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Clube Outdoor 04/11/2022 08:22 with 6 participants
    Travessia Transpapagaio | P. E. da Serra do Papagaio/MG

    Travessia Transpapagaio | P. E. da Serra do Papagaio/MG

    Trekking autossuficiente de 5 dias no Parque Estadual da Serra do Papagaio, de Santana do Capivari até Aiuruoca. Relato: Bruno Negreiros.

    Mountaineering Trekking

    Evento: Carnaval Outdoor - Travessia Transpapagaio

    Data: 26/02/2022 a 02/03/2022

    Fotos do Álbum: Willian Nascimento

    Local: Parque Estadual da Serra do Papagaio/MG.

    Atividade: Caminhada de 5 dias (75 km).

    Participantes: 13 pessoas.

    Transporte: Van (Suprema Rios).

    Início: Santana do Capivarí - Pouso Alto -

    Fim: Cachoeira dos Garcias -

    RELATO

    Transporte

    Nos encontramos no Posto Shell, próximo à Rodoviária Novo Rio às 00:01 com 11 participantes, pegamos a estrada rumo à Resende, onde paramos no Graal e encontramos as duas últimas pessoas inscritas (Damiati e Lucilene). Lá, fizemos uma parada rápida para ir ao banheiro e partimos para Santana do Capivari. Ao percebermos que chegamos muito cedo e que todas as padarias de Itamonte estavam fechadas, optamos por passar um pouco do ponto de entrada e adiantar alguns quilômetros até o centro de Pouso Alto para tomar café da manhã em uma padaria 24 horas, a Boutique de Minas, lugar que costumamos parar também quando fazemos a travessia Marins x Itaguaré. Lá, comemos e partimos por volta das 5:20. Retornamos para Santana do Capivari e entramos em uma estrada de terra de aproximados 8km até o ponto localizado perto de uma pousada/casa denominada Bosque de Avalon. A estrada de terra era boa o suficiente para a passagem da van, sendo que 1km antes do ponto de desembarque tinha uma passagem em uma ponte de madeira pouco confiável, mas o Beto pediu para que todos descessem e fizessemos o cruzamento sem problemas. Existe um bom ponto para manobrar perto do início da trilha. Lá, depois de um trecho ruim em que a van passou vazia, desembarcamos e arrumamos as coisas. Começamos a travessia por volta das 7:00 da manhã.

    Dia 1 - 26/02/2022

    Chegamos no ponto de desembarque, retiramos as mochilas e começamos a nos arrumar. Alguns trocaram de roupa, outros só ajustaram a mochila e demais equipamentos, enquanto que outros buscaram água em um ponto próximo. Com tudo pronto, tiramos a foto inicial da aventura e pegamos uma subida em estrada de terra á direita, aproximadamente às 7:00, bom horário para um longo dia de caminhada. Fomos progredindo por essa mesma estrada, cada vez mais tomada pela vegetação. O grupo andava bem próximo e a galera já começava a interagir e a falar sobre as expectativas dos próximos 5 dias de aventura. Ninguém escondia o desconforto inicial com as mochilas pesadas, afinal, muitos ali nunca enfrentaram um desafio de tantos dias autossuficiente. Depois de cerca de meia hora, chegamos em uma porteira que marcava a entrada em uma propriedade abandonada. Passamos por ela e já nos deparamos com uma mega subida por entre trilhas de animais bem degradadas, capim alto bem verde e alta declividade. Por vezes num zig zag, por outras numa subida reta e, às vezes, até sem trilha, fomos transponto o mato bem molhado pelo sereno. Por volta das 8:00 o grupo já tinha progredido um pouco mais de 2km e subido dos 1.170m de altitude (Início) até os 1.420m da cerca que marcava a mudança do capim para uma área mais florestada.

    Primeira grande subida. Foto: Bruno Negreiros.

    Dentro desta área, a subida gradual continuou por entre degraus de raízes, desvio de vegetações caídas e pequenos vara-matos quando o caminho parecia sumir. Levamos 1 hora para passar o trecho de 1,5km que terminou já em 1.670m de altitude, mantendo a promessa do primeiro dia bem difícil de travessia, com subidas frequentes e, por vezes, que necessitam ser encontradas.

