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Peter Tofte 06/04/2024 13:33
    Andanças pelo Chile 4 - Vale das Águas Calientes

    Andanças pelo Chile 4 - Vale das Águas Calientes

    Trilha que foi um luxo só! Acampados junto a um rio de águas quentes com cascata, em Chillán. Delícia!

    Trekking Montanhismo Acampamento

    Após um pernoite em Chillán, vindo de Los Angeles (ver relato sobre o PN Laguna del Laja), pegamos um microônibus no terminal rural da cidade. Nosso destino seria Termas de Chillán de onde partiríamos numa trilha para um vale de águas termais. Não é área protegida pelo estado. Não é necessário pagar nenhuma taxa.

    Saimos 7:30 e percorremos a zona rural. Estudantes desembarcavam do ônibus para suas escolas naquela fria manhã. Passamos por Tranca, povoado no vale onde mais acima ficam as Termas. Chillán é famosa por seu centro de ski/termas. Muitos brasileiros vão para lá esquiar. Dava para notar que as cabañas e restaurantes tinham um padrão mais elevado, luxuoso até. Ski = $$$$$.

    No bus uma americana (Marilyn) puxou conversa. Era também trilheira e iria para o mesmo lugar. Comparamos a trilha que eu tinha no Wikiloc com aquela que possuia no app Gaia.

    O ônibus não chega exatamente nas termas. Para uns 20 minutos antes. O motorista advertiu que a previsão de tempo era de chuva/neve na segunda noite, depois da amanhã, aconselhando a voltarmos na manhã seguinte.

    Ajudei a descarregar as mochilas. Fiquei espantado com o peso da mochila da Marilyn. Devia ser o dobro da minha. Disse-me que tinha comprado suprimentos para muitos dias, daí o peso. Estranhei porque disse que iria passar apenas uma noite no vale. Ela poderia ressuprir em outro dia sem necessidade de carregar tanto peso. Outra coisa que me chamou a atenção é que a mochila dela era um modelo caro e levíssimo da Hyperlite Mountain Gear, feita de DCF. Justamente usada pelos que tem a filosofia UL (ultralight). Contradição.

    No começo da trilha, no estacionamento das termas, ela se despediu de nós, que fazíamos os ultimos ajustes. Notei também os finos bastões de carbono, confirmando que era adapta do UL (exceto pelo peso que carregava).

    Após a arrumação, partimos. A trilha bem inclinada começa por um belo bosque de coigues. Caminho muito empoirado, também não chovia ali fazia tempo.

    Subindo. Termas de Chillan ao fundo.

    Quando deixamos o bosque, vimos fumarolas de vapor. Fizemos um pequeno desvio para ver as termas de Olla Mote. Senti o cheiro típico de enxofre. Uma serie de canos flexíveis conduzia água quente para as termas/hotéis lá embaixo, cujos prédios eram visíveis.

    Tirei uma foto de Lúcia com o fundo de vapor fumegante. Uma diaba! Soltando vapor e cheirando a enxofre! Onde fui amarrar meu jegue! kkkkkk.

    Minutos depois chegamos num colo que permitia a visão de um pequeno vale. O Wikiloc indicava duas possibilidade de trilha, a esquerda pela encosta da montanha. E direto, descia ao vale para logo subir para outro colo, na cadeia de montanha que cercava o lado oposto do vale.

    Preferi descer. Vi pela pegada da Marilyn que ela também optou por este caminho.

    Assim descemos para outro ponto onde havia fumarolas. Trilha tão batida que não me dava ao trabalho de consultar o Wikiloc. Mas estranhei que seguia para direção oposta, para a direita. E não via mais a pegada da americana.

    Consultei o app e constatei o desvio. Voltamos. Nas fumarolas a trilha seguia para outro lado, para a esquerda, começo meio escondido pelos arbustos. Assim a trilha mais batida não é necessariamente aquela que queremos.

    Subida por trilha pedregosa em meio a arbustos de ñirres até que ficamos acima da linha das árvores, apenas pedras e arbustos. Numa parada para lanche vi que a americana já estava no paso, ao lado de um gendarme que marca o portezuelo. Retada! Com aquele peso todo tomou uma boa dianteira.

    Subindo em direção ao colo.

    Seguimos e com mais uma hora chegamos no mesmo paso, a 2.422 metros.

    Chegando no paso. Apesar de estarmos justamente no final do verão ainda havia manchas de neve.

    Lá de cima, ao Sul, vi o vulcão Antuco e a Sierra Velluda, onde fizemos a trilha anterior.

