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André Lima 15/01/2019 13:55
    Paris-Brest-Paris 2011

    Paris-Brest-Paris 2011

    Continuando a transferência de relatos do meu antigo blog, trago o relato do Paris-Brest-Paris de 2011 e o resumo da classificação.

    Longa Distância

    O Paris-Brest-Paris é uma prova de ciclismo de longa distância que acontece a cada 4 anos organizado pelo Audax Clube Parisien, com um trajeto com mais de 1.200km que tem a largada em Saint-Quentin-en-Yvelines (+/– 30km de Paris) vai até Brest e retorna a Saint-Quentin-en-Yvelines. Os participantes tem o tempo máximo de 90 horas para percorrer o trajeto e vale lembrar que o PBP é um grande encontro mundial do ciclismo de longa distância e em 2011 teve quase de 6.000 participantes.

    Classificação/Inscrição

    Para participar do PBP o ciclista tem que completar um série chamada Super Randonneur que consiste em realizar os brevet de 200, 300 400 e 600 quilômetros com sucesso no mesmo ano/calendário do PBP, o calendário tem início em novembro e encerramento em outubro no ano seguinte.

    Para resumir minha situação, em outubro de 2010 tive minha bicicleta furtada, mas a vontade de participar do PBP era tamanha que fiz a inscrição para a primeira prova valendo para o calandário de 2011 e comprei uma nova bicicleta duas semanas antes da prova, para tentar garantir a classificação resolvi realizar as provas o mais breve possível no calendário nacional, então escolhi as provas abaixo, todas no Rio Grande do Sul.

    • Brevet 200 - 20/11/2010 - Santa Cruz do Sul
    • Brevet 300 - 02/12/2010 - Santa Maria
    • Brevet 400 - 08/01/2011 - Santa Cruz do Sul
    • Brevet 600 - 26/02/2011 - Venâncio Aires

    Dessas provas, apenas não consegui completar dentro do tempo o Brevet 600 (tempo limite 40 horas), ainda tentei ralizar o Brevet 600 em Curitiba onde tive vários problemas com a bicicleta, mas apenas consegui completar o 600 em Holambra - SP em 18/06/2011, quase no fim das inscrições para o PBP.

    Após o 600 de Holambra, comecei a organizar a viagem, comprei passagem, aluguei uma mala-bike e entrei em contato com outros brasileiros que estavam organizando a reserva de um hotel em grupo.

    França

    Ao chegar na França ainda tinha que pegar um trem e fazer algumas baldiações e até um taxi para chegar ao hotel el Plaisir, essa parte foi trabalhosa mas lega para exercitar meu frances inexistente, me virei falando apenas Bonjour e depois descarrendo um pouco do inglês que me restava....rs

    No hotel encontrei os outros brasileiros, entre eles Cezar e o Calvete ciclistas do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul respectivamente, e com quem eu havia feito amizade durante as provas de classificação, nos ambientamos a região, achando os restaurantes e lojas próximas, ainda faltavam alguns dias para a prova então fizemos um pedal até o local da largada do PBP para ir acostumando como o caminho. No dia anterior a prova, aconteceu a vistoria e retirada do kit, era uma formigueiro mas muito bem organizado.

    O PBP 2011

    No dia da prova logo após o almoço e junto com o Cezar e o Calvete fomos até a largada do PBP, no local acontece uma grande festas momentos antes da prova, mas chegou a hora, entrei na área de triagem para a largada das 90 horas, essa triagem é feita pra quebrar a largada em grupos de 500 ciclistas a cada 20 minutos, eu e o Calvete conseguimos entrar logo no primeiro pelotão, mas parece que não foi bom negócio, pois ficamos esperando muito tempo debaixo de um sol muito forte, eu tinha duas caramanholas de 750ml cada de agua e já estava consumindo antes mesmo de começar a pedalar, era um alvoroço, tudo mundo esperando pra começar a pedalar, quando chegou perto da hora cumprimentei o Calvete e lhe desejei boa sorte e começamos a pedalar.

