AventureBox
Crie sua conta Entrar Explorar Principal
Bruna Fávaro 23/04/2017 11:07
    Cicloviagem Volta na Chapada Diamantina

    Cicloviagem Volta na Chapada Diamantina

    Cicloviagem de 11 dias percorrendo as belíssimas cidades em torno do Parque Nacional da Chapada Diamantina - Bahia

    Cicloviagem Longa Distância

    Eu nunca havia feito uma longa viagem de bicicleta quando decidi, às vésperas das férias, com meu amigo Luiz: vamos dar a volta na Chapada Diamantina! Ele, que tem bastante experiência em cicloviagens – e aparentemente bastante coragem também, rsrs – topou na hora e agregou no grupo seu amigo (que se tornaria nosso), o Murilo.

    Partimos de carro desde São Paulo, levando as bikes conosco, até a cidade de Mucugê, na Bahia, onde intencionávamos iniciar o roteiro circular pela Chapada. Lá, precisávamos deixar o carro em algum lugar seguro enquanto pedalávamos. E quase como um milagre de Natal (já era dia 24/12!), conhecemos um morador, que também é ciclista, o Jacó.

    Jacó nos ofereceu ficarmos hospedados em seu sítio na região do Capãozinho - entre Mucugê e Guiné - em frente à belíssima Serra do Sincorá. Além disso, podíamos deixar o carro lá durante todo o tempo em que estivéssemos pedalando. Foi ou não foi um baita presente?

    Lá, em seu sítio, pudemos nos organizar para partir para o pedal e também tivemos contato com uma grande e doce figura, o caseiro Netão, que nos deu milho, feijão e toda sorte de gentilezas dos que têm o coração do lado certo do peito.

    Abaixo, fiz um relato simplificado de cada um dos dias do pedal. Foram 8 dias pedalando no circuito da Volta e 3 dias em que estivemos no Vale do Capão aproveitando a região. Totalizamos pouco mais de 250km rodados.

    Não havia pressa. Muitos trechos poderiam ter sido feitos em apenas 1 dia e não era necessário parar no Vale do Capão, por exemplo. Mas a opção não era lutar contra o tempo, e sim poder sentir atento cada uma das vivências que a viagem nos colocava pelo caminho: não somente a interação nem sempre fácil entre nós, mas também os pores do sol e amanheceres, as vegetações, as serras, as casas, os sabores das frutas e dos cafés e, principalmente, as gentes. As pessoas que nos acolheram de todas as maneiras, com quem trocamos pedaços sinceros de vida e que fizeram dessa viagem um ponto luminoso de esperança, gentileza e amor que para sempre estará guardado comigo.


    Dia 1 (26/12/16) - De Capãozinho até Mucugê

    Quilômetros: 39km

    Ganho/Perda de elevação: 396m/ -501m

    Saímos às 8h20 para o pedal e logo nos primeiros quilômetros tivemos o pneu da bike do Murilo furado. Baita azar. Os primeiros 26km foram de estrada de terra bem batida e os demais até Mucugê em asfalto.

    Próximo à entrada da cidade há um cemitério bizantino. Vale a visita pela curiosidade.

    Nos hospedamos na Estalagem Jardim do Éden, do Sr. Eloi (que também é dono de um camping quase sem estrutura alguma). Pagamos R$30/pessoa.

    Dia 2 (27/12/16) - De Mucugê até Igatu

    Quilômetros: 22,3km

    Ganho/Perda de elevação: 418m/ -656m

    Contrariando a informação de um caminhoneiro, que dizia que o trecho era "só descida!", pegamos os primeiros 10km de uma subida bem chatinha, de asfalto... quente. Próximo ao quilômetro 15, há uma entrada para a cidade de Igatu. Essa estrada é pertencente à antiga estrada real baiana, com parte do calçamento de pedras e outra de terra. Dela se tem um visual muito bonito.

    Nos hospedamos na casa de um amigo, o Dimitri, que nos recebeu com muita simpatia com sua esposa Michele.

    Dia 3 (28/12/2016) - De Igatu até Andaraí

    Quilômetros: 21,7km

    Ganho/Perda de elevação: 323m/ -633m

    Nos 6km iniciais do trecho encara-se um descidão de terra e pedras que é basicamente soltar o freio e ir embora. Era o que esperávamos que acontecesse, mas a descida não foi tão rápida assim: descendo, o alforge do Luiz caiu da bicicleta sem que notássemos (o que fez ele ter que voltar pra buscar), meu pneu furou (7x1 para o pneu) e uma mulher caiu da moto bem na nossa frente, quase sendo atropelada por um caminhão (então ficamos com ela um tempo, ajudando-a).

