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Danielle Hepner 23/01/2016 21:50
    Funicular de Paranapiacaba

    Funicular de Paranapiacaba

    Travessia Paranapiacaba X Cubatão em 6h, via Funicular

    Antes de começar meu relato, vale lembrar que é proibido acessar a Funicular de Paranapiacaba. Além disso, a região abriga diversos animais peçonhentos, incluindo cobras venenosas como Jararaca, Caninana e Jararacuçu.

    - Logística

    Antonio me convidou para participar da travessia juntamente com Cid, Diogo, Rafinha e Douglas. Este último era o único que já tinha feito a Funicular e a conhecia de trás pra frente e de frente pra trás. Assim que vi a proposta, aceitei. A Funicular era uma trip que há muito eu queria, pelas paisagens, adrenalina. E só ia gente parceira e fera! Daí, mesmo não estando totalmente recuperada de uma torção no tornozelo direito, me senti segura o suficiente para encarar a temida Funicular.
    Pensamos em várias maneiras de curtir o passeio:

    . fazer a travessia em dois dias, com pernoite no segundo patamar

    . fazer a travessia em um dia e no outro rapel

    . fazer a travessia em um dia, pernoitar na Funicular e fazer o rapel na manhã seguinte.

    Decidimos que, devido a distância do Rio até Paranapiacaba, fazer a travessia em dois dias seria inviável, pois a nossa volta ao Rio ficaria "comprometida", além de termos que levar mais coisa, aumentando o peso das mochilas (o que possivelmente atrapalharia a travessia das pontes). Daí, foi acordado que seria feita toda a travessia em um tiro, e no dia seguinte voltaríamos pra fazer o rapel na Grota Funda, Segundo Patamar.

    Portanto, combinamos:

    - 08/01 - Saída do Rio às 19h, de carro, com destino a Diadema (casa de Douglas e nosso lar do final de semana)

    - 09/01 - Travessia Completa Paranapiacaba x Cubatão

    - 10/01 - Rapel na Grota Funda pela manhã (não realizado devido à chuva intensa), retorno ao Rio no fim da tarde.

    - Itens INDISPENSÁVEIS

    Acima escrevi que tem animais peçonhentos na região... E é isso mesmo. Cobra, da venenosa! Então, PERNEIRA é mega ultra indispensável. As cobras costumam atacar a região entre a canela e o joelho e a perneira é um item que protege essa parte do corpo.

    Por ser mato alto, e muito trecho de vara mato, CALÇA COMPRIDA e BLUSA DE MANGA COMPRIDA também são indispensáveis. Tem muito espinho, carrapicho... Pode acabar machucando. Além disso, devido ao estado deplorável das pontes, ferrugem, muitas vezes usar as mãos é necessário, portanto as LUVAS também são muito importantes.

    - A travessia

    Saímos do Rio de Janeiro às 19h. Uma viagem tranquila, sem paradas. Chegamos em Diadema por volta de 00h30, 01h.
    Douglas e sua esposa Leila nos receberam em sua casa. Tomamos algumas cervejas e começamos a falar sobre a travessia que nos aguardava em algumas horas. Tínhamos que sair bem cedo pois, como a trilha tem início dentro de uma propriedade particular, há seguranças e fiscalização.

    Tínhamos combinado de acordar às 04h30, pra 05h já estar na rua. Porém, a canseira da viagem foi tanta que acordamos apenas às 05h45. Como já estávamos atrasados, não demoramos a nos arrumar e sair.

    Foi necessário pegar um ônibus, depois trem e depois outro ônibus para chegarmos em Paranapiacaba. Este último nos deixa em frente a MRS, onde fica o começo da trilha. Douglas encontrou dois conhecidos, Edu e Lucas, e eles se juntaram ao nosso grupo.

    Tivemos um pequeno problema: chegamos lá na MRS por volta de 09h50, e vimos bastante fiscalização. Portanto, não dava pra entrar pelo caminho 'convencional'. Mas, o Douglas nos levou para uma 'entrada' alternativa, onde fizemos o nosso primeiro trecho vara mato da travessia. No caminho até o começo da trilha, muito muito chuchu, mato alto e bem denso...

    Chegamos na linha férrea ativa da MRS, onde fica o início da trilha. Passamos correndo para não sermos vistos, pois ainda tinha risco de aparecer algum fiscal e estragar nosso passeio.

    Finalmente, depois de uma subidinha bem leve de 2 minutinhos, começamos a aventura de verdade e chegamos ao primeiro túnel.

