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CAMINHO DA LUZ - 2021 (DE TOMBOS/MG ATÉ O PICO DA BANDEIRA)
Uma caminhada de 190 km feita em 5 dias, idealizada a partir de caminhos históricos indígenas, atravessando fazendas e cidades bucólicas.
Mountaineering Trekking Long DistanceAntes de ir direto ao ponto, é importante observar que o Caminho da Luz pode ser percorrido com inúmeras combinações de dias e formas de transporte pessoal e de pertences. Como eu não tinha muito tempo disponível e já vinha medindo minha velocidade de caminhada com aplicativo e cuidando do planejamento, optei por realizá-lo em caminhada de 5 dias.
O que considerei inicialmente no planejamento:
- A época do ano. Escolhi setembro, início da primavera. Não escolhi o inverno em função da necessidade de muitos agasalhos, pois eu teria que usar mochilão. Também não considerei o verão em função do calor e de maior risco de tempestades. Levei apenas um agasalho fino e algumas camisas de manga comprida com proteção UV, duas calças finas e algumas bermudas. A escolha se mostrou certa, apesar das tardes serem quentes. As noites tiveram temperaturas amenas. Em Alto Caparaó chegou a fazer temperaturas próximas de 10°C. Levei comigo uma capa de chuva (poncho) que também envolve a mochila. Não foi necessária, felizmente, mas serviria para aquecimento também. Com essa estratégia, levei todos os pertences na minha mochila de 32 litros.
- O agendamento prévio para acesso ao Pico da Bandeira. De nada adiantaria o planejamento se eu não tivesse a confirmação de acesso ao pico. Ou seja, o cronograma foi montado de trás para frente. Com a confirmação do pico para 24 de setembro, fiz o restante do cronograma. Não comprei nada nem marquei reserva de hotel antecipadamente, pois também solicitei reserva para 1° e 2 de outubro. Caso a previsão do tempo (acompanhei pelo Windguru) estivesse ruim na primeira semana, eu teria uma segunda chance na semana seguinte. Não consegui vaga para o dia 25 de setembro (um sábado), caso houvesse algum imprevisto no caminho. Resumindo: solicitei reserva para quatro dias e a consegui para três. Usei a reserva do dia 24 de setembro. À época deste relato, o agendamento estava sendo feito em:
https://www.icmbio.gov.br/parnacaparao/guia-do-visitante/27-ingressos.html
Há um link neste endereço que leva a um formulário para solicitar o agendamento.
- Usar ou não empresa para assistência da logística. Em um primeiro momento, considerei não usar empresa que dá suporte. Porém, esbarrei na indisponibilidade de hotel em Pedra Dourada (primeiro pernoite) quando telefonei faltando 10 dias. Então cheguei a fazer contato com a empresa e expliquei minha intenção de cronograma com 5 dias de antecedência ao início do caminho. Ficaram de enviar uma cotação e agendamento de pernoite em casas de família conveniadas à empresa. A empresa pediu dois dias, no máximo, para envio do orçamento e reservas. Só fui receber o orçamento quatro dias depois (na véspera da viagem) e ainda não tinha voucher das hospedagens. Neste mesmo dia, fiz contato com o mesmo hotel em Pedra Dourada a fim de verificar se haveria alguma vaga, em função de alguma desistência. E tinha! Solicitei uma pré-reserva até a manhã do dia seguinte (já viajaria no mesmo dia à noite). No dia seguinte, domingo, 19 de setembro, a empresa fez contato com informações incompletas sobre hospedagem. Não titubeei. Confirmei minha reserva no hotel. Os demais pernoites foram mais fáceis. Utilizei o Booking.com para realizá-las. Eu faria o caminho todo por conta própria e ainda economizei uns trocados!
Os dois últimos detalhes: Liguei para o Hotel Serpa em Tombos a fim de saber sobre a compra do kit do peregrino. Não precisava reservar. E comprei a passagem de ônibus Rio de Janeiro – Tombos (viação 1001) pela internet.
Então, foi só arrumar a mochila horas antes de viajar! Já havia feito um check-list para auxiliar a não esquecer nada na pressa.
Com estes comentários iniciais, observo apenas que há mais fotos do percurso no meu Instagram (o leitor interessado pode acessar @marcelo_lemos_13).
Agora sim, vamos à descrição do caminho.
Deixei Petrópolis (RJ) no domingo à noite, dia 19 de setembro de 2021, rumo a rodoviária Novo-Rio, de onde partiria o ônibus para Tombos às vinte e duas horas. Cheguei em Tombos às seis horas da manhã.
1° DIA
A estação rodoviária é, na verdade, uma antiga estação ferroviária nos tempos em que o trem ia até a cidade de Carangola. Está situada próxima ao Hotel Serpa, mas fui diretamente para a Cachoeira de Tombos, o marco zero do Caminho da Luz, pois na ligação telefônica me informaram que eu poderia passar no hotel a partir das sete horas.
Em vinte minutos eu estava na cachoeira, imponente, mesmo na estação seca. Somadas, as três quedas d’água principais alcançam cerca de 65 metros de altura e são utilizadas para geração de energia elétrica em uma hidrelétrica que opera no local. O nome da cidade surgiu devido à cachoeira, aos tombos que a água sofre.
O chamado marco zero do Caminho da Luz ocorre na Cachoeira de Tombos, concebido a partir de rotas indígenas.
No marco zero havia uma placa indicativa das distâncias que seriam percorridas até os pontos de referência do caminho.
Após algumas fotos no local, subi e fui ao Hotel Serpa. O hotel data de 1893, época áurea do ciclo do café na região. Aproveitei para tomar café no local. Paguei R$ 180,00 (aceita somente em espécie) pela credencial, folheto explicativo, taxa de manutenção do caminho, camisa e o certificado recebido no fim do caminho. Também daria direito a um cajado, mas eu estava com bastões de caminhada para os trechos mais íngremes. Um bastão apenas (ou cajado) tiraria meu ritmo de passada e decidi que não o levaria. Vesti a camisa por cima da que eu estava usando.
Ao sair do hotel, disparei meu aplicativo de caminhada para ver a extensão a ser percorrida no dia, e assim repetiria nos dias seguintes. Na verdade, eu deveria tê-lo disparado no marco zero, na cachoeira. Passei em uma padaria para comprar água e segui. Neste momento, projetei minha mente adiante... o que eu veria ao longo do caminho? Como percorrer tamanha extensão? Mas eu havia dado os primeiros passos e algo já havia ficado para trás! Ninguém chega ao fim se não der o primeiro passo.
Um senhor apontou a direção do caminho e me falou “siga as setas amarelas toda a vida”! Agradeci-lhe, e assim eu fiz... lentamente fui deixando a civilização para trás para entrar em um mundo de introspecção, assim como esperaria sair com alguma lição no fim. A estrada ainda era asfaltada, mas já passava por um ambiente rural. Até que o asfalto acabou de repente e comecei na terra. Um ou outro veículo passava lançando poeira. Felizmente, a frequência era baixa. Um senhor que trabalhava em uma roçada me viu e falou que já havia percorrido parte do caminho há muito tempo.
Comecei a avistar construções antigas, do tipo que gosto de fotografar. Confere uma ação do efeito do tempo nas fotos. Aquela sensação em que se volta no tempo. Uma antiga capela em ruínas, a cruz no alto inclinada, acompanhando um desmoronamento parcial do teto, foi o que mais me chamou a atenção. Mas em frente havia um casarão de fazenda.
O contraste entre o novo...
