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Bruna Fávaro 03/09/2018 20:32
    Cicloviagem Chapada das Mesas / MA

    Cicloviagem Chapada das Mesas / MA

    16 dias de bicicleta de forma autônoma nessa região belíssima ao Sul do Maranhão, repleta de cachoeiras e chapadões

    Cicloviagem Hiking Cachoeira

    Sento para escrever esse relato e penso “Nem sei por onde começar”.

    Não é a primeira vez que essa frase vem à cabeça no que diz respeito a essa viagem. A primeira ocasião foi três meses antes, quando me vi num quase vazio de informações de cicloviajantes autônomos que tivessem passado por toda a região da Chapada das Mesas. Agora, não se trata de “vazio” e sim de MUITA informação. De muitas histórias, vivências e sentimentos tão difíceis de relatar. De muito acolhimento, ajuda, sorrisos, bondade. De muita água quente e cristalina como só o Maranhão tem.

    Trata-se de uma região lindíssima e ainda pouco explorada pelo cicloturismo. Então, quem sabe com esse relato não animo alguém a ir pra lá explorar as infinidades de cantinhos que não pudemos conhecer, não é!?

    Acabei organizando esse texto da seguinte forma: primeiro, conto como foi o processo para decidir sobre a rota a ser pedalada. Depois, nossa experiência nos principais atrativos da região. Por fim, uma descrição maior da logística, voltada àqueles que pretendem conhecer essa Chapada também de bike e de maneira autônoma.

    Bora!?

    PLANEJAMENTO DO TRAJETO - UM CAPÍTULO À PARTE

    Já há dois anos tinha vontade de conhecer o Parque Nacional da Chapada das Mesas. Sempre que me embrenhava na tentativa de conhecê-lo, as opções se restringiam a pacotes turísticos de cinco ou seis dias vendidos a preços salgados pelas agências locais. As justificativas eram de que a região é de difícil acesso… os atrativos são distantes… etc. Ter a experiência de vivenciar um local tão rico de dentro de uma janela de carro 4x4 estava fora de cogitação. Mas não encontrei na internet nenhum relato de quem tivesse explorado a região como gostaríamos: de bicicleta, com tempo, de forma autônoma, incluindo as estradas de terra. Então, o jeito foi pôr a mão na massa e criar o próprio roteiro.

    Para isso fiz uma mescla de alguns tracklogs que encontrei no Wikiloc percorridos por bicicleta (sem bagagem), alguns percorridos por carros 4x4 e também traçando caminhos direto no Google Earth. Li muitos relatos de pessoas que conheceram os atrativos da região e fui tratando de descobrir onde eles se localizavam. Joguei tudo isso num saco, chacoalhei e saiu um caminho mais ou menos assim:

    Começando o pedal em Estreito, seguiríamos até a Cachoeira do Dodô e então entraríamos no Parque pelo Oeste, pouco abaixo do Rio Farinha até chegarmos nas cachoeiras Prata e São Romão, a Norte, e então na do Poço Azul, já a Leste. Dali passaríamos a voltar margeando a parte Sul, até chegarmos em Carolina, onde faríamos alguns “bate-e-volta” sem peso na bicicleta.

    Ao chegarmos na Cachoeira do Dodô, antes de virarmos para entrar na área do parque, a informação do Sr. Chico, dono da propriedade, foi categórica:

    “vocês vão querer estar no inferno, mas não pedalando por essa estrada”.

    Surpresos, ele nos explicou a resposta. Trata-se de um areião sem fim, de atolar carro 4x4 e o último que se atreveu a passar de bike ali, sem bagagem, só voltou depois de uma semana do trecho de pouco mais de 40km.

    Ficamos ali numa espécie de Waze humano tentando recalcular a rota. Pergunta dali, daqui, pensa e repensa e decidimos o seguinte:

    Da cachoeira do Dodô seguimos até Carolina, já aproveitando para conhecer os atrativos do caminho. Dali, seguimos como previsto até a Cachoeira São Romão, só que no sentido contrário: fomos primeiro sentido Poço Azul e acessamos a cachoeira São Romão pela parte de cima. Na São Romão, deixamos o peso da bagagem e fizemos um bate e volta até a Prata. O trecho era bem difícil, mas estar sem a bagagem tornou ele possível. Para sair da Prata e voltar até Carolina não teve jeito e pegamos uma bela carona na caçamba de uma pickup.

