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Clube Outdoor 26/03/2020 19:25 com 7 participantes
    Monte Roraima - Parte I

    Monte Roraima - Parte I

    Primeira parte do relato da expedição de 8 dias realizada no Monte Roraima, fronteira entre o Brasil, a Venezuela e a Guiana.

    Montanhismo Trekking

    Evento: Monte Roraima
    Data: 22 à 29/02/2020
    Local: Tepuy localizado entre a Venezuela, o Brasil e a Guiana.
    Atividade: Expedição de 8 dias.
    Participantes: 16 pessoas
    Transporte: Avião + Taxi + 4x4

    Início e fim: Paraitepuy, Venezuela.

    Guia: Leopoldo (Roraima Destiny) - +58 424-9115872

    Prólogo

    Essa expedição ao Monte Roraima foi fruto de muito trabalho dos nossos administradores. Foram semanas e semanas fazendo contatos, montando logística, recebendo dinheiro, tirando dúvidas, efetuando pagamentos e acertando o roteiro. Foi imensamente trabalhoso, mas tudo valeu a pena. Desde que começamos com esse projeto louco que é o Clube Outdoor, sempre miramos o maior acesso aos esportes outdoor e uma maior reflexão sobre tudo que está envolvido.

    Nós sonhávamos, mas não imaginávamos que chegaríamos tão longe em tão pouco tempo de vida do grupo. Lá estávamos nós levando, de forma super acessivel, um grupo de 16 pessoas em uma viagem para outro país, para vencer uma das montanhas mais encantadoras da America do Sul. Em apenas 8 dias de expedição nós conseguimos também mergulhar em um intenso processo de autoconhecimento e reflexão. Que viagem! Esse grande relato é o fruto da junção dos textos de quatro participantes, formando a Parte I. Cada um escreveu sobre um dia da viagem. A ideia foi de tornar esse processo uma construção coletiva, assim como nosso grupo. Deu certo, espero que os leitores curtam o resultado.

    RELATO

    Dia 1 – 22/02/2020 (Bruno Negreiros)

    Parte da nossa equipe acordou por volta das 4:20 da madrugada, ainda em Boa Vista, enquanto os demais tinham acabado de chegar no aeroporto, vindo do Rio de Janeiro. Últimos preparativos prontos e os taxis agendados buscaram a todos às 5:00. Todos juntos, seguimos rumo à Venezuela. Foi uma viagem tranquila apesar dos inúmeros buracos na estrada. Após uma parada rápida para comer algo, já estávamos na fronteira por volta das 11:00.

    Lá fomos nós para cumprir o rito diplomático. Carimbo do lado brasileiro e carimbo do lado venezuelano. Trocamos os taxis por veículos 4x4, empacotamos as mochilas no teto e retomamos a nossa viagem. Não tivemos nenhuma dificuldade em passar pela fronteira. Tudo aconteceu bem rápido a medida que comunicávamos que o nosso destino turístico era o Monte Roraima e que éramos um grupo de amigos.

    A viagem agora seguiu para a pequena cidade de Santa Helena de Uairén. Lá, compramos algumas últimas coisas, recebemos toda a explanação sobre o nosso roteiro e desafios dos próximos dias, conhecemos outros caminhantes que estariam no mesmo grupo que nós. Mais algumas risadas e umas cervejas de felicidade, voltamos para os 4x4 e seguimos viagem para a aldeia de Paraitepuy, já bem próxima ao Monte Roraima, onde iniciaríamos a nossa caminhada.

    Clube Outdoor recebendo as últimas instruções do nosso guia Leopoldo

    Antes do fim da viagem rodoviária, paramos nas placas indicativas e informativas do Parque, gerenciado pelos institutos Inparques (venezuelano) e ICMBIO (brasileiro). Nesse momento, vale demonstrar a expectativa estampada em nossos rostos nas fotos a seguir.

    A galera vestiu a camisa da expedição (Literalmente)

    Minimize o impacto sobre o ambiente e à cultura local

    Após mais algumas horas de estrada e muito reggaeton, chegamos na aldeia por volta das 13:40. Alí, nosso primeiro desafio já apareceu. Segundo os nossos guiar, os responsáveis da aldeia não queriam permitir o nosso acesso naquele dia, já que tínhamos passado do horário máximo permitido, que seria 13:30. Foi quando o pessoal começou a ficar bem nervoso com a possibilidade de termos que dormir lá e andar dois dias em apenas um no dia seguinte. Com calma, ao invés de gerar mais brigas e gastos de energia desnecessários, conversamos com o responsável e expomos o nosso anseio e experiência em caminhadas longas. Felizmente, ele liberou a nossa entrada. Comemos muito rapidamente o que foi preparado pelos nossos guias, escutamos as orientações dos responsáveis da aldeia e, por volta das 14:30, iniciamos a nossa caminhada de 8 dias no Monte Roraima.