... e o antigo, frente a frente, permite uma viagem no tempo.
Mais adiante, as placas indicativas do caminho apontavam uma entrada à esquerda, deixando o caminho principal, fato confirmado pelo aplicativo. Acredito que, em todo o caminho, como eu constataria adiante, foi o momento em que a distração poderia ter afastado o caminhante mais significativamente. Então, a caminhada ficou mais agradável sem a poeira levantada pela eventual passagem de um veículo.
O app usado foi o Wikiloc. Não custa lembrar, mas é importante baixar os treks antecipadamente para usá-los offline, com o celular previamente carregado integralmente e deixado em modo avião. Baixei os do grupo de usuárias “Me Localiza aí Oficial” por serem recentes e se mostraram bem precisos. Apenas no quarto dia que houve uma variação, mas bem explicada pelo grupo. Adiante, comentarei que foi até interessante esta variação.
Parei por um momento para preparar uma bebida com o repositor que estava levando (o Sportdrink) a fim de evitar câimbras. A área era bem florestada, mas o céu, que até então estava encoberto, começava a se abrir e o calor estava aumentando.
Mais alguns quilômetros e o caminho ficou aberto, começou a subir, o calor a aumentar. Logo vieram algumas porteiras, o que me fizeram observar que caminhava por dentro de fazendas. Acredito que durante a criação do caminho, houve alguma divulgação entre os proprietários para permissão de passagem dos peregrinos. Mas isto também nos deixava expostos a situações inusitadas, como a aproximação com o gado que pastava. Bois, vacas e bezerros saíram correndo quando me viram, mas vai que aparecesse um touro furioso... eu seguia bem na minha, sem fazer barulho ou movimentos bruscos. Até que eles estavam bem comportados!!!
Em uma passagem havia uma lápide em homenagem a um peregrino que faleceu no caminho. Não tirei foto em respeito, mas me recordo que, pela data de nascimento e falecimento, contava cerca de 70 anos.
O caminho aparentemente voltou a encontrar a estrada principal, mas logo adiante houve novo desvio para uma longa subida íngreme por um trilho, semelhante às trilhas em montanhas. Segui nesse ritmo por uma meia-hora, até que alcancei a Gruta da Pedra Santa ao meio-dia. No interior da gruta há um altar com uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes e alguns bancos para os fiéis assistirem à celebração da missa. Um blog na internet dá a descrição a respeito da história e curiosidades sobre o local.
http://jornalfolhadamata.blogspot.com/2015/03/a-historia-da-pedra-santa-em-catune.html
Na entrada da gruta da Pedra Santa há uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes abençoando o peregrino (há referências em que Ela abençoa a mulher peregrina, mas uma placa no local menciona o fato sem diferenciação de gênero).
O interior da gruta da Pedra Santa. São realizadas missas duas vezes por ano, dias 11 de fevereiro (dia de Nossa Senhora de Lourdes) e no terceiro domingo de julho a partir de 1963. Além disso, a imagem da santa sai em procissão nas ocasiões.
Na sequência, alcancei Catuné, um distrito da cidade de Tombos. Lá procurei pelo Fábio (@fabioknauer), como informado no Hotel Serpa, para o carimbo da credencial. Parei em uma padaria para comprar água e me informei onde ele morava. Ao chegar próximo ao local indicado, perguntei novamente a uma senhora que estava na calçada. Por coincidência, era a mãe dele, a dona Fátima. Imediatamente, ela me chamou para entrar na casa com um sorriso hospitaleiro no rosto e me apresentou ao seu filho. Eles prontamente me ofereceram água e não a recusei. Conversamos por um momento, eles me mostraram o quarto em que hospedam aqueles que pernoitam em Catuné. Tudo limpo e muito bem arrumado. Fábio me mostrou fotos em um mural de várias pessoas em que lá estiveram. Fica a dica para outra ocasião ou para aqueles que pernoitarem em Catuné.
Uma parada na casa do Fábio e sua mãe, dona Fátima. Muita hospitalidade!
Agradeço a ambos por tudo, inclusive, por contribuírem com algumas informações a respeito da gruta da Pedra Santa.
Na saída, voltei à padaria e fiz um lanche para encarar os rigores da tarde. Um senhor que trabalhava com um ônibus escolar me contou algumas histórias do caminho e de seu resgate a duas mulheres que estiveram perdidas em certa ocasião. O povo nestas localidades é muito comunicativo. Parece nos tratar como conhecidos de longa data e isto é ótimo! A essência do ser humano.
Enfim, momento de encarar o sol da tarde. Agora o tempo estava aberto, mas lentamente fui adquirindo o ritmo e Catuné foi ficando para trás. Achei que adquiriria, mas as subidas que surgiram quebravam o ritmo a todo instante.
Após duas da tarde o sol ficou inclemente e o ar seco. Comecei a pensar em fazer uma grande parada para descansar e aguardar o sol baixar um pouco. Eu tinha uma lanterna de cabeça e poderia completar o caminho à noite. Mas ao mesmo tempo, eu sabia que isto diminuiria o meu descanso em Pedra Dourada para mais um longo percurso no dia seguinte. Então eu fazia algumas paradas rápidas para hidratação.
Em alguns momentos aparecia uma casinha, normalmente cercada por árvores. Em algumas havia uma lagoa para saciar a sede dos animais. Não era muito comum passar por fontes de água que aparentassem ser potáveis. A presença de animais não me estimulava a bebê-las, se fosse necessário. Por emergência, eu tinha comigo comprimidos de chlorin.
Cada sombra proporcionada pelas árvores era muito bem comemorada!
A vista alcançava pontos longínquos nos pontos altos das subidas e eu ficava imaginando naquele mar de montanhas e colinas por onde eu passaria. O silêncio era quebrado pelo canto dos pássaros. Alguns ninhos, principalmente dos engenhosos joão-de-barro e joão-de-pau (ou joão-graveto) eram facilmente visíveis. Uma pena que não levei minha lente 70-300 mm por questões de economia de peso. Usava uma lente fixa de 50 mm, número F: 1,8. Assim permitiria fotos rápidas, em que eu só teria que apontar e disparar. O “zoom” seria minha própria aproximação ou afastamento. Eu também tinha uma lente 18-135 mm, mas anos de uso e uma queda que ela sofreu fizeram com que não estivesse na melhor das condições.
Alcancei o vilarejo de Água Santa, outro distrito de Tombos, onde reabasteci minha água e também tomei um café com pão e manteiga em uma mercearia. O local é bem pequeno e acredito que eu era um forasteiro rapidamente identificável, ainda mais por estar utilizando a camisa do caminho.
Água Santa - Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens.
Apesar de passar das quatro da tarde, ainda fazia calor ao sair de Água Santa e imprimi um ritmo lento. Durante meu planejamento para o caminho, chegava a fazer 6,5km/h. Acreditei que uma boa média fosse 5,5km/h, estando com mochila. Mas na prática, ficou algo em torno de 4,5 a 5,0 km/h.