    Assim, o trajeto efetivamente pedalado por nós ficou desse jeito:

    Chegar até o “coração” do parque, ou seja, nas Cachoeiras São Romão e Prata foi, sem dúvida a parte mais exigente e trabalhosa. E no final, ainda precisamos “sair” de lá com carona.

    Um detalhe curioso: fiz toda essa organização de tracklogs e, no final, acabei esquecendo o GPS em casa!! No entanto, tinha salvo todos os trajetos no app do Wikiloc, e então usei o que pude por ele e também gravei quase todo o caminho nesse aplicativo. A marcação de altimetria ficou toda errada e mesmo a quilometragem não batia muito bem com o odômetro da bicicleta, mas quebrou um galhão e permitiu o registro do pedal. No entanto, o que salvou mesmo foi o bate papo com as pessoas locais. :D



    PONTOS DE INTERESSE E NOSSAS HISTÓRIAS

    Como o próprio nome diz, trata-se de um lugar turístico, rs. E bastante caro. São R$60/pessoa para entrar, o que lhe dá direito a usar as piscinas, apenas. Para visitar as cachoeiras da propriedade, paga-se à parte cerca de R$30 a R$50 por roteiro, por pessoa. Bem salgado. O dono, o endinheirado empresário maranhense Pedro Iran (que tem empreendimentos nos mais diversos setores e foi beneficiado na ocasião da construção da BR230 Rodovia Transamazônica, que passa bem em frente à sua propriedade), parece não querer popularizar muito o acesso.

    Lá dentro, não é possível conhecer as cachoeiras de forma autônoma. É necessário ir nos grupos guiados com horários de saída, o que faz com que, para conhecer tudo, sejam necessários 2 dias de visitação. Ficamos um dia todo lá e conhecemos:

    - Cachoeira do Santuário

    Para chegar a ela, passamos por uma trilha ecológica composta por uns paredões bem bonitos. Já próximo é necessário entrar num “cânion” com água até a cintura para então avistá-la. R$30/pessoa.

    - Cachoeira da Caverna e Capelão

    Nesse segundo passeio visitamos 2 cachoeiras. Ambas muito bonitas. A mais divertida foi a do Capelão, porque ali pudemos subir nas paredes e saltar na água. R$50/pessoa.

    Uma boa dica que descobrimos apenas depois é acessar algumas das cachoeiras por meio do Balneário Encontro das Águas, que fica bem próximo dali e dá acesso também, com preços BEM mais atrativos.

    • CACHOEIRA DO DODÔ

    A cachoeira do Dodô foi assim como um grande presente. Chegamos lá tarde da noite e só aproveitamos a cachoeira na manhã do dia seguinte. Trata-se de uma queda d’água lindíssima e charmosa. Fica no fundo de um pequeno paredão e tem água muito cristalina. Em algumas partes da areia encontram-se pequenos fervedouros naturais. O proprietário preserva bastante o local e não vimos lixo espalhado. Durante o tempo em que estivemos ali encontramos apenas mais um casal. Sem dúvida foi das cachoeiras que mais gostamos. Está localizada a 2,5km da BR230, por estrada de terra/areia. Entrada R$10/pessoa.

    • CACHOEIRA ALDEIA DE LEÃO

    Foram 5km de estrada de terra, saindo da BR230, para chegar na cachoeira Aldeia de Leão. A cachoeira em si, pequena, repleta de cadeiras de plástico com garrafas de bebida por todos os lados. Mas dizem que o destino está sempre certo, né? Os proprietários, o Bruno e Irvani, tinham recém trabalhado como coordenadores da Funai numa reserva indígena no Tocantins (a dos Apinajés, nosso próximo destino após a Chapada das Mesas - de bike) e nos deram muitas dicas importantes. Além disso, ao pedalarmos de volta para a BR230, encontramos uma linda família, a dos Milhomem. Batemos um papo muito bom, ganhamos sorvete caseiro de açaí e ainda conhecemos o Daniel, protagonista do nosso próximo atrativo (o Morro do Chapéu). R$10/pessoa.

