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Jose Antonio Seng 28/01/2021 22:23
    Travessia da Juatinga + Saco do Mamanguá

    Travessia da Juatinga + Saco do Mamanguá

    Junção de 2 travessias : Travessia da Juatinga + Saco do Mamanguá + Cachoeira do Saco Bravo + Farol da Juatinga

    Hiking Acampamento

    Depois de algum tempo planejando (sempre é preciso e faz muita falta quando não é feito) e alguns adiamentos, em função de condições climáticas e também pela COVID que passei, finalmente consegui fazer o segundo dos meus três projetos de caminhos do mar. O primeiro foi Ilha Grande, que descrevi aqui. E depois planejo fazer a Costa do Descobrimento.

    No caso aqui falo da Travessia da Juatinga + Saco do Mamanguá + Cachoeira do Saco Bravo + Farol da Juatinga.

    Levei uma semana para cumprir este roteiro.

    A primeira coisa que tenho que falar é que indo de carro você poupa precioso tempo, já que os ônibus para o Rio de Janeiro são em horário que não favorece a travessia.

    Mas vamos lá. Eu sai de casa numa segunda feira, pegando o ônibus de meio dia (já estava tarde, mas precisava acertar os últimos detalhes).

    Como disse, a logística não favorece quem vai de ônibus.

    Cheguei as 16:30 em Paraty e o ônibus para Vila Oratorio só saiu as 17:30.

    Com isso comecei a trilha as 18:30, ainda claro, mas perto de anoitecer. Tive meia hora de trilha claro e o resto até a praia do sono foi na laterna mesmo.

    Aliás, qual lanterna vcs usam ? Eu tenho uma Petzl Reactik+ da que carrega por USB e não me deixa na mão !

    Bom, cheguei na praia do Sono a noite. Muitos campings para escolher. Eu não escolhi bem. Fiquei num que a própria dona ficava ouvindo música até tarde. E de manhã não apareceu para cobrar, pq acordou tarde.

    De qq forma, como eu havia planejado, a praia estava bem mais vazia do que no fim de semana, quando me disseram que ficava muvucada.

    Montei a barraca e comi alguma coisa. Ainda achei uma barraca com suco aberto. Muitos mosquitos na região. Já tinha recebido as “boas vindas” nas pernas.

    Noite tranquila, barulho do mar e céu com lua, desestressando a cidade, o ar condicionado, o conforto da cama king...

    Assim que acordei desmontei a barraca e tentei achar a dona do camping. Em vão. Achei um café aberto e deixei o dinheiro do camping para ser entregue. Com isso sai as 9:00h da praia do Sono, rumo a Ponta Negra. Tremendo atraso.

    No caminho, fotos no mirante e depois passei por Antigos, onde dei um mergulho e tb Antiguinhos (com bastante pedra). De lá parei na cachoeira das Galhetas (vale o desvio !). Já a praia de Galhetas achei meio sem graça.

    Cheguei na praia de Ponta Negra no meio do dia, o que me impediu de ir até a cachoeira do Saco Bravo nesse mesmo dia. Então fiquei na praia de boa, curtindo e almoçando. Acampei no Bob. Com boa estrutura, cobertura, cozinha completa, agua quente e wi-fi.

    Nesse mesmo dia conheci um casal (Edu e Ágatha) e tb dois garotos (Thiago e Guigo) que tb estavam fazendo a travessia da Juatinga.

    No dia seguinte acabei fazendo a trilha para a cachoeira do Saco Bravo com um grupo de medicas de SP. Foi bem mais puxado do que imaginei. Alias, acho que é a parte mais puxada da travessia toda. Mas compensa. E muito. É uma linda cachoeira que cai numa rocha, formando uma piscina de borda infinita, com o mar batendo no final desta borda. Dizem ser a única formação no Brasil assim. Não sei. Mas vale a pena os 8km de ida e volta.

    Descansei o resto do dia. Pq fiquei com medo da subida de Ponta Negra até Martins de Sá.

    Mas não precisava. No dia seguinte conferi que a subida, apesar de ter a altimetria mais alta do trajeto, não era tá puxada assim.

    Então, parei em Cairuçu das Pedras, que tem uma praia pequenina, um camping no alto e uma piscina artificial formada por pedras e que tem um rio caindo dentro dela. Bem refrescante.

    Acabei encontrando os irmãos Thi e Guigo) ali, e saímos rumo a Martins de Sá, onde encontramos de novo Edu e Ágatha). Um pouco antes há uma cachoeira que merece a vista. Muitos poços para cair. Encontramos a primeira cobra da trilha. Uma cascavelzinha.

