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Bruna Fávaro 16/03/2016 10:40
    Saco do Mamanguá e Ponta da Joatinga

    Saco do Mamanguá e Ponta da Joatinga

    Trekking em Paraty, Rio de Janeiro: caminhada, cerveja e camarão no litoral da APA de Cairuçu.

    Trekking Acampamento Cachoeira

    Diferente de todas as dezenas de relatos que li sobre essa travessia, Gilberto e eu não a fizemos nos 4 ou 5 dias que são necessários para percorrê-la de uma tacada só. Por duas razões óbvias: não estávamos preparados fisicamente para isso e também porque estávamos de férias e queríamos aproveitar bastante cada pedacinho do trajeto, cada uma das praias.

    Dia 1: Paraty - Praia do Cruzeiro

    Depois de tomarmos café na cidade de Paraty, pegamos um ônibus na rodoviária em direção à Paraty-Mirim. Lá encontramos o início da trilha, que fica no fim da praia, à direita. Trata-se, na verdade, de uma subida desgraçada. Nos abastecemos de água e começamos a caminhada. Nesse momento dois caiçaras iniciaram o percurso e desapareceram na nossa frente, sem nunca mais serem vistos por nós.

    Cerca de 1 hora e meia depois avistamos uma entrada para uma 1ª praia, já no Mamanguá. Bom lembrar que em alguns momentos da descida a trilha fica bastante fechada, mas é só seguir que não tem erro.

    Sei que passamos por umas 5 praias com propriedades particular construídas. Queríamos chegar ao restaurante do Dadico, que conhecemos da outra vez que estivemos por lá, mas já eram 13h (FOME!!) e nos disseram que era necessária uma caminhada de mais 1 hora para chegarmos lá. Foi quando encontramos a tal Praia Grande (que de grande não tem nada) e lá o barqueiro Junior topou nos levar para o outro lado do Saco por R$25 (os dois).

    Achamos uma boa, desistimos do Dadico e chegamos na Praia do Cruzeiro (Camping do Sr.. Orlando) a tempo de almoçarmos uma porção de lula (R$35) com acompanhamento individual de arroz, feijão, salada e farofa (R$10 por pessoa).

    Montamos a barraca e caímos na água, que estava sensacionalmente quente. A praia do Cruzeiro é um lugar incrível. A recepção dos donos do camping (Sr. Orlando e D. Maria) é sempre muito gostosa e tivemos a sorte de chegar e ter apenas mais um casal acampando.

    Dias 2 e 3: Praia do Cruzeiro/ Pico do Pão de Açúcar

    Como tínhamos tempo, não partimos trilha a fora e ficamos lá curtimos a praia por dois dias. Conhecemos um casal que chegou com uma canoa havaiana, na qual o Gilberto deu delicioso rolê e me deixou chupando o dedo.

    Aproveitamos também para subir o Pico do Pão de Açúcar no fim da tarde, para pegar o pôr do sol. Por volta das 4h30 iniciamos a pernada ladeira acima. Não demorou 2 minutos para lembrarmos como era íngreme e escorregadia aquela subida. Mas o visual de lá de cima compensou tudo e até nos esquecemos do suor pra chegarmos até lá.

    Dia 4: Praia do Cruzeiro – Praia de Calhaus

    Saímos por volta das 10 horas, depois de tirarmos uma foto com o Sr. Orlando e Dona Maria, sempre bons anfitriões!

    Seguimos em direção à Praia do Engenho, de onde parte a trilha para a Praia Grande do Cajaíba. Segundo o Sr. Orlando, fica a cerca de 40 min de caminhada, umas 5 praias a frente. Mas pegamos a bifurcação errada e, ao invés de seguirmos beirando a praia, fomos por uma outra trilha mais acima e aparentemente bem fechada.

    O resultado é que, dos 40 minutos previstos, demoramos 2 horas até, enfim, chegarmos na Praia do Engenho. Essa praia parece praia particular, com uma casona enorme. Lá fomos orientados pelos funcionários a pegar uma trilha que sai por detrás da casa, subindo pela lateral à direita.

    Passamos o maior perrengue, que só não foi pior porque o sol não estava aparecendo, embora estivesse bastante quente.

    Depois de 2 horas de subida, encaramos 1 hora de descida, não tão íngreme, mas também bem cansativa, pois nossas pernas já estavam fracas e tínhamos muita fome. Por volta das 15h30 chegamos na Praia Grande do Cajaíba. Tinha medo de encontrar um tal “Robinho” que li em outros relatos, e ele viesse atrás de nós com sua arma impedindo que acampássemos por lá.