    Nos primeiros quilômetros estava todo mundo junto, um grande pelotão com cerca de 500 ciclistas, as ruas de Saint-Quentin-en-Yvelines que levam até a estrada estava fechadas e os espectadores aplaudiam todos os ciclistas que passavam, em um determinado momento eu e o Calvete nos distanciamos, decidi seguir o caminho sozinho sem me preocupar, no início com todos juntos era muito fácil saber por onde seguir, mas já dava pra ver a sinalização que teria que seguir daí alguns quilômetros quando o pessoal estivesse mais espalhados, todo o caminho é marcado com placa com seta refletivas que indicam Brest na inda e Paris na volta, as cores das placas também são diferentes para não haver confusão.

    O calor era tanto para um fim de tarde, no fim do verão europeu, que o pessoal parava em qualquer lugar onde era possível pegar agua, nas casas no caminho os moradores montavam mesas nos portões e ofereciam agua e alguns até mesmo bolachas ou alguma outra coisa para comer, até mesmo a noite, era possível ver as mesas nos protões e isso foi uma constante em todo o caminho.

    O PBP segue por estradas secundárias sem passar por grandes rodovias e não demorou muito para começar a ver as paisagens rurais e pequenos vilarejos do interior da França, belas paisagens e lugares que parecem ter parado no tempo com construções muito antigas, algumas de pedra, a paisagem realmente encanta, e também tem todo o clima da prova.

    Os PCs do PBP são lugares que comportam um grande volume de pessoas, são montados em ginásios e escolas, neles são oferecidas refeições, algum tipo de apoio mecânico, banheiros, em alguns é possível tomar um banho e outros possuem um certo número de leitos para dormir.

    Minha passagem pelos PCs se tornou uma pequena rotina, carimbar o passaporte da prova, usar banheiro, comer e reabastecer a caramanhola...durante a prova em um momento ou outro encontrava algum conhecido, pedalando ou em algum PC...trocávamos algumas palavras rápidas e cada seguia seu caminho.

    Lembro de estar pedalando, não sei dizer em que trecho, quando encontrei o Luis Roberto Velho Lazary (ciclista de Porto Alegre), junto a nós vinham dois ciclistas franceses e quase conseguimos conversar com eles, ficou no ar algumas piadinhas com o que os gringos conhecem do Brasil, ou seja Pele e Ronaldo... encontrei o Lazary mais algumas vezes depois.

    Foi no PC de Loudéac que resolvi fazer a minha parada para descansar, Loudéac fica no meio do caminho entre Paris e Brest, eu cheguei lá já estava escuro, estava iniciando a segunda noite de prova, após comer fui para o dormitório que era uma quadra, na entrada havia um grande mural com o número dos leitos e os horários que seus ocupantes pediram para serem acordados, paguei a taxa para do dormitório e indiquei em um relógio desenhado em um prato de papelão o horário que eu queria ser acordado, então um “lanterninha” anotou o meu horário em um leito vago no mural e me levou até lá indicando o caminho com a lanterna em meio a centenas de camas em uma quadra...descalcei a sapatilha e deixei embaixo da cama junto com o capacete e outras coisas, a cama e era de acampamento, uma lona esticada em uma armação de metal e sem colchão, mas tinha um cobertor para enfrentar o frio (no fim do verão europeu os dias são muito quentes e a madrugada é muito fria).

    Acordei com dois “tapinhas” na cabeça, era o lanterninha me avisando que tinha dado meu horário, me arrumei para sair, quando sai do dormitório estava caindo um temporal era um pouco mais de 3 horas da manhã, estava muito frio, fiquei um tempo olhando o bicicletario e imaginado o quanto eu ia me molhar só tentando chegar até a minha bicicleta, após alguns minutos e me convencer que não havia outra forma, sai caminhando na chuva que peguei a bicicleta e segui caminho, poucas pessoas estavam saindo do PC naquele momento, a chuva se manteve forte por alguns quilômetros, eu tentei andar forte nas horas que se seguiram para compensar um pouco o tempo que fiquei parado.

