Travessia da Juatinga + Saco do Mamanguá
Junção de 2 travessias : Travessia da Juatinga + Saco do Mamanguá + Cachoeira do Saco Bravo + Farol da Juatinga
Hiking AcampamentoDepois de algum tempo planejando (sempre é preciso e faz muita falta quando não é feito) e alguns adiamentos, em função de condições climáticas e também pela COVID que passei, finalmente consegui fazer o segundo dos meus três projetos de caminhos do mar. O primeiro foi Ilha Grande, que descrevi aqui. E depois planejo fazer a Costa do Descobrimento.
No caso aqui falo da Travessia da Juatinga + Saco do Mamanguá + Cachoeira do Saco Bravo + Farol da Juatinga.
Levei uma semana para cumprir este roteiro.
A primeira coisa que tenho que falar é que indo de carro você poupa precioso tempo, já que os ônibus para o Rio de Janeiro são em horário que não favorece a travessia.
Mas vamos lá. Eu sai de casa numa segunda feira, pegando o ônibus de meio dia (já estava tarde, mas precisava acertar os últimos detalhes).
Como disse, a logística não favorece quem vai de ônibus.
Cheguei as 16:30 em Paraty e o ônibus para Vila Oratorio só saiu as 17:30.
Com isso comecei a trilha as 18:30, ainda claro, mas perto de anoitecer. Tive meia hora de trilha claro e o resto até a praia do sono foi na laterna mesmo.
Aliás, qual lanterna vcs usam ? Eu tenho uma Petzl Reactik+ da que carrega por USB e não me deixa na mão !
Bom, cheguei na praia do Sono a noite. Muitos campings para escolher. Eu não escolhi bem. Fiquei num que a própria dona ficava ouvindo música até tarde. E de manhã não apareceu para cobrar, pq acordou tarde.
De qq forma, como eu havia planejado, a praia estava bem mais vazia do que no fim de semana, quando me disseram que ficava muvucada.
Montei a barraca e comi alguma coisa. Ainda achei uma barraca com suco aberto. Muitos mosquitos na região. Já tinha recebido as “boas vindas” nas pernas.
Noite tranquila, barulho do mar e céu com lua, desestressando a cidade, o ar condicionado, o conforto da cama king...
Assim que acordei desmontei a barraca e tentei achar a dona do camping. Em vão. Achei um café aberto e deixei o dinheiro do camping para ser entregue. Com isso sai as 9:00h da praia do Sono, rumo a Ponta Negra. Tremendo atraso.
No caminho, fotos no mirante e depois passei por Antigos, onde dei um mergulho e tb Antiguinhos (com bastante pedra). De lá parei na cachoeira das Galhetas (vale o desvio !). Já a praia de Galhetas achei meio sem graça.
Cheguei na praia de Ponta Negra no meio do dia, o que me impediu de ir até a cachoeira do Saco Bravo nesse mesmo dia. Então fiquei na praia de boa, curtindo e almoçando. Acampei no Bob. Com boa estrutura, cobertura, cozinha completa, agua quente e wi-fi.
Nesse mesmo dia conheci um casal (Edu e Ágatha) e tb dois garotos (Thiago e Guigo) que tb estavam fazendo a travessia da Juatinga.
No dia seguinte acabei fazendo a trilha para a cachoeira do Saco Bravo com um grupo de medicas de SP. Foi bem mais puxado do que imaginei. Alias, acho que é a parte mais puxada da travessia toda. Mas compensa. E muito. É uma linda cachoeira que cai numa rocha, formando uma piscina de borda infinita, com o mar batendo no final desta borda. Dizem ser a única formação no Brasil assim. Não sei. Mas vale a pena os 8km de ida e volta.
Descansei o resto do dia. Pq fiquei com medo da subida de Ponta Negra até Martins de Sá.
Mas não precisava. No dia seguinte conferi que a subida, apesar de ter a altimetria mais alta do trajeto, não era tá puxada assim.
Então, parei em Cairuçu das Pedras, que tem uma praia pequenina, um camping no alto e uma piscina artificial formada por pedras e que tem um rio caindo dentro dela. Bem refrescante.
