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Nível de dificuldade da Transcarioca

    Estudo sobre os níveis de dificuldade da Trilha Transcarioca.

    Hoje eu deveria estar, como planejado, trilhando o Trecho 06 da Trilha Transcarioca - Casa amarela X Pau da Fome, mas, quando acordei, me deparei com um tempinho nublado e uma leve chuvinha. Receoso - ou precavido? - resolvi olhar os mapas meteorológicos e acabei por me deparar com um alerta amarelo de chuva na cidade. Dado o cenário, decidi, a contragosto, ficar em casa. E agora estou aqui, escrevendo sobre um trilha que eu não fiz - e nem está chovendo (espero que "ainda não esteja chovendo").

    Na verdade, resolvi falar sobre um pequeno estudo que fiz recentemente sobre o nível de dificuldade dos trechos da Transcarioca, relacionando essa dificuldade ao tamanho do trecho e ao ganho de altitude, bem como a outros aspectos apresentados tanto no site da própria trilha quanto no livro-guia.

    Tanto o site como o livro-guia têm muitas informações sobre os trechos, mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de nenhum dos dois apresentar com clareza o ganho de altitude dos trechos. O livro-guia, nesse sentido, é mais completo, pois traz o gráfico do perfil altimétrico, como aqueles que vemos em aplictivos como Wikiloc, mas sem um número claro resumitivo (em nenhum lugar se diz, por exemplo, ganho altimétrico de 300 metros ou algo semelhante). Com base nos gráficos presentes no livro-guia, porém, consegui chutar o ganho altimétrico de cada trecho. (Veja bem, isso não é um crítica ao material, que é excelente. É só um aviso para informar de onde tirei os números para o segundo gráfico abaixo).

    Nesse gráfico, faço um resumo da dificuldade de cada trecho (segundo o material oficial da trilha), em função da ordem em que são numerados (de 1 a 25, lembrando que o 10 e o 22 não existem) e do tamanho, em quilômetros, de cada um deles. O que achei interessante, em primeiro lugar, foi o fato de os trechos mais difíceis estarem concentrados no Parque Estadual da Pedra Branca, todos com mais de 7 km de comprimento. Os únicos trechos difíceis fora dessa Unidade de Conservaçao são o Trecho 02 - Grumari X Grota Funda (como veremos adiante, é um trecho que tem mais de 300 metros de ganho altimétrico e certa dificuldade de navegação - eu mesmo, sem GPS, já me perdi por lá um vez); e o Trecho 11 - Represa dos Ciganos X Bom Retiro (o trecho com maior ganho altimétrico de todos, de quase 800 metros, que parte do início da auto-estrada Grajaú-Jacarepaguá e sobe o Pico Da Tijuca, um dos picos mais altos d acidade).

    Outro ponto interessante é o fato de os trechos leves serem ou muito curtos (menos de 2 km - como o Trecho 15 - Mesa do Imperdor X Vista Chinesa, uma pequenina trilha dentro da Floresta da Tijuca, geralmente usada como ligação por quem vem pela travessia do Trecho 14 e pretende chegar até a saída do Parque sem descer pela estrada de asfalto) ou estarem concentrados na Zona Sul, em áreas praticamente urbanas (como o Trecho 20, que é simplesmente uma caminhada do Parque Lage até o Parque da Catacumba, em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, com zero de ganho de altitude).

    Outro ponto interessante diz respeito aos Trechos 06 - Casa amarela X Pau da Fome (justamente o trecho que eu pretendia fazer hoje) e o famoso Trecho 19 - Paineiras/Corcovado X Parque Lage (o trecho que todo gringo adora fazer invertido, subindo do Parque Lage até o Cristo, o que dá uma boa subida e ainda apresenta áreas de escalaminhada). No que diz respeito ao Trecho 06, o mais longo de toda a Transcarioca, se você de fato vem do Trecho 05 e já começa na Casa amarela, tem que encarar uma descida acentuda, depois uma boa subida até a Pedra do Quilombo e mais uma grande descida até a Sede Pau da Fome. Logo, de fato, há uma perda altimétrica ali. Contudo, o mais comum é as pessoas começarem no Pau da Fome, subirem toda a Trilha até a Casa amarela (cerca de 3,7 km) e daí retornarem ao Pau da Fome, num circuito. O trecho então passa a ter mais de 6 km, com duas grandes subidas, sendo de fato muito cansativo (só para se ter uma ideia, ano passado, um grupo de amigos e eu fizemos Pau da Fome X Casa amarela X Pico da Pedra Branca e voltamos. Todo o trajeto, apesar de ser bem menor e termos descansado bastante lá no topo, nos tomou cerca de 6 horas de caminhada).

    Quanto ao Trecho 19 - Paineiras/Corcovado X Parque Lage, apesar de ser curto, me parece adequado ser catalogado como Moderado, dada a sua inclinação. Confesso que não vejo muito sentido, porém, os gringos quererem subir por ali. A minha opção, como fiz no final do ano passado, é sempre subir o Cristo pelo Trecho 18 - Primatas X Paineiras/Corcovado, que é um Trecho Moderado, com água em vários pontos e um cachoeirinha (Primatas) para dar aquela relaxada - além da Figueira, onde se pode parar para um lanche; e descer pelo Trecho 19, fazendo uma descida íngrime em vez de um subida íngrime.

    Por fim, deixo duas anotações sobre o primeiro gráfico que apontam para o meu desejo de fazer a Transcarioca no modo thru-hiker: toda de um vez. Fiquei pensando que, na Floresta da Tijuca, seria possível fazer em dois dias, cobrindo os trechos 11 a 13 (Setor Floresta) no primeiro, saindo no Portão da Tijuca para pegar um resgate para casa - o que seria certamente bem pesado, porque, além do Trecho 11, já discutido, ainda teríamos o Trecho 12, com a forte escalaminhada do Pico do Papagaio e a descida muito íngrime do Cocanha; e os Trechos 14 a 19 (Setor Serra da Carioca), saindo no Parque Lage. Contudo, como não tenho tanto conhecimento sobre os trechos mais longos do Parque da Pedra Branca e áreas no entorno, não consegui pensar em como planejar esse trecho. Se alguém puder dar algum ideia, fico agradecido.

    Observação inútil: fiquei muito impressionado com a qualidade da catalogação da Transcarioca. O segundo gráfico parece indicar uma correlação forte entre ganho altimétrico, tamanho do trecho e nível de dificuldade, com os trechos mais longos e mais íngremes sendo mais difíceis. A meu ver, a equipe está de parabéns.

    4 Comentarios
    Rafael 23/02/2022 22:17

    Isso que dá acadêmico fazendo trilha!

    2
    Igor de Oliveira Costa 23/02/2022 22:18

    Quando não é isso é escrevendo livro... Podia estar trilhando em vez de escrever... Perda de tempo.

    1
    Bruno Negreiros 03/03/2022 15:03

    Fala Igor, tudo bem? Bem interessante o artigo. O Guia considera alguma metodologia para classificação da trilha em leve, moderada e difícil.

    Igor de Oliveira Costa 04/03/2022 19:08

    Fala, Bruno. O guia não apresenta explicitamente os critérios para a classificação, mas apresenta algumas informações que ACHO que eles usaram (distância total, tempo total, nível de exposição ao risco, dificuldade de orientação, nível de exposição ao sol, nível de sinalização, Se há ou não escalaminhada e Presença de pontos de hidratação). Não cruzei todos os fatores, confesso, mas, conhecendo alguns trechos, achei que os mais relevantes seriam distância e ganho altimétrico.

    Igor de Oliveira Costa

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