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Jeff Almeida 19/01/2021 12:11
    Cicloviagem express solo - 230km

    Cicloviagem express solo - 230km

    Cicloviagem feita em cerca de 40 horas saindo de Mogi das Cruzes até Redenção da Serra via Rota da Luz e voltando pela Carvalho Pinto

    Acampamento Cicloviagem

    Tudo, como sempre invariavelmente ocorre, foi meio que de improviso.

    Com todas as questões envolvendo a pandemia se estendendo (ainda estão, inclusive) além do que imaginávamos, as inúmeras ideias de viagem de fim de ano foram minguando. O que, em algum momento, chegou a ser Foz do Iguaçu e/ou Curitiba, passou a ser algo próximo, acessível (guardem bem essa palavra) de bike. Comecei a procurar campings num raio de 50Km e, na medida que entrava em contato e ouvia as negativas, fui ampliando a distância.

    Enfim, no começo de dezembro(2020) entrei em contato com a Pousada dos Pereiras em Redenção da Serra, distante cerca de 100Km de Mogi das Cruzes, e negociei duas pernoites por lá.

    A partir daí o próximo passo foi criar a rota. O Google Maps dava como sugestão três opções, via Salesópolis, via Carvalho Pinto ou via Santa Branca. Comparando as três não haviam grandes diferenças de distância e tampouco de altimetria e, sendo assim, resolvi optar pelo mais prático, ir via Salesólopolis, afinal moro a cerca de 20km de Biritiba Mirim, via estrada de terra. E, ainda usando o Maps, comecei marcar no caminho bicicletarias, mercadinhos, etc, para usar em eventualidades (assim a bike iria praticamente vazia).

    Porém.....

    Porém, mudei de ideia faltando três dias para partida. Pensei, ~pois sou um gênio~, “ir pelo asfalto não vai ter graça, melhor ir via Santa Branca, que é 80% estrada de terra, na chamada “Rota do Sol””. Ok, agora é a hora de vocês rirem.

    Corri com os planejamentos e, para a surpresa de zero pessoas, notei que não haveria nenhum tipo de suporte (bar, boteco, bica d’água,..., bicicletaria então... hahahaha) durante mais de 70Km do trajeto. Ah, dane-se, capricharia mais nos alforjes.

    Com tudo lindo, planilhado, bicicleta montada e me sentindo pronto, as 06h00 do dia 24 de dezembro, deixei a Jade com água, comida e areia limpa e parti.

    Ah! Esqueci! Antes disso havia conversado com a Carol Emboava em busca de motivação e dicas e, em suma, ganhei a pérola premonitória:

    “Lá pro 60k pode ser que você comece a sentir vontade de morrer”.

    Retomando o raciocínio, o conceito de estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie,em inglês strategy, em alemão strategie, em italiano strategia,...

    De Sabaúna a Santa Branca (35km) foi super agradável, passando pelo centro de Guararema, por áreas arbóreas com aquela sombra motivacional e, em grande parte, também sendo acompanhado pelo rio Paraíba do Sul. Fiz, inclusive, conforme o que havia planejado em relação à duração, cansaço, etc.

    A partir de agora, entretanto, a porca começou a torcer o rabo... tive a notável capacidade de me perder no centro de Santa Branca e, caso alguém aqui não conheça Santa Branca, é preciso ressaltar que “montanha russa com paralelepípedos” a define bem. Sério.

    Fiquei ali, subindo e descendo as ruas com a bike carregada no talo por uns 20min, só pela Igreja Matriz passei três vezes, até perguntar para um taxista que, gentilmente me disse “vire aquela rua a direita e suba até a Igreja Matriz (!) e depois vá até o final e vire a esquerda,...” Enfim, após isso, consegui transpor meu dia da marmota em Santa Branca e seguir viagem.

    A seguir seria o trecho mais longo entre cidades, de Santa Branca a Paraibuna, com cerca de 38,5km e aqui, preciso dizer, ardeu. O trajeto passou a ser árido, sem proteção contra o sol, e sem vivalma pra acudir caso houvesse necessidade. A Carol Embova se enganou, foi as 45km que eu quis me matar hahaha. O termo “falso cume” foi reescrito uma centena de vezes e esgotei minha reserva de água faltando um terço do caminho. Mas, veja você, cheguei às cercanias de Paraibuna com somente pouco mais de 1h20min de atraso em relação ao que havia planejado e, para alegria de também zero pessoas, ao perguntar para uma senhorinha se faltava muito ela levantou o braço - numa angulação não inferior a 60° - e disse, essa é a última subia, depois disso é só descida.

    Já vislumbrava chegar a Paraibuna e me acabar num açaí e beber água, muita água.. mas tive que me contentar apenas com a água, doce de abóbora e uma coca gelada. Estava preocupado, semi traumatizado e determinado a fazer a última etapa (32km), que sabia que seria a pior em matéria de subidas o quanto antes (desdenhei, inclusive, de um pessoal que havia comentado no Youtube que tiveram que pegar carona neste trecho. “Ah! Que molengas!”).

    No começo, lindo, asfalto novinho, liso, perfeito. Mesmo as subidas fazia tirando sarro dos tais “molengas”.. mas isso durou nada e veio a famigerada estrada de pedriscos revirados. Eu calculo que foram cerca de 15km só de subidas até a divisa dos municípios e, em inúmeras vezes, tive que empurrar a bike na chão fofo e pedregoso quase tombando de lado devido ao peso dela. Foi punk (termo ‘family friendly’ que não traduz a realidade).