Acabei encontrando os irmãos Thi e Guigo) ali, e saímos rumo a Martins de Sá, onde encontramos de novo Edu e Ágatha). Um pouco antes há uma cachoeira que merece a vista. Muitos poços para cair. Encontramos a primeira cobra da trilha. Uma cascavelzinha.
A praia de Martins é grande, uma das maiores por ali. Com um rio no final dela. Bem bonita. O mar não é dos mais calmos, mas foi muito bom mergulhar ali no final do dia.
O camping é o maior de toda a travessia. Mas não tão bem estruturado assim. Imagino que com toda a lotação de verão/feriados/fim de ano a coisa fique ruim ali. Como eu estava indo num meio de semana, foi tranquilo.
Dali continuei com os meninos até Sumaca, pq pretendia fazer o farol da Juatinga. Um aviso: pegamos um atalho, que acabou num caminho errado.
Eu sempre ando com wikiloc e o explorer da Garmin. Mas as trilhas salvas são as confiáveis. Esse atalho não estava no mapa. Mas foi fácil percebermos o erro e corrigimos. É o melhor a se fazer. Além dos mapas, vc deve ter uma noção de posição do sol, mar, rios, curva de nível, para saber, que, mesmo que não seja o caminho certo, pelo menos ter a certeza que é o errado.
Chegamos a Sumaca (é um desvio do caminho que leva até Pouso da Cajaíba) e outra surpresa. As informações dadas em Martins de Sá não eram verdadeiras. O camping era muito pouco estruturado e não havia comida. Nem barcos para uma saída de emergência.
Explico: Eu quando decidi fazer a travessia optei por comer um PF em cada lugar de parada ao invés de levar alimentos para todos os dias. Minha comida se resumiu a 2 liofoods, 1 sopa, castanhas e jujuba. O que mais pesa na mochila sem dúvida é a comida e o aparato de cozinha. Não queria perder tempo e queria privilegiar a culinária local.
Bom, Thi cuidou do fogo (era um fogão a lenha) e eu da lenha. Quando o fogo acendeu pudemos ferver a agua. Eles comeram macarrão e eu o strogonoff liofilizado. Boa pedida.
Depois curtimos um final de praia e fomos dormir. Foi a melhor noite de sono por ali. Só havia a gente no camping e pude colocar a barraca de frente para o mar. Uma noite de lua e um sol nascendo que vale a viagem.
De manhã explorarmos um pouco mais o local, inclusive uma ducha que fica atras das pedras. De lá fomos para o farol da Juatinga. Um caminho sem muita subida, mas bem quente. Chegamos finalmente na comunidade da Juatinga, e subimos até o farol para fotos. Para ver o nascer do sol no farol recomendo dormir por lá. É difícil fazer essa trilha toda de noite. Até porque atravessa algumas casas de moradores, o que pode causar problema.
Na descida acabamos pegando um barco até Pouso da Cajaíba. Essa é a maior localidade ali. E para muitos, o início ou fim da trilha. A praia estava cheia, ao estilo de Sono. Então preferimos almoçar e partir para Praia Grande da Cajaíba.
Nesse dia foi uma trilha bem tranquila, com muito pouco mato, nessa segunda “perna”. E também pouca agua. Acho que foi o único trecho de trilha que foi assim.
Antes de chegar na Praia Grande da Cajaíba acabamos encontrando o Edu e a Ágatha e ficamos com eles em Itaoca. O camping era tranquilo, na beira da praia e estava vazio. A praia também era bem gostosa.
Penúltimo dia: de Itaoca até Praia Grande (fomos para a cachoeira) e depois para o Saco do Mamanguá. Saímos na praia do Engenho e de lá fomos costeando até a praia do Cruzeiro. Chegamos a noite. Resultado da hora que saímos da praia grande. As 15:20....
Ultimo dia: fomos ver o nascer do sol no Pico do Pão de Açúcar. Ai segui o caminho sozinho, indo até o final do saco do mamanguá. Passando pela Prainha, Baixio e chegando na praia do Bananal.