Eu já havia percebido que, ao passar próximo a algumas casas nas vizinhanças do caminho, alguns cachorros latiam para marcar seu território. Até aí, tudo bem. Mas ao passar por uma casa, um buldogue incorporado por uma entidade veio pela retaguarda. Normalmente, cães adotam esta estratégia. Eles só não estão preparados para a meia-volta e a encarada da presa. Foi o que eu fiz. Ele recuou, não estava preparado para minha encarada. Mas latia. Que latido horrível, grave, mal-humorado! Eu voltava minha direção para o caminho e ele tornava a vir. Ficamos nesta agonia por uns cinco minutos, mas eu conseguia progredir e me afastar da casa. Era o que eu queria. Quando estivesse suficientemente afastado, eu iria dar uma corrida naquele buldogue que as perninhas curtas dele não iriam aguentar. Claro que eu não iria fazer nada. Seria somente para assustá-lo. Mas aconteceu o que eu imaginava. Quando ele percebeu que estava mais afastado de casa, retrocedeu e me deixou em paz. A numeração da foto que consegui tirar dele no meu arquivo mostra DSC_667. Quase, hein?!?!? Se fosse um número a menos, eu diria que realmente havia alguma entidade incorporada. Os demais cães encontrados pelo caminho nem de longe me incomodariam como esse ranzinza.
O buldogue, impulsionado por alguma entidade, testou minha paciência. Cara chato!
Ouvi curiosos estalos vindos da copa de árvores. Olhei para cima à procura de um possível animal que os estivesse produzindo, mas nada. Olhei para o solo e vi vários exemplares de uma estrutura vegetal semelhante a uma cápsula grosseiramente esférica. Não deveria ter nem um centímetro de diâmetro. Estavam rompidas. Comecei a imaginar que cada uma delas continha uma semente. O tempo natural de vida desta estrutura e seu desgaste, associado ao aumento de temperatura ambiente e ao consequente aumento de sua pressão interna, levaria à ruptura da casca, projetando a semente a uma distância considerável para a ampliação territorial da espécie. As rupturas da casca eram justamente os sons que eu ouvia. Tudo suposição, pois nem sei o nome da árvore que as produz.
A noite já se aproximava quando comecei a visualizar mais uma torre de telefonia celular. Logo percebi que a modernidade seria o indicador da proximidade de uma localidade e desta vez era meu destino final para aquele dia: Pedra Dourada.
Iniciei uma forte descida em que começou o asfalto. Pedra Dourada estava situada em um profundo vale. De repente, uma colina revelou a lua cheia que acabara de nascer. Posicionei-me de maneira a colocar a lua na linha da crista inclinada da colina, de forma que a foto aparentasse que a lua rolaria morro abaixo, se não fosse por uma árvore que estava escorando-a. O leitor notará o efeito da insolação neste momento!
Não dá a impressão de que a árvore evitava a lua de rolar morro abaixo?
Eu não estava tão mal assim...
Em Pedra Dourada pedi informação para o hotel e em vinte minutos eu estava lá. Hora daquele merecido banho e cuidar do estômago. Assim, terminei o primeiro dia, o mais longo, que contaria 44 km de caminhada em pouco mais de 11 horas. Demorei a acreditar, mas havia cumprido o planejado. O segundo dia seria mais curto, 43 km!!! Seria mais desafiador em função do cansaço da véspera. Mas eu me sentia muito bem. Acredito que os quatro primeiros dias foram 60% preparo psicológico e 40% preparo físico. A razão só se inverteria no último dia, na longa subida ao Pico da Bandeira.
2° DIA
O segundo dia amanheceu limpo, sem nuvens, prometendo ser desgastante. Tomei o café da manhã, acertei o pagamento da diária e parti. Só então percebi com o dia iluminado que eu estava em uma local com excelente qualidade de vida. Um grande lago, área arborizada, aparelhos de ginástica, quadra poliesportiva, espaço para lazer. Nem deu vontade de continuar, mas após umas fotos, a missão precisava ser cumprida.
Pedra Dourada. Local muito agradável.
Dentro das cidades, o aplicativo era mais relevante. Eu não tinha que procurar pelas placas do caminho que normalmente se encontravam nos postes. O trekloc para o segundo dia mostrava um pequeno desvio e, coincidentemente, no momento em que saí da indicação das placas, duas senhoras me perguntaram se eu estava fazendo o caminho. Com minha resposta afirmativa, uma delas me informou o caminho a ser seguido, mais direto. Agradeci a ambas e segui na direção sugerida. Logo voltei para a trilha no app. Isto mostra o quão atencioso o povo é com o caminhante da luz.
Como esperado, logo após a saída da cidade, já encarei uma subida tremenda, ainda asfaltada. Mas logo em seguida, a pavimentação acabou. No fim da subida eu estava mais próximo à montanha que dá nome à localidade. Pedra Dourada tem esse nome em função de uma montanha com uma falha mais clara na rocha. A incidência da luz solar faz com que seu reflexo na parte mais clara seja avistado da cidade com uma tonalidade que mantém a cor dourada do sol.
As primeiras fazendas de café começaram a surgir. Mas devido à época do ano, não havia frutos. A colheita já havia sido feita. Devido à aridez, não vi plantações de hortaliças. Raramente avistava demais árvores frutíferas, a não ser bananeiras. De maneira muito pontual, avistei culturas de milho mais adiante (em Caiana).
A grande maioria dos motoristas que passavam por mim me cumprimentava dos seus veículos, seja por gesto ou buzina e eu prontamente devolvia o cumprimento. No caso das motos, eu ficava com a impressão que já tinha visto o camarada antes, principalmente porque costumava ter gente na garupa. Então comecei a considerar que parte poderia ser moto-taxi, mas me esqueci de perguntar este fato por onde passei.
Já era próximo de dez da manhã e o calor começou a apertar. Ao alcançar uma árvore com uma boa sombra, fiz uma pausa para fazer um lanche e me hidratar. Aproveitei para escorar uma árvore que parecia cair com o calor!!!
A citada árvore. Deu pena dela! Aparentava tão cansada! Decidi escorá-la. Nem deu vontade de deixá-la desamparada.
Cerca de 40 minutos adiante, atingi um trecho arborizado e fiz nova parada. Eu procurava dosar o ritmo para não faltar energia no fim. Este poderia ser o dia mais desgastante (e foi).
Enfim, comecei uma descida forte por um trecho de árvores. Ao longe era possível avistar uma cachoeira, referenciada no trekloc que eu seguia. Mas não fui até ela por economia de energia. Vai que eu chegasse lá e caísse na tentação de tomar um banho?!?!? Mas isto significaria mais tempo e a fome já começava a apertar. Eu não estava distante do ponto planejado para parada para o almoço: Faria Lemos.
Ao concluir a descida, caminhava sob sol forte e na aridez exposta. Até que observei um movimento de veículos em alta velocidade a distância. Eu estava me aproximando de um trecho pavimentado. Mais alguns metros e cheguei a um cruzamento em uma rodovia estadual mineira que leva até a cidade de Carangola. Na esquina havia uma fábrica de laticínios. Segui adiante por mais 3 km rumo ao centro do município de Faria Lemos.
Chegando em Faria Lemos, fui direto a uma farmácia comprar uma escova de dentes. Eu havia esquecido a minha, mesmo incluída no check-list. Por ser o último item a ser usado antes de sair de casa, eu não a coloquei na mochila. Me virei no dia anterior com o fio dental e escovação com o dedo. Na farmácia perguntei por um restaurante e me indicaram o caminho.
O restaurante era simples, mas me serviu uma boa comida. Um senhor começou a conversar e demonstrava conhecer as proximidades do caminho por onde eu passaria. Ele me falou que se eu seguisse pelo asfalto que havia visualizado, seria mais perto para se chegar a Carangola, meu próximo destino. Mas isto significaria se afastar do Caminho da Luz. Então, recusei mentalmente. Perguntei à atendente se ela sabia onde eu carimbava minha credencial. Ela comentou que achava que o local estaria fechado em função de ser feriado na cidade, dia de São Mateus, o padroeiro. Bem que eu havia notado que a cidade estava sem movimento.