    A praia de Martins é grande, uma das maiores por ali. Com um rio no final dela. Bem bonita. O mar não é dos mais calmos, mas foi muito bom mergulhar ali no final do dia.


    O camping é o maior de toda a travessia. Mas não tão bem estruturado assim. Imagino que com toda a lotação de verão/feriados/fim de ano a coisa fique ruim ali. Como eu estava indo num meio de semana, foi tranquilo.

    Dali continuei com os meninos até Sumaca, pq pretendia fazer o farol da Juatinga. Um aviso: pegamos um atalho, que acabou num caminho errado.

    Eu sempre ando com wikiloc e o explorer da Garmin. Mas as trilhas salvas são as confiáveis. Esse atalho não estava no mapa. Mas foi fácil percebermos o erro e corrigimos. É o melhor a se fazer. Além dos mapas, vc deve ter uma noção de posição do sol, mar, rios, curva de nível, para saber, que, mesmo que não seja o caminho certo, pelo menos ter a certeza que é o errado.

    Chegamos a Sumaca (é um desvio do caminho que leva até Pouso da Cajaíba) e outra surpresa. As informações dadas em Martins de Sá não eram verdadeiras. O camping era muito pouco estruturado e não havia comida. Nem barcos para uma saída de emergência.

    Explico: Eu quando decidi fazer a travessia optei por comer um PF em cada lugar de parada ao invés de levar alimentos para todos os dias. Minha comida se resumiu a 2 liofoods, 1 sopa, castanhas e jujuba. O que mais pesa na mochila sem dúvida é a comida e o aparato de cozinha. Não queria perder tempo e queria privilegiar a culinária local.

    Bom, Thi cuidou do fogo (era um fogão a lenha) e eu da lenha. Quando o fogo acendeu pudemos ferver a agua. Eles comeram macarrão e eu o strogonoff liofilizado. Boa pedida.

    Depois curtimos um final de praia e fomos dormir. Foi a melhor noite de sono por ali. Só havia a gente no camping e pude colocar a barraca de frente para o mar. Uma noite de lua e um sol nascendo que vale a viagem.

    De manhã explorarmos um pouco mais o local, inclusive uma ducha que fica atras das pedras. De lá fomos para o farol da Juatinga. Um caminho sem muita subida, mas bem quente. Chegamos finalmente na comunidade da Juatinga, e subimos até o farol para fotos. Para ver o nascer do sol no farol recomendo dormir por lá. É difícil fazer essa trilha toda de noite. Até porque atravessa algumas casas de moradores, o que pode causar problema.

    Na descida acabamos pegando um barco até Pouso da Cajaíba. Essa é a maior localidade ali. E para muitos, o início ou fim da trilha. A praia estava cheia, ao estilo de Sono. Então preferimos almoçar e partir para Praia Grande da Cajaíba.

    Nesse dia foi uma trilha bem tranquila, com muito pouco mato, nessa segunda “perna”. E também pouca agua. Acho que foi o único trecho de trilha que foi assim.

    Antes de chegar na Praia Grande da Cajaíba acabamos encontrando o Edu e a Ágatha e ficamos com eles em Itaoca. O camping era tranquilo, na beira da praia e estava vazio. A praia também era bem gostosa.

    Penúltimo dia: de Itaoca até Praia Grande (fomos para a cachoeira) e depois para o Saco do Mamanguá. Saímos na praia do Engenho e de lá fomos costeando até a praia do Cruzeiro. Chegamos a noite. Resultado da hora que saímos da praia grande. As 15:20....

    Ultimo dia: fomos ver o nascer do sol no Pico do Pão de Açúcar. Ai segui o caminho sozinho, indo até o final do saco do mamanguá. Passando pela Prainha, Baixio e chegando na praia do Bananal.

    Como não encontrei nenhum barco pra atravessar até Curipira ou Regato, acabei colocando a mochila em cima do meu isolante inflável (Etherlight XT da Sea to Summit) e fui a nado até o outro lado. Sem dramas. Não sei pq não nadam sempre no Mamanguá. A agua não é fria, não há muitas ondas e tem pouco transito de barcos, durante a semana pelo menos. Entao cheguei sem traumas depois de 1,8km. De lá segui até o início do Saco do Mamanguá, passando pelo pontal, praia do coto, praia grande, praia da paca, ponta de leão e praia do Guarda Mó, e fiz a “virada”, chegando a Paraty Mirim no fim do dia, onde peguei o ônibus até Paraty.