    Só que não.

    A praia, por conta do fim de ano, estava agitadíssima. Grande parte dela de fato é vazia, mas em um dos cantos existe um quiosque e até um camping. Almoçamos um PF de peixe (R$25pp) e partimos para Calhaus, onde um amigo tinha alugado uma casa (poderíamos acampar na varanda dele).

    Chegando em Calhaus, notamos que não seria tão fácil encontrá-lo, pois a praia não era tão pequena assim. Ficamos parados num posto de saúde esperando algo acontecer, e a noite ia chegando. Na perspectiva de não encontrar meu amigo, resolvemos perguntar para uma pessoa que estava em uma “casa” ao lado do postinho onde poderíamos acampar.

    Descobrimos que aquilo era uma escola e o professor, Julio Cesar, estava passando suas férias por lá. Ela nos disse que sem nenhum problema poderíamos acampar ali mesmo, de frente pro mar, na varanda do posto. No fim, meu amigo nos encontrou, mas preferimos ficar ali mesmo e aproveitar a vista pro mar.

    Dias 5 e 6: Praia de Calhau

    O professor Julio se mostrou uma excelente companhia, um cara muito gente boa, bom de papo. Nos convidou para preparar o jantar com ele, e nos permitiu usar a cozinha e o banheiro da escola. Acabamos ficando dois dias ali com ele, ouvindo todas as histórias malucas de sua vida caiçara.

    Como estávamos com a grana contadinha e não achamos nenhum peixe para comprar (pois os pescadores não saíram para pegar os peixes do cerco durante a tarde), resolvemos que nosso ano novo seria como de fato queríamos: com nada muito especial, numa praia tranquila olhando mar e sentindo o ar do litoral.

    Ficamos com o professor Julio, e o Gilberto preparou um delicioso patê de atum que comemos com bolachas e cerveja até quase meia-noite. Perto de virar o ano, o professor teve uma ideia: pegar emprestada do dono do bar (que estava jogado bêbado na areia) uma canoa enorme e ir remando até uma praia próxima (Pouso do Cajaíba) onde estava o agito e teriam vários fogos de artifício.

    E foi o que fizemos: num mar calmo, lua cheia, calor, vento fresquinho nós fomos até lá ver os fogos de longe. Foi tão especial, tão maravilho, que eu não tenho dúvidas em dizer: foi a melhor virada de ano da minha vida e um daqueles poucos momentos memoráveis que compõe nossas mais deliciosas lembranças!

    Dia 7: Calhaus - Martim de Sá

    Acordamos umas 9 horas, arrumamos tudo e partimos em direção à praia Martim de Sá. Para nossa surpresa, o professor Julio resolveu nos acompanhar, pois ainda que lecionasse ali na comunidade já há mais de 20 anos, nunca havia ido até essa praia a pé (!).

    Passamos por Itanema, que é uma praia bem pequena, com camping e quiosque também, e seguimos até Pouso do Cajaíba. De lá nos informamos e descobrimos que a trilha seguia por detrás de uma escola, à direita. Pegamos essa trilha, com várias bifurcações. Em pouco menos de 1 hora já estávamos no ponto mais alto e depois foi só descida. A chuva começou a cair.

    Ao final da subida encontra-se uma bifurcação importante que leva à cachoeira da Sumaca ou à Martim de Sá. A placa que indicava essa informação dizia que para Sumaca anda-se por mais 2 horas e mais 40 min para Martim.

    Já em Martim caímos direto no Camping do Seu Maneco (R$15 diária pp), comemos um PF de peixe, para variar um pouco (R$15 pp, peixe, arroz, feijão e farofa), montamos a barraca e nos despedimos do Prof. Júlio, que voltou para Calhaus.

    Começou a esfriar e a chuva engrossou bastante. Nossa barraca não era das mais confiáveis e ficamos com muito medo de entrar água dentro. Ainda mais porque não estávamos num lugar privilegiado, havia uma corrente de água passando bem ao lado, mas o camping estava lotado e não havia como mudar a barraca de lugar.

    Fomos dormir com frio e rezando para não entrar água na barraca.

    Dia 8: Martins de Sá com chuva

    Acordamos e ainda chovia.... e ficou o dia todo chovendo. Por conta disso, nem vimos a cara da praia. O camping estava vazio, pois todos estavam dentro das barracas. Só saímos ppara almoçar um PF de ovo (R$12), ficamos lendo sem fazer nada.