    A paisagem se modificava na medida que se aproximava de Brest, ao longe era possível ver grande geradores eólicos que ficavam cada vez mais perto, se durante o dia estavam longe, durante a madrugada eu estavam em uma estrada que serpenteava por suas bases e o céu coberto de nuvens refletia a luz vermelha de sinalização das torres dos geradores, deixando a paisagem meio surreal, chegando próximo a Brest o tempo piorava e em um determinado momento eu estava envolvido em uma densa neblina sem muita visibilidade.

    Em Brest, passei pela famosa ponte que é a entrada da cidade e um marco para os randonneurs, o trajeto passava por diversas ruas de Brest antes de chegar no PC, chegando lá encontrei o Calvete que eu não via desde a largada, após descansar um pouco decidimos seguir, e pedalamos juntos desde então...seguimos as indicação das placas do PBP para sair de Brest, .não vou lembrar exatamente quando, mas após Brest encontramos o Cezar que seguiu junto conosco até Loudéac.

    Pedalamos um bom tempo, passamos pelos pequenos pontos de apoio montados pelos moradores locais, até chegarmos em Loudéac já era noite novamente, nesse momento o cansaço era tanto que não consegui comer, resolvi que iria dormir e fui para o dormitório, o Calvete fez o mesmo e combinamos um horário para sair, ao acordar resolvemos comer um pouco e saímos ainda enquanto ainda estava escuro.

    A desistência

    Já tinha passado um tempo depois de Loudéac, o dia estava ficando claro e eu não via mais o Calvete, estava muito cansado, ficando lento e quase não consegui ficar com os olhos abertos, não sei se ficar mais tempo dormindo em Loudéac iria ajudar, eu parei no canto da estrada fiquei em pé mas com a cabeça abaixada no guidão da bike, devo ter ficado assim por uns 5 minutos, tempo suficiente para começar a cochilar, escutando o barulhos dos ciclistas que passavam levantei a cabeça e continuei, um pouco a frente encontrei o Calvete expliquei que estava quase dormindo na bicicleta, ele também estava muito cansado, resolvemos fazer uma pausa e eu coloquei a bicicleta de lado deitei no chão na beira da estrada, devo ter dormido por uns 30 minutos, mais uma vez acordei com o barulho dos outros ciclistas passando, olhei para o lado o Calvete também estava dormindo.

    Quando resolvemos prosseguir, decidimos que precisávamos encontrar um lugar para tomar um café e comer alguma coisa, encontramos no próximo vilarejo um café que estava abrindo, entramos pedimos pão, frios, café e provavelmente mais alguma coisa que não me lembro agora, outros ciclistas entraram e pediram alguma coisa pra comer também, conversamos com uma senhora, provavelmente ela era inglesa por causa do sotaque, ela disse que estava muito cansada, coincidência, nós também...rs.

    Ficamos conversando sobre o que fazer, estávamos desanimados, cansados, e achando que não teríamos mais tempo, iriamos estourar o horário do próximo PC, nesse momento a ficha caiu como uma marretada em qualquer vestígio de animo que tentasse resgatar, não vai dar tempo estamos fora, acho que ficamos um tempo pensando nisso sem dizer nada.

    De nada adiantava ficar parado naquele café depois de comer, decidimos seguir até o próximo PC para entregar o passaporte da prova, fomos bem devagar, chegando lá procuramos o pessoal da organização entregamos os passaportes e as tornoseleiras magnéticas, naquele momento era o fim do sonho do Paris-Brest-Paris, demorou um tempo para entender que estava acabando, deixando tudo para trás, todo o esforço para chegar ali, mas também não conseguia seguir em frente, meu corpo dava sinais de muito cansaço, e pensar que próximo PBP seria apenas 4 anos depois me dava um sentimento de frustração e auto-piedade ao mesmo tempo, pensando que teria outra oportunidade mas que iria demorar muito para acontecer.

