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The Magic Cânion | Chapada dos Veadeiros - GO
Canionismo na Chapada dos Veadeiros - Goiás
Canyoneering WaterfallAcordei no dia 11 de maio de 2019 com uma alegria imensa. Depois de ter passado quase 15 dias em expedição no programa de Fundamentos de Educação ao Ar Livre - FEAL, da Outward Bound Brasil, ainda viriam mais emoções pela frente. Me recordo bem de ter ficado muito preocupado quando comprei as passagens para Brasília dois meses antes. Por conta de uma promoção, tive que comprar o vôo de retorno somente para o dia 12 de maio, já dois dias depois do encerramento das minhas atividades na Chapada. Lembro de ter me acalmado pensando que iria fazer algo legal pela por lá para aproveitar esses dias extras, mas eu nunca poderia imaginar o quão sortudo eu seria.
Lá estava eu ainda em Alto Paraíso, só que agora, com um convite muito especial. Nós iríamos descer o Magic Cânion. Um local pouquíssimo explorado na região e que eu já ouvia falar há dias. Algo que me marcaria para sempre.
Acordamos às 6:00 da manhã depois de termos deixado tudo quase pronto na noite anterior. Arrumamos o que faltava e colocamos nos carros para seguir viagem. Por volta das 8:00 estávamos saindo rumo ao nosso destino. Eu ainda não acredito que tive essa oportunidade. O Magic Cânion fica em uma propriedade particular, com acesso quase que totalmente restrito. Para minha sorte, eu estava com os mestres do canionismo nacional Humberto e Ion. Nada como estar com os caras certos.
Chegamos na propriedade, adentramos na porteira e seguimos rumo ao leito do rio. Depois de uma caminhada curta, lá estávamos nós nos preparando. Neoprenes vestidos, double checks em tudo. Partiu! Lembro de ter pensado: "não acredito que eu estou aqui com esses ídolos”. Ion, Humberto, Karina, Tomás e Maurício, valeu demais.
E vieram as primeiras descidas. Três rapeis de 20 metros e um de 25 metros em cachoeiras absolutamente magníficas. Durante a expedição do FEAL, também fizemos uma atividade de canionismo, mas nada se comparava à grandiosidade daquilo. Meus olhos se impressionavam em cada descida, em cada corrimão e em cada passada de corda no freio “8”. Eu conseguia sentir o meu coração batendo na ponta do meu pulso todas as vezes que eu segurava a corda em minhas mãos. O meu braço se movimentava num ritmo ditado pela força e velocidade daquelas águas geladas que corriam e batiam em meu capacete.
Não posso me esquecer de cada sorriso que eu vi naquele dia. Aqueles caras sérios que aparecem em fotos “padrão” de instrutores, estavam em seu lugar de magia. Aonde todas as suas energias místicas podiam ser colocadas para fora. Desciam, brincavam, trocavam ancoragens e, principalmente, se divertiam.
Foi quando um monstro de água surgiu na minha frente: uma descida de 65 metros. Eu nunca tinha passado por nada igual na vida e agora era minha vez. Eu conseguia sentir o arrepio na minha pele, mesmo por baixo do neoprene. “Vai, Bruno” – disse o Ion. Foi quando eu tentei puxar a corda. Não consegui. A água puxava a corda tão forte que se transformavam em uma coisa só. Eu não conseguia ver o fim. A cachoeira estava encaixada dentro de paredes que pareciam ter sido milimetricamente construídas por forças arcanas. Eu desci. Passo após passo, escorregão após escorregão, paradas para respirar, para colocar a cabeça debaixo d'água e descansar. Aqueles minutos pareceram horas. Aproximadamente na metade do rapel e eu ainda não era capaz de ver o fim. Foi nessa hora, sem conseguir ver os amigos que estavam acima ou os de baixo, que entrei em meu pequeno Nirvana. Eu sorria sem saber o porquê. Eu olhava pra todos os lados, bebia um pouco de água e gritava dentro de mim algo como: “woooooooooooww”. E isso se seguiu pelo resto do progresso até eu aterrissar em mais um lago, desencordoar e perceber que já estava de volta ao plano terreno.
As paredes do cânion se fechavam durante o nosso progresso. Estávamos cada vez mais apertados por aquela força bruta da natureza. Ela parecia querer nos engolir com dentes escarpados naquelas pedras molhadas. Era insano.
Vencemos as últimas duas descidas e comemoramos muito. Comemoramos muito, mesmo. Tínhamos vencido o tão aguardado Magic Cânion. Uma paz de espírito ironicamente provocada pela tamanha potência com que aquilo agitava o meu coração. Dava para sentir cada respiração saindo do meu peito ao olhar para o alto e tentar achar o azul do céu escondido como ilusão por aquelas gigantes paredes.
Por fim, arrumamos todos os equipamentos e encaramos uma difícil subida pela mata fechada e afiada pelo capim navalha. As mochilas estavam pesadas, mas nada que tirasse nossa excitação. A noite caiu, chegamos no carro, nos abraçamos e seguimos de volta para Alto Paraíso.
Eu não poderia estar mais feliz com a decisão tomada, sem querer, de ficar na Chapada por mais dois dias. Nada importava naquele momento. Trabalho, dinheiro, a matrix da sociedade moderna? Eu não pensava em mais nada. Eu só pensava naquele local que eu tinha encontrado. Eu só pensava naquele cânion. Humberto, eu achei o meu cânion, e ele era mágico.
Meui bacana o Relato! parabéns! me senti la!
Bruno, estou em lágrimas aqui porque consegui sentir a sua emoção!! Estou muito feliz por você ter encontrado seu cânion e tenho certeza que ele vai te levar a lugares cada vez mais mágicos. Torço por você!!! 👊