Como não encontrei nenhum barco pra atravessar até Curipira ou Regato, acabei colocando a mochila em cima do meu isolante inflável (Etherlight XT da Sea to Summit) e fui a nado até o outro lado. Sem dramas. Não sei pq não nadam sempre no Mamanguá. A agua não é fria, não há muitas ondas e tem pouco transito de barcos, durante a semana pelo menos. Entao cheguei sem traumas depois de 1,8km. De lá segui até o início do Saco do Mamanguá, passando pelo pontal, praia do coto, praia grande, praia da paca, ponta de leão e praia do Guarda Mó, e fiz a “virada”, chegando a Paraty Mirim no fim do dia, onde peguei o ônibus até Paraty.
Notas:
- Fiz as duas travessias de maneira única (pode ser dividida em 2 travessias).
- Levei pouca comida, privilegiando o peso. Nesse sentido, só alimentos de emergência e umas castanhas para comer durante a trilha. Na verdade, caminhando vc tem fome só quando para. E nas comunidades/praias em que parei, tirando Sumaca, havia sempre um PF a venda.
- Por falar em peso, testei a mochila da Totem Gear, de Cuben Fiber que adquiri recentemente. Ela é quase artesanal, com um ótimo acabamento e peso em torno de 450g. Tem boa transferência de peso e resistência a agua. Tem um tamanho grande para mim (nessa travessia). Vou fazer depois um review dela.
- Tb estreei (em trilha, já tinha amaciado) o Salomon Tech Amphib 4. Um tênis “aquático”. Com ele é possível atravessar praias, rios e mangues sem estar descalço e ele expulsa a agua. Não é incomodo ou fica molhado depois. Apenas úmido.
- De resto foi o mesmo material que usei na Volta da Ilha Grande, incluindo a barraca. Apenas troquei o isolante light por um mais grosso (pela possibilidade de atravessar a nado o Mamanguá).
- A ideia de cruzar o Mamanguá a nado não é recente ou foi improvisada. Pensei nisso pelo fato de que o fundo do Mamanguá é um sitio e não uma comunidade, não tendo ninguém por ali em dia de semana. Também me senti apto pois nado nas aguas de Copacabana algumas vezes por semana, e tenho noção de correnteza, maré vazante, etc...
- Tudo depois de trilhas litorâneas (ainda que não seja imediatamente depois) deve ser devidamente “adoçado”, para tirar o sal do mar. Inclusive do zíper da mochila.
- Trilhar é sempre conhecer pessoas. Nesse sentido fiz uma dúzia de amizades ao longo dos 8 dias. E isso é tão bom quanto caminhar.
- Falando em caminhar, é um ótimo exercício. Não é preciso ter pressa (por isso caminho sozinho e procuro iniciar cedo). Gosto de parar para tirar fotos e curtir a praia.
- E sempre ando com um rastreador. O meu é o garmin, mas pode ser um spot. Os dois tem a mesma função de emergência e podem estabelecer um contato de vc com algum parente em caso de problemas. Alem disso eles podem auxiliar nas trilhas, mostrando o percurso e curvas de nível.
- Também uso o wikiloc COM TRILHAS PREVIAMENTE BAIXADAS. Não há sinal de celular em 90% do percurso.
- Dou preferencia para uma uniformidade de energia. Assim todos meus equipos são USB (levar sempre 2 cabos), 2 powerbanks de 10.000mA e 1 carregador solar com powerbank. Pode parecer um exagero, mas na volta, dentro do ônibus, precisei recorrer ao segundo powerbank que ate então não havia usado. A maioria dos lugares ou não tem luz ou é luz solar, o que demanda de pedir para os outros disporem de energia deles para vc. Assim como o uso da internet, evite ! Principalmente fotos, vídeos, etc... A internet dos caiçaras é limitada.
- Animais ? Sim. Encontrei 2 cobras, e algumas aranhas. Tb teve um primata que não consegui identificar. Mas a maioria eram vira-latas amistosos que me acompanhavam durante a trilha. Os “inocentes do Leblon” são mais perigosos...
