AventureBox
Crie sua conta Entrar Explorar Principal
Marcelo Baptista 19/11/2015 00:06
    Travessia do Paty - Chapada Diamantina (BA) - Set/11

    Travessia do Paty - Chapada Diamantina (BA) - Set/11

    Um dos trekkings mais incríveis do Brasil, realizado em 3 dias. Paisagens deslumbrantes, a generosidade das pessoas, a natureza. Chapada!

    Travessia do Vale do Paty – (1/10)

    Acordei cedo e fui tomar um café antes de pegar o mototáxi (R$12) até a localidade do Bomba, distante 6 km de Caeté-Açu. O tempo nublado me deixou apreensivo, mas me pus a andar em direção à subida que me levaria até a entrada dos Gerais dos Vieiras, onde subiria até o topo da serra, para seguir até o Vale do Paty. A caminhada seria de mais de 20 km.

    A subida do vilarejo do Bomba até o planalto ocorreu em meio a um denso nevoeiro. Encontrei uma bifurcação e mantive a direita. O vento e a cerração não davam trégua. De repente, tudo abriu e foi possível ver a Serra do Esbarrancado bem à minha direita. Cruzo o Rio Ancorado e sigo em frente entre subidas e descidas leves, e logo identifico um riacho e o Morro Manoel Vitor à minha esquerda. A idéia era subir à direita e encontrar a trilha para a subida do Quebra Bunda, mas acabei passando do ponto porque a trilha dá uma sumida em determinado momento. Conforme ia me distanciando da Serra do Esbarrancado (e da subida do Quebra Bunda) percebi que algo estava errado e voltei ao mesmo riacho que havia passado, onde farejei a trilha que levava para o alto da serra. Chegando lá em cima, uma visão espetacular do vale me fez dar uma parada e apreciar durante uns 15 minutos.

    Uma vez no alto da serra fui caminhando em um ritmo forte, entremeada com paradas para fotos e água. Imagens lindas do Morro Branco, Morro da Lapinha e Serra da Rampa (em frente), e da Serra do Roncador à esquerda (leste). Segui em frente até encontrar um muro de pedra. Ali sabia que deveria começar a descer pela rampa, fato confirmado por um casal carioca e o guia deles, vindos da comunidade de Guiné. Enquanto conversávamos, passou por nós uma nuvem de abelhas (!!), o que nos obrigou a ficarmos deitados no chão um tempo.

    Logo em seguida comecei a descida da rampa: bem íngreme, qualquer descuido ali e você só pára de rolar lá embaixo! Quando cheguei na parte de baixo, peguei o caminho da Igrejinha, lugar onde vive João Calixto, sozinho naquele vale imenso. Ficamos proseando um bom tempo, e falamos de muitas coisas; no fim acabei presenteando ele com um relógio de pulso Orient automático, que levei exatamente para esse fim mesmo. Fiquei feliz em ter conhecido João Calixto.

    Segui rumo até a casa do Sr. Wilson, local onde eu pousaria naquela noite. O Sr. Wilson e família são aquele tipo de gente generosa, que nos recebe de coração aberto e com uma prosa muito boa, a despeito dos R$60 cobrados pela cama, jantar e café da manhã. Preço mais que justo pela fartura de comida, doces, sucos e afins, que são servidos fresquinhos. Até suco de pitanga eu tomei, uma delícia!

    Nesta noite eu conheci um casal, Telma e Tiziano. Ela alagoana, ele um velho italiano. Gente boa, ficamos conversando bastante, até que a caminhada cobrou seu preço e o cansaço bateu. Eram 20h40, e poucas vezes na minha vida adulta (ou até mesmo quando criança) dormi a essa hora. Mas dormi feliz, saciado de corpo e alma. Amanhã sigo pelo Paty.

    Travessia do Paty – 2° dia – (2/10)

    Acordei cedo mais uma vez. Meus planos incluíam visitar a Cachoeira dos Funis, e depois seguir viagem, talvez até o Cachoeirão. Café da manhã, mais uma vez aquela fartura sertaneja: frutas, bolos, sucos. Inacreditável a quantidade de comida disponível! Comi bem, conversei mais um pouco com o casal ítalo-alagoano, arrumei as coisas e segui para a Cachoeira dos Funis. Me despedi do casal, que seguia de volta para Guiné, e comecei o caminho para a cachoeira. Em 20 minutos cheguei à base dela, meio seca. Tirei fotos e voltei.

    Preparei a mochila, paguei a estadia para o Sr. Wilson e segui caminho, descendo pelo vale do Paty. As formações rochosas são simplesmente lindas, e o rio mantem-se à sua esquerda, um pouco abaixo do nível da trilha. Passo pela “Prefeitura” (antigo prédio abandonado), parada rápida e continuo a pernada até encontrar de súbito a ponte sobre o Rio Paty. Cansado e suado, com todo direito e pompa parei para um banho e almoço. Eram 13h25. O sol brilhava forte, o Paty convidativo, fiquei ali um bom tempo. Afinal era cedo e eu não iria ver o Cachoeirão (está seca nesta época), restando ficar na casa de Dona Linda, a 100 metros da ponte. Após o merecido descanso, segui até a casa de Dona Linda, para descobrir que ela e a família tinham ido para Andaraí (BA) (hoje é domingo, dia da feira semanal).