Enfim, retornei à caminhada. O jeito seria carimbar a credencial em Alto Caparaó, quando haveria todos os carimbos para quem perdesse algum!!!
Outro detalhe interessante que era avistado nas cidades e vilas por onde eu passava era a existência das estações de trem semi-abandonadas. Era mais um símbolo de que o tempo parou. Neste caso, em que foi impedido o progresso, pois no passado estava no rumo certo. Uma pena o trem não estar mais presente na paisagem, na qualidade de vida e na economia de um país de dimensões continentais.
Definitivamente, após ter percorrido todo o caminho, eu elegeria este trecho, o vespertino do segundo dia, o mais desgastante (nem a subida ao Pico da Bandeira a partir da cidade de Alto Caparaó no quinto dia seria tão tenebrosa). Meu ritmo ficou em 4 km/h, eu procurava o trecho em que houvesse nem que fosse um metro de sombra. Se houvesse uma sombra no lado de fora da curva, eu deixava de fazê-la pela tangente para um prazer efêmero proporcionado pela sombra.
Detalhe de um dos trechos mais sacrificantes nesta tarde do seguindo dia. No caso mostrado, ao menos era uma descida.
O trecho estava muito árido; o gado, magro. Somente os pássaros pareciam não se importar com a secura e seguiam cantando. Perdi a conta da quantidade das paradas feitas. As subidas eram feitas em segunda marcha.
De qualquer forma, sempre havia beleza no caminho. Eu havia tomado a decisão de percorrer o caminho de acordo com planejamento que considerou o clima. Agora eu seguia o caminho por minha conta e risco e o lugar não tinha culpa deste planejamento. Eu havia acompanhado a previsão do tempo dias antes e havia alguma indicação da chegada de frente fria no dia seguinte, o terceiro, ao menos na área de Petrópolis. A elevação da temperatura antes da chegada de frente fria era claro indício de que a previsão estava correta. Em escala planetária, Petrópolis e Carangola não estão distantes e acredito que a previsão tivesse alguma validade ali. Já a previsão para Carangola e o Pico da Bandeira mostrava alguma nebulosidade na região em que eu estaria no dia seguinte.
Um trecho da caminhada acompanhava um riacho. Fiquei olhando para as águas desejando me jogar nelas. Acho que naquele momento eu parecia um animal sedento que podia até sentir seu cheiro! Mas as águas eram sempre turvas. Provavelmente, já teriam passado por áreas de criação de gado e não me sentia apto a me banhar nelas.
Em outro momento tentei me distrair tentando fotografar um lindo pássaro laranja e preto cantarolando em uma árvore. Era um corrupião. Não ficava quieto e minha lente fixa de 50mm não ajudava. O zoom no celular distorcia e tremia a imagem. Somente depois consegui ampliar uma foto com recurso digital, fazer um tratamento e aproveitar uma delas.
Passei em frente a uma destilaria, cuja placa indicava “aberta à visitação”. Se fosse de cerveja gelada, eu até visitaria, mas não me sentia muito empolgado a experimentar cachaças naquele momento!
A tarde já avançava mas, mesmo após às 15 horas, voltei a sentir o mesmo fenômeno de radiação solar intensa do dia anterior. Estranho, pois havia maior camada de atmosfera com a maior inclinação do sol durante seu avanço na tarde.
Comecei uma longa descida e já avistava mais uma torre em uma montanha, indicando a proximidade com Carangola. Uma jovem passou por mim subindo o morro pedalando. Estava com disposição!
O sol já estava próximo à linha do horizonte, mas localizado de maneira frontal. Eu olhei para ele e soltei um palavrão! Eu desejava que chovesse e gritei “chove, caramba!” Depois eu fiquei rindo da situação, pensando em quão tolo eu fui. Em outro momento, conforme me deslocava, uma colina descobriu o sol que havia se posto e tomei mais uns 10 minutos de sol na cara!
Uma observação ao leitor. Quando se faz o caminho em uma semana, da maneira mais tradicional com pernoite em Catuné e Faria Lemos, acredito que estes perrengues sejam amenizados, desde que se comece a caminhada cedo. Aproveitem as manhãs.
Terminei a descida e o sol algoz finalmente se pôs. Algumas aves parecidas com garças voavam em vários grupos, sempre na mesma direção, acredito que procurando seus ninhos para pernoite. Voavam seguindo o curso de um riacho. Eu também passei a segui-lo paralelamente até que deixei a estrada de terra e cheguei ao asfalto quase na escuridão. Estava perto de Carangola.
A pisada em solo asfaltado, mais compacto e menos amortecedor de impactos começou a incomodar a sola do meu pé direito. Temi pelas bolhas. Apesar do meu tênis já ser bem usado, ter a forma do meu pé, acredito que a meia não era macia o suficiente para tantas passadas. Já percebia que teria bolhas a serem tratadas. Cheguei mesmo a parar na beira da estrada, inverti as meias imundas, tentei andar sem meia, fiz de tudo, mas o problema já estava feito. Ainda caminhei uns 3 km nesta situação até chegar ao hotel. Eu mancava visivelmente.
Na recepção do hotel, fui atendido pelo Ayrton (@niigriin). Fiz os procedimentos de entrada e fui imediatamente a uma de duas farmácias que vi aberta para comprar algodão. A ideia seria acolchoar os pés no dia seguinte. Ambas tinham acabado de fechar! Passava de oito da noite. Ao comentar com ele sobre o ocorrido, ele foi a uma sala e me trouxe um punhado de lã sintética. Que anjo! Agradeci-lhe imensamente.
Aqui vai uma descrição particular sobre meu tratamento das bolhas. É sempre recomendado que elas não devam ser estouradas. Entretanto, acredito que isto só funcione se você não fizer novos esforços na região afetada no dia seguinte. Como não era meu caso, a pressão no local deve ser aliviada para se aliviar também o incômodo. Então, fiz um minúsculo furo nas três bolhas formadas para drenar a água. O alívio é rápido, mas não se retira pele. Esse erro é mortal.
Tomei aquele banho e fui jantar. No fim do dia, contabilizava mais 43 km de caminhada feita em 11 horas. O dia seguinte seria mais tranquilo, pois seria importante começar a não forçar muito pensando na longa subida ao Pico da Bandeira.
Aqui vai um extra: o que me prejudicou nas bolhas foram minhas meias, que já tinham perdido o felpudo e não estavam macias. Cada par foi descartado ao fim de cada dia. Mas meus tênis possuíam uma grande tecnologia high-tech mega plus + master pró, o que evitou mal maior. Não costumo mostrar estes segredos, mas se você amigo leitor chegou até aqui, merece vê-lo.
Vejam quanta tecnologia embarcada! Na verdade, recomendo que tênis para longas caminhadas sejam bem confortáveis, com a forma do pé. Eles atendiam ao caso, mas as meias não. Então precisei lançar mão do outro par de tênis que levava comigo por manter o pé mais firme.
3° DIA
O dia seguinte amanheceu nublado, como uma temperatura amena. Algo dizia que, além de ser mais curto, seria mais agradável. Após o café da manhã, preparei meus colchões para suavizar as bolhas estouradas, uma camada espessa de lã sintética que pus dentro da meia. Também coloquei outro tênis, um pouco mais rígido para meu pé não se movimentar tanto. Fiz o mesmo para o pé bom.