    Lá em cima, paramos para respirar um pouco e continuamos em uma crista de morro também com declive. Seguimos sempre pela margem esquerda, mais descampada e com trilha paralela ao topo. Em algumas vezes, a mata surgia, mas cabia transpor ela ou dar a volta mais pela esquerda ainda para continuar. A aparência parecia de uma caminhada mais tranquila do que os subidões que já tínhamos enfrentados, mas era só a aparência mesmo. No fim, essa caminhada pela crista rendeu bons aproximados 3km chegando até 1.880m de altitude. Aqui a noite mal dormida na van e o peso nas costas começou a castigar. Começamos a perceber uma queda de rendimento e o cansaço expresso no rosto de todos. A pergunta mais frequente dizia respeito a quanto já tínhamos caminhado e quanto ainda faltava para fechar o dia. Doía o coração ter que responder: “falta muito”. E faltava mesmo, ao todo, caminhamos ⅓ do que estava programado. Só nos restava levantar a moral de todos, também a cabeça e seguir.

    Caindo para a esquerda, andamos mais uns minutos até às 11:00, quando paramos em um ponto marcado no GPS como “camping”. A galera estava exausta e precisava comer algo. Resolvemos parar por um tempo mais longo para o almoço. Negreiros e Damiati tentaram encontrar água próximo, mas sem sucesso. O jeito era comer ali com o sol na lata mesmo.

    Os 6km seguintes foram de subidas e descidas em cima ou paralelos à crista do morro, com menor declividade acumulada. Esse trecho reservava pontos mais difíceis de orientação, muitas vezes sendo necessário improvisar uma trilha pelo meio do mato, sendo um progresso mais lento e desgastante. Isso junto com o cansaço já relatado, fez com que levássemos quase 3 horas para atingir o próximo ponto de acampamento mapeado, agora com ponto de água e com 12,5km totais de caminhada. Ali, mais uma parada para respirar… Só faltavam os quase 6km finais e, sim, as subidas difíceis retornariam. Em todo o momento da caminhada, Negreiros sempre seguiu na frente abrindo e puxando o ritmo do grupo. Adhemar cuidava das pessoas que estavam no fim e com ritmo mais lento. Quando o grupo abria por algum tempo, havia o cuidado de parar e reagrupar, os dois sempre mantendo comunicação via rádio para saber se tudo estava ok. Chegava a ser engraçado todas as vezes que o grupo reagrupava só se ouvi do Adhemar gritando "Toca a mula".

    Seguindo a caminhada. Foto: Gustavo Mello.

    Dali pegamos uma subida suave de 1,5km, quando encontramos uma turma da Outward Bound Brasil fazendo sua expedição de 15 dias no curso de Fundamentos de Educação ao Ar Livre - FEAL, daqueles bons encontros que acontecem na natureza. Depois, seguimos para um SUBIDÃO DESGASTANTE, saindo dos 1.960m de altitude do ponto de descanso até aproximados 2.150m do ponto mais alto, antes de virarmos e começarmos uma descida gradual até um rio que cruza o fundo do vale, já com vista para o Pico Santo Agostinho (Garrafão). Negreiros observou o claro cansaço de todos… Eles pareciam extenuados. Foi quando tomou uma decisão: vamos pegar à esquerda e procurar um bom ponto para acampamento na base do Santo Agostinho, já na direção da trilha do segundo dia, evitando kms de caminhada em ambos os dias e promovendo um melhor descanso para todos. Ninguém discordou. O mesmo prometeu acordar cedo e subir o Pico com os mais dispostos no dia seguinte. Assim, mudamos o rumo e encontramos um bom ponto de acampamento com fonte de água próximo, montamos as barracas, comemos e dormimos todos MUITO CEDO, exaustos e com a esperança de melhor acordar para o dia seguinte… também esperando uma difícil caminhada. Ao todo, todos andaram cerca de 15,5km, terminando o dia às 16:40 da tarde com mais de 1.200 de subidas acumuladas.

