Travessia da Serra do Tabuleiro – SC
Trekking de São Bonifácio cruzando por cima da Serra do Tabuleiro até Santo Amaro da Imperatriz.
Trekking Montanhismo AcampamentoTravessia da Serra do Tabuleiro – SC
Início: São Bonifácio
Final: Santo Amaro da Imperatriz
Distância: 28 kms
Nível de dificuldade: difícil
A travessia da Serra do Tabuleiro é uma aventura que exige baste daqueles que se propõem executa-la, por outro lado, ela recompensa na mesma medida com belas paisagens, e, se o clima estiver favorável, com uma vista única de Florianópolis. É sem dúvidas, uma aventura ímpar e cheia de surpresas de todos os tipos.
Quem quiser executar esta travessia tem que ter em mente que vai encontrar uma aventura exigente, pois é de um ambiente praticamente selvagem e pouquíssimo frequentado que estamos falando aqui. Em muitos trechos, simplesmente não existe trilha ou qualquer sinalização e é bem provável que não se cruze com mais ninguém por lá além dos poucos animais que vivem neste ecossistema e do gado solto criado de forma extensiva, praticamente selvagem.
A trilha muitas vezes esbarra em trechos de mato fechado, fato este que vai exigir bastante cuidado e atenção quanto à navegação e ao tempo gasto para superar estes obstáculos. Aqui cabe alertar que é essencial ter um bom facão para abrir uma picada e poder fazer o rasga mato com menos dificuldade.
Imprescindível o uso de mapa, bússola e um tracklog com curvas de nível carregados no GPS. Sei que a maioria do pessoal aqui já está atenta quanto a isto, mas cabe o alerta, pois não são poucos os relatos de pessoas que entraram na região e se perderam. Definitivamente não é uma travessia para quem não domina as técnicas de navegação, ou não tem equipamento adequado para isso. Com tempo limpo as coisas ficam um pouco mais tranquilas, mas se fechar, o que não é raro acontecer, somente com uma boa navegação para poder encontrar o caminho.
O lado favorável é que existe bastante água durante o percurso, tirando o Pico do Tabuleiro, que, até onde eu sei, não tem ponto nenhum de água o que exige um bom planejamento da quantidade de água que se leva. Minha sugestão é chegar lá em cima do pico com dois ou três litros de água. Depois na interminável descida para Santo Amaro da Imperatriz, existem pontos de água.
É uma travessia que com tempo bom, pode ser feita em três dias, mas no nosso caso, meu e de meus amigos, levamos quatro dias por conta do tempo que estava chuvoso.
O primeiro dia:
Nosso ponto de partida é no Sítio do Sr. Gilson e sua esposa Sra. Inês, e aqui cabe deixar uma dica: eles produzem vários tipos de biscoitos caseiros e pães de mel que realmente são muito bons! Cabe levar alguns para o lanche durante a trilha.
A trilha começa logo que passa a casa deles, do lado esquerdo e não demora muito e encontramos do nosso lado direito o Rio Moll, que será de certa forma, o nosso guia neste primeiro dia. Ele corre por uma calha, numa espécie de mini cânion dentro de uma mata fechada e diante disto, quero alertar aqui que é altamente recomendável evitar a subida deste trecho se o clima não estiver tranquilo, pois, segundo o relato do Sr. Gilson, no caso de uma tempestade ou chuva forte no alto da serra, a água desce rapidamente e em grande volume, fazendo com que aquele riozinho de águas tranquilas se transforme num rio perigoso de um a hora para outra e dependendo do ponto onde a pessoa se encontre, acabe ficando em sérios apuros.
Seguindo em frente, é uma trilha muito bacana onde se cruza o rio por volta de 14 ou 15 vezes, andando por cima das pedras e troncos. Com cuidado e o rio estando em seu leito normal, é possível chegar lá em cima com as botas secas.
Depois da subida do rio, começa a mudança sutil e constante da vegetação, passando de mata para uma mistura de campos e pequenas matas.
Neste dia a trilha é bem tranquila, apenas demorada em função da caminhada no Rio Moll e dos primeiros rasga mato. Por volta das 16 horas resolvemos parar e montar acampamento, pois começara a fechar uma cerração baixa, e, além disto, havia previsão de chuva, que para nossa sorte, neste dia não chegou a se concretizar. Acampamos bem próximos do cume do Morro das Pedras numa baixada para evitar o vento.