    Bom, depois de tempos, seguimos pelo asfalto e chegamos em Andaraí. Lá, passamos no posto de saúde para ver uma picada estranha na perna do Luiz. Depois tomamos um sorvete na famosa sorveteria Apollo. Depois do sorvete percebemos um novo probleminha: o bagageiro do Murilo havia quebrado. Passamos a tarde toda tentando arrumá-lo. Quando finalmente ele conseguiu arranjar um outro para substituir, minha corrente travou e perdemos um tempo para destravá-la. Ou seja, ficamos o dia todo em Andaraí resolvendo tudo isso.

    Nossa intenção era dormirmos às margens do rio Garapa, que é próximo da cidade. Mas com a noite já avançada, decidimos dormir no posto de gasolina da saída da cidade, na BA-142, chamado Posto Eden. Lá havia banheiro e ducha para tomar banho. Estendemos nossas redes no Cantinho do Caminhoneiro e não pagamos pela hospedagem.

    Dia 4 (29/12/2016) - De Andaraí até Rio Roncador

    Quilômetros: 14,5km

    Ganho/Perda de elevação: 212m/ -303m

    Saímos cedo e, menos de 3km da BA-142 depois, encontramos a saída de estrada de terra que leva ao rio Garapa. Com 6,5km totais chegamos ao rio Garapa e encontramos uma família bastante grande e reunida para preparar uma feijoada na beira do rio, a Família Nogueira. O César e seu filho Cauã nos convidaram para o almoço e também para subirmos o leito do rio e avistarmos algumas cachoeiras mais acima. Acabamos passando a tarde toda com eles e aproveitando o delicioso rio.

    Para dormir, apenas seguimos até o próximo rio, o rio Roncador, onde acampamos numa espécie de bar desativado, feito de bambus. Bem próximo ao local, há a pousada do Sr. Durval, onde é possível se hospedar. Passamos por lá para conhecer e compramos uns doces de jenipapo com sua esposa, a Dona Val.

    Dia 5 (30/12/2016) - Do rio Roncador até o rio Capivara

    Quilômetros: 10,5km

    Ganho/Perda de elevação: 145m/ -138m

    Os trechos que beiram os rios, tanto o de hoje, quanto o do 4º e do 6º dias, foram bem complicados. Muitos areiões, o que fazia termos que empurrar a bike por longos trechos; ou muitas pedras, que exigiam que a bike fosse levantada. Para mim, foi bastante cansativo.

    A ideia do dia era chegarmos em Lençóis. Porém, lá não teríamos onde nos hospedar gratuitamente. Então decidimos parar no rio Capivara, que fica próximo da cidade e parecia ser bastante seguro. Amanhecer às margens desse rio foi um espetáculo!

    Dia 6 (31/12/2016) - Do rio Capivara até Lençóis + ônibus de Lençóis para Palmeiras + Bike de Palmeiras até Capão.

    Quilômetros: Capivara-Lençóis: 11km // Palmeiras-Capão: 22,8km

    Ganho/Perda de elevação: Capivara-Lençóis: 174m/ -120m // Palmeiras-Capão: 607m/ -395m

    Conseguimos sair às 6h20 do rio Capivara e chegar em Lençóis cerca de 9h30. Precisei passar no posto de saúde, pois tive um problema no olho. Paramos e tomamos um belo café da manhã regado à tapioca de carne seca e, conversando com moradores, nos convenceram a não tentar ir de bicicleta com alforges pesados pelo trecho do morrão até Palmeiras (por ser um terreno pouco favorável), e menos ainda ir pela BR-242, por onde passam muitos caminhões.

    Sendo assim, tomamos um ônibus na rodoviária de Lençóis em direção à cidade de Palmeiras. Para isso, desmontamos as bicicletas e elas foram no porta malas do ônibus. Em Palmeiras, fizemos os ajustes nas bikes e partimos pro pedal, não sem antes apreciar um pouco a cidade, que é bem bonita e peculiar.

    O caminho de 10km até o povoado de Rio Grande segue tranquilo e plano. A partir dali tem-se uma subida muito, mas muito cansativa, com elevação de 300m em um trecho de menos de 5km repleto de areiões, que nos fazia empurrar a bike. Para mim, que era a menos experiente do trio, foi um perrengue!

    Chegamos no Capão já quase meia-noite, próximo das comemorações do Ano Novo. Encontramos um camping incrível chamado "Lakshmi". O lugar parecia um oásis em meio ao fervo que a cidade estava devido às festas. Calmo, organizado, limpo, silencioso. Pagamos R$25/pessoa/dia. E ainda tinha a opção de tomar um café da manhã indiano delicioso por R$18 na companhia do querido dono, o Sr. Eduardo.

    Dia 7 (1/01/2017) - Passeando pelo Capão

    Nesse dia tiramos folga e não fizemos nada além de passear pela cidade, comer pastel de jaca e tomar sorvete o dia todo. :D

    Dia 8 (2/1/2017) - Cachoeira da Angélica (Capão)

    Segundo dia de descanso. Juntamente com o Breno, morador do Capão que Murilo conheceu ao chegar na cidade, fomos de carro até a cachoeira da Angélica no fim do dia.

