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Marcelo Baptista 26/03/2016 17:03
    Expedição Argentina: Buenos Aires (parte I) - Out/07

    Expedição Argentina: Buenos Aires (parte I) - Out/07

    Cap. VIII: De Córdoba a Buenos Aires de trem, uma viagem incrível. Os primeiros 4 dias na capital argentina, realmente um primor de cidade

    A viagem de trem

    Bom, eu nunca fiz uma viagem longa de trem, já que no Brasil a política pública desenvolvimentista acabou com a imensa malha que havia. Hoje só existem quatro ou cinco linhas que transportam passageiros em todo o país. Então, quando pintou essa possibilidade aqui, tratei logo de abraçá-la!

    Nesse trem (que por aqui se chama ferrocarril) existem quatro classes: Cabine, Pullman, Especial e Turística, indo da melhor para a pior nessa sequência; comprei a Turística, viagem com emoção... Quando cheguei à estação de Córdoba, uma multidão de gente se aglomerava: hippies, famílias, mochileiros, budistas (!), artistas de circo (!!): uma mistura fabulosa, rica e pandemônica.

    Deixei minha mochila para o empregado da ferrovia guardar, e subi com a mochilinha a tira colo. Os assentos eram fixos, mas não totalmente duros; e se não reclinavam, os assentos podiam ser empurrados para se ficar como de frente para o outro. Depois entendi o porquê...

    Partiu o trem! Apito forte, 16h25, e a partir desse momento, até o final da viagem, não parou de circular gente pelos vagoes, o que é perfeitamente compreensível se pensarmos que são quinze horas dentro de um trem: haja perna e bunda para aguentar ficar sentado. Minhas companheiras de assento são duas senhoras gordas, extremamente viciadas em mate ! Podia ser pior...

    Crianças, homens jogando truco (ou algo similar), as senhoras ao meu lado levantando a cada 10 minutos para pegar água quente para o mate. Eu só observava aquela fauna curiosa. Acabei conhecendo um brasileiro, se chama Albano, estudante de moda em Buenos Aires. Foram boas conversas, o cara é legal.

    Por mais que se esforce, não é fácil encontrar uma boa posição para ficar; realmente as pernas e a bunda são castigadas... No meio daquela movimentação toda, uma espécie de “ferromoço” empurrando um carrinho com sandubas de milanesa; comprei dois desses e uma gaseosa; a pressa desse sanduicheiro contrastou com a levada do trem naquele momento, um arrastar quase desesperador.

    Dormi um pouco, e lá pelas 22h, fui ao carro-restaurante: não havia mais comida! A fila estava grande, alguns esperando ainda que, por milagre, o jantar fosse ser servido. Acabei comendo uma torta de jamon y queso, e fui dormir. O trem fez uma parada em Rosário, por cerca de vinte minutos, uma parada técnica para a composição, e uma parada mais que necessária para os passageiros. O cansaço naquele momento realmente pegou. Saí da minha classe Turística e fui me alongar um pouco, tomar um café...quando retornei ao vagão, as senhoras gordas e viciadas em mate haviam rebatido o assento, deixando-o no sentido contrário do que viemos. Eu me perguntei o porquê daquilo, e a resposta veio com a partida do trem: seguimos agora no sentido contrário mesmo, mas até fazer um retorno, 4km à frente.

    Eram cerca de 1h da manhã. Dormi até uma 6h da manhã. O trem seguia, o aspecto das pessoas era de um cansaço evidente: eu estava moído. Levantei, andei, voltei a sentar...acho que já estava meio impaciente. Chegamos extremamente atrasados em Buenos Aires, por volta das 9h, na Estación Retiro: gigantesca, várias linhas de trem e metrô chegando ao mesmo tempo. Naquele horário os portenhos todos estavam agitados, seguindo na rotina diária de se locomover para o trabalho. Peguei minha mochila, ajeitei no corpo e fui ao metrô. Minha viagem foi bem bacana, apesar de estar em frangalhos fisicamente.