    Notas:

    • Fiz as duas travessias de maneira única (pode ser dividida em 2 travessias).
    • Levei pouca comida, privilegiando o peso. Nesse sentido, só alimentos de emergência e umas castanhas para comer durante a trilha. Na verdade, caminhando vc tem fome só quando para. E nas comunidades/praias em que parei, tirando Sumaca, havia sempre um PF a venda.
    • Por falar em peso, testei a mochila da Totem Gear, de Cuben Fiber que adquiri recentemente. Ela é quase artesanal, com um ótimo acabamento e peso em torno de 450g. Tem boa transferência de peso e resistência a agua. Tem um tamanho grande para mim (nessa travessia). Vou fazer depois um review dela.
    • Tb estreei (em trilha, já tinha amaciado) o Salomon Tech Amphib 4. Um tênis “aquático”. Com ele é possível atravessar praias, rios e mangues sem estar descalço e ele expulsa a agua. Não é incomodo ou fica molhado depois. Apenas úmido.
    • De resto foi o mesmo material que usei na Volta da Ilha Grande, incluindo a barraca. Apenas troquei o isolante light por um mais grosso (pela possibilidade de atravessar a nado o Mamanguá).
    • A ideia de cruzar o Mamanguá a nado não é recente ou foi improvisada. Pensei nisso pelo fato de que o fundo do Mamanguá é um sitio e não uma comunidade, não tendo ninguém por ali em dia de semana. Também me senti apto pois nado nas aguas de Copacabana algumas vezes por semana, e tenho noção de correnteza, maré vazante, etc...
    • Tudo depois de trilhas litorâneas (ainda que não seja imediatamente depois) deve ser devidamente “adoçado”, para tirar o sal do mar. Inclusive do zíper da mochila.
    • Trilhar é sempre conhecer pessoas. Nesse sentido fiz uma dúzia de amizades ao longo dos 8 dias. E isso é tão bom quanto caminhar.
    • Falando em caminhar, é um ótimo exercício. Não é preciso ter pressa (por isso caminho sozinho e procuro iniciar cedo). Gosto de parar para tirar fotos e curtir a praia.
    • E sempre ando com um rastreador. O meu é o garmin, mas pode ser um spot. Os dois tem a mesma função de emergência e podem estabelecer um contato de vc com algum parente em caso de problemas. Alem disso eles podem auxiliar nas trilhas, mostrando o percurso e curvas de nível.
    • Também uso o wikiloc COM TRILHAS PREVIAMENTE BAIXADAS. Não há sinal de celular em 90% do percurso.
    • Dou preferencia para uma uniformidade de energia. Assim todos meus equipos são USB (levar sempre 2 cabos), 2 powerbanks de 10.000mA e 1 carregador solar com powerbank. Pode parecer um exagero, mas na volta, dentro do ônibus, precisei recorrer ao segundo powerbank que ate então não havia usado. A maioria dos lugares ou não tem luz ou é luz solar, o que demanda de pedir para os outros disporem de energia deles para vc. Assim como o uso da internet, evite ! Principalmente fotos, vídeos, etc... A internet dos caiçaras é limitada.
    • Animais ? Sim. Encontrei 2 cobras, e algumas aranhas. Tb teve um primata que não consegui identificar. Mas a maioria eram vira-latas amistosos que me acompanhavam durante a trilha. Os “inocentes do Leblon” são mais perigosos...

    Cronologia:

    1. Ida Rio-Paraty-Vila Oratorio-Praia do Sono (3,66km)
    2. Praia do Sono-Antigos-Antiguinhos-Cachoeira das Galhetas-Praia das Galhetas-Ponta Negra (5,11km)
    3. Ponta Negra-Saco Bravo-Ponta Negra (7,88km)
    4. Ponta Negra-Cairuçu das Pedras-Cachoeira de Martins de Sá-Martins de Sá (14,83km)
    5. Martins de Sá-Sumaca (8,57km)
    6. Sumaca-Farol da Juatinga-Juatinga-Pouso da Cajaiba- Itanema-Calhaus- Itaoca (11,43km + 5,38km barco)
    7. Itaoca-Praia Grande da Cajaiba-Praia do Engenho-Praia do Cruzeiro (10,72km)
    8. Praia do Cruzeiro-Pico do Pão de Açucar-Baixio-Bananal-Resgate-Curipira-Pontal-Praia do coto- praia grande-praia da paca-ponta de leão- praia do Guarda Mó-Paraty Mirim-Paraty-Rio (19,94km)

    Total: 87,52km

    Jose Antonio Seng
    Jose Antonio Seng

    Publicado em 28/01/2021 22:23

    Realizada de 18/01/2021 até 26/01/2021

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    9 Comentários
    Bruno Negreiros 28/01/2021 22:28

    José, muito bacana. Eu só consegui ir até o farol de caiaque...ainda vou andando. Outra coisa, muito irado que você atravessou nadando...rapaz...