    Dia 2 - 27/02/2022

    Adhemar, Mariana e Negreiros acordaram por volta das 5:15 e resolveram subir o Pico Santo Agostinho. Antes, passaram por todas as barracas para perguntar se alguém também gostaria de fazer o ataque ao pico. Aparentemente, ainda muito cansados do primeiro dia, muitos resolveram poupar para o que viria pela frente. Os três saíram por volta das 6:00 e foram vencendo o desnível que, à primeira vista, assustava, mas que se mostrava suave durante a caminhada. Os 150 metros de desnível em 1,5km de percurso foram vencidos por entre trilhas de animais, cortes retos nos morros, pulo de pedras e desvio de vacas e cavalos que nos intimidavam com sua presença. Em 25 minutos estávamos lá em cima com as nuvens que cobriam todo o visual. Quando já íamos descer, o céu se abriu por alguns instantes revelando os vales ao redor e nosso acampamento ainda quieto e colorido bem longe. Andamos mais um pouco no pico para descobrir os pontos de água e a área de acampamento, que se mostrou muito protegida e plana. Depois de umas fotos, tomamos os mesmos 25 minutos descendo até chegar no acampamento. Era hora de um café da manhã mega reforçado.

    Tentando avistar o acampamento do Pico Santo Agostinho. Foto: Bruno Negreiros.

    Optamos por sair um pouco mais tarde. Por volta das 9:00 estávamos com acampamento desmontado e mochila nas costas, mas agora nosso caminho seguiria para a esquerda do Santo Agostinho, descendo o pequeno vale e cruzando um pequeno rio rumo ao norte, esperando chegar no Rancho do Salvador. Transpomos o rio e seguimos, viramos à direita e entramos em uma bonita crista com vista para as montanhas que apareciam à frente.

    O solo exigia cuidado, já que estava bem desagregado e continha muito cascalho solto, demandando atenção dos caminhantes, ainda mais por se configurar, uma grande descida. Infelizmente esse trajeto machucou dois de nossos participantes. Duas meninas torceram o tornozelo em locais muito próximos. Ambas foram atendidas e tiveram o pé enfaixado pelo Gabriel Ferreira, participante bombeiro da expedição. Estávamos preparados para o atendimento, mas é importante ter humildade o suficiente para passar um trabalho para quem mais entende do assunto. Foram cerca de 1 h até que todo o atendimento fosse feito. Depois, começamos a descer bem devagar para poupar e observar o rendimento de todos. Lá embaixo, um delicado cruzamento de rio que exigiu muita atenção de todos. Com tudo certo, fomos seguindo em um ritmo mais ameno, margeando o próximo morro e traçando um subidão intenso no morro à frente, apenas tranquilizado quando optamos por virar à direita e tangenciar ele, encontrando sua face oposta de forma mais suave. Assim já tinham se passado quase 5 horas do dia e 6km de caminhada. Adiante, após mais uma boa subida, cerca das 14:30, resolvemos parar para comer algo reforçado.

    Mulheres fortes demaaaaais.

    Ali fizemos uma checagem do quanto de água todos ainda tinham e combinamos de economizar o recurso já que o próximo ponto de água seria somente no fim do dia. Descemos, cruzamos uma mata fechada, saímos dela, subimos um pouco e fomos percebendo o quanto a orientação era difícil nesse dia de caminhada. Por muitos quilômetros, não havia trilha bem definida ou muitos caminhos de animais à frente. Nossa boa orientação não nos deixava errar, mas havia um certo desgaste psicológico no processo. O desgaste ainda viria da difícil progressão pelo terreno, muitas vezes carregado de matas baixas, mas que promoviam certa resistência para serem transpostas em longos trechos de uma espécie de vata-mato-baixo. Nosso ritmo também diminuía a cada nova subida ou descida, visto que os pés das meninas incomodavam muito o seu progresso. Apesar disso, bem sempre pontuar que o grupo permanecia unido e cuidando uns dos outros, sempre preocupado com o bem-estar de todos. Quando, naturalmente, os ritmos eram diferentes e a distância abria, todos se preocupavam em parar e esperar para que todos aparecessem. Um orgulho para quem guia uma expedição.