    No outro lado do paso a vista para o vulcão Chillán Viejo a nossa esquerda.

    Boa descida de uma hora em zig-zag para o vale das águas quentes, onde víamos vários riachos confluindo para um único rio.

    Encontramos duas chilenas que subiam, voltando do vale. Meninas simpáticas. Conversa rápida mas muito valiosa. Avisaram que só o primeiro riacho a cruzar no vale, de água fria, tinha água boa para beber. Os demais, termais, a água causa desarranjo (muito carregada de minerais). Muito brasileiro já teve piripaque porque bebeu a água errada.

    Ao chegar no fundo do vale, a cerca de 2.100 m, depois de atravessar o riacho, tratei de encher todos os recipientes de água.

    Fomos para o riacho indicado por ela como tendo água na temperatura ideal e com lugar para acampar.

    Lá encontramos Raul e Cristian num gramado, eles desarmavam acampamento. Eram de Parral (60 km norte de Chillán). Umas figuras, super alegres e bem humorados.

    Eu e Lúcia decidimos subir um pouco mais a margem do rio onde descobrimos um lugar sensacional, plano, entre pedras (que oferece abrigo para o vento) e juntinho de um poção com cascata. Rapidamente armamos a barraca. Doidos para cair naquela água. Desci para a piscina com vinho e comida.

    Pense numa água sensacional. Na temperatura exata, nem fria nem muito quente. Devia estar a 40°C. Delícia. Uma cascata caia no poço, pouco acima. Era o paraíso. Mergulhamos. Bebemos vinho e comemos sanduíches sentados, com água a altura do peito. Um pão árabe integral com tahine e jamón (afinal não eramos mulçulmanos, podíamos comer porco).

    De fendas nas paredes de rocha saia água fervendo. Notei, olhando rio acima, que a água brotava de uma encosta. Provavelmente a água do degelo (fria) engrunava e encontrava magma/rochas quentes em algum ponto do subterrâneo e voltava assim quente para a superfície.

    Fui até a cascata tomar uma ducha quente.

    Coragem foi sair de lá, se secar, vestir a roupa e voltar ao acampamento.

    Jantamos vendo o pôr do sol.

    O Chillán Viejo iluminado pelos últimos raios de sol.

    Zoom

    A noite foi surpreendentemente "quente", 13ºC, isto para quem estava a 2.100 m! Acho que a proximidade tenda-piscina termal criou um microclima.

    Decidimos voltar no dia seguinte. Não queríamos pegar neve na noite seguinte porque não tinhamos tenda (3 estações, hiperventilada) e saco de dormir para tanto. Eu até gostaria, mas voltar com neve e lama não seria muito tranquilo. No alto do paso há um pequeno trecho com mais exposição. Uma homenagem no local, a um montanhista morto, significava alguma coisa... Além disto tínhamos outro parque nacional para visitar.

    Não vimos a Marilyn. Conforme havia dito, ela foi mais para o fundo do vale.

    Dia seguinte, partimos por volta de 10 horas da manhã.

    Subida tranquila. A volta é bem mais fácil porque saimos do vale, de 2.100 para 2.400 m no paso. Das termas de Chillan até o paso (dia anterior) saimos de 1.700 para 2.400 m.

    Deixando o vale.

    Na volta, descida do paso, optamos pelo outro caminho. Achei muito melhor, mais nivelado, praticamente seguia uma curva de nível só descendo no 2° paso.

    Chegamos no estacionamento por volta de 14:30-15:00. Baixamos até um hotel de luxo (fechado porque era baixa temporada). Tentei pegar carona a beira da estrada. Os raros carros que desciam passavam direto. Lúcia cavou uma carona entre os funcionários do hotel, para Tranca, na van que levava os poucos funcionários que estavam numa reunião.

    Chegamos a tempo de pegar o busão das 17 horas. Ele não vai diariamente, em todos os horários, para as termas, apenas se há passageiros. O motorista diz que não compensa subir devido ao gasto com combustível (embora a linha diga que vai até lá). Até Trancas com certeza ele vai. Mas o motorista tagarela ficou feliz porque ouvimos o conselho dele de não ficar mais uma noite.

    Relato dedicado ao Mochilão Sabático, que publicou um relato no site deles falando deste delicioso destino, o que me deu a ideia de visitar o lugar! E, coincidência, alguns dias depois encontrei eles no vôo de volta para o Brasil (passaram 70 dias em Ushuaia).

    https://mochilaosabatico.com/2017/10/24/chillan-valle-de-aguas-calientes/

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 06/04/2024 13:33

    Realizada em 01/04/2024

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    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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