    Buenos Aires – 1º dia (22/10)

    Assim que saí da Estação Retiro, dei de cara com o metrô (aqui chamado de subter). Era a maneira mais rápida e segura de se chegar ao Centro. Tomei a linha C, até a Estação Lavalle; desci e fui caminhando até o Hostel Obelisco (Av. Corrientes), uma indicação dos gêmeos recifences que conheci em Mendoza. O hostel é muito bom na estrutura, mas o atendimento...uma arrogância e formalidade que não condizem com um hostel. Me informaram que eu só poderia fazer o check in às 14h, e eram só 10h!

    Saí pra andar um pouco. Passei em um posto de info turística onde a atendente Graziela, muito simpática, me passou dicas importantes; fui tomar um desayuno em uma cafeteria chamada La Gironda, do tipo bem antiga e tradicional: azulejo branco na parede, o garçom de gravata borboleta.

    Aliás, um dos garçons, um típico merda, atendeu com muita má vontade. Tudo bem, só queria um café com leite mesmo, não pedi um sorriso...

    Caminhei muito por Bue até as 14h. Andei quase a Av. 9 de Julio inteira, fui a San Telmo a pé, andei pela Av. Corrientes...a cidade é bonita de fato, avenidas largas, um convite a quem se regozija com andanças. Mas é barulhenta também, e com um povo de feições bem agradáveis. Voltei ao hostel, me alojei, uma ducha rápida, e saí de novo: dessa vez fui atrás de uma toalha, para substituir aquela que eu havia esquecido em Córdoba. Nem preciso dizer que não consegui. Uma cagada mesmo... Não achei a toalha, mas acabei vendo algumas ofertas boas para comprar de presente. Eu entrava e saía do hostel, definitivamente não gostei de lá. No pouco tempo que fiquei lá, conheci um padre mexicano muito louco, chamado Alfredo, mais Felipe e Ricardo, dois brasileiros. Em Buenos Aires é possível encontrar muitos brasileiros.

    Fui jantar uns pedaços de pizza. Voltei ao hostel, e terminei numa mesa com cerveja e bom papo com Alfredo (o padre mexicano), Ricardo e Felipe. Fui dormir decidido a mudar de hostel no dia seguinte, e já tenho lugar certo: San Telmo.

    Buenos Aires – 2º dia (23/10)

    Acordei instintivamente antes da 10h, para fazer de vez o check out: aquele hostel estava me incomodando. Formalizei minha saída, e acabei solicitando a um dos recepcionistas se poderia deixar minha mochila no depósito deles, e fui andar. Iria para o hostel em San Telmo só às 14h.

    Andei desta vez pelas calles Lavalle e Florida, esta última um verdadeiro formigueiro humano, onde todo mundo passa para comprar alguma coisa. Ali tudo é muito barato. O comércio bombando. Aproveitei assim para fazer as primeiras “aquisições”, presentes para a família, camisetas onde se lê “Buenos Aires”, essas coisas mais turísticas, mas que são interessantes para se dar de presente. Em nenhum momento me espantei com os preços, o câmbio está muito favorável.

    Quase 14h, voltei ao hostel Obelisco, dessa vez para partir, sem dor no coração; segui caminho para San Telmo, iria me hospedar no hostel Tango Inn, onde fui bem recebido. Deixei minha mochila e fui caminhar. Acabei indo para o lado bom de San Telmo; almocei muitíssimo bem em um restaurante chamado Desnível (calle Defensa), muito boa comida mesmo, por um preço justo. Depois andei pelas ruas de San Telmo, passei pela Plaza Dorrego, e todas as ruas simpáticas desse bairro, onde se vê antiquários, casais dançando tango, entre outras coisas. Gostei muito.

    De volta ao hostel, recebi a resposta por mail de Marie, uma francesa que conheci em Mendoza: me dizia que eu poderia ficar em sua casa, no bairro de Palermo Alto. E assim foi, acabei deixando o hostel sem nem ter ficado um só dia.