    Por volta das 16:00 da tarde, subindo gradualmente para um topo de morro que já estaria próximo do nosso destino, fomos acertados por uma forte chuva com trovoadas. perto de uma área de floresta coberta e mais baixa de qualquer topo, resolvemos nos agrupar e esperar os raios pararem de cair… Nosso objetivo foi nos afastar de qualquer área sensível e sujeita a incidência fácil de raios. Já com a chuva mais fraca e com os anoraques e capas de chuva ensopados, fomos progredindo. Mais adiante, já próximo das 17:00, tomamos a difícil decisão de separar o grupo para os últimos quilômetros do dia. Faltavam 4 km e todos estavam molhados e com sede. Negreiros pediu para que todos seguissem sendo guiados por Josye e Adhemar até o camping, enquanto ele iria mais devagar atrás com uma das meninas com o tornozelo sensível e visivelmente mais afetada pela dor. Gustavo fechou o trio dos que andaram mais atrás e foram devagar curtindo o visual. Parece brincadeira, mas dói o que aconteceu. Já no topo do morro mencionado, enquanto o grupo à frente ganhava terreno rápido e já pareciam pontos no horizonte. Nós três seguimos brincando e tirando fotos para distrair o difícil perrengue que venceríamos.

    Grupo progredindo cadenciadamente. Foto: Gustavo Mello.

    Difícil, mas muito bem enfrentado pelo bom astral, energia e força que Gustavo e Aline possuem. em nenhum momento a força desses dois diminuiu e eles pareciam, apesar de tudo, curtir cada passo da caminhada. As piadas e os sorrisos ecoavam nos morros da Serra do papagaio. As fotos das 450 câmeras do Gustavo também. A frase: “Gustavo, para de tirar foto e vamos” era bem comum… hahahahahahahaha. Todos se tornaram fãs dessa dupla.

    Aos poucos passamos o topo do morro e só nos restavam os 2km finais de descida até o camping. Eu e Adhemar conversávamos o tempo todo pelos rádios para verificar o status de ambos os grupos. Todos estavam bem. Progredindo e cruzando por cavalos no caminho, verificamos que o grupo da frente chegou ao camping apenas 1,5km à nossa frente. Ainda tínhamos muita água e optamos por não pedir que ninguém voltasse. A descida final precisou ser cuidadosa, pois o solo voltou a ser bem solto e de cascalho solto. O tornozelo seguia bem, mas o cansaço do dia já batia à porta. Um pouco mais lentos, mas confiantes e animados de que tudo daria certo… fomos indo. UMA FORÇA SOBRENATURAL nos encheu por dentro e, por volta das 19 horas chegamos no acampamento sobre forte comemoração e cuidados de todos. Um dia daqueles de travessia que ficará para a história.

    Pôr-do-sol no fim da trilha do dia 2. Foto: Gustavo Mello.

    Agora nos restava um bom banho, comer bem, colocar os pés na água gelada do rio e descansar. Nosso planejamento de 5 dias envolvia um dia de ataques a picos e cachoeiras ou descanso garantido a todos no dia 3. No próximo dia, com calma decidiríamos o que fazer… No fim do dia 2, depois de 15 km totais de caminhada de difícil navegação, só queríamos descansar e comemorar. E, claro, parabenizar toda a força presente nesse grupo, sobretudo a Aline, Gustavo e Renata. Muito agradecer ao Gabriel também pelo cuidado que teve. Meu amigo, você merece todos os gritos no rio com água gelada.

    Dia 3 - 28/02/2022

    O terceiro dia foi o mais tranquilo de todos. Planejado para ataques ou descanso, este dia também foi pensado como uma espécie de margem de expedição, para que algum problema ou arranjo de roteiro fosse realizado. Parte do grupo resolveu descansar no horário da manhã, enquanto outros decidiram por subir o Pico do Chorão, localizado bem em frente ao nosso acampamento. Como tivemos os problemas com as torções de tornozelo no dia anterior, também aproveitamos a subida para fazer contato via celular com resgates do entorno.

    Pico do Chorão. Foto: Gustavo Mello.

    Lá em cima, entre fotos e visuais, conseguimos alguns bons contatos e organizamos a retirada dos três participantes para o dia seguinte, após um dia de descanso e curtição com todos no acampamento. Com todos mais tranquilos e certos de que tudo ficaria bem, curtimos um pouco mais a presença no cume e descemos. Decidimos descansar ou tomar banho de rio, almoçar e, cerca de 14:00, ir até a Cachoeira do Juju.