Dica: no alto do Morro das Pedras é possível obter sinal de telefonia móvel para Vivo e Claro.
Distância percorrida: 7.4 kms
Segundo dia:
Confesso que não lembro bem deste dia...kkkk...mas posso dizer que é de certa forma tranquilo, sendo que começamos a caminhada pouco antes das 9 horas da manhã e por volta das 17 horas já estávamos montando acampamento.
O caminho é sempre orientado pelo traklog como disse antes, não existe uma trilha definida e nenhum tipo de sinalização, apenas algumas trilhas abertas pelo gado e o agravante da neblina se o tempo não estiver firme. Existem também vários trechos com turfa e alguns charcos, sem falar dos gravatás que são sempre uma diversão à parte #SQN. J
Já estava deixando de citar os rasga mato; foram vários.
Distância percorrida: 8.7 kms
Terceiro dia:
Na noite anterior, após jantarmos, ficou decidido que o terceiro dia teria que render a caminhada pois nosso objetivo final para este dia deveria ser acampar no alto do Pico do Tabuleiro, mas no final das contas não foi bem isso que aconteceu.
O dia começou bonito, pela primeira vez com sol. Café tomado, circo desmontado e pé na trilha. A caminhada, como nos dias anteriores, foi cheia de rasga mato, turfas e gravatá...já arrancamos subindo para o monte de onde se pode avistar o Pico do Tabuleiro bem próximo, coisa de em linha reta uns 1500 metros, mas aquilo que está próximo nem sempre é rápido de alcançar...kkk...existem trechos onde o avanço é muito lento pois é necessário abrir o caminho.
Após alcançarmos o topo do monte vizinho ao pico, paramos um pouco para descansar, curtir o visual, e, vendo o Tabuleiro tão de perto, tínhamos a certeza de que acamparíamos no alto dele como planejado. Porém, entretanto e toda via, não foi isso que rolou...
Iniciamos a descida com mato fechado com algumas clareiras e depois de um certo tempo, chegamos no ponto de aproximação do apelidado “cocuruto do Tabuleiro” que é um pequeno monte bem junto ao Tabuleiro e novamente era mato e uma subidinha chata...ao chegarmos em cima do cocuruto e tendo uma visão mais próxima do final, percebemos que o ultimo trecho antes da subida final estava num pequeno vale completamente fechado pela mata. Aqui o bicho pegou! Tínhamos a informação no trackloc que seria uma descida forte e de fato foi. O tempo todo tendo que se agarrar nas árvores e arbustos e escolhendo bem o caminho no meio das pedras. Chegando lá embaixo, encontramos um leito de riacho seco, deu para perceber que era um lugar não muito seguro, no caso de começar a chover pois, ao que tudo indica, é para ali que desce a água de uma das encostas do Tabuleiro. Neste momento o tempo deu uma nublada e com o cair da tarde se aproximando, já estava ficando um pouco escuro.
Depois de muito tentar, encontramos um caminho menos difícil para iniciar a subida final, tínhamos por volta de uma hora para alcançar o topo, mas quando a trilha abriu um pouco no meio do mato e entramos em um campinho percebemos que a chuva estava voltando e que já era quase 17 horas. Neste momento percebemos que, embora muito perto, não teríamos como alcançar o topo sem correr o risco da chuva nos pegar, e , sendo assim, resolvemos procurar um local para montar o acampamento. Estávamos no meio da subida final, num trecho bem inclinado e de mato e depois de uma procura rápida, resolvemos montar as barracas num local que era meio plano, porém com bastante gravatás e arbustos.
Foi o tempo de montar o acampamento precário e jantar. Logo na sequencia não demorou muito, veio um nevoeiro, o cair da noite e por fim a chuva, meio fraca e constante. Devido, a inclinação do terreno, foi perrengue a noite toda: por um lado a chuva, tocando um pouco de água para dentro da barraca, por outro, escorregando do isolante térmico para o fundo da barraca, era um escorregador de criança, #SQN kkkk o resumo da ópera foi que não dormi direito, eram apenas alguns cochilos de a 15 ou 20 minutos... tanto que às 5 horas da manhã, inda escuro mas com a chuva tendo dado uma trégua, resolvi levantar, esticar o esqueleto e tentar fazer um café .