    A caminhada toda decorreu em um terreno sem muitas variações altimétricas atenuadas. A paisagem era linda logo de cara, com os gigantes Tepuis do Monte Roraima e kukenán no horizonte o tempo todo. Foi quando eles começaram a demonstrar a sua força. No meio da caminhada a chuva nos acertou. Felizmente, não foi forte o suficiente para causar algum estrago.

    Monte Roraima e kukenán no horizonte

    A trilha estava bem cheia e descobrimos que tinha um grupo de 48 pessoas caminhando ao mesmo tempo que nós. Discussões à parte sobre as questões sociais da Venezuela e a necessidade dos guias em trabalhar por dois em um (a fronteira havia ficado fechada muitos meses em 2019), era uma situação meio desagradável e não muito sustentável. Porém, acabou por não interferir tanto nesse primeiro dia. Seguimos adiante e por volta das 17:30 chegamos até o Camping 1, próximo do Rio Kukenán.

    Descemos para tomar banho e retornamos. Nessa hora, mais um problema para resolver. Nossos guias tinham feito a conta errada e uma barraca ficou para trás. Foi um momento de muito estresse e apreensão. Jantamos sem saber o que aconteceria com dois das pessoas que estavam com a gente. O nervosismo era evidente no olhar de todos. A empatia era muita, pois muitos ofereciam lugares nas barracas para que ninguém saísse prejudicado. Felizmente, após alguns movimentos internos entre os nossos e outros guias, apareceram duas barracas pequenas. Uma para os dois dormirem e a outra para guardar os equipamentos. Ufa, ânimos acalmados, era hora de descansar para enfrentar o que viria pela frente.

    Dia 2 – 23/02/2020 (Letícia Freitas)

    Acordamos por volta das 6:00, arrumamos as coisas e tomamos café da manhã. A refeição era farta: chá preto, café, ovos mexidos e três “pastéis” que pareciam feitos de massa de bolinho de chuva.

    Saímos do acampamento às 8:30. Após 1 hora de caminhada, chegamos em um lindo rio, o Kukenán, onde nos banhamos e permanecemos por alguns minutos. Também tiramos a foto oficial do grupo até então. Após o banho, começamos a subir. Com mais uma 1 hora, parte do grupo chegou até a parada do almoço. Quando chegamos, fomos recebidos com laranjas docinhas. Lá, a nossa refeição foi servida. Uma salada de repolho, atum, milho, ervilha, tomate, pepino, tudo isso acompanhado de pão árabe. Para complementar, maionese e ketchup. Além de um suquinho de morango. Rolou também uma melancia de sobremesa.

    Grupo reunido no Rio Kukenán

    Aqui vale reforçar e aplaudir toda a equipe que nos dava suporte na caminhada. Além do nosso guia, tínhamos um time de carregadores que levavam a cozinha, o lixo, o banheiro e algumas barracas. Para você ter ideia, alguns deles chegam a carregar quase 50 kg em suportes de madeira montados artesanalmente. Algo cultural e impressionante.

    Alguns carregadores carregam quase 50 kg nas costas

    Voltamos a caminhar. Pegamos mais uma subida constante. Por volta das 15:00 chegamos ao acampamento base, montamos as barracas e enfrentamos o banho gelado. Depois disso, ficamos sentados na grama, papeando ao final do dia. Jantamos macarrão com carne mídia. E o melhor da noite: várias partidas de Uno, que causou “discórdias” e muita diversão.

    Rumo ao camping base

    Nosso acampamento

    Dia 3 – 24/02/2020 (Bruno Lacerda)

    A madrugada com bastante chuva já havia anunciado que o tempo estaria instável ao amanhecer. Quando saímos das barracas no acampamento-base do Monte Roraima, a natureza tratou de nos mostrar o primeiro de seus vários espetáculos do dia: uma grande cachoeira, até o dia anterior inexistente, jorrava do topo do monte. À sua frente, um arco-íris ajudava a compor a linda paisagem da manhã úmida.

    A bela cachoeira do camping base

    Enquanto tomávamos nosso café da manhã, com gostosas arepas venezuelanas, era possível avistar o que nos esperava – havia chegado o dia de tentar atingir o topo da montanha. Olhando a partir do acampamento, o caminho não é óbvio, pois o colosso de pedra se exibe totalmente vertical e não parece oferecer uma rota de trekking. Apesar disso, nosso guia Leopoldo explica que a caminhada acontece pelas escarpas do paredão, com trilha bem marcada.