    Saída para o dia 4.

    Logo após a comilança sem medo de ser feliz (a gente queria uma boa recuperação e aliviar peso), começamos a caminhada de aproximados 2,5 km até a cachu. Uma caminhada boa e com descida suave no fim, contemplada pelo visual de borda infinita da Cachoeira do Juju, além de suas águas geladas. Por lá, Curtimos MUITO. tomamos muito banho de cachoeira, tiramos muitas fotos, mapeamos o bar que está localizado 1,5km abaixo (ponto de evacuação do próximo dia), Adhemar e Mariana até compraram umas cervejas e cocas para o pessoal… um dia daqueles de total lazer na Serra do Papagaio. Com sorrisos no rosto, retornamos pela agora suave subida, chegamos no camping, cozinhamos novos rangos gostosos em uma grande roda e brincamos muito. Estávamos renovados para os dois últimos dias de travessia. Que venha a Transpapagaio.

    A Cachoeira do Juju. Foto: Willian Nascimento.

    Dia 4 - 01/03/2022

    O quarto dia de travessia começou bem cedo. Combinamos todos de estarmos prontos às 7:00 da manhã, já que teríamos novamente um longo dia de caminhada pela frente. Uns acordaram por volta das 5:30, outros às 6:00. Após um café da manhã bem consciente, muito pouco após a hora acertada já estavam todos cruzando o riacho próximo ao camping, colocando seus calçados e seguindo a caminhada. Saímos por volta das 7:30 e já dava para perceber o amadurecimento do grupo. Não havia mais necessidade de cobranças frequentes… todos, por conta própria já estavam bem cientes de seus tempos e da necessidade de ter um bom rendimento.

    Os participantes que estavam lesionados optaram por sair um pouco mais tarde, caminhando com calma seguindo até a Cachoeira da Juju, de lá é possível tomar uma trilha bem demarcada à esquerda e caminhar por 1,5 km em trilha bem batida e segura, até um ponto onde o resgate já estava acertado. Ocorreu tudo bem e todos conseguiram seguir pela trilha sem problemas, com direito à uma pausa longa na Cachoeira da Juju para aproveitar bastante e muitas cervejas no restaurante localizado no fim desse trajeto. Lá, eles foram resgatados e encaminhados para Aiuruoca, onde foram diretamente para o hospital. Felizmente não houve nada grave e o repouso seria a melhor forma de curar. Ao fim, eles seriam resgatados por nossa van e nos encontrariam na Cachoeira dos Garcias.

    Seguindo o caminho para a Cachoeira do Juju, agora nosso caminho seguiria a rota da clássica travessia Baependi x Aiuruoca. As diferenças eram claras: uma trilha com leito bem definido, menos vara-matos e melhor orientação. Como já tínhamos curtido muito a cachoeira no dia anterior, desta vez optamos por não perder muito tempo parados, apenas uma boa pausa para algumas fotos de mochila nas costas. Foi quando, repentinamente e sem querer, o celular do Will caiu na água. Dani viu a região onde eles estavam, Adhemar seguiu à frente para observar caso ele fosse para a queda e Negreiros mergulhou na cachoeira. Felizmente o aparelho foi encontrado e salvo. Desligamos ele e torcemos pelo melhor.

    Olhando para trás. Foto: Willian Nascimento.

    LOGO DEPOIS VEIO UM SUBIDÃO, saindo da Cachoeira à aproximados 1.580m de altitude até os cerca de 1.780 em 1,5 km de distância percorrida. Os 3 km seguintes foram marcados por descidas, subidas e descidas por meio de trilhas que cruzam antigas propriedades rurais até o fundo do Vale bem próximo da Cachoeira do Charco. Lá, nos deparamos com águas bem profundas e uma correnteza forte. Em conversas que tivemos com outros grupos no camping do Rancho do Salvador, já sabíamos o que enfrentaríamos. Mapeamos um bom ponto para efetuar o cruzamento. Negreiros foi na frente levando uma corda, caminhando por entre pedras e fundos desconhecidos. Quase levado pela correnteza, chegou lá e amarrou a corda. Depois, um por um foi cruzando devagar com o auxílio da corda. Enquanto os últimos arrumavam os equipamentos e os amarravam nas respectivas mochilas (bastões, botas e etc), outros formavam um corredor humano na água por onde os itens seriam passados. Uma a uma, fomos transferindo os pesos das mochilas e cruzando elas para a outra margem. O processo era delicado e necessitava de muita atenção. Qualquer vacilo poderia significar uma mochila sendo levada pela correnteza. Alguns tanques de guerra bem pesados passaram por nossas cabeças, mas deu tudo certo. Já do outro lado, equipamos rápido para não dar sorte ao frio e seguimos viagem.