Comecei a refazer o caminho inverso feito dentro de Carangola no dia seguinte. Não é estritamente necessário entrar na cidade quando se faz o Caminho da Luz. Logo ao sair da estrada de terra e pegar o asfalto, eu deveria seguir no outro sentido do asfalto. Mas a cidade fazia parte do planejamento de pernoite, pois a próxima localidade, Caiana, estaria cerca de 25 km adiante.
Eu tinha comigo uma garrafa de meio litro de água, cheia. Aguardei uns instantes até me aproximar da saída da cidade para comprar mais água em alguma mercearia ou padaria. Já havia seguido extensão suficiente para perceber que deixava a cidade e comecei a procurar. E nada! Eu havia passado à noite no local no dia anterior e não tinha percebido a ausência de facilidades. Andei mais, já havia saído da cidade e nada. Voltar? Fiquei pensando... retroceder uns 2 km ou continuar avançando na esperança de algum vilarejo ou rio com água potável? O dia estava seco e com temperaturas amenas, o que me estimulou a seguir. E assim, segui adiante...
Cheguei à bifurcação em que havia deixado a estrada de terra e continuei na parte oficial do Caminho da Luz por menos de 2 km, até que o caminho naturalmente voltou à estrada de terra. Passei por uma casinha em que tocava em som alto a música “Como eu quero”, do Kid Abelha e os Abóboras Selvagens. Que boas lembranças de minha infância vieram à mente. Dos tempos de escola em que pensava nas namoradinhas quando eu tinha meus 12 anos. O tempo é implacável. Por isso dou tanto valor à história. E por isso faço este relato detalhado (peço desculpas ao leitor pela longa extensão) para que o tempo não apague alguns detalhes desta jornada e, de alguma forma, inspire outros a fazerem o mesmo (escrevendo estas linhas, já tenho saudade do caminho). Às vezes precisamos de uma música, um cheiro, um sabor para reativar algum espaço perdido no cérebro e resgatar nossas lembranças. Aliás, eu tinha comigo uma play list em que eventualmente eu colocava minhas músicas. Mas não era mais Kid Abelha, mas Tangerine Dream e Klaus Schulze, principalmente. Algo introspectivo e que não ouço se há pessoas por perto.
Após a casinha, iniciou-se uma longa reta, mas a música ficava na minha cabeça. Aquela reta permitiu visualizar o passado, presente e o futuro. À medida que progredia, olhava para trás. Aquilo já era passado. O futuro estava bem diante de mim... E eu absorvia o presente. Honestamente, não consigo seguir apenas os conselhos de "aproveite o presente" sem no entanto projetar o futuro. Eu vivo no presente (e o desfruto) aquilo que projeto no futuro, com referência às experiências do passado. E a experiência que vai sendo acumulada é maravilhosa. Obviamente, há as surpresas que ocorrem sem aviso prévio e para as quais devemos estar preparados para resposta. Sempre há alguns modismos empresariais e a isto se chama atualmente de resiliência. É maravilhoso falar destas coisas, estando dentro da zona de conforto. Melhor seria se houvesse menos modismos e mais valorização do ser humano, além de se realizar algumas coisas fora da zona de conforto para aprendermos a valorizar o simples.
Assim eu seguia em uma viagem mental em que não precisava de água! Eu a estava economizando desde que decidi não fazer meia-volta na saída de Carangola.
A longa reta, aqui fotografada para o passado, como a torre de telefonia de Carangola demonstra. Ainda havia um trecho equivalente para o futuro!
Mais algumas centenas de metros após a longa reta, comecei uma longa subida. Um carro passou por mim com uma família. Fiquei em um ritmo mais lento por cerca de meia-hora. Não queria forçar o ritmo pensando em dosar as energias.
A visão panorâmica começou a ser ampliada com a elevação. Bebi meu primeiro gole d’água. Se houve um momento em que constatei que seria possível fazer o caminho em 5 dias, o momento fora esse. Acredito que temos que buscar algumas referências do que é possível de ser feito quando se está fazendo um planejamento. Sempre gostei da história da exploração africana. Aliás, de todas as grandes conquistas e aventuras que desafiam os elementos e o meio natural. Um jovem escocês, Joseph Thomson, explorava a região do atual Quênia em 1881 a serviço da coroa inglesa. Thomson precisava atravessar o território dos temidos guerreiros masai. Uma premissa básica era ter suprimentos de oferendas a serem dadas aos chefes de tribos para a concessão da travessia pelo seu território (normalmente tecidos, miçangas e adornos). A quantidade pedida era enorme e Thomson esgotou suas reservas antes do previsto. Precisou retornar ao litoral para recarregar. No caminho, ele perguntou a algumas pessoas se haveria água pelo caminho. Indicaram a ele uma fonte. A fonte não foi localizada e ele e alguns integrantes mais fortes de seu grupo caminharam 120 km em 22 horas! Uma chuva trouxe o alívio (do livro de Thomson “Through Masailand”).
Eu tinha que fazer 25 km até Caiana com meio-litro de água. Olha que moleza! Nem as bolhas tratadas do pé doíam... E ainda, no sufoco, poderia pedir água em alguma casa pelo caminho. Ainda poderia encontrar alguma fonte, eu não era ameaçado por feras da savana (talvez alguma chifrada de um touro!). Eu estava tranquilo, principalmente porque já passava das dez da manhã e a temperatura ainda estava amena.
A subida ainda continuava, mas a placa do Caminho da Luz indicou um desvio. O carro que havia passado por mim estava parado no local. Parece que o motor havia aquecido excessivamente e o motorista estava esperando seu resfriamento. Alguns minutos após, ele voltou a ligá-lo e a família seguiu para concluir a subida.
Momento de deixar a estrada, que continuava subindo, para tomar esta trilha que conduzia a um belo trecho da caminhada.
Este desvio levou a uma trilha propriamente dita, como a percorrida nas montanhas. No início, havia uma cobertura, como se houvesse uma estação de trem outrora. Fiz uma pausa no local para lanchar e beber mais um gole d’água que Thomson não teve!
Uma pena ter visto no local uma grande sacola cheia de lixo pendurada em uma cerca. Não acredito que possíveis moradores a tenham deixado esquecida. Pelas embalagens, eram de caminhantes pouco iluminados mesmo! E certamente de um grupo, pois uma pessoa somente não teria produzido tanto lixo. Difícil compreender estas atitudes. Se a pessoa se dispõe a fazer um caminho, que leve consigo todos os pertences. O lixo ainda continua sendo um pertence até o descarte apropriado. Infelizmente, eu não tinha espaço na mochila para carregar tamanha quantidade e ainda estava a cerca de 15 km de Caiana.
Alguns metros adiante havia uma pequena casa que possivelmente servia de posto de controle do maquinista do trem enquanto parado na estação. Havia uma bicicleta em seu topo. O detalhe é que o selim havia sido adaptado e recebido uma roda semelhante a um ventilador e que girava com o sopro de uma brisa. Lembrei-me do filme “O menino que descobriu o vento”, uma história real de um menino do Malauí que, de forma autodidata, adaptou partes de uma bicicleta em um cata-vento. Isto permitiu acionar um dínamo que, por sua vez, ligava uma bomba para se extrair água de um poço e irrigar a plantação de sua aldeia em um período de intensa seca.
O caminho seguiu por uma trilha bem definida e arborizada. Em alguns momentos, as copas das árvores de ambos os lados se uniam para formar um belo túnel verde. Alguns pontos de água começaram a surgir, principalmente vindo de nascentes na vertente da montanha que eu contornava.
Este belo trecho era bem arborizado.