Distância percorrida: 8.3 kms
Quarto dia:
O dia clareou, porém com céu fechado. A chuva havia dado uma trégua e após tomar café e guardar todas as coisas molhadas nas mochilas, arrancamos subindo do ponto em que havíamos acampado rumo ao topo. De cara, os gravatás simplesmente tomaram conta do pedaço e tínhamos que subir fazendo uso deles como apoio pois a subidinha no final era bem íngreme. Levamos pouco menos de uma hora para percorrer este trecho que compreende do acampamento até o topo, sendo que o ganho de altitude foi pouco mais de 60 metros.
Chegamos finalmente ao topo do Tabuleiro! O tempo fechado, um chuvisqueiro fino e cortante e um vento muito forte nos recepcionaram em nossa conquista.
Depois de descansar um pouco, curtir o visual, fazer umas fotos da neblina..kkkk...imaginamos que, daquele ponto em diante seria tranquilo, afinal é só uma longa descida. Imaginamos errado.
O fato é que a trilha da descida, embora bem nítida, estava completamente tomada por taquarinhas, ou, bambuzinhos, como alguns dizem. E aqui, a exemplo dos demais dias, o facão, mais do que nunca, teve que trabalhar bastante...kkk...creio que uns 60% da trilha estava nessas condições.
Chuva, lama, terreno escorregadio, taquarinhas caóticas e assim foram nossas longas 7 horas de descida, embora a previsão era de pouco mais de 3 horas e meia para ser concluída.
Chegamos em Santo Amaro da Imperatriz totalmente molhados, embarrados, esfolados, cortados pelas folhas das taquarinhas mas com aquela euforia doida de ter concluído a travessia apesar de todas as adversidades.
Distância percorrida: 6.9 kms
Considerações finais:
É sem dúvida uma travessia difícil mais que oferece altos visuais e uma vibe bastante selvagem, principalmente no segundo e terceiro dia.
O Parque Estadual da Serra do Tabuleiro fica muito próximo de Florianópolis, fato que garante certa facilidade na hora de organizar a logística e o transporte de ida e volta.
Pretendo voltar lá futuramente, com tempo bom, pois certamente é muito mais bacana e menos perrengada a missão. Kkk
Agradecimentos:
Meus brother da trupe hiperativa: Ricardo Tavares e Gustavo Bô,
Rafael Santiago e Hendrik Fendel que postaram os únicos relatos e tracklocs da travessia. Sem estas informações a coisa fica muito mais difícil de ser realizada por alguém que não conhece a região.
Links úteis:
Relato do Rafael: http://www.mochileiros.com/travessia-do-pq-est-da-serra-do-tabuleiro-sc-abr-mai-13-t82426.html
Tracklog Rafael: http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=4486377
Tracklog Hendrik: http://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=3376898
Parque: http://www.fatma.sc.gov.br/conteudo/parque-estadual-da-serra-do-tabuleiro
Googlando: IPX7 significa que o dispositivo irá suportar a exposição acidental à água até um metro de profundidade para um máximo de 30 minutos.
Pô, nunca tinha ouvido falar nisso! Vou reparar agora nos equipos!
Bom dia Edson. Fiz essa travessia em outubro do ano passado! Muito show! Vou postar aqui tambem essa aventura! Abraço
Muito legal! Santa Catarina tem muita trilha bonita! Será que no inverno o tempo não está mais seco facilitando o trekking?
Olá, Peter! Realmente, em SC tem muito trilha para explorar. de diversos níveis de dificuldade e beleza tb... Certo que no inverno é melhor mesmo. No caso desta travessia, tivemos que optar por uma data não tão boa por conta de outros compromissos da turma.
Aislan, só agora que atentei para o teu comentário. Perdão! Trilha bonita, quero repetir qualquer dia destes. Ainda mais agora que as coisas estão mais tranquilas com a abertura da trilha. Abraço
Saudações! Gostaria de parabenizar pela travessia e por ter divido essa historia aí. Me inspirou muito a fazer. Poderia me dizer se precisa de autorização prévia? Muito grato!!!
Olá Paulo Henrique! Perdoe a demora em te responder. Não é preciso autorização prévia. Basta apenas pedir permissão para cruzar a propriedade do Sr. Gilson que sempre muito gentil, libera a passagem.