    Subindo adiante, procuramos por uma ponte de madeira para cruzar um córrego. Combinamos de encarar a última subida, descer e, então, parar para almoçar, já às 13:00 e com 9 km caminhados no dia… Ainda faltavam 10,5 km.

    Logo após o almoço, o outro subidão de 200m acumulados. A declividade era menor do que enfrentamos após a Cachoeira do Juju, por isso, o ritmo foi mais rápido e o ganho de território mais eficiente. Sentimos a confiança no grupo e puxamos um ritmo forte. Todos responderam muito bem, apesar dos rostos que aparentavam cansaço. Aqui voltava-se a perceber o amadurecimento do grupo. Nas paradas, não era mais necessário ficar chamando para sair… já se viam todos colocando a mochila nas costas para isso em um tempo determinado.

    Passamos por um ponto que demanda atenção, onde existe uma boa trilha seguindo reto e uma pequena saída à esquerda com um totem… A trilha é para a esquerda.

    Placa próxima à birfurcação. Foto: Willian Nascimento.

    Adiante, fomos ganhando terreno já em terreno mais alto até pouco antes de um clarão na mata, com vegetação mais baixa (Daime), quando começou a chover forte. Fomos progredindo e passamos por todo esse extenso pedaço da trilha de 1,5 km. Só nos restava encarar a última subida em mata fechada até o acampamento. Até aqui tinham sido percorridos 16 km e já eram 16:15.

    Avistando o Pico do Papagaio de Aiuruoca. Foto: Willian Nascimento.

    Entre mata alta, chuva e vento frio vencemos a primeira subida de 150 m acumulados, passamos por outro clarão na mata, adentramos novamente em uma parte mais fechada e subimos mais 120 m acumulados para, já na região próxima ao topo do morro, chegarmos ao nosso destino do dia: o Retiro dos Pedros. Lá, cruzamos o riacho/nosso ponto de água da noite, subimos um pouco, cumprimentamos aventureiros simpáticos e resolvemos acampar mais adiante. Todos muito molhados da chuva, a prioridade era trocar de roupa e aproveitar o calor gerado pela atividade física, já que se aproximava do pôr-do-sol. Com barracas montadas, uns resolveram tomar banho, outros não. Cozinhamos e, antes de dormir, nos vislumbramos com um céu estrelado e incrível… o mais belo até aqui. Ao total, caminhamos 19,5 km com aproximadamente 1.040m de subidas acumuladas.

    Dia 5 - 02/03/2022

    Acordamos no quinto dia com um belo visual do nascer do sol e um tempo tranquilo para tomar um bom café da manhã com calma, todos juntos, trocando as últimas refeições que sobraram. Os sorrisos nos rostos indicavam a felicidade de já terem passado pelas partes mais difíceis da travessia e a empolgação da conclusão do que, para muitos, foi um grande desafio físico, técnico e psicológico.

    Ainda com calma, desmontamos acampamento e seguimos por volta das 9:00 rumo à crista da Serra do papagaio que se abria à frente. Caminhamos até o fim do planalto do Retiro dos Pedros, sumidos o primeiro morro com calma, descemos e encaramos o próximo, progredindo com cuidado nas lajes de pedra que apareciam pelo caminho. Logo adiante, encontramos a bifurcação entre a rota até o Pico do Papagaio e a descida para a Cachoeira dos Garcias. Encontramos um bom lugar para deixar as mochilas e seguimos rumo ao nosso último cume da travessia.

    Belo caminho para o Pico do Papagaio. Foto: Willian Nascimento.