A visão longínqua também era um diferencial do trecho. Era possível ver uma parte do caminho pelo qual eu havia passado antes de se iniciar a subida, a torre de telefonia de Carangola e, o que me impressionou mais, a Pedra Dourada (montanha), próxima da qual eu havia passado próximo na manhã do dia anterior. Considerando as sinuosidades do caminho, distava uns 50 km de onde eu estava, mas estimo em metade deste valor a distância em linha reta que nos separava. Agora era ela minúscula e havia perdido a reluzência!
Visão panorâmica por onde eu já havia passado. A montanha em forma de tabuleiro em último plano e ao centro da foto é a Pedra Dourada.
Em um ponto havia a imagem de um Cristo e algumas mensagens bíblicas eram vistas em adesivos colados nos bambus à margem do caminho. A cobertura de bambus deixava o chão coberto de palha. Anualmente, no mês de julho, acontece uma grande peregrinação coletiva promovida pela empresa que eu tentei contratar. Acredito que neste trecho ocorra alguma celebração, não só pela imagem e mensagens, mas também pela atmosfera do ambiente.
Não demorou muito e alcancei um dos pontos mais fotografados do Caminho da Luz: o túnel de pedra. Uma parede rochosa que foi escavada até uns três metros de altura, aproximadamente, para permitir a passagem do trem. Sua extensão não é grande, cerca de uns três metros. Foi tão bem lapidado que aparenta ser natural. Fiz uma pausa no local para fotos e beber mais água. As memórias ferroviárias ainda iriam revelar mais uma estação abandona adiante, em uma localidade chamada Ernestina. Havia no local duas pessoas com moto-serra cortando lenha.
O túnel de pedra. Foto voltada para o sentido contrário ao percorrido.
Antiga estação ferroviária de Ernestina.
Uma grande curva na linha de nível alterou o cenário e deixei de ver o mar de montanhas voltado para Pedra Dourada (oeste e sudoeste). Agora eu caminharia predominantemente para o norte, inclusive nos dias seguintes. A trilha voltou a encontrar um caminho mais largo, que novamente permitia a passagem de veículos. Na verdade, aquele era o trecho final de uma estrada que vinha de Caiana.
O dia se mostrava tranquilo, pois o trecho continuava plano, passando por eucaliptos em alguns momentos. A presença de sítios e plantações aumentava à medida que me aproximava de Caiana. Próximo ao meio-dia é que o calor aumentou, mas nada que incomodasse como no dia anterior.
Em Caiana parei para almoçar. A melhor refeição feita no caminho até então (não que as demais não tenham sido boas – não costumo reclamar da comida que me servem). Na saída, perguntei ao caixa, que aparentava ser o proprietário, onde eu poderia carimbar minha credencial. Ele me indicou uma mulher da secretaria de turismo da prefeitura. Estranhei, mas fui até lá, pois não era distante. No local, subi por umas escadas até parar em uma porta. Uma senhora estava ao telefone, mas fez um gesto para eu entrar. De mochila, bermuda e suado! Pensei que seria levado ao prefeito!
Ela terminou a ligação e já fui pedindo desculpas pelos trajes, mas ela nem se importou. Expliquei-lhe a situação, mas ela estranhou. A pessoa indicada para que fosse procurada não estava na prefeitura. Então falei para ela onde poderia haver um hotel, pois eu estava percebendo que hotéis e pousadas eram os locais com mais chances de terem o carimbo. Ela me indicou um hotel ao lado do restaurante em que eu almocei! E ainda me ofereceu água, que prontamente aceitei. Chegou até mesmo a me oferecer café, mas achei que já seria abuso demais!
Credencial carimbada, segui para um pequeno trecho de 7 km até Espera Feliz. No alto de um morro que vinha experimentando uma elevação constante pude finalmente ter a primeira visão da Serra do Caparaó, a terra-dos-sem-males do Caminho da Luz. Estava parcialmente encoberta por uma espessa camada de nuvens. Aquele era o dia com previsão de maior nebulosidade e não me importei com elas. Foi uma satisfação avistar o objetivo final. Mas eu ainda caminharia pelos vales no dia seguinte para enfim chegar à base da montanha em Alto Caparaó dois dias depois.
Primeira visão da Serra do Caparaó (apesar de parcialmente encoberta) na descida para a cidade de Espera Feliz.
A descida me levou diretamente à entrada da agradável cidade de Espera Feliz. No hotel, contabilizava mais 33 km no caminho. Já havia ultrapassado o centésimo quilômetro. Na verdade, o acumulado estava em 120 km. O dia fora percorrido em oito horas em uma velocidade constante e sem pressa, proposital, a fim de me poupar para os dois dias que estariam por vir.
4° DIA
Uma vantagem do hotel em que eu estava era que o café da manhã era servido a partir de seis e meia, diferentemente dos demais até então, que serviam a partir das sete. Com isto, adiantei minha saída para aproveitar ao máximo a manhã com temperatura amena. O dia aparentava ser de calor novamente.
Após uns 15 minutos de caminhada dentro da cidade, encontrei a estrada de terra e segui em direção a Caparaó. Um veículo passou por mim, dois, três... e a poeira levantada logo me deixou mais integrado ao ambiente! Alguns caminhões passavam também. Logo percebi que terminaria com mais terra no corpo do que a existente no solo. E assim seria. O trecho era razoavelmente movimentado.
Observei ao passar por uma casa um jardim florido muito bem cuidado. Havia amarílis, uma flor muito significativa para mim por ser o nome de minha filha. Uma senhora estava no quintal e elogiei as flores. Muito simpática, ela começou a me contar sobre a sazonalidade da florescência de cada uma delas.
Este trecho também revelou as fazendas mais mecanizadas do caminho, grandes propriedades tendo seu solo preparado para o plantio e dando um aspecto de certa influência econômica na região.
O solo mostrava vários minerais metálicos cujo reflexo é uma das definições da nomenclatura para o Caminho da Luz. Tentei apanhar um fragmento, mas esfarelou na minha mão.
Uma curva revelou uma montanha distante com uma crista bem característica que logo associei ao Pico do Cristal, na Serra do Caparaó. De fato, eu verificaria horas depois que estava certo com uma visualização mais ampla da serra. Era o primeiro sinal da aproximação com o objetivo final.
A primeira visão do Pico do Cristal (ao fundo), o sétimo mais alto do Brasil, com 2769 metros de altitude.
Na localidade de Pedra Menina passei por uma casa antiga, cuja foto mais tarde foi trabalhada para que tivesse tons de sépia, o que me fez ficar observando-a por algum tempo, enquanto eu me transportava ao passado. De alguma forma, consegui produzir o efeito desejado. O Caminho da Luz não é apenas um caminho de distância. É um caminho temporal também. Passei pela antiga estação de trem e, mais adiante, por uma bifurcação cuja placa indicava o acesso à portaria capixaba do Parque Nacional do Caparaó, que também recebe o nome de Pedra Menina. Eu não estava distante da divisa com o Espírito Santo.
As antigas estações ferroviárias permitem uma volta no tempo, como esta na localidade de Pedra Menina.
Pouco antes de chegar à cidade de Caparaó, uma placa do Caminho da Luz mostrou uma opção ao caminhante. Seguir direto, iria para a cidade. Se a opção fosse por entrar à direita, o trajeto conduziria até a localidade de Galileia, uma comunidade religiosa e que desviaria de Caparaó, encontrando-se com o caminho tradicional após a saída da cidade. Optei por seguir adiante, rumo à cidade em função do almoço.