    A especial família Milhomen

    • MORRO DO CHAPÉU

    A ideia era subir o Morro do Chapéu. Talvez dormir lá. Só não sabíamos como. Olhávamos o Morro e parecia estarmos muito próximos, mas no mapa não parecia haver algum caminho de acesso direto. Ao conhecermos o Daniel na saída da cachoeira Aldeia de Leão, ele, muito disposto, resolveu pegar a sua Monark e ir mostrar pra gente um bom caminho até lá. Durante o caminho fomos batendo o maior papo e o Daniel se mostrou um rapaz muito especial: esperto, decidido e com muita vontade de viver! Assim, chegamos ao pé do morro, onde deixamos as bicicletas na fazenda do Sr. Antônio Batista, separamos algumas tralhas para comermos e passarmos a noite, e iniciamos a subida já próximo das 15h. A orientação do Daniel foi essencial. Sem conhecer o caminho e sem qualquer mapa, certamente nos perderíamos um bocado ali.

    Chegamos no topo já com o sol quase se pondo. Andamos um pouco por ali, trocamos despedidas com o Daniel, que desceu sozinho, na certeza de que nossos caminhos irão se encontrar em outros momentos. Então fizemos a janta e nos preparamos para dormir. Ajeitamos apenas o chão da barraca e fiz o meu primeiro bivaque, dormindo apenas com o sleepbag. Adorei a experiência! Acordamos cheios de picadas de sei lá o que, mas beleza, rs.

    Com o amigo Daniel, ao entardecer.

    Café da manhã vendo o sol nascer

    • CACHOEIRAS GÊMEAS DE ITAPECURU

    Bom, não foi o lugar do qual mais gostamos. Trata-se de uma área onde operava uma pequena usina hidrelétrica e também é o destino mais procurado na região. As cachoeiras ficam bastante cheias de gente e, infelizmente, os donos dos balneários permitem cadeiras e bebidas na beira da água. Um deles chegou, inclusive, a cimentar uma parte. Vale um bom banho. Passamos algumas horinhas da tarde ali e seguimos viagem.

    A dica é entrar pelo balneário Novo Banho, que cobra bem mais barato do que o mais famoso “Complexo Turístico Itapecuru” e dá acesso a uma outra queda d’água, bem menor.

    • POÇO AZUL/ENCANTO AZUL

    Primeiro é bom ter claro que são dois lugares diferentes. O primeiro deles é o caríssimo “Complexo turístico Poço Azul”. Já o segundo, o Encanto Azul, fica 6km à frente, e é uma propriedade privada que te cobra a entrada, apenas. Todas as cachoeiras e poços da região fazem parte do mesmo rio, o rio Cocal. Para visitar os dois a cidade mais próxima é a de Riachão.

    Cachoeira Santa Bárbara (Poço azul) à esquerda. Riacho Cristal (Encanto Azul) à direita.

    No Poço Azul passamos um dia inteiro. O lugar tem quedas d’água maravilhosas, cristalinas e quentes. Umas bastante altas, como a cachoeira Santa Bárbara, por exemplo. Ao todo, são umas cinco cachoeiras, se não estou enganada. Sem contar o tal do “poço azul”, que é mesmo de um azul inacreditável. Uma pena o local estar extremamente lotado de gente. A infraestrutura do complexo é bastante boa e é possível ficar por ali hospedado.

    Para conhecer o Encanto Azul, precisamos de metade de um dia. Bem mais simples e também menos cheio, o lugar tem basicamente duas áreas. Em uma delas há um poço lindíssimo chamado Cristal (o mais famoso). Mais ao lado, há o riacho Cristal, lugar muito agradável, em meio à mata e isolado da “muvuca”.

    • CACHOEIRA SÃO ROMÃO

    Chegar pedalando na cachoeira do Romão foi uma aventura à parte. É como se ela estivesse encravada num mar de areia e, muita bike empurrada depois, ainda precisamos fazer de carro os 20km finais. Chegamos lá já ao fim do dia, com o sol baixando. A impressão foi de muita admiração. Era a maior cachoeira que tínhamos visto até ali e não foi pouca a minha surpresa e contentamento em observar aquele espetáculo da natureza.