    O Retorno

    O responsável do PC, nos disse que ali não tinha trem para retornar para Paris, mas nos ajudou disponibilizando uma Van para nos levar até a cidade vizinha, cerca de 10 km, onde conseguiríamos pegar um trem, com destino a outra cidade que não lembro o nome, e lá pegar o TGV para Paris, chegando em Paris ainda pegamos outro trem para Plaisir, não lembro quantas horas demorou toda essa viagem e para quem já estava consado tudo isso era penoso demais, chegamos no hotel no meio da tarde, peguei as malas no deposito do hotel e fui pro quarto tomar um banho, já era por volta das 18 horas, pensei em tirar um cochilo e acordar as 20 horas para ir jantar, mas estava tão cansado que dormi direto até as 9 horas da manhã do dia seguinte, acordei meio sem noção do tempo, achando que só tinha cochilado um pouco, ao ver a hora me apressei para ir ao salão do café da manhã, chegando lá encontrei o pessoal que tinha completado e acabara de chegar, não vi o Calvete, tomei café e decidi ir até o estádio de Saint-Quentin-en-Yvelines ver o fim da festa pelo menos.

    No caminho dentro o parque, encontrei o Cezar retornando, ele completou e estava voltando para o hotel naquele momento, chegando em Saint-Quentin-en-Yvelines na saída do estádio encontrei o Richard que tinha acabado de completar, eu não podia mais entrar com a bicicleta dentro do estádio, mas podia entrar a pé pela entrada da frente, com o pé atrás deixei a bicicleta encostada na grade da passarela que dava acesso a essa entrada, sem nenhuma corrente, e entrei, lá dentro encontrei o Lazary que tinha acabado de chegar, haviam alguns estandes e fui dar uma olhada neles, comprei as fotos tiradas pela organização e também algumas lembranças, caneca, cartão postal, chaveiro, etc...

    Depois de um tempo decidi ir, a bicicleta estava no lugar, mas a caramanhola foi furtada, naquele dia eu decidi usar a caramanhola do PBP que ganhei no dia da vistoria, fiquei chateado e com medo que a bicicleta fosse roubada se eu a deixasse ali de novo, queria conseguir outra caramanhola, tentei entrar com ela no pela recepção do estádio mas um funcionário me barrou eu expliquei a situação pra ele, ele disse pra eu entrar e falar com alguém da organização enquanto ele ficava ali próximo a porta “de olho” na bicicleta. Fui direto a mesa que recepciona os ciclistas que completam e após explicar que a caramanhola foi furtada me pediram para aguardar ali, minutos depois a mulher que me atendeu me trouxe outra caramanhola do PBP e essa está muito bem guardada.

    Naquele dia, de volta ao hotel, tratei de desmontar a bicicleta e acomoda-la na mala-bike, empacotei tudo e arrumei minha mochila, naquela noite tivemos um último jantar com o pessoal reunido, o dia seguinte amanheceu chuvoso, depois do café da manhã reunimos todos os brasileiros na recepção do hotel para acertar o que cada um devia, a reserva tinha sido feita em grupo, após isso, procurei o funcionário do hotel para me informar quanto ficava um taxi para o centro de Paris, nesse momento um casal de canadenses que estava por lá disse que também ia para o centro de Paris e que podíamos dividir o taxi, pedimos um taxi com a observação que devia ser um carro grande, além de nós haviam a minha mala-bike e mochilas, a mala-bike do canadense e suas malas e de sua esposa, o taxi me deixou primeiro, me despedi do casal e paguei minha parte da viagem, ainda fique uma semana em Paris para conhecer a cidade...sei que turismo de cidade não se encaixa na proposta do Aventurebox, então apenas para resumir fui nos principais pontos turísticos, a Torre Eiffel, Palácio de Versailles, Louvre e outros...

    André Lima
    André Lima

    Publicado em 15/01/2019 13:55

    Realizada de 21/08/2011 até 25/08/2011

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    2 Comentários
    Suelen Nishimuta 13/02/2019 19:23

    É uma prova desafiadora! Parabéns querido! Amo você! Queremos o relato de 2019!! <3 Bjs

    André Lima 14/02/2019 10:56

    Su, vamos ter o relato de 2019 sim, vai dar certo dessa vez , Amo você!! bjos :)

    André Lima

    André Lima

    São Paulo - SP

    Rox
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    Ciclista, viajante e pai do Theo e da Mariana :) Autor do antigo blog PedalandoBicicletas e sempre planejando a próxima aventura!!! Instagram @andr.slima

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