    Resolvi seguir para a casa do Sr. Eduardo, no caminho para o Cachoeirão, quando cruzo com o Sr. Antonio, dono de uma casa também no caminho para a cachoeira gigante. Conversando com ele descobri que o Sr. Eduardo faleceu, e como o próprio Sr. Antonio acolhe viajantes também, resolvi ficar por ali mesmo. O preço é o mesmo do Sr. Wilson. A família dele me recebeu muito bem: Dona Dagmar (a esposa) e o filho do casal, Adauto. Um jantar simples, mas fenomenal: suco de limão cravo, arroz, ovos...até godó a Dona Dagmar preparou para mim. A hospitalidade do povo do Paty é espetacular.

    Amanhã sigo para Andaraí, trecho final da travessia.

    Travessia do Paty – 3° dia – (3/10)

    Acordei com o canto dos galos que o Sr. Antônio cria em seu quintal. Dormi bem à noite, só fiquei um pouco ressabiado quando senti o cheiro de madeira queimada em determinado momento, mas não era incêndio: era a Dona Dagmar acendendo o seu fogão a lenha.

    Por volta das 8h, depois de um café da manhã bem sertanejo, paguei a minha estadia junto àquela família simpática e acolhedora. A hospitalidade do povo da Chapada Diamantina é o seu verdadeiro patrimônio!

    Atravessei o rio Paty pulando de pedra em pedra, em um movimento que seria impossível de se fazer na época de chuvas, já que o Paty fica largo e "nervoso". Achei a trilha que me levaria até a Subida do Império, íngreme até se perder de vista, um ziguezague quase interminável. O calçamento é em estilo “pé-de-moleque”, o que caracteriza essa trilha como um antigo caminho oficial para se cruzar aquela região. Em determinado momento avisto uma casa muito bem construída no meio da mata ciliar do rio Paty. Fiquei sabendo depois que é a casa de um milionário alemão, que chegou por ali há alguns anos. O problema é que ali é área de parque nacional! Coisas do Brasil...

    A chegada ao topo da Subida do Império é coroada com uma imagem belíssima de todo o vale do Paty. Olhando por onde passei, me bateu certa melancolia. Foram dias realmente especiais por essas paisagens incríveis.

    Segui em frente, decidido a chegar a Andaraí na hora do almoço. A temperatura amena da manhã foi dando lugar a um calor insuportável com o passar das horas, e só me restava tentar me refrescar em algumas eventuais bicas d água que apareciam vez ou outra pela trilha. Nesta hora do dia é muito comum cruzar com calangos aquecendo seu corpo de sangue frio nas pedras quentes. Perdi a conta de quantos eu vi.

    Quando avistei Andaraí pela primeira vez, no alto da serra ainda, sabia que tinha acabado minha trip. Andei mais duas horas debaixo de um sol escaldante, com um sentimento misturado entre a satisfação de realizar uma travessia riquíssima, e a vontade de esticar mais esses dias em que passei por ali. Mas prevaleceu na verdade a sensação de dever cumprido.

    Nas cercanias de Andaraí avisto uma réplica do Cristo de braços abertos me dá as boas-vindas. Andaraí me pareceu uma cidade bem movimentada, em alguns momentos até muvucada em excesso. Chegando ao centro, encontrei uma feira bem ao estilo nordestino, com todo tipo de produtos, e um movimento quase idêntico a da rua 25 de Março, em São Paulo. Doideira!!

    Procurei informações sobre transporte de volta à Lençois, e teria que esperar cerca de uma hora até a chegada do bus que me levaria de volta ao meu ponto de partida, cinco dias atrás. Enquanto esperava o ônibus, já fazia planos para futuras incursões na Chapada Diamantina. Foi ali que me dei conta realmente do quanto aquele lugar marcou meu coração e minha alma. Em breve eu volto.

    Marcelo Baptista
    Marcelo Baptista

    Publicado em 19/11/2015 00:06

    Realizada de 01/10/2011 até 03/10/2011

    Visualizações

    3327

    2 Comentários
    Vanessa Rung 04/06/2017 16:01

    Maravilhosa essa travessia!

    Lula Ribeiro & Lucineth 07/07/2017 11:53

    ESSA CHAPADA DIAMANTINA É MARAVILHOSA. TODAS AS VEZES QUE VOU A MORRO DO CHAPÉU BA AI EM LENÇÓIS PORTAL DA CHAPADA É PARADA OBRIGATORIA

    Marcelo Baptista

    Marcelo Baptista

    São Paulo

    Rox
    909

    Montanhista, mochileiro, viajante, pai, conectado com as boas vibes do universo e com disposição ainda para descobrir os mistérios da vida.

    Mapa de Aventuras
    cantinhodogibson.blogspot.com.br/


    Mínimo Impacto
    Manifesto
    Rox

    Fabio Fliess, Peter Tofte e mais 442 pessoas apoiam o manifesto.