    Parte baixa da cachoeira São Romão

    Fomos recebidos pelo Sr. Jorge, proprietário do local, e por seus filhos. Uma simpatia de pessoa. Ficou até tarde conosco conversando enquanto preparávamos o jantar. Daquela conversa saiu um assunto que nos acompanhou por toda região do parque: o problema das indenizações do governo para os proprietários da região que veio a ser estabelecida como parque nacional. Eles reclamam do ônus que tiveram (impossibilidade de construções e uso da terra de diversas formas) sem que, até agora, houvesse qualquer indenização garantida por lei.

    Sr. Jorge.

    • CACHOEIRA RAIMUNDO DE JULIA

    Essa não é uma cachoeira que está na lista de atrativos da Chapada das Mesas.

    Ficamos sabendo numa conversa despretensiosa, ao parar para tomar uma água de coco na “barraca do Neto”, a 6km da cachoeira São Romão (no caminho para a Prata). Conversa vai, conversa vem, ele solta “Aqui atrás também tem umas quedinhas d’água”. Ficamos interessados e pedimos para ir lá. Ele pediu que seu filho mais velho nos mostrasse o caminho e convidamos para levar conosco seu outro filho menor, o Raimundinho. No caminho, passamos por outra casa e chamamos o primo deles, o André para ir também. O lugar é muito bonito! Trata-se de um desnível do próprio rio Farinha. Passamos uma tarde inteira ali com as crianças, brincando, correndo um atrás do outro, fazendo guerra de água e construindo castelos de areia de rio. Foi uma delícia!

    Batedeira, ou Mané de Julia

    O lugar recebe muitos outros nomes, entre eles Mané de Julia e também Batedeira! Eles gostariam de explorar turisticamente o local, mas as restrições do ICMBio o impedem disso. Ao sairmos em direção ao São Romão, onde passávamos a noite, o Sr. Neto nos convidou para um café da manhã no dia seguinte! Realmente foi uma família muito especial!

    • CACHOEIRA DA PRATA

    O último atrativo foi como a cereja, o morango, do bolo. Saímos cedo da São Romão, com as bicicletas descarregadas, no intuito de fazer um bate e volta na cachoeira da Prata. O caminho de 20km que as separam foi bem duro. Os primeiros 10kms foram mais fáceis, talvez por ter chovido um pouco e ter assentado a terra. Mas os 10kms finais nós praticamente só empurramos. Demoramos cerca de 4 horas para percorrer o trecho. A parte boa é que tinham pelo menos uns três riachos ao longo do caminho, onde nos atirávamos com roupa e tudo.

    Refrescando

    Ao chegar na Prata, já pude perceber o quanto o lugar era especial. O proprietário, sr. Deusivan, nos recebeu e pediu que seu filho, o Emanuel, fosse conosco até as cachoeiras. Realmente foi a mais bonita que visitamos em toda a viagem. O lugar era extremamente agradável, grandioso e a água de uma beleza sem fim. Para melhorar ainda fomos presenteados com um belo arco-íris assim que chegamos.

    Parte baixa com as duas cachoeiras da Prata

    De tão gostoso nem pensamos duas vezes em ficar por ali mesmo e só voltar para São Romão no dia seguinte. Então sem ter absolutamente nada conosco, apenas água, carteira e celular, jantamos por ali e dormimos numa rede que o Sr. Deusivan colocou para gente numa área externa coberta.

    Família do Sr. Deusivan à esquerda; Café da manhã delícia à direita.

    Para melhorar, no dia seguinte, ao sairmos com a bicicleta de volta para São Romão, encontramos o pai do Sr. Deusivan, o sr. Pedro Carneiro, um senhor muito simpático que assim que nos viu nos convidou para entrar na casa dele e tomar uma água de coco fresquinha que acabara de colher.

    Família do Sr. Carneiro

    Após a pedalada pela Chapada das Mesas, pedalamos pela região da reserva indígena Apinajé-TO, conhecemos São Luís do Maranhão de caiaque e curtimos as dunas nos Lençóis Maranhenses, totalizando 26 dias de viagem. Em breve publicarei o relato dos outros trechos. :D

    LOGÍSTICA

    As hospedagens foram muitas e das mais diversas. Desde pessoas cedendo quartos em suas casas, outras permitindo armar rede em barracões e também a tradicional barraca, tanto em camping como na beira de rio. Ah! Pagamos pousada algumas vezes também rsrs. Um ponto importante a ser dito: entre 3h e 5h da manhã esfria bastante! Só descobrimos isso na primeira noite de rede e acabamos comprando blusa de frio pelo caminho, pois não havíamos levado nenhum agasalho.