    Até que, de repente, um grupo que tinha feito uma verdadeira pousada de lonas resolveu ir embora e deixar tudo para trás. Explicação: como chovia muito, o mar estava bem “bravo” e nenhum barco saia ou chegava para fazer o trânsito de turistas. Assim, para ir embora, as pessoas tinham que pegar a trilha até Pouso do Cajaíba... e muitos estavam indo embora deixando tudo pra trás pois não queriam levar peso.

    É a vida, né?

    Bom pra gente, pois rapidamente nos apossamos do espaço deles, que deixaram as lonas todas “no esquema” pra nos proteger da chuva. Foi ótimo, pois a barraca deu uma secada, não precisávamos mais nos preocupar com a água entrando nela e também tínhamos a possibilidade de ficar para fora dela enquanto chovia.

    Dia 9: Martins de Sá - Ponta Negra (1ª tentativa)

    Acordamos e São Pedro havia ouvido nossas preces: não chovia mais. Tomamos café e combinamos de sair rumo à Cairuçu após o almoço. Lavamos a roupa suja, desmontamos e limpamos a barraca e encontramos um rapaz de Mogi das Cruzes chamado André que também estava aguardando para seguir rumo à Ponta Negra.

    Logo após o almoço seguimos em frente. Depois de 5 minutos de caminhada tivemos que passar por um pequeno rio que estava bastante cheio. Demos as mãos, os bastões de caminhada e conseguimos passar.

    Seguindo cerca de 15 minutos adiante, numa trilha bastante aberta e agradável, pois ela vai margeando um vale, encontramos um segundo rio. Esse sim bastante cheio... na verdade assustador. Tentamos subir seu curso para encontrar algum tipo de passagem ou trechos com melhores condições, mas nada.

    Entrava-se no rio já com a água na coxa... o “cagaço” falou mais alto e voltamos ao Seu Maneco com o rabinho entre as pernas (pois ele insistiu para que esperássemos mais um dia).

    Chegando lá ele não quis que pagássemos por mais uma noite e nos ofereceu ficar em seu rancho que era um verdadeiro resort! Na beira da praia, coberto, com um vento fenomenal que secou tudo o que estava úmido, inclusive a gente.

    Dia 10: Martim de Sá – Ponta negra (2ª tentativa)

    Às 9 horas saíamos do camping do Seu Maneco. Cerca de 30 minutos a frente encontramos o rio que não conseguimos ultrapassar no dia anterior. Hoje ele estava bem mais baixo e, sem grandes dificuldades, o atravessamos.

    A trilha é muito bonita, não só pelos rios que a cortam, mas porque temos sempre uma linda visão do litoral... do mar. De tirar o fôlego.

    Logo adiante encontramos a entrada de Cairuçu. Para chegar até a praia deve-se pegar uma descida MUITO íngreme e cheia, muito cheia, cheia mesmo, de pedras. Chegando lá encontramos uma moradora lavando roupas que nos vendeu três PFs de ovo (R$13pp), retirados do almoço que havia feito para sua família.

    Enquanto esperávamos ela preparar o rango, tomamos banho numa piscina feita por eles que segura a água que cai das cachoeiras. A praia é de areia grossa e ondas fortíssimas. Simplesmente sensacional. A praia mais bonita que já conheci, sem sombra de dúvidas.


    Almoçamos, fizemos uma hora por lá e estávamos criando coragem para encarar o trecho de subida que todos os relatos dizem ser “o pior”: de Cairuçu das pedras até Ponta Negra.

    Da praia seguimos em direção à casa do Sr. Apricho, ainda em Cairuçu. Ele é dono de um camping (R$15pp) que eu gostaria muito de ter me “hospedado”... ficará para a próxima vez. O Sr. Apricho nos explicou que deveríamos seguir até o Rancho do Josivaldo e, saindo do rancho, pegar a trilha da direita, a mais discreta. Essa é uma bifurcação que os mochileiros costumam citar (e errar) segundo os relatos.

    Depois disso encontramos poucas bifurcações, mas sempre pegamos a opção mais aberta, mais marcada e deu certo. No topo do morro (cerca de 3 longas horas depois), encontramos a tal da “toca da onça”, uma pedra imensa que faz um clarão, e que espero não tenha onças por perto. :)

    Mais 1 hora de descida, chegamos em Ponta Negra, por detrás das casas dos moradores. Já na praia, tomamos umas brejas para comemorar o tal “Trecho mais difícil” – que nem achamos tanto assim.

    Achamos a praia muito movimentada e estranha... fomos direto pro Camping da Branca (R$10pp), que fica no pé da trilha que parte pra Praia do Sono, tomamos mais umas tantas e fomos dormir, exaustos.

