO, entre Salta (Argentina) e San Pedro do Atacama (Chile). 515km de paisagens SURREAIS.

    "Voce pensa que esta fazendo uma viagem, e de repente é ela quem esta te fazendo. Ou desfazendo". Nicolas Bouvier. L´Usage du Monde
    "Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia" Guimaraes Rosa

    Depois de quase 15 dias fora da estrada - estive com bons amigos em San Juan e depois fui com o Thiago a uma Corrida no sul da Argentina - finalmente dia 12 de fevereiro voltei pros caminhos do norte da Argentina.
    Peguei um bus em San Juan com destino a Salta, penultima provincia do Norte da Argentina.
    Salta é uma cidade linda, bem diferente culturalmente da Argentina que eu conhecia até entao. É uma cultura andina, e vi isso tanto na expressao forte do povo, com bochechas queimadas pelo sol e as vezes a boca preta de mascar coca, quanto nas roupas e jeito de viver.
    Dia 13 de fevereiro montei na bike carregada outra vez.
    Desta vez iria atravessar os Andes pelo Paso de Sico, na Puna do Atacama, um dos passos fronteiricos mais remotos da Argentina pro Chile.
    Sai de Salta cedo, tendo comprado comida para 7 dias de travessia, porque ia passar por muitos poucos lugares habitados. Neste primeiro dia subi de 1200 a 3200m, pedalando 120km.
    Estava curtindo tanto que nem vi quando o sol foi baixando no horizonte e decidi que era hora de procurar um lugar pra dormir. Passei por Santa Rosa de Tastil, mas decidi ir mais um pouco. Em Las Cuevas pedi agua numa casa e perguntei onde podia armar minha barraca. O cara nao falava muito bem espanhol (seria o Quechua sua lingua principal?) mas entendi que tinha uma casa abandonada mais acima na estrada.
    Pra la rumei e cheguei numa casinha de adobe linda, e realmente nao morava ninguem. Coloquei a bike pra dentro, ja no escuro, e nem armei a barraca. Entrei no saco de dormir depois de comer um sanduiche e me fui pro mundo dos sonhos.
    Na 2a manha o pneu da bike amanheceu furado. Como estava a apenas 45km de San Antonio de Cobres, decidi tentar uma carona. Maaaaas as estradas nao sao mto frequentadas e depois de 3h sem passar nem um carro, voltei a Las Cuevas e com alguma ajuda consegui resolver o problema.
    Comecei a subida rumo ao Abra Blanca (4050m) quando o pneu (traseiro agora) esvaziou um pouco. Minha bomba de encher estava com problemas tambem, entao sentei na beira da estrada e pensei minhas opcoes: ou voltava pra Salta e comprava uma camara de ar nova, ou ia pelejando pra frente. Como sempre busco o mais emocionante, optei por ir em frente. ehhe
    Por fim, depois de muitos altos e baixos, na estrada e na vida, cheguei em SA Cobres (3870m). ´É a ultima civilizacao pelos proximos 350km ate chegar no Chile. Acampei atras da Igreja, fiz um rango brutal e dormi.
    No 3o dia atrasei a saida pra tentar comprar uma camara de ar, mas nada. Outra vez o dilema. Decidi arriscar e mais uma vez seguir adiante, mesmo sem camara de ar reserva pra rodar 350km de estradas altamente isoladas.
    Saindo tarde, tinha 65k ate Olacapato, onde planejava dormir. Entrei realmente no deserto nesse dia, com montanhas lindas e imponentes em todas as direcoes que eu olhava. Com sofrimento cheguei ao Alto de Chorillos (4550m) e depois era uma longa descida! No final do dia um plano num terreno arenoso pra complicar mas no meio da tarde estava la.
    A diretora da escola deixou eu acampar na garagem, e fiz comida antes de sair pra dar uma volta pelo vilarejo. Esta realmente no meio donada, vivem ali 30 familias e nada mais. Sua conexao com o mundo externo e muito pequena e o povo fala entre si mais o quechua que o espanhol. Cultura forte de um povo aguerrido. Estao ja mais que acostumados com o frio, o vento e a altitude de 4050m.
    No 4o dia amanheceu frio, mas quando o sol apareceu no vilarejo sai com a bike. Foi um dia longo e duro (105km em 8h50 de pedal e 12h de estrada), atravessando 3x passos de mais de 4300 e estando o tempo todo acima de 4mil.
    Passei pelas aduanas chilena e argentina no meio da tarde e depois de uma longa longa subida num terreno horroroso mas com paisagens belissimas pra distrair, cheguei ao Paso de Sico (4300m) e depois ao Abra Sico (4450).
    Do alto vi o posto dos carabineros do Chile, onde na aduana me disseram q era possivel dormir. O sol estava se pondo quando cheguei la, mas fui recebido friamente e indicado que devia andar mais 8km ate a Mina El Laco onde poderiam me acolher.
    Só que 4km eram a subida até o ponto mais alto de todo trajeto: o Abra El Laco, a 4580m. Me sentindo miseravel, continuei morro acima, empurrando contra o vento forte que vinha soprando a um tempo ja.
    Cheguei ja estava escuro na mina, e desta vez a recepcao foi brutal: o cara me ofereceu cama, banho e cozinha....foram os 8km q mais valeram a pena na vida.
    Exausto, tomei so um chocolate quente e apaguei.
    Na 5a manha levantei mais uma vez com o sol e comecei feliz a longa descida. Visual estava mais lindo que nunca, e logo cheguei na Laguna Tuyaito. Impressionante. Com um pequeno salar e aguas transparentes, os flamingos rosas que estavam por ali faziam do cenario algo inesquecivel. Fiquei um tempao parado ali contemplando.
    Continuei descendo e passei pelo Salar Aguas Calientes, depois na Laguna Miniques ate que finalmente o asfalto de novo. Eram 16h e faltavam 127km pra Sao Pedro de Atacama.
    Pensei: por que nao? E vim pedalando e pedalando e pedalando ate que as 21h, depois de assistir a um por do sol surreal cheguei na cidade extremamente turistica.
    Me hospedei num albergue, sai pra jantar e dormi.

    2 Comentários
    Drefahllucas 20/01/2017 13:29

    AI É BRUTO. PARABÉNS, LEMBRO DA VEZ QUE O BROU VEIO EM RONDÔNIA , FAMÍLIA DE GUERREIROS.

    Edson Maia 28/06/2019 21:12

    demais! ando sonhando com essas rutas selvagens.

    Jose Elias Martins Neto

    Jose Elias Martins Neto

    Belo Horizonte-MG

    Rox
    107

    Amante da natureza e dos esportes outdoor, tenho feito excursões em lugares inóspitos desde criança. Cada vez mais vou me aproximando de uma vida mais simples.

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