    Já para a alimentação, precisou haver um planejamento mais cuidadoso. Primeiro, levamos de São Paulo muitas coisas que acreditávamos ser difícil de encontrar e gostaríamos de consumir (macarrão integral, granola sem açúcar, café bom, banana passa). Também levamos restos de alimentos de outras viagens, para não ter que comprar no caminho (leite em pó, couscous etc.). Isso fez com que carregássemos bastante peso. Não foi em todo lugar que encontramos mercados, mas sempre havia uma pequena mercearia. Foi bastante difícil encontrar salame e atum, mesmo nas cidades grandes.

    Um detalhe importante: em nenhum momento compramos água mineral. A opção era sempre pedir nas casas, nos restaurantes, nos postos de combustíveis a água “que as pessoas daqui bebem”. Carregávamos uma mochila de hidratação, mais uma caramanhola, uma ou duas garrafas PETs. Levamos hidrosteril e usamos apenas em uma ou duas ocasiões, quando pegamos água de “fontes duvidosas” para cozinhar.

    Para cozinhar, compramos em Imperatriz apenas um cartucho de gás da Nautika (Loja Só Pesca, Av. Getúlio Vargas, 1431) e, pela primeira vez na vida apostamos na espiriteira à álcool. O que não contávamos é que NÃO encontraríamos álcool à venda em postos de combustíveis. Achamos apenas um posto em Estreito com um álcool de péssima qualidade. Na hora de cozinhar, o gás acabava muito rápido e em poucos dias já estávamos aflitos pensando onde conseguiríamos mais cartuchos da Nautika. Para nossa sorte, ao chegar em Carolina encontramos para vender na loja Centell Mix, no centro da cidade.

    A rodovia que liga Estreito a Carolina e depois a Riachão tem asfalto e acostamento impecáveis (BR230 - a Transamazônica). A partir de Feira Nova do Maranhão (MA338) passa a ser estrada de terra batida/cascalhada (localmente conhecida por “piçarra") até encontrar com a MA138, que também é cascalhada pelo menos até a região do Assentamento Sol Nascente. Dali até dentro do parque, a estrada piora bastante e chega a ser impossível pedalar.

    Sobre as empresas de ônibus no Maranhão (JR4000, Satélite Norte, Açailândia), nenhuma nos cobrou qualquer taxa para viajar com a bicicleta. Inclusive, permitiram colocar dentro do bagageiro dos ônibus as bicicletas montadas, em pé, com os alforjes. Vale ressaltar que em um dos trechos pegamos um ônibus de dois andares e, por ter o bagageiro pequeno e no alto, deu um trabalhão para guardar ali as bicicletas.

    UM PEQUENO DIÁRIO DE RIO EM RIO

    (ou dia a dia, se preferir)

    Essa parte é destinada mais àqueles que estão planejando pedalar na região... Aqui pretendo fazer um breve relato, dia a dia, das hospedagens, presença de mercados, quilometragem dos trechos, condições do terreno, acesso à água e transportes.

    28/6 - São Paulo - Imperatriz

    Saímos de SP/GRU em direção à Imperatriz, no Maranhão. Voo noturno. Fomos pela LATAM que nos cobrou 110,00/bicicleta. Levamos as bicicletas em mala bike. Despachamos o conteúdos dos alforjes em uma mala. Durante o pedal carregamos tanto o mala bike quanto essa mala dentro dos alforjes.

    29/6 - Imperatriz - Represa

    Chegamos em Imperatriz às 2h da manhã e ficamos no processo de montar a bicicleta e os alforjes durante pouco mais de duas horas. Ao amanhecer, saímos pedalando para comprar o cartucho de gás no centro da cidade e ir até a rodoviária, onde pegamos um ônibus da Satélite Norte até Estreito (compramos pelo app Guichê virtual, não vendia na rodoviária).

    Em Estreito passamos no mercado para comprar o que faltava, pois depois só encontraríamos mercado na cidade de Carolina. Pedalamos 20km em ótimo asfalto até a casa do Sr. Chico, na beira da represa do rio Tocantins. Ele nos ofereceu um quarto em sua casa para dormirmos e também nos deu o jantar.

