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Peter Tofte 27/03/2024 20:50
    Andanças pelo Chile 1 - PN Huerquehue

    Andanças pelo Chile 1 - PN Huerquehue

    Vinte e três dias no Chile. Aqui a primeira parada num belo canto da Patagônia chilena

    Montanhismo Acampamento Hiking

    "Alta sobre la tierra te pusieran,

    dura, hermosa araucaria de los australes montes,

    torre de Chile, punta del territorio verde, pabellón del invierno,

    nave de la fragrancia".

    Ode a la araucaria araucana.

    Pablo Neruda


    Fazia 7 anos que não visitava o Chile (ver relatos Lonquimay e Sierra Nevada). Adoro a Patagônia, um dos lugares mais incríveis do mundo para fazer trekking, pela variedade de cenários e pela beleza. E minha companheira tinha avô chileno mas não conhecia ainda a terra do seus ancestrais por parte de mãe. Assim a decisão de ir para o Chile ficou fácil. Esta seria minha oitava vez neste belo País (desde 1997).

    Depois de 2 dias em Santiago, onde compramos equipamento e comida que faltavam, pegamos um bus 22:30 para Pucón. Os ônibus no Chile são muito bons e confortáveis. Normalmente fabricados no Brasil mas infelizmente dificilmente vemos eles rodando na terra natal (as empresas brasileiras preferem ônibus mais baratos e tem preço de passagem proporcionalmente maior).

    A ideia seria começar por Pucón, na Araucania, e subir aos poucos de volta para Santiago, visitando os atrativos do caminho. Isto porque teríamos chances de tempo melhor. Afinal estávamos no final do verão/início de outono. Imitando as aves migratórias que fogem do frio e do inverno indo para o outro hemisfério.

    Chegamos cedo em Pucón, 8 horas. O dia começa frio e só clareia a partir de 7:30. Check in no hotel apenas 15 horas. Deixamos a bagagem lá e passeamos. Observamos diante da prefeitura (municipalidad) o aviso de alerta laranja, devido a atividade do vulcão Villarica (no vermelho o bicho pegou, é para correr). A cidade é bonita, cresceu bastante depois de 14 anos. Estive lá em 2010 para fazer a travessia do Villarica.

    Ficamos depois na beira do lago. Um salva vidas pulou na água gélida e nadou com desenvoltura.

    O lago Villarica é bonito e gelado.

    Depois do almoço voltamos ao hotel, finalmente entrando no quarto.

    Saímos para um último supermercado, por sinal ótimo para comprar víveres para trilha. Entre eles vinhos em embalagem tetrapack de 1 litro, para o acampamento. Impressionante como o vinho chileno, mesmo de marca barata, é bom!

    Acordamos cedo para pegar o microônibus de 8 horas que vai para o Parque Nacional Huerquehue (lugar de mensageiros na língua Mapuche) onde chegamos às 10 horas na portaria do parque. O guarda parque Gumercindo fez uma preleção das regras e dos atrativos para os turistas que desceram do ônibus.

    Mostramos nossas entradas e pagamos pelos dois dias no camping Conaf (20.000 pesos = 100 reais, para 2 pessoas, 2 dias). Armamos a barraca numa das áreas assinaladas, perto dos baños.

    Após arrumarmos as coisas saímos para fazer o circuito Los Lagos. Boa e puxada subida, com dois mirantes com vista para o belo e ativo vulcão Villarica.

    As lagunas, próximas entre si, são bonitas, cercadas por floresta predominantemente de coigues e araucárias.

    A primeira laguna a aparecer é a Chica.

    Em seguida a laguna El Toro.

    Por fim a laguna Verde, onde paramos para lanchar. Eu tomei um banho no lago. Depois do sofrimento inicial o banho é revigorante!

    Infelizmente a Conaf fechou a trilha de dois dias até o refúgio Rio Blanco, com um acampamento selvagem no caminho (Renahue), alegando o custo de manutenção e o mal comportamento de alguns usuários deste sendero. Era o que planejávamos fazer inicialmente (4 dias ida e volta). A única opção

    atual é ficar no camping Conaf e fazer day trips (6 a 8 horas).

    Na descida. Estes coigues não são os maiores.

    Bela floresta

    Retornamos pelo mesmo caminho até o camping Conaf. Apesar de escurecer somente as 20:30 queria chegar logo para garantir a ducha quente que tinha limitação de horário.

    Uma quebrada na descida para conhecer a cachoeira Nido de Aguila.

    Árvore com tronco curioso no caminho.