    Começamos a andar às 8:15, rapidamente chegando a um trepa-pedra íngreme, pelo qual passamos em cerca de 20 minutos. Naturalmente, nos separamos em pequenos subgrupos de acordo com o ritmo de cada um, enquanto nossos quatro rádios garantiam a comunicação entre todos, sempre com atenção para que ninguém ficasse sozinho. Caminhei o tempo todo entre os que fechavam a trilha – eu, Josye, Fernanda e Carol.

    A seguir, inicia-se um longo trecho de mata, que cruzamos em ascensão direta na direção do tepui. Aqui ficou bem evidente a popularidade da temporada 2020 no Monte Roraima: trilha cheia, com muitos caminhantes subindo e outros poucos descendo. Às 10:20 chegamos ao ponto em que a trilha dobra à esquerda e passa a acompanhar o paredão, que a partir daqui estará sempre à nossa direita.

    O relógio batia 12:00 quando, livres da maior parte do tráfego da rota, adentramos a quase indescritível área do Paso de las Lagrimas, cujo nome autoexplicativo fez ainda mais sentido porque uma intensa corredeira havia se formado com a chuva recente. Foram 20 minutos subindo os degraus naturais da passagem, com a água despencando sobre nós, vinda do precipício acima de nossas cabeças e do chão à nossa frente.

    El Paso de Las Lagrimas

    Pouco antes das 13:00, os últimos integrantes do grupo colocaram os pés no topo. Nos trechos finais, havíamos sido conduzidos pelo guia Geraldo, que nos contou um pouco de sua vida e dos costumes locais. Guardei com especial carinho as palavras dele sobre a luta do povo indígena local para sobreviver, às vezes do turismo, às vezes de caça, pesca ou agricultura. Ainda aprendi a palavra "waküperö" ("olá" em taurepan, a língua usada pelos guias e carregadores indígenas para conversar entre si).

    Reencontramos Leopoldo, que também chegava ao tipo naquele momento, e rolaram alguns minutos de descanso e conversa, seguidos de mais uma hora de caminhada até a área de camping. O restante da tarde foi ocupado por uma pernada rápida até a chamada "jacuzzi", uma série de poços de águas límpidas de tonalidade dourada. Tomamos banho, aproveitamos um pouco e voltamos ao acampamento para um apetitoso almoço de macarrão, salada de repolho com atum e o sempre disputado catchup.

    As belas jacuzzis

    Nossa primeira foto no topo do Monte Roraima

    Depois disso, enquanto uma parte do grupo jogava Uno, outros se entocaram nas barracas, pois o frio das alturas do Monte Roroimok (em taurepan) começava a se impor. Às 19:00, vieram os primeiros pingos de uma das chuvas mais torrenciais que já presenciei em montanha, com ventos fortes que por vezes testavam a resistência das nossas queridas barracas. A dificuldade para dormir em meio à intempérie garantiu que este dia tão recheado de maravilhas durasse até altíssimas horas...

    Dia 4 – 25/02/2020 (Josye Villela)

    Nosso quarto dia começou um pouco tenso. Na noite anterior havia começado a chover e essa chuva se manteve durante toda a madrugada, variando entre muito intensa e um pouco menos.

    As 6h, aos poucos as pessoas começaram a acordar e descobrimos que durante a noite muitas barracas ficaram cheias de água, algumas pessoas passaram frio por conta disso e outras tiveram certo problema para secar suas coisas para seguir a arrumação das mochilas. As barracas que molharam eram barracas cedidas pelo guia, que geralmente ficam abrigadas em cavernas nas pedras, mas por conta do grande número de pessoas no alto da montanha, acampamos em um local chamado de praia pelos guias locais. Além das barracas com o nosso grupo, as barracas da equipe do guia e as que estavam com as comidas também molharam. Por conta desses imprevistos, os planos acabaram mudando um pouco e ao invés de arrumarmos as coisas cedo e seguirmos caminhada, ainda durante a manhã, antes mesmo de tomar café, o guia nos levou para conhecer um mirante de onde se via um grande abismo, que fica um pouco depois das jacuzzis, e ao conhecido mirante La Ventana, locais de onde se tem uma vista incrível do Roraima e do Kukenan. Lá ficamos durante algum tempo, tiramos fotos e admiramos muito a vista, que já era linda e ainda estava enfeitada por um mar de nuvens no horizonte. Esse dois pontos teriam sido parte do roteiro do sexto dia. Retornamos para o acampamento e a essa altura já era perto de 10h da manhã, o calor do sol já era evidente e as coisas que foram molhadas estavam secando. Arrumamos então as mochilas, tomamos café, mais uma vez feito pela equipe do guia e que mais uma vez estava muito gostoso, era panqueca com ovos mexidos e queijo.