    Já ali começa a ficar emocionante. No fim do túnel, que é bem curtinho, a gente já consegue ver a mata bem verdinha e fechada. É lindo demais. Poucos metros depois, a primeira ponte. (Vale dizer que foi a ponte mais bem conservada de toda a travessia)

    Parte do pessoal foi caminhando em pé nos trilhos. Rafinha preferiu ir abaixada, e eu também. Bateu um pouco de insegurança devido à instabilidade do meu tornozelo. Dessa forma, achei melhor seguir abaixada mesmo. O pessoal tirou de letra. Eu levei o triplo do tempo indo abaixada, e vi que não ia rolar atravessar desse jeito nas demais pontes. O motivo: abaixada eu estava forçando muito mais o tornozelo, perna, barriga e braços, além de ter levado muito mais tempo para completar uma ponte curta. Então decidi que nas próximas eu ia seguir em pé. Terminada a primeira ponte, continuamos o caminho.

    Passagem da primeira ponte

    A paisagem é incrível demais... Não se escuta nada além de vento, pássaros. É uma sensação absurda.

    Mais um túnel e mais uma ponte, essa um pouco pior que a primeira. Como havia decidido na primeira, dessa vez segui em pé pelos trilhos e, pra minha surpresa, foi muito mais tranquilo e atravessei a ponte bem rápido.

    E, assim, foi por quase todo o trajeto: mato alto, buracos, trilhos escondidos, valas, túneis, pontes... É preciso prestar muita atenção no caminho. Apesar de ser plano, tem muita vala, muito buraco, muito cabo de aço, muito cipó que agarra no pé e te faz cair, trilhos escondidos...

    Seguimos esse ritmo até chegarmos ao Segundo Patamar. Para acessar, cruzamos a ponte da Grota Funda e depois, antes de entrar no túnel, pegamos um desvio a direita, para uma descidinha até a casa de máquina. Ali é possível perceber a grandiosidade do sistema funicular. As engrenagens totalmente expostas, enormes, pra ficar olhando meio embasbacado. E, nesse mesmo lugar, temos acesso a parte de baixo da ponte, onde é possível, com muito risco de queda, chegar num ponto de observação maneiríssimo. Dá pra ver o 'abismo', nos seus 70m de altura. Verde, muito verde... Uma pequena cachu... E aquela sensação de paz.

    Travessia Funicular

    Grota Funda - Segundo Patamar

    Neste ponto ficamos um pouquinho. Bebemos água, tiramos algumas fotos... E voltamos à parte alta pra seguir o resto da trilha.

    Segundo Patamar

    Ah, fato importante: não precisa se encher de água pra fazer a travessia. O esforço físico é pequeno, não sentimos sede toda hora... E passamos por alguns pontos de água, onde pudemos nos abastecer para toda a travessia.

    Passamos por uma ponte onde os trilhos estavam meio soltos, e aí está a importância do grupo unido, responsável e coeso. Visto o risco de queda (e morte!), a gente se calava, respirava... Ia cada um no seu tempo. No trecho onde os trilhos estavam soltinhos, a gente ficava bem distante entre si, pra não movimentar o trilho e desequilibrar o parceiro.

    Eu, Cid e Diogo na ponte que tinha trilhos soltos. Andamos afastados pra não balançar a estrutura e causar acidentes

    Sem medo de ser repetitiva, é REALMENTE necessário agir assim. Como já falei exaustivamente, se cair da ponte, um abraço.

    Em algum momento do caminho, meu pé ficou preso num desses cipós que mencionei mais acima, e cai no matagal. Levantei MUITO MUITO rápido com medo de ter alguma cobra escondida e segui em frente.

    Passamos por mais túneis, mais pontes... Daí, em determinado ponto, decidimos fazer um desvio para poder fazer uma parada na Caixa D'água, uma cachu pra gente tomar um banho, relaxar um pouco e comer. Seguimos a esquerda da ponte, e no vara mato encontramos uma queda d'água tímida. Ao lado, um trechinho de escalaminhada. Feita essa subida, chegamos no poção. Só alegria. Ficamos ali por volta de 1h30min.

    Depois de termos nos alimentado e descansado, iniciamos o trecho final da travessia, rumo à (temida) Ponte Mãe.

    Descemos um pequeno barranco, e Antonio me ajudou nessa hora. Aliás, preciso comentar, todos estavam mega preocupados comigo, por conta do meu tornozelo ferrado. Antonio me deu um suporte no barranco, e graças a Deus não tive nenhuma queda ou forcei demais o pé. Todo mundo ali foi muito parceiro.

    Aí, caminhamos... Andamos bem e lá estava ela: a Ponte Mãe. As outras pontes tinham 40/60m de extensão; mas a Mãe, em toda a sua imponência, trazia 200m. Era difícil achar o final. E não apenas isso. Em todas as demais pontes a gente escolhia um lado e seguia nele até o final. Na Mãe, é a ponte que diz o caminho. Começamos do lado esquerdo, terminamos no meio ou no direito. Não tem como fazer outro caminho.