    Chegando no acampamento vi que o saco de lixo estava rasgado e revirado no chão. Havia deixado ele preso numa forquilha de galhos de uma árvore. E um sabonete que estava em cima da mesa tinha marcas de dentes. Um rato visitou nosso acampamento. As coisas devem ficar penduradas. Ratos podem subir em árvores, então tem que deixar pendurado num galho e não preso numa forquilha. Ficou a lição.

    Após o banho e o jantar, fomos tomar um vinho à beira do lago Tinquilco para ver o por-do-sol. Iluminado de laranja , o cerro San Sebastian, que subiríamos no dia seguinte.

    Na manhã seguinte pegamos a trilha para o cume do cerro San Sebastian. Começa empinada e entra numa mata linda de altos coigues para depois chegar numa crista com um pequeno pampa, logo se dirigindo para uma floresta de araucárias (elas gostam de uma altitude maior). Depois uma subida bem inclinada com uma camada de 3 a 5 cm de pó fino parecendo talco na trilha. O vento fazia subir a poeira deslocada pelas pessoas. Quem subia respirava o próprio pó que levantava. Fazia muito tempo que não chovia. Os galhos e raízes dos ñirres, arbustivos, serviam de apoio e corrimão neste trecho difícil. Alguns galhos estavam até lustrados de tanto as pessoas agarrarem neles. Parecia que tinham passado cera neles. Lúcia preferiu ficar me esperando. Não subiu este trecho.

    Finalmente a crista final, apenas com gramíneas e pedras e muito vento. No cumbre tirei algumas fotos e lanchei. Lúcia ficou um pouco abaixo. Quatro condores voavam perto do cume. Parecia que aproveitavam correntes ascendentes de ar.

    O Villarica e seu irmão maior, o Lanin, super visíveis ao Norte.

    Villarica

    Lanin ao fundo.

    O imponente Lanin (creio que é o maior vulcão da Patagônia, em altura. Para chegar ao cume são dois dias). O totem de pedra parece apontar para ele.

    Depois de breve lanche e fotos, desci para encontrar Lúcia. Na descida, na altura do pampa, como tínhamos pouca água, fiz uma derivação por uma trilha pouco usada, para chegar num córrego quase seco. Levou quase cinco minutos para encher uma garrafa de meio litro. Neste caminho vi dois carpinteiros (Campephilus magellanicus) macho e uma fêmea. São a 5ª maior espécie de pica-paus do mundo. O macho é bem vistoso, com a cabeça e o penacho vermelhos.

    Descemos a tempo do tão almejado banho quente.

    Novamente após a refeição fomos ver o crepúsculo a beira do lago, bebendo vinho, é claro.

    No canto inferior direito a silhueta da Lúcia, mirando o Tinquilco.

    Conforme a previsão, choveu durante a noite. Lucia ouviu o barulho do vento nas árvores e ficou assustada pois, durante a subida na mata hoje, viu altos coigues derrubados pela força do vento. Não era o caso, onde estávamos só havia árvores pequenas.

    A chuva forte revelou um defeito da tenda Mongar 2 da Nature Hike. Ela tem o teto muito telado e o bath tube fica apenas a cerca de 10 cm do chão, Nas extremidades da tenda, onde ficam a cabeça e os pés do usuário, a chuva respinga na terra, bate no telado e entra na barraca. A tela mosquiteiro não deveria chegar tão perto do chão. O ideal seria ter uma parte em tecido sólido, cerca de 1/3 da altura (como na barraca copiada, a Hubba Hubba da MSR). Mas paciência, o projeto desta tenda privilegiou a ventilação.

    De manhã desarmamos a tenda rapidamente, num intervalo sem chuva. Mas acabamos de arrumar as mochilas debaixo de chuva leve. Fomos para a portaria CONAF aguardar o microônibus para Pucón, que chegou pontualmente.

    Ficamos duas noites na cidade, esperando o tempo firmar, secando as coisas, comendo bem e comprando mais comida para a próxima etapa (Ver Andanças pelo Chile 2 - Santuário da vida selvagem El Cañi).

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 27/03/2024 20:50

    Realizada de 06/03/2024 até 07/03/2024

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    2 Comentários
    Jose Antonio Seng 28/03/2024 00:14

    Mais um incrível relato ! Vc devia dar um cursinho disso ! Ehehehe. Forte abraço ! (Final de maio estou de volta a Chapada. Desta vez vou de tarp)

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    Peter Tofte 28/03/2024 08:50

    Valeu! Me avisa para ver se posso ir junto. Daí a gente vai para lugar pouco explorado!

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    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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