    Dia 11: Ponta Negra - Praia do Sono

    Saímos por volta das 10 horas da manhã e em cerca de 1h30 depois encontramos a entrada para Antiguinhos.

    Só então percebemos que já havia passado a entrada para Galhetas e nem nos demos conta... paciência. Passamos apenas pelo Rio Galhetas, que estava baixo. Descansamos um pouco em Antiguinhos e logo em seguida (não sei, foi muito rápido... 10 minutos?) chegamos em Antigos.

    De Antigos tomamos a trilha que vai para a Praia do Sono e às 12h30 estávamos descendo para a última praia da travessia. E para fechar com chave de ouro, eu tomei um tombo enorme nos últimos 100 metros da descida. Faz parte.

    Ficamos no camping da Ismênia (R$15pp), bem no início da praia, do lado de quem chega de Ponta Negra. A estrutura de banheiros e cozinha é excelente e montamos a barraca de frente pro mar – o que é mais difícil de fazer nos campings do outro lado da praia.

    Dias 12, 13 e 14: Praia do Sono - Vila do Oratório

    Ficamos alguns dias curtindo a praia do Sono. Aproveitamos para conhecer o tal “Poço do Jacaré”. O poço realmente é uma delícia e vale a pena a caminhadinha, que durou cerca de 30 minutos (ida). O resto foi aquilo: uma vida muito chata de praia, mar, sombra, comidas, bebidas, caminhadas, fotos etc.

    No último dia acordamos, tristemente arrumamos nossas coisas, tomamos um açaí de despedida e fizemos a trilha que leva à Vila do Oratório em 1h15. De lá, pegamos o ônibus (por volta das 12h) que leva à Paraty (R$8,00pp).

    Com relação aos gastos, o que pesou mais no orçamento foram os almoços (que eram janta também, porque eram feitos já bem tarde)... Devido à quantidade de dias, optamos por não levar nenhum equipamento de cozinha e ingredientes para almoço, por isso comemos PF todos os dias.

    No entanto, levamos tudo o que comemos no café da manhã e lanche de trilha para os 14 dias, e isso foi o que pesou bastante na mochila, apesar de ser um peso que ia diminuindo dia a dia.

    No total, fizemos 14 dias de travessia. Achei uma excelente opção, uma vez que a ideia principal era aproveitar as praias e as nossas férias!

    Bruna Fávaro
    Bruna Fávaro

    Publicado em 16/03/2016 10:40

    Realizada de 26/12/2012 até 09/01/2013

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    24 Comentários
    Bruna Fávaro 31/03/2016 07:08

    Olha esse mapinha, tem as trilhas todas: http://4.bp.blogspot.com/-4zd9wj-CMZU/UT3HD-KMKtI/AAAAAAAAOOM/fj_n7W9EaAg/s1600/MapaTotal.jpg

    Renan Cavichi 01/04/2016 19:49

    Massa, pegamos um mapa parecido com esse, mas acho que mais atualizado um pouco! Vamos colocar uma foto dele no relato ;)

    Tamara 26/07/2016 16:07

    Adorei Bruna! Sou apaixona por Pouso da Cajaíba, vou aproveitar suas infos pra conhecer a praia do cruzeiro.

    Vagner Ferreira 22/08/2016 22:13

    Esse lugar é lindo, fiz esse trekking em janeiro de 2016, quando o camping do seu maneco foi assaltado.. foi tenso.

    Bruna Fávaro 11/10/2016 14:05

    Aeee Tamara, boa! Dá pra ficar só na praia do Cruzeiro alguns dias. É uma delícia!

    Bruna Fávaro 11/10/2016 14:05

    Nossa, Vagner! Eu lembro quando isso aconteceu! Que perrengue heim!

    Larissa Chilanti 22/03/2017 11:01

    Sensacional o relato, Bruna! Realmente vale muito a pena gastar uns dias a mais nessa travessia. Fizemos em 7 dias agora no Carnaval e conseguimos iniciar e terminar por Laranjeiras, um pouco diferente do roteiro tradicional. Fiquei impressionada com seu relato do rio depois de Martim de Sá. É incrível como de um dia para o outro pode mudar tanto. Estava tão vazio quando passamos que achei que não existia mais esse temido rio kkkkk....Parabéns pela aventura!

    Jose Antonio Seng 29/04/2021 02:28

    Sensacional, Bruna. Eu fiz no sentido inverso a travessia e me pareceu muito mais facil. Tb dei sorte de nao pegar chuva dia algum. Essa travessia é sensacional ! E o ideal é como fizeram. Com tempo pra curtir o local. Tb levei alguns dias a mais.

    Bruna Fávaro

    Bruna Fávaro

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