    30/6 - Represa - Pedra Caída

    Pedalamos 43km em ótimo asfalto até o complexo Pedra Caída. Lá, conseguimos isenção de entrada e um baita desconto para nos hospedarmos num chalé. No caminho cruzamos o Rio Farinha, já bastante volumoso (esse é o principal rio que corta o Parque Nacional).

    1/7 - Pedra Caída - Cachoeira do Dodô

    Passamos o dia na Pedra Caída e no final da tarde seguimos pedalando 5km de asfalto e 2,5km de terra até a cachoeira do Dodô. Lá, dormimos de rede em uma cabana em construção. O Sr. Chico não nos cobrou pela cabana, apenas as entradas. Ali funciona um bar que também serve refeições.

    2/7 - Cachoeira do Dodô - Cachoeira Aldeia de Leão

    Saímos da cachoeira do Dodô mais de 13h em direção à cachoeira Aldeia de Leão. Foram 20km de asfalto e 5km de terra/areia. No caminho paramos num bar chamado Pisa no Freio e também para conhecer o Portal da Chapada, a famosa pedra furada pela ação do vento (pagamos meia entrada, R$5/pessoa). Na Aldeia de Leão combinamos dormir no redário, mas acabamos dormindo num quartinho cedido pelos proprietários. Pagamos apenas a entrada.

    3/7 - Cachoeira Aldeia de Leão - Morro do Chapéu

    Saímos da Aldeia de Leão e fomos pedalando 17km entre asfalto e terra batida até a base do morro do Chapéu. Conversamos com o Sr. Antônio Batista, que guardou as bicicletas para a gente, e subimos o morro com o Daniel, amigo e morador local, onde fizemos o jantar, dormimos de bivaque e tomamos café da manhã no dia seguinte.

    4/7 - Morro do Chapéu - Carolina

    Após o lindo amanhecer, andamos por cima do morro e descemos com nossas coisas. Pedalamos 13km entre terra batida e asfalto até a cidade de Carolina onde nos hospedamos bem no trevo da cidade, na pousada Bacabal (R$50/quarto). Em Carolina visitamos o superinteressante Museu Histórico, tomamos uma cerveja na beira do rio Tocantins ao entardecer e conhecemos a Cristiane Rios, que oferece sua casa pela rede Airbnb. Na cidade encontramos supermercados e também a loja que vendia cartucho de gás Nautika (Centell Mix). Jantamos num restaurante bacana chamado Mocotozin.

    5/7 - Carolina - Posto Fical

    De Carolina saímos cedo para conhecer as cachoeiras gêmeas de Itapecuru. A dica foi entrar pelo balneário “Novo Banho”, que dá acesso às mesmas cachoeiras e cobra mais barato. Seguimos pedalando até um povoado chamado Posto Fiscal onde a família da Dona Ana nos ajudou com água (ela tinha poço artesiano) e indicando um tal barracão onde era possível colocar rede/acampar. O dono do barracão, o Sr. Armando, estava lá e permitiu que passássemos a noite ali. Pedalamos 51km no total, sempre em ótimo asfalto e acostamento.

    6/7 - Posto Fiscal - Riachão

    O dia estava bastante quente. A estrada não oferecia nenhum atrativo. Pedalamos 19km até o povoado de Alto Bonito, onde fizemos uma pausa numa lanchonete. Lá decidimos pegar uma van (que na verdade era um ônibus véi...) até Riachão (R$10/pessoa). As bicicletas foram conosco, no corredor, entre os assentos. Nisso, quebraram (ou percebemos que estavam já quebrados) o bagageiro frontal do Luiz, um raio da roda frontal dele e mais dois raios da roda traseira meus. Em Riachão havia supermercado, bicicletaria e também o Sr. Ferreira, que é (acredite) ferreiro.

    Luiz consertou com ele o bagageiro enquanto eu levava as rodas para arrumar na bicicletaria. O rapaz conseguiu arrumar a roda do Luiz, mas não tinha a ferramenta para abrir o cassete da minha. Nesse dia nos hospedamos na Pousada do Elson (R$60/quarto com café).