    Pois bem, na divisa, já semi morto, vi que havia uma placa abençoada dizendo que a distância até a Pousada era de “apenas” 11km!!! Ah!!! 11km é sussa, café com leite, mole mole, de boas, ..., (Aqui é onde vocês riem novamente)

    Ah mano, fala sério... porque que foram inventar esse trajeto “Rota da Luz” para os romeiros fazerem? A justificativa é para evitar a Dutra e os atropelamentos, mas quantos irão se acabar de exaustão?!?! Eu, por exemplo, quase fui.

    Lembra da estrada de pedriscos? Lembra dos falsos cumes? Truco!

    11km... 9km... desce, empurra, tomba, pedala em falso, desce, empurra, tomba... 3km, nova placa da Pousada, gritei “Há!!! 3km pitomba (termo ‘family friendly’ que não traduz a realidade)”... desce, empurra.. ah, vocês já sabem... nem vi a placa dos 1km.. cheguei a Pousada.

    E tomei meu primeiro (e único) capote.

    Um cachorro gigantemente lindo veio até mim e colocou as duas patas no meu peito (fácil, já que sou não-alto), derrubando eu e a bike.

    O Daniel veio me receber e conheci brevemente parte de sua família. Estava exausto. Não há melhor definição. Queria, acima de tudo, tomar um banho e deitar.

    Aqui cabe um disclaimer, o Daniel e sua família foram extremamente simpáticos e atenciosos, mas não consegui demonstrar minha gratidão. Precisava descansar o corpo e a cabeça.

    Era véspera de Natal e, as 18h já havia me entregado ao sono...

    Não comentei anteriormente, mas o plano era ir e voltar pelo mesmo caminho... e o plano, mudou durante esses momentos, quase em desfalecimento, na barraca. O acesso a internet, apesar do Wi-fi da Pousada, estava ruim, e precisava urgentemente bolar uma rota de volta. Optei por um retorno via Taubaté e Carvalho Pinto, aumentando em 20km no total, mas com a vantagem (agora super valorizada) de pegar o mínimo de estradas de terra.

    Abortei a estadia de dois dias para primeiro, não dar chance do corpo “esfriar” e vir dores antecipadas e segundo, para dar paz para o Daniel e sua família no dia de Natal. Tomei um café da manhã caprichado na Pousada e, antes das 07h já havia partido.

    Meu powerbank tinha carga suficiente para deixar o celular com cerca de 30% de bateria, porém não coloquei na balança o uso dos aplicativos de rastreio e de criação de tracklog, e chegando a Taubaté já tive que usá-lo. Esta parte da viagem(40km), apesar de ter também muitas subidas, foi estranhamente agradável, de verdade.

    Parei na rodoviária por uns 40min para dar a carga no celular, comer uma coxinha e tomar um açaí (como assim cobram os adicionais a parte?!?! R$2 por banana! R$2 por granola? R$2 por leite condensaaaaaado!... comi, por princípios, o açaí puro.)


    Toca fazer agora, de verdade, a volta. E, nesta parte não há muito o que descrever, o que deve ser visto com bons olhos. Foram 80km numa paulada só (praticamente, porque parei no Frango Assado pra tomar um suco de melancia e comer um pão de semolina na chapa), pegando a Dutra, Carvalho Pinto (chacoalhando a cada carreta que passava) e, por fim, Henrique Eroles. Após mais de 10 horas pedalando, sem celular desde Jacareí, cheguei em casa.

    E, citando mais uma vez a Carol Emboava, que soube descrever perfeitamente esse perrengue de cerca de 40 horas e 230km:

    “É o famoso: Gostei mas não venho mais!”

    Pousada dos Pereiras (Redenção da Serra): 12 - 9.9721-8999

    N. do A.: O que é uma pessoa verborrágica?

    Que usa muitas palavras ao falar: 1 prolixo, eloquente, facundo, loquaz, palavroso, verboso, falador, palrador, tagarela, difuso, pleonástico, redundante, difusivo, verborreico. Que se expressa com muitas palavras: 2 profuso.

    Jeff Almeida
    Jeff Almeida

    Publicado em 19/01/2021 12:11

    Realizada de 24/12/2020 até 25/12/2020

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    8 Comentários
    Fabio Fliess 19/01/2021 12:26

    Hahahahahaha Confesso que ri várias vezes Mestre Jeff. Parabens pela roubada natalina. PS: sigam a @Carol Emboava para mentoria e coaching motivacional. 😂

    Bruna Fávaro 19/01/2021 13:37

    Palhaço! Hahahahah

    Carol Emboava 19/01/2021 14:01

    Tô mortaaaaaa, hahahahaha. Amo o conceito de "gostei, mas não venho mais"... Mas amo mais ainda o "eu avisei". Ainda bem que, como dizia Suassuna, tudo que é ruim de passar é bom de contar" 👊🏼🚴

    Carol Emboava 19/01/2021 14:02

    Ahhhh e só depois que fui xeretar nas fotos do rolê e tá lá a melhor foto! 😂

    Renan Cavichi 19/01/2021 14:09

    hahahahaha nada como aquele empurrão motivador!!!

    Renan Cavichi 19/01/2021 14:10

    Coaching sincerão!

    Bruno Negreiros 19/01/2021 19:37

    "truco"...hahahaha muito bom!

    Alexandre Fialho 01/11/2021 13:48

    Li hoje quando já está chegando o fim de ano de novo. Bom perrengue, ou melhor, viagem em 2021!

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    Jeff Almeida

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