    Cheguei na casa de Marie e de seu colega de casa, Raffa, de táxi (outra das peculiaridades de Buenos Aires: táxi é uma maneira muito confortável e segura de se locomover por lá) por volta das 21h. Fui muito bem recebido por ambos, e logo saímos para uma praça um pouco distante, chamada Serrano, onde havia alguns barzinhos. O bar era bom, mas a conta saiu bem cara: $70 por uma pícaras (é uma espécie de porção de queijo e presunto, com azeitonas, uma tábua de queijos!), uma caipirinha (razoável) e uma tal de pantera rosa, um drink estranho...muito caro! Voltamos ao apê de táxi, o metrô pára as 23h aqui. A linha que tomamos é privatizada. Olhos atentos na linha 4 do nosso metrô...

    Buenos Aires – 3º dia (24/10)

    Logo cedo, Marie e Raffa saíram: Marie foi trabalhar, Raffa a faculdade. Acordei às 12h30, e fiquei preguiçoso até umas 14h, quando Raffa voltou. Não queria atrapalhar, e aproveitei para conhecer melhor o bairro de Palermo. Palermo é um bairro bonito, bem organizado, com bastante serviços disponíveis. É agradável caminhar por aqui. Comecei meu passeio pelo Parque Las Heras, que o pessoal aqui utiliza como “praia”: todos com roupa de banho, estirados no gramado...o dia estava lindo, céu azul. Fiquei um bom tempo ali, observando; passei em um super (supermercado) e comprei frutas, suco e água, praticamente um mini pic nic. Isso é bom em Bue: muitas praças, áreas verdes. Se vive bem.

    Segui a pé para o Jardín Japonês, parque no estilo oriental. É um lugar muito agradável, e com uma conservação que impressiona. Gostei bastante. Voltei caminhando, me perdendo propositalmente pelas ruas de Palermo: como é fácil e divertido andar por aqui. Voltei ao Parque Las Heras, deitei no gramado como a maioria, e fiquei lá até às 18h. Voltei ao apê da Marie, mas antes passei pela lavanderia para pegar umas roupas que havia deixado pela manhã: uma sacola grande de roupas, lavada e passada, por $10, algo como R$5...sem comentários!

    Serviço nota dez. Tivemos um jantar muito bem feito pela Marie, um musaká grego, acompanhado por um vinho frisante. Depois de um dia cansativo e bem aproveitado como esse, só tinha uma coisa a fazer mesmo: ir dormir.

    Buenos Aires – 4º dia (25/10)

    Levantei, arrumei a mochila parceira de trip, e voltei a San Telmo: senti que estava incomodando lá na casa da Marie. E já tá batendo uma saudade de casa; minha volta está marcada para o dia 29.

    Cheguei em um hostel chama Santelmo (Av. San Juan 818) por indicação de um espanhol que conheci em Mendoza. O clima é bem legal mesmo, é barato ($18), mas as instalações são bem ruinzinhas. Fiquei um baita tempão conversando com Nico, um uruguaio que também está no quarto: bem loco, maconheiro, ator, malabarista, enfim, um figura!

    Chove agora em Bue, e eu tenho de ficar por aqui, de bobeira. Isso me dá uma sensação estranha, era como um princípio de tristeza que não se pode identificar o motivo. Na primeira trégua que as nuvens deram, fugi prara a rua, para fugir desse sentimento também. Fui comer, e acabei achando um resto aberto, dá-lhe milanesa...Voltei com chuva para o hostel. À noite o céu se abriu, uma lua cheia iluminada veio dar a graça, e decidi passar a madrugada na rua. Fui em um bar da Plaza Dorrego, chamado El Balcón, onde uma banda muito boa tocava lá. Funk, soul jazz... acabei até comprando um CD dos caras. Tomei umas cervezas e comi alguma coisa, até que lá pela 1h30 voltei ao hostel, onde uma turma fazia uma algazarra dos diabos. Foi difícil dormir, mas acabei conseguindo...

    Marcelo Baptista
    Marcelo Baptista

    Publicado em 26/03/2016 17:03

    Realizada de 01/10/2007 até 29/10/2007

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