    Ponte Mãe, início pelo lado esquerdo e muito mato à direita

    A primeira dificuldade da mãe vem nos 10m iniciais. Tem muito mato do lado direito, muito mesmo. Espinhos, galhos... Grudam na roupa e estão ali pra te atrapalhar. Douglas foi na frente afastando os galhos mais salientes e cortando outros que tinham espinhos. Passado esse trecho, continuamos pelo lado esquerdo até a parte que os trilhos acabam, aí que, com muito cuidado, nos apoiamos nos dormentes podres e algumas parte de ferro bem destruídas e vamos pra partezinha do meio. Nessa parte é possível seguir até o final. Adrenalina pura. Suei mais ali que na travessia inteira.

    Trecho de passagem do lado esquerdo para o meio, dormentes podres e trilhos enferrujados

    Mas, venci a Mãe! No final dela, a gente se abraçou, todo mundo orgulhoso pelo êxito de ter atravessado a Mãe de boa.

    A partir desse ponto, seguimos pelo túnel chamado de Pai, o mais extenso, onde é necessário usar lanterna. Atravessado o túnel, onde acabei perdendo as luvas que o Diogo me emprestou (desculpa rs), seguimos uma trilha também sem dificuldades.

    Aí você pensa: Acabou a adrenalina então, né?! Respondo: Não. O que até então eu não sabia é que rola atravessar uma cachoeira. E foi aí que eu tremi na base. O que mais tem ali são pedras bem escorregadias. Toda atenção é pouca. Todo mundo se ajudando, demos conta de passar o trechinho, que eu atualmente defino como 'curto e grosso'. É pequeno mesmo, porém foi a parte onde realmente senti medo.

    Depois disso, sim, acabou a 'aventura'. É só caminhar de boa, e se chega na sede de Cubatão da MRS. Começou a chover forte, então apertamos o passo mais ainda.

    No final de 6h de Funicular, todo mundo mega feliz e ensopado por ter completado os 15km de travessia. E, mais felizes ainda por não termos visto nenhuma cobra.

    Fim da Travessia Funicular - Paranapiacaba X Cubatão

    Funiculeiros - SELVAAAA

    Chegamos na casa da Tia Nezia, uma moradora mega simpática que nos deixou ficar na varanda, deu café e biscoitos.

    Tirei bota, meia e perneiras ensopados, e aí deixei a perna pro 'alto', pra ver se diminuía um pouco meu inchaço da torção. Nesse tempo, esperamos o nosso resgate, que iria nos levar de volta para Diadema.

    Como sempre, fica aquela sensação de dever cumprido, superar limites... Felicidade e gratidão.

    Cid, Rafinha, Tia Nezia e eu

    Créditos das Imagens: Antonio Barreto, Cid Ávila

    (Preciso dizer que o psicológico conta muito nesse lugar. Apesar de ser uma trilha muito de boa, sem inclinação, sem dificuldades, ela é 'complicada' devido ao fato de as pontes estarem bem destruídas e se cair, tropeçar ou desequilibrar, um abraço. A exposição na travessia das pontes é constante. Trata-se de um lugar onde erros não são permitidos, e tudo tem que ser planejado e executado da melhor forma possível.)

    Danielle Hepner
    Danielle Hepner

    Publicado em 23/01/2016 21:50

    Realizada em 10/01/2016

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    5 Comentários
    Ronaldo 08/02/2016 14:21

    Que aventura!! Me fez lembrar de cenas do filme Os goonies. Show!!

    Flávio Gallo 10/03/2016 22:30

    Ronaldo, eu lembrei do filme "Travessia" a história real do maluco que atravessou as torres gêmeas e no final foi preso pela polícia. Ainda bem que no final dessa aventura incrível a Danielle e os amigos não foram pegos pelo dono da propriedade ! (rs) . eu gostaria muito de ter feito essa viagem aí! Legal suas fotos e relato super bem escrito Danielle !

    Ronaldo 21/03/2016 19:43

    Bem lembrado. Aventuras como essa ficam pra história, digna a ser contada aos netos, bisnetos..

    Olá Danielle, boa tarde! Estou a algum tempo com essa trilha em meus planos, e realizando pesquisas sobre ela. Seus relatos ate o momento são os melhores, desde já muito obrigado! Estou a procura de um guia que realmente conheça esta trilha, e o seu guia aí parece ser "o cara" hehehe, gostaria de saber se poderia me passar o contato deste cara ou de algum outro guia que conheça esta trilha tão bem quanto. Muito obrigado! E parabens!

    Vera Balata 06/04/2017 09:06

    Danielle viajei aqui com seu relato claro e preciso. Uma aventura e tanto. Parabéns!!! e obrigada por compartilhar.

    Danielle Hepner

    Danielle Hepner

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