    Antes, cruzamos o Cume do Pico do Tamanduá, seguimos adiante tangenciando o morro próximo pela sua esquerda. Encontramos o ponto de camping antes do Pico do Papagaio e seguimos pela mata. Logo em seguida passamos por um outro bom ponto de camping na base do pico. Entre clareiras de capim alto e florestas mais fechadas, chegamos à subida mais íngreme do cume. Pulando pedras e com cuidadosas aderências, fomos progredindo até que, por volta de 12:00, chegamos ao cume do Pico do Papagaio… Muita felicidade no ar… Nosso objetivo sonhado dos últimos 5 dias foi atingido, revelando um belo visual de quase tudo que tínhamos caminhado e de toda a região do entorno. A placa indicava a altitude de 2.100m, mas o sentimento de satisfação era imensurável. Depois de quase 2 anos sem a realização de eventos por conta da pandemia, lá estávamos nós novamente, organizando um evento de grande complexidade e (quase) concluido com muita disposição. Não tem como explicar em palavras o que é a felicidade de vencer um grande desafio e, em simultâneo, poder promover os mesmos sentimentos para pessoas tão boas… é algo diferente e único.

    Pico do Papagaio de Aiuruoca.

    Por volta de 12:30 e muitas fotos, iniciamos nosso retorno pelo mesmo caminho percorrido. Tudo ocorreu até melhor do que o previsto e chegamos novamente ao ponto onde estavam as mochilas por volta das 13:30. Lá, encontramos com Letícia e Gabriel que optaram por permanecer um pouco mais no acampamento descansando. Comemos algo e iniciamos a descida final de 4,5 km. A caminhada ocorreu de forma bem tranquila e em ritmo muito bom, com todos tomando muito cuidado com o solo desagregado de certos trechos, o capim cortado e escorregadio que tomava o piso da trilha em outros e, por fim, com a expectativa de chegar logo. Afinal, mesmo com poucos quilômetros para o fim, todo cuidado é pouco. Sem muitos problemas, finalizamos os 15,5 km totais de caminhada às 15:00, encontramos o Beto, abrimos umas cervejas e coca-colas, reencontramos com os três participantes que saíram no quarto dia, COMEMORAMOS MUITO MUITO MUITO MUITO MUITO e, claro, tomamos um bom banho gelado na cachoeira dos Garcias para recuperar todas as energias. Um brinde à nossa vitória. Um brinde a tudo que passamos nesses últimos 5 dias.

    Por volta das 16:00 entramos na van e seguimos para Aiuruoca. Lá, comemos em uma padaria antes de seguir viagem para o Rio de Janeiro, com rápida parada em Resende para deixar dois participantes que vieram de São José dos Campos. Despedimos-nos de Aiuruoca com bons sanduíches mineiros e tomando bons refrigerantes Mantiqueira.

    Obrigado a todos os que acreditaram em nós e toparam esse desafio. Temos certeza do quão árduo foi para todos carregar 5 dias nas costas. Muitos nunca tinham passado por essa experiência. Agora, temos certeza de que o Clube Outdoor fica marcado na trajetória dessas 13 pessoas. Foram 76km totais de muito aprendizado e superação. Que venham muitos mais momentos como esse… como é bom estar na natureza com tanta gente legal. Que o Clube Outdoor tenha um incrível 2022! Muitos desafios nos aguardam… Afinal, SUBIMOS A RÉGUA.

    A Cachoeira dos Garcias. Foto: Renata Faustini.

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    Published on 04/11/2022 08:22

    Performed from 02/26/2022 to 03/02/2022

    6 Participants

    Bruno Negreiros Adhemar Renata  Faustini Marias Aventureiras Danielle Hepner Rafael Damiati

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    3 Comments
    Marias Aventureiras 04/11/2022 10:14

    Que relato! Foi muito especial nossa travessia. Organização nota 1000, grupo com uma vibe maravilhosa, visu fenomenal... Só elogios mesmo! Que venham as próximas.

    Clube Outdoor 04/11/2022 10:25

    Uhuuuuuul grandes momentos vividos!!!! Obrigado Let!

    Foot Slopes Tours 04/12/2022 00:21

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