Era meio-dia quando entrei em Caparaó e imediatamente procurei um restaurante para almoçar. Não foi difícil achar um localizado na rua principal da pequena cidade. Na saída, alterei a pergunta ao atendente. Onde haveria uma pousada em que provavelmente eu carimbava a credencial. Recebi a indicação de procurar uma pousada. Ao chegar lá, a atendente me informou que havia solicitado um novo carimbo, mas não tinha um no momento. Paciência, seria mais uma lacuna a ser preenchida em Alto Caparaó.
Nas saídas das cidades, eu normalmente seguia os treklocs baixados no aplicativo do celular, apesar de haver placas indicativas do caminho fixadas nos postes. Aqui houve uma variação no caminho que comentei anteriormente. Quem gravou o percurso, alertou que iria fazer uma trilha até o Mirante da Lua e assim optei. Foi uma subida forte em uma colina. Ao chegar a um colo, uma incrível cena se abriu. Uma grande extensão da Serra do Caparaó com a primeira visão desimpedida do Pico da Bandeira, além do Pico do Cristal. A visão era encantadora. Um extenso vale bem cultivado, o caminho lá embaixo e a cadeia de montanhas. Valeu a pena o desvio. Não continuei subindo até o mirante, que acredito, iria consumir mais um quilômetro, pois fazia calor e queria preservar minhas energias. Acredito que a visão não iria diferir significativamente.
No ponto mais alto reinam soberanos o Pico da Bandeira (à direita) e o Cristal. A visão deste vale era ampla e encantadora. O caminho seguia no fundo do vale em direção a Alto Caparaó.
Iniciei a descida lentamente e admirando o cenário. Quando cheguei ao fundo do vale, encontrei-me com a variação do caminho que vinha de Galileia. Ou seja, esta opção pelo caminho ao deixar Caparaó permitiu a visualização da cadeia de montanhas e ainda percorrer alguns metros da variante, até que o caminho voltou a encontrar o caminho normal.
Encontrar o caminho normal significava tomar mais poeira na cara. Alguns caminhões passavam em disparada e a nuvem de poeira era assustadora. Eu não queria nem me ver no espelho!!!
Eu passava por propriedades que continham rios cujas águas vinham do alto das montanhas do Caparaó. Quanto mais eu avançasse para montante, mais limpas elas seriam. Mas esta consideração é apenas teórica, pois em nenhum momento segui o curso de um rio. Isto aconteceria apenas no dia seguinte ao subir o Pico da Bandeira.
Ouvi os mesmos estalos das estruturas que eram projetadas do alto das árvores e que poderiam conter sementes. Desta vez, eu apanhei uma e tirei uma foto. O detalhe é que a hora do dia era semelhante ao horário em que eu percebi este fenômeno no segundo dia.
As montanhas da Serra do Caparaó estavam mais próximas, o que indicava a proximidade com a cidade de Alto Caparaó. Após passar por mais alguns sítios, o caminho naturalmente passou a ser pavimentado e entrei na cidade. Parei em uma padaria para fazer um lanche, pois ainda teria mais 2 km a serem percorridos até a pousada.
Eu estava adiantado em relação ao horário informado ao proprietário da pousada para chegada. Então, fui direto à pousada que realiza a emissão do certificado do Caminho da Luz para carimbar a credencial. No local, já recebi o certificado e minha credencial foi toda carimbada. Mas eu ainda não havia terminado o caminho. Falta a ascensão ao Pico da Bandeira. Seria minha décima primeira na carreira de montanhista nesta encantadora montanha. Mas a primeira em que eu subiria desde a cidade. Não usaria um veículo para subir da portaria até a Tronqueira, o limite em que o carro atinge a 1970 metros de altitude. Com isto eu acrescentaria mais 12 km (ida e volta) à caminhada, partido dos 990 metros de Alto Caparaó. Seria um belo desnível até os 2892 metros do cume.
Cheguei à pousada e fui atendido pelo simpático casal Gabriele e Edvaldo. Após o banho (deve ter uma palavra melhor para extração de toneladas de poeira do corpo), descansei um pouco dos 37 km do dia, percorridos em 9 horas. O último ato era comparecer à pizzaria dos meus amigos Renato e Mariangela Estorino a fim de recarregar as energias para o gran finale no dia seguinte.
5° DIA
Dia 24 de setembro, o último desta grandiosa jornada. Acordei às cinco e meia da manhã. O parque abria às sete. Parte dos meus pertences ficaria na pousada, o que aliviaria o peso na subida. Conservei comigo os bastões de caminhada, que até então, só havia usado na subida de uma ladeira no terceiro dia. Tomei um banho, agora no significado normal da palavra, e fiz um rápido lanche com o que eu havia comprado na véspera em um mercado, pois esta pousada não servia café da manhã.
Saí às seis e vinte e, no caminho, parei em uma padaria para tomar café e ativar os neurônios. Na estrada de acesso à portaria do parque, parei em uma placa do Caminho da Luz que assinalava o Marco do Triunfo para tirar uma foto, mas o triunfo ocorreria de fato na volta. Às sete e cinco da manhã realizei o procedimento para entrada. O atendente era meu conterrâneo, ao ver no meu pedido a cidade de minha procedência.
Enfim, agora eu tinha todo o aclive praticamente constante até o cume. Seria uma ascensão cujo desnível só não seria maior que minha ascensão ao Monte Meru, na Tanzânia, em preparação à subida para o Kilimanjaro em 2011. Eu havia subido cerca de 2060 metros de desnível, partindo dos 2500 metros de altitude. Esta seria outra referência para mostrar que agora o que eu fazia era perfeitamente possível.
Logo nos primeiros metros já me livrei do agasalho e da calça. O calor aumentava rapidamente, não pela temperatura ambiente, mas pelo esforço. Alguns carros passavam por mim e eu seguia em um ritmo cadenciado. Quando a inclinação aumentava, eu usava os bastões de caminhada para distribuir o esforço e impulsionar o corpo para cima.
Não carregava muita água comigo, pois sabia que agora as fontes encontradas eram confiáveis. Além disso, eu tinha comigo um preparado de Sportdrink. Todo o exercício feito nos dias anteriores, e os possíveis quilos perdidos, ajudavam na movimentação. Eu gosto de subidas, elas são o real desafio. Não gosto de descidas por forçarem os joelhos.
Próximo à Tronqueira, uma motorista parou seu carro e me ofereceu carona. Meio ofegante, eu lhe agradeci, mas recusei. No meu pensamento, o caminho deveria ser integralmente feito na caminhada. Ela seguiu, e fiquei pensando se não teria sido arrogante na resposta. Como eu não estava distante do início da caminhada para ela, pensei em melhorar a resposta, caso a encontrasse.
Enfim, cheguei à Tronqueira às 08h 25min. Estava vazia. No estacionamento havia uma meia dúzia de carros. Fiz um rápido lanche, pois não queria perder muito o ritmo. Apanhei um pouco de água na fonte disponível no local e iniciei a trilha propriamente dita, como nos anos anteriores, e pelas demais pessoas que ali deixaram seus veículos.
Logo adiante eu me virei para contemplar o maravilhoso tapete de nuvens que havia se formado nas primeiras horas da manhã. Eu agora operava acima das nuvens, no ambiente em que me faz sentir tão livre, revigorado, sem acusar um possível cansaço dos dias anteriores. Ao olhar para cima, a primeira visão do ponto culminante indicava o sentido para aquilo, para uma ascensão não apenas física, mas espiritual, independente da religião que se siga. Eis a grande maravilha do montanhismo! Como disse, gosto das subidas e para elas tenho me preparado procurando correr em algumas montanhas em Petrópolis. Não é uma competição extracorpórea, mas uma competição comigo mesmo. E somente comigo. E adoro isso!