    7/7 - Riachão - Rio Cocal

    Pela manhã peguei um táxi (R$20) até a cidade de Balsas para consertar os raios da minha roda. Fiz isso na loja “Marinho peças”. Bem grande e cheia de produtos. Voltei antes das 11 da manhã e então partimos rumo ao Poço Azul. No caminho paramos para um mergulho num local chamado Frutuoso, com piscinas naturais. Passamos também por um balneário chamado Águas Lindas, mas não o conhecemos. Acabamos dormindo pouco antes de chegar no complexo turístico Poço Azul, na beira do rio Cocal, na barraca. Foram 30km no total, sendo os 15km iniciais em estrada de asfalto e os 15km finais em estrada de terra bem batida.

    8/7 - Rio Cocal - Poço Azul

    Pedalamos menos de 1km até o complexo turístico Poço Azul. Passamos o dia lá conhecendo todas as lindas cachoeiras. Ganhamos uma hospedagem no camping do local (custa R$70/barraca).

    9/7 - Poço Azul - Encanto Azul - Bacuri

    Deixamos nossa bagagem no Poço azul e pedalamos 5,6km até o conhecido Encanto Azul. Voltamos, arrumamos nossas coisas e conseguimos uma carona de uma família de Belém de volta à estrada que liga Riachão a Feira Nova, economizando 15kms de pedal. Da bifurcação, pedalamos 19km até o povoado de Bacuri. Lá, dormimos em rede numa casa abandonada ao lado do posto de combustível na entrada da cidade, onde pudemos tomar banho e usar o banheiro cujas portas eram de vidro transparente (!). No povoado, havia pequenas vendas e padarias, mas não mercados.

    10/6 - Bacuri - MA 138 (Escola Hildebrando Coelho)

    O trecho seguinte não tinha nenhum atrativo e estávamos atrasados no cronograma da viagem. Então decidimos seguir até Feira Nova de carona/bus. De Bacuri pegamos uma carona até o povoado de Placas. Em Placas conseguimos água gelada numa escola pública e pegamos um ônibus da empresa JB até Feira Nova, onde chegamos perto de 12h. Lá fizemos mercado, compramos blusas de frio (!!), pegamos umas dicas de caminho com ciclistas da cidade e pedalamos 18km até a MA138 por boa estrada de terra, onde nos hospedamos em redes na Escola Estadual Hildebrando Coelho, bem no entroncamento. No caminho passamos mais uma vez pelo rio Farinha, aqui ainda bastante estreito.

    11/6 - MA 138 (Escola Hildebrando Coelho) - Cachoeira São Romão

    Saímos bem cedo para o que seria o trecho mais exigente. A estrada era boa, de terra mais firme e passamos por quatro rios pelo caminho (Ribeirão das Cobras, Rio Guará, Ribeirão da Mata e Rio Bofe). Chegamos numa lanchonete do Sr. Zé da Grota, já próximo à região do Assentamento Sol Nascente. Lá ele nos indicou que o caminho até o Assentamento Luís Rocha era “pedalável”, mas dali até a cachoeira do São Romão ele não sabia dizer. Fomos conferir e, chegando lá conversamos com o Sr. Vicente que nos convenceu não ser possível passar no próximo trecho de 20km até a cachoeira, por ser de completo areião.

    Convencidos que estávamos, tínhamos a opção de dormir ali e arriscar pedalar no dia seguinte ou pagar alguém que nos levasse lá de carro, já que não havia possibilidade de carona ali (por ser muito isolado e fora da rota turística). Escolhemos ir de carro e pagamos R$80 para o Sr. Dotô nos levar. Assim, chegamos na cachoeira São Romão depois de 36km pedalados + 20km de carro. O trecho era realmente impedalável. Nos hospedamos ali no camping do Sr. Jorge, na São Romão, por R$25/casal.

    12/6 - São Romão - Mané de Júlia - São Romão

    Saímos já às 11h para um pedal bate e volta sem bagagem até a 6km dali, na cachoeira Mané de Julia, também conhecida como Batedeira. Nessa noite, já de volta ao acampamento, jantamos uma carne de sol servida ali pela família do Sr. Jorge.