    O abismo

    La Ventana

    Afinal, era carnaval

    Como havia dito, nesses dias o Roraima estava muito cheio, muitos grupos grandes. E alguns grupos não respeitaram organizações previamente estabelecidas entre os guias para ocuparem locais determinados. Por esse motivo acampamos na praia e por esse motivo o guia optou por não andarmos muito nesse dia, apenar mudar o acampamento para um pouco mais a frente, para dentro de uma caverna onde estaríamos abrigados de uma nova possível chuva. Após a mudança para a caverna, uma caverna bem pequena em que nossas barracas ficaram quase empoleiradas, e montarmos o novo acampamento, almoçamos, jogamos cartas e uno, um dos passatempos mais utilizados durante as nossas paradas nos acampamentos, e seguimos então para a próxima aventura. Dessa vez o destino era subir o Maverick, ponto mais alto do Monte Roraima, que ganha o nome pelo formato, ao longe, semelhante com o famoso carro da década de 70.

    Já era fim da tarde quando começamos a trilha, a idéia era ver o pôr do sol lá de cima. “Siga o caminho branco”, era a orientação dos guias quando por algum motivo íamos a frente deles. As trilhas no cume do Roraima são amontoados de pedras seguidos de pequenas poças e lagos pra todo lado. Ora sobem, ora são caminhos sem declínio ou inclinação. E quando os observamos bem, vemos sempre uma pequena trilha esbranquiçada na pedra, talvez pelo grande número de pessoas que já passaram por ali. E eram esses os caminhos pelos quais nos guiávamos quando os guias não estavam por perto. Assim seguimos sem grandes dificuldades, e depois de alguns trepa pedra para alcançar a altura do ponto mais alto do Monte, chegamos ao Maverick. Uma vista espetacular em 360º, acompanhado do sempre presente Kukenan logo ali ao lado. Lá ficamos durante algum tempo, tiramos fotos, gravamos vídeo. “Alguma coisa em algum momento juntos”. Era pra ser um grito de todo mundo junto para um futuro vídeo da viagem. Poderia ser um “uhuu” ou “Monte Roraimaaa”, mas quem passou o comando (a pessoa que escreve essa parte do relato) não o fez nada bem, e pediu pra galera falar alguma coisa em algum momento juntos, e assim eles o fizeram. Rsrs! Se tornou o grito da nossa viagem.

    Alguma coisa, em algum momento, JUNTOS!

    Após algum tempo no Maverick, e um pequeno estresse com outro grupo que estava cutucando uma aranha desnecessariamente, resolvemos iniciar o retorno ao acampamento. O sol já estava se pondo, mas o dia ainda era claro. Parte do grupo foi na frente e retornou antes ao acampamento, alguns ainda esperaram o completo pôr do sol. Após o retorno, coisas triviais, banho e arrumação das coisas. Tomávamos banho todos os dias nos poços ao redor. Esse dia foi um dos banhos mais quentinhos, a água estava muito agradável, contrário do dia anterior nas jacuzzis. Após isso, janta e seguimos para mais uma noite de sono, pois o dia a seguir teria uma longa caminhada pela frente.

    E assim finalizamos essa primeira parte do relato, simbolizando muito bem a nossa subida e o nosso estabalecimento em cima do Monte. Na parte II detalharemos melhor sobre a exploração do cume e da nossa descida. Em breve, aqui no AventureBox.

    Clube Outdoor
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    Publicado em 26/03/2020 19:25

    Realizada de 22/02/2020 até 29/02/2020

    7 Participantes

    Henrique Protázio Bruno Negreiros André Leopoldino (Dino) Bruno Lacerda Paulo Roberto Junior

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    6 Comentários
    Bruno Negreiros 26/03/2020 19:43

    Uma expedição de muito aprendizado e história pra contar!

    Alan Rangel 26/03/2020 21:21

    Parabéns galera!!! Vcs mandaram muito bem!!! Adorei esta parte do relato.

    Clube Outdoor 26/03/2020 21:30

    Valeu, Rangel! Vale muito vindo de você.

    Marcelo A Ferreira 27/03/2020 08:20

    Muito legal gente. Uma pena não ter ido com vocês, mas Deus sabe de todas as coisas. Experiência incrível. Parabéns.

    Alex Araújo 28/03/2020 13:47

    Tava lá no mesmo período em outro grupo. Foi muito show!

    Talii Nasi Safaris LTD 16/04/2020 05:43

    Nice to see you. A truely and friendly group. I welcome you and invite you to Do some activity in Tanzania. Let see if we can do it after the covid 19

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