Subida ao Pico da Bandeira - trecho imediatamente após a Tronqueira, a aproximadamente 2000 metros de altitude.
Avistei um grupo adiante e, ao alcançá-los, percebi que era a motorista que havia me oferecido a carona. Novamente lhe agradeci, mas expliquei a ela o propósito do caminho, da jornada e que não quis ser arrogante. Com um sorriso, ela e seu grupo compreenderam. Conversamos por mais alguns instantes e assim segui.
Passei a acompanhar as águas do Rio José Pedro, mas sua baixa vazão indicava um período prolongado de seca na região. De qualquer forma, esta água poderia ser bebida, como foi. Seguimos paralelamente ao seu curso até as proximidades do Terreirão, a 2380 metros de altitude, um acampamento maravilhoso, mas que por meses não está sendo permitido acampar no local. É um ponto quase obrigatório de parada, por conter banheiros, água e sombra para um lanche. Havia cerca de vinte pessoas no local. Cumprimentei algumas delas, abasteci minha garrafa com água e fiz um rápido lanche antes de seguir. A quase totalidade das pessoas permaneceu no local.
Trecho pouco acima do acampamento Terreirão (2400 metros de altitude).
O dia estava com céu aberto e o tapete de nuvens lá embaixo que encobria Alto Caparaó começou a dispersar. A radiação solar é implacável neste ambiente e eu já havia passado toneladas de protetor solar ao sair da pousada.
Passei por um casal e segui até um platô antes do trecho mais íngreme que marca o cume. Várias amarílis estavam florescidas, deixando a paisagem mais colorida. São flores resistentes, basta um pouco de terra arenosa para fixação de seu bulbo em meio às rochas. Isto a 2600 metros de altitude.
Uma família seguia metros adiante. Eles seriam o primeiro grupo a alcançar o cume no dia. Segui por mais meia-hora em um ritmo mais lento devido à maior inclinação do terreno até passar por uma placa que indicava o cume a 200 metros.
Neste momento, várias cenas do caminho foram projetadas na mente. Eu contava com 174 km de caminhada no acumulado e restavam meros 200 metros. Caminhei mais alguns metros e quando estava a uns 100 metros, me sentei e contemplei a paisagem. De alguma forma, não queria terminar o caminho. Logo que havia deixado a Cachoeira de Tombos a razão 174 km:200 m estava invertida. Só houve esta transformação porque sempre acreditei que seria possível. O calor, as bolhas no pé, o buldogue louco, a poeira... tudo isto havia sido superado. As pessoas hospitaleiras, as árvores, os pássaros, as curvas do caminho que revelavam novas paisagens e perspectivas, tudo isto havia sido incorporado. Havia uma sensação de vazio com o cumprimento iminente da meta, o que me levou às lágrimas.
Cume do Pico da Bandeira. Um lugar fantástico! Agradecimento ao Carlos (@carloshcmiranda) pelas minhas fotos no cume.
Assim fiquei por mais alguns poucos minutos. A vida é uma estrada de extensão indefinida, muito mais longa do que meros 190 km. Aproveite cada quilômetro. Eis a lição esperada ao sair de Tombos. Levantei-me e arranquei para o ponto culminante. A chegada ao Pico da Bandeira havia sido diferente e assim ficará marcada para sempre em minha memória. Aparentemente, não havia com quem comemorar. Mas no meu interior, havia uma comemoração festiva pelo corpo de quase 48 anos que ainda se sente um menino e o espírito em que nele habita e que busca constantemente a visão longínqua para visualizar o passado, o presente e o futuro. Desta comunhão corpo-espírito, associado a uma Energia Suprema que rege toda a cadeia de acontecimentos, ocorria uma grande festa iluminada naquele momento.
Casa de Pedra, no acampamento Terreirão. Quantos pernoites já passei neste local... uma pena estar proibido acampar no momento deste relato.
Hora de celebrar a conclusão do Caminho da Luz na Pizzaria Estorino, dos amigos Renato e Mariangela Estorino. Muito grato à forma acolhedora deles.
Últimas impressões:
Por ter sido concebido a partir de caminho indígena, que invariavelmente está associado à História, acredito que ainda há muita história a ser revelada, a forma como se dava a peregrinação indígena, quantos dias durava, sua periodicidade, o que era celebrado, além da migração para a vertente católica que foi incorporada ao caminho. Não há placas no caminho nem conteúdo vasto na internet. Um livro produzido pela Abraluz (Associação Brasileira dos Amigos do Caminho da Luz) também não dá muitos detalhes sobre. As perspectivas são grandes, mas provavelmente requer um trabalho acadêmico extenso.
Acrescento que a região foi desde o século XVIII considerada zona de exclusão, ou zona proibida, por Portugal, de forma que o ouro extraído das regiões auríferas produtoras deveria seguir para Paraty (em um primeiro momento) e depois para o Rio de Janeiro. Uma possível ligação mais curta com o porto de Vitória, e que passaria pelo local levando a maiores registros históricos, foi impedida com o decreto.
A região também era ocupada pelos beligerantes índios botocudos, o que a conservou em sua forma natural por mais tempo. Outras regiões se desenvolviam mais rapidamente e teriam sua história mais documentada.
Com isto, um parte cultural que envolve o caminho não está desenvolvida. A própria história do Pico da Bandeira aparenta ser vasta, envolvendo até mesmo os jesuítas, mas mal documentada. A propagação de algumas histórias no entorno do Caparaó não encontra fundamento escrito em referências científicas do século XIX. Mas isto é uma outra história...
Que relato xará! 👏👏
Relato épico!!! Parabéns pela empreitada amigaço! 👏🏻👏🏻👏🏻
Amigaço! Muito obrigado pelo comentário! O caminho é muito bacana.
Marcelo, que relato hein! Um grande ensinamento p quem pensa em fazer este caminho. Adorei quando vi aquela foto de Nossa Senhora de Lourdes c o peregrino. Ri muito quando vc falou sobre os gados e o cachorro Buldogue. E se me permite falar c todo respeito vc teve sorte mesmo, ja imaginou se fosse um Pitbull, e outra coisa vc lembrou do touro, mas esqueceu dos búfalos rsrs (tem fazendas q criam esses bichinhos q não são simpáticos c quem passa perto deles.RSrs Ri tbm do seu tênis(não imaginava ver um tênis naquele estado), ainda mais depois da propaganda que vc fez deles. São tantas coisas legais! A aula de história no final do relato tbm foi fantástico. Como conhecer um lugar e não ter essa curiosidade né! Obrigada por ter indicado o aventurebox, e gratidão tbm pela leitura. Que Deus lhe abençoe sempre.
Aline, bom dia. Muito obrigado pelo valioso comentário. De fato, me interesso pelo história dos lugares por onde passo. Felizmente não vi búfalos e o tênis ainda está comigo aqui para as corridas!!!
Oi Marcelo, excelente relato. Estava planejando fazer o caminho da Nhã Chica pela falta de informações sobre o caminho da luz, mas depois que assisti um documentário e li seu relato, me empolguei. Nas pousadas, você tem o contato para reservar com antecedencia ou acha que não tem necessidade? Para subir o Pico das Bandeiras, não é necessário então um guia? Pois no site, entendi que necessariamente teria que ter um guia para subir, que bom então. Parabéns pelo caminho e relato, ficou bem completo e interessante.