    Bruno Negreiros 28/01/2021 22:30

    Me tira uma dúvida: tá dando pra ir até o Saco Bravo de boa sem guia local? Eu tinha visto algo há algum tempo atrás sobre uma recente obrigação disso. Como tá lá? Tem uns 3 anos que não faço a Juatinga.

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    Jose Antonio Seng 04/04/2024 20:24

    Passou batido essa pergunta. Vamos lá: eu acabei fazendo com um grupo de medicas e uma guia que estava com ela. Tem placa dizendo ser obrigatório, mas não vi dificuldade. Acho que é mais para empregar os locais (uma boa iniciativa). 

    Danielle Hepner 28/01/2021 22:34

    Que rolêzão bacana!! Ainda não tive oportunidade de fazer a Juatinga completa... Uns anos atrás acampei na Praia do Sono e fiz um bate e volta até o Saco Bravo. Deu pra curtir um pouco as prainhas do caminho, mas a logística de ir e voltar no mesmo dia não me deixou aproveitar demais. Mesmo assim foi massa! Recentemente estive no Saco do Mamanguá, ficando acampada no Cruzeiro... Andamos pelas prainhas de lá até a Praia do Engenho e subimos o Pão de Açúcar. A vontade de fazer a Juatinga inteira só aumentou, a região ali é bonita que só! Obrigada por compartilhar o relato!

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    Jose Antonio Seng 28/01/2021 23:09

    Bruno, o farol foi tranquilo ir de trilha a partir de Sumaca. Já vi relatos de gente que fez essa trilha inclusive de madrugada, para pegar o nascer do sol. Acho que tem aquele problema que falei, de passar pelo meio da casa das pessoas tipo 4:30 da manhã. Vai que... De lá tem trilha passando pelo Saco Claro até Pouso da Cajaíba, que não fiz pq ia atrasar muito.

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    Jose Antonio Seng 28/01/2021 23:14

    Bruno, para todas essas trilhas, inclusive atalhos, dá para ir tranquilo, se tiver alguma noção de orientação. Recomendo ir com wikiloc e gps. O gps só usei quando a coisa ficou muito errada no atalho. Mas volto a dizer: o que aconteceu foi pegar o atalho. Se tivesse ido pelo caminho correto acredito que não me perderia. Não tem obrigação de guia não. Tem só recomendação. No caminho há um atalho também, mas é bem visível e os dois saem no mesmo lugar. O que tem de recomendação é a de saida até 12h, para vc não correr o risco de chegar a noite em Ponta Negra. Se eu tirar só o tempo de caminhada, sem as paradas, fiz em 3:15 ida e volta. Logico que sempre tem uma paradinha, e lá na cachoeira, muito tempo pra curtir. Por isso fiquei mais 3h por la.

    Jose Antonio Seng 28/01/2021 23:18

    Danielle, sim, a região é muito bonita. Aproveitei que não teve temporada de montanha ano passado e resolvi ir para as praias. Como já narrei, tinha feito o Mamanguá de caiaque. Dessa vez foi a pé mesmo. E depois a nado. Eu não sei se acampar na praia do sono foi a melhor escolha. Acho que Ponta Negra é logisticamente melhor. Inclusive penso num fast trek assim, indo de vila oratorio até ponta negra, e no dia seguinte saco bravo bate volta e depois até martins de sá. O problema dessa sua logistica é o limite indicado para ir até o saco bravo, que é até as 12h. Se vc olhar bem, de manhã o sol está mais fraco e o mar também menos batido. Assim a cachoeira fica menos perigosa na parte da borda infinida.

    Jose Antonio Seng 28/01/2021 23:20

    Bruno, falando em nado, eu andei treinando um tempo nas aguas de Copacabana, e por isso me senti bem a vontade para nadar ali. O chato é fazer a nado empurrando o isolante (nem sabia se ele suportaria o sal e o sol (o peso eu tinha testado)), nem os efeitos de eventual marola de lancha sobre ele. Mas no final de uns 40 minutos deu certo e cheguei do outro lado.

    Bruno Negreiros 28/01/2021 23:32

    Show. Obrigado, José!!!

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