    Dia 9 (3/1/2017) - Bike até o Morrão (Capão)

    Quilômetros: 18,9km

    Ganho/Perda de elevação: 424m/ -423m

    Saímos de bike já tarde para um passeio até o cartão postal conhecido como "Morrão" e tentamos também, mas sem sucesso, chegar em Águas Claras. O caminho, todo de terra bem batida, é lindíssimo. Inicia-se por um trecho de estrada aberta até culminar num bonito single track, que já apresentava alguma dificuldade de fluxo devido às pedras. Ao fundo, a vista do Morrão é de encher os olhos. Lá pelas 16h, voltamos novamente para o Capão.

    Dia 10 (4/1/2017) - Do Capão até Guiné

    Quilômetros: 48,7km

    Ganho/Perda de elevação: 960m/ -942m

    Saímos do Capão e o caminho seguiu tranquilo, basicamente só descendo até a comunidade de Rio Grande, onde marcamos 10km. A partir dali, seguimos para esquerda em direção à Guiné. Depois da virada, após 13km, encontramos o povoado de Lavrinhas e lá ganhamos muitas mangas de um simpático morador.

    Dali seguimos mais 10km de subida (subida do "Cansa Cavalo") até alcançarmos o ponto mais alto da região, beirando a Serra do Esbarrancado. O visual era incrível e fomos presenteados com uma luz linda de fim de tarde.

    Desse ponto ainda pedalamos pouco mais de 15km até o centro de Guiné. Só tivemos asfalto próximo da cidade e os trechos de terra desse percurso eram bem mais tranquilos. No entanto, pegamos um caminho errado e andamos 5km a mais do que o necessário. Já em Guiné, à noite, não tínhamos onde nos hospedar. Então armamos as redes na praça central da cidade. À noite, choveu um pouco e então nos abrigamos na marquise de uma escola pública na mesma praça.

    Dia 11 (5/1/2017) - De Guiné até Capãozinho

    Quilômetros: 12,4km

    Ganho/Perda de elevação: 200m/ -120m

    O trecho final foi muito rápido. A estrada de terra era bastante boa e ainda pela manhã chegamos em nosso destino final, no Capãozinho, onde paramos no bar da Dona Neide para uma cerveja No Grau em comemoração à toda experiência deliciosa desse pedal.

    Bruna Fávaro
    Bruna Fávaro

    Publicado em 23/04/2017 11:07

    Realizada de 26/12/2016 até 05/01/2017

    Visualizações

    11990

    26 Comentários
    Wagner Tinoco 01/07/2017 17:21

    Sou louco pra passar um tempo na Chapada e conhecer o máximo possível. Provavelmente eu rode de carro, mas a ideia é fazer uns trekkings e a bike vai junto pra fazer algumas trilhas, mas sem dúvida a viagem de vocês foi de uma imersão muito maior, uma intimidade e proximidade muito maior com a natureza. Ainda faço uma dessas!! Muito legal mesmo!! Parabéns!!

    Lula Ribeiro & Lucineth 13/07/2017 08:39

    Realmente a chapada diamantina é encantadora. sempre que vou a BA pra mim é parada obrigatória ai em Lençóis lugar encantador,mim apaixonei. agora ha um luga na BA chamado GRUTA DOS BREJÕES, fica ai o convite.

    Mascarenhas 31/07/2017 10:39

    que belezura de circuito vocês fizeram! show!

    Valeu pelas dicas, Bruna! Agora que vi sua resposta.. hahaha =)

    Bruna Fávaro 15/08/2017 21:07

    Nossa, Lecy!! Que maravilhosa coincidência encontrá-la aqui no Aventurebox!! Lembro sim de vocês. Espero que tenham feito excelente viagem e que nossos caminhos se cruzem mais uma vez. Um abraço!

    Thiago 23/09/2019 23:21

    Bruna, muito bom o relato. Estou pensando ir em breve mas terei somente 9 dias contando com o tempo para chegar. Sua opinião, valeria a pena uma volta "express" em 7 dias?

    Bruna Fávaro 25/09/2019 18:11

    Thiago, valeria sim muito a pena! Quando fui, tive como base uma amiga que fez a volta em 5 dias.... Então é possível baixar esse tempo, eu é que sou lerda mesmo hahaha.

    Bruna Fávaro 25/09/2019 18:11

    Se precisar de apoio local, uma outra amiga chamada Pã Marangoni tem criado roteiros de cicloturismo na região... vale a pena buscar o nome dela nas redes sociais. ;)

    Bruna Fávaro

    Bruna Fávaro

    São Paulo

    Rox
    2891

    Montanhista, ciclo-mochila-viajante, professora e de bem com a vida!

    Mapa de Aventuras
    facebook.com/bruna.favarosilvio


    Mínimo Impacto
    Manifesto
    Rox

    Renan Cavichi, Dri @Drilify e mais 442 pessoas apoiam o manifesto.