    13/6 - São Romão - Cachoeira da Prata

    Às 7h30 estávamos tomando café na casa do Sr. Neto, próximo à cachoeira São Romão. Dali partimos num pedal sem bagagem até a cachoeira da Prata. Choveu pela manhã e o terreno ficou mais amigável nos primeiros 10km. A partir dali, os 10km finais foram feitos quase completamente empurrando a bicicleta. Apesar disso, a paisagem é belíssima. Foi possível avistar uma serra chamada “Castelo”, com uma formação rochosa bem peculiar e também nos banharmos em três deliciosos riachos de água cristalina. 20km depois, a cachoeira da Prata nos pareceu um excelente local para dormirmos, apesar de termos levado para lá nada mais do que água e um pequeno lanche. O Sr. Deusivan providenciou uma rede, pagamos pelo jantar e pelo café da manhã (com direito a cuscuzes de milho e de arroz também) e voltamos só no dia seguinte.

    14/6 - Cachoeira da Prata - São Romão - Carolina

    Saímos da cachoeira da Prata já com saudades e encontramos no caminho o proprietário, o Sr. Pedro Carneiro, que nos convidou para uma água de coco fresquinha. Dali pedalamos uns 7km até conseguirmos uma carona de pickup de agência de turismo que ia em direção à São Romão.

    Em São Romão, arrumamos nossas coisas e conseguimos uma carona com uma família de Fortaleza que estava a passeio e voltaria dali para um camping próximo à Carolina. Colocamos tudo na caçamba e partimos para um trecho de muita, muuuuita, MUITA areia (lembram do que disse o seu Chico, da Dodô?). Do camping ainda conseguimos uma segunda carona até a cidade de Carolina, onde nos hospedamos novamente na pousada Bacabal (R$50/quarto) e conhecemos o Severiano e o Vilmar, ciclistas da região de Estreito e Carolina respectivamente.

    15/6 - Carolina - 2º parte da viagem

    Encerrada a primeira parte da viagem, pedalamos até a rodoviária onde pegamos um ônibus da viação JR4000 até Porto Franco, e então passaríamos a pedalar pelo Tocantins - mas isso é só em outro relato! ;)



    GASTOS

    (Sempre considerando o valor para 2 pessoas)

    • Com hospedagens: R$375
    • Com transporte: R$202,00
    • Com tickets de entrada: R$260,00
    • Com mercados: R$254,00
    • Com almoços/jantas: R$255,00
    • Com lanchonetes e afins: R$520
    • Com sorvetes: R$33,00
    • Com equipamentos de camping e bike: R$126,00
    • Outros: R$215,00

    Média de R$53,3/dia/pessoa.

    Bruna Fávaro
    Bruna Fávaro

    Publicado em 03/09/2018 20:32

    Realizada de 28/06/2018 até 14/07/2018

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    12 Comentários
    Pedro 04/09/2018 18:41

    Lindas as fotos!!! Parabéns!

    Alessandra 04/09/2018 19:32

    Que aventura! Muito legal!

    Marcelo Baptista 04/09/2018 22:18

    Poutz, Bruna, que trip!! Maravilha de lugar!

    Renan Cavichi 05/09/2018 13:05

    Parabéns pela trip Bruna, lugar lindo demais!

    Geovani Oliveira 05/09/2018 15:17

    quero quero quero

    Uauull... mas que rolê MAGNÍFICO.. Parabéns. As fotos, (principalmente o café da manha com aquele nascer do SOL..AMEI) os relatos e os trechos que vc expôs aqui ficaram fantásticas. Estou planejando uma aventura dessas porém, estava em dúvida do lugar. Agora com esse brinde que vc forneceu.. ha ha ha... o skema...kkk .. Rumo ao Maranhão. abraços e até.

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    Fabiana Tostes 05/11/2018 08:59

    Que bacana esse pedal! Sou de Minas e trabalho aqui no Tocantins, perto do Estreito. Fico longas temporadas aqui e só fui uma única vez em Carolina e muito rápido. Me inspirou aproveitar mais a região.

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    Lula Ribeiro & Lucineth 13/11/2018 17:49

    BRUNA QUE BELEZA TER UMA NATUREZA TODINHA PRA APRECIAR. UM ABRAÇÃO.

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    Bruna Fávaro

    Bruna Fávaro

    São Paulo

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    Montanhista, ciclo-mochila-viajante, professora e de bem com a vida!

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