Cronologia:
- Ida Rio-Paraty-Vila Oratorio-Praia do Sono (3,66km)
- Praia do Sono-Antigos-Antiguinhos-Cachoeira das Galhetas-Praia das Galhetas-Ponta Negra (5,11km)
- Ponta Negra-Saco Bravo-Ponta Negra (7,88km)
- Ponta Negra-Cairuçu das Pedras-Cachoeira de Martins de Sá-Martins de Sá (14,83km)
- Martins de Sá-Sumaca (8,57km)
- Sumaca-Farol da Juatinga-Juatinga-Pouso da Cajaiba- Itanema-Calhaus- Itaoca (11,43km + 5,38km barco)
- Itaoca-Praia Grande da Cajaiba-Praia do Engenho-Praia do Cruzeiro (10,72km)
- Praia do Cruzeiro-Pico do Pão de Açucar-Baixio-Bananal-Resgate-Curipira-Pontal-Praia do coto- praia grande-praia da paca-ponta de leão- praia do Guarda Mó-Paraty Mirim-Paraty-Rio (19,94km)
Total: 87,52km
José, muito bacana. Eu só consegui ir até o farol de caiaque...ainda vou andando. Outra coisa, muito irado que você atravessou nadando...rapaz...
Me tira uma dúvida: tá dando pra ir até o Saco Bravo de boa sem guia local? Eu tinha visto algo há algum tempo atrás sobre uma recente obrigação disso. Como tá lá? Tem uns 3 anos que não faço a Juatinga.
Que rolêzão bacana!! Ainda não tive oportunidade de fazer a Juatinga completa... Uns anos atrás acampei na Praia do Sono e fiz um bate e volta até o Saco Bravo. Deu pra curtir um pouco as prainhas do caminho, mas a logística de ir e voltar no mesmo dia não me deixou aproveitar demais. Mesmo assim foi massa! Recentemente estive no Saco do Mamanguá, ficando acampada no Cruzeiro... Andamos pelas prainhas de lá até a Praia do Engenho e subimos o Pão de Açúcar. A vontade de fazer a Juatinga inteira só aumentou, a região ali é bonita que só! Obrigada por compartilhar o relato!
Bruno, o farol foi tranquilo ir de trilha a partir de Sumaca. Já vi relatos de gente que fez essa trilha inclusive de madrugada, para pegar o nascer do sol. Acho que tem aquele problema que falei, de passar pelo meio da casa das pessoas tipo 4:30 da manhã. Vai que... De lá tem trilha passando pelo Saco Claro até Pouso da Cajaíba, que não fiz pq ia atrasar muito.
Bruno, para todas essas trilhas, inclusive atalhos, dá para ir tranquilo, se tiver alguma noção de orientação. Recomendo ir com wikiloc e gps. O gps só usei quando a coisa ficou muito errada no atalho. Mas volto a dizer: o que aconteceu foi pegar o atalho. Se tivesse ido pelo caminho correto acredito que não me perderia. Não tem obrigação de guia não. Tem só recomendação. No caminho há um atalho também, mas é bem visível e os dois saem no mesmo lugar. O que tem de recomendação é a de saida até 12h, para vc não correr o risco de chegar a noite em Ponta Negra. Se eu tirar só o tempo de caminhada, sem as paradas, fiz em 3:15 ida e volta. Logico que sempre tem uma paradinha, e lá na cachoeira, muito tempo pra curtir. Por isso fiquei mais 3h por la.
Danielle, sim, a região é muito bonita. Aproveitei que não teve temporada de montanha ano passado e resolvi ir para as praias. Como já narrei, tinha feito o Mamanguá de caiaque. Dessa vez foi a pé mesmo. E depois a nado. Eu não sei se acampar na praia do sono foi a melhor escolha. Acho que Ponta Negra é logisticamente melhor. Inclusive penso num fast trek assim, indo de vila oratorio até ponta negra, e no dia seguinte saco bravo bate volta e depois até martins de sá. O problema dessa sua logistica é o limite indicado para ir até o saco bravo, que é até as 12h. Se vc olhar bem, de manhã o sol está mais fraco e o mar também menos batido. Assim a cachoeira fica menos perigosa na parte da borda infinida.
Bruno, falando em nado, eu andei treinando um tempo nas aguas de Copacabana, e por isso me senti bem a vontade para nadar ali. O chato é fazer a nado empurrando o isolante (nem sabia se ele suportaria o sal e o sol (o peso eu tinha testado)), nem os efeitos de eventual marola de lancha sobre ele. Mas no final de uns 40 minutos deu certo e cheguei do outro lado.
Show. Obrigado, José!!!