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Peter Tofte 08/11/2016 17:31
    Boca da Onça - O Cânion do Guariba e o Pati Esquecido

    Boca da Onça - O Cânion do Guariba e o Pati Esquecido

    Trekking de 3 dias por uma das regiões mais selvagens do Parque Nacional da Chapada Diamantina/BA.

    Trekking

    BOCA DA ONÇA – O CÂNION DO GUARIBA E O PATI ESQUECIDO

    Vista do Pati de baixo, na foz do rio Guariba, com uma silibrina.

    O Vale do Pati, na Chapada Diamantina, é um dos melhores trekkings do Brasil, não só pelo cenário fabuloso como pela diversidade: cânions, caverna, rios, cachoeiras e matas numa área bem preservada. Mas a grande maioria das pessoas conhece apenas o Pati de cima, entre a Ruinha e a Ladeira do Império, de onde saem para Andaraí (se o sentido do trekking for Capão – Andaraí).

    Entretanto o Pati de baixo, entre a casa do seu Joia (defronte da Ladeira do Império) e o encontro do rio Pati com o rio Paraguaçu, é muito pouco percorrido. O principal motivo é a ausência de trilha na maior parte do percurso ou trilhas precárias, o que obriga caminharmos pelo acidentado leito do rio quase todo o tempo. No final do Pati ou subimos a rampa do Caim rumo ao vilarejo de Igatu ou seguimos para a esquerda, descendo o rio Paraguaçu, rumo a Andaraí.

    O caminho pelo Paraguaçu até Andaraí também é pouco percorrido pelos trekkers, pela mesma razão: pouca trilha, obrigando a escalaminhar rochedos enormes pelo leito do rio. Há trilhas que contornam os maiores obstáculos, mas não são sinalizadas. Apenas garimpeiros e alguns nativos conhecem onde começam estas trilhas.

    O rio Guariba é um tributário do Pati de baixo na sua margem direita verdadeira. Transita por um cânion estreito, pouquíssimo explorado, área de mata intocada e conhecida pelos avistamentos de onça e dos seus rastros. O interior do cânion é de acesso difícil porque não tem trilha e pelo fato de ter trechos que apenas se passa nadando. E há cachoeiras de transposição trabalhosa, se não impossível se chover muito.

    Parte do Grupo do Bushcraft Bahia, eu, Lucas Andrade (Planeta Outdoor), Eduardo Borges (Duda), Ismarlei Alves e Ernani Gonçalves (Pena Boa) fez o roteiro Andaraí- casa do seu Joia – Cânion do Guariba – Paraguaçu – Andaraí, em três dias.

    Voltamos quebrados, com dores musculares e nas articulações, contusões e arranhões, de tanto sobe-e-desce nas pedras e vara mato. Exaustos, mas maravilhados com o que vimos.

    DIA 05/08: Andaraí – Toca do Guariba

    Guariba – um dos maiores macacos da zona

    tropical, também conhecido por bugio ou

    barbudo. Tem uma vocalização bem poderosa.

    O alarme do relógio tocou as 3:30 da manhã, na Pousada do Éden, me deixando irritado. Levantamos após uma curta noite de sono (dormimos na véspera por volta de 23 horas). No dia anterior partimos de Salvador para Andaraí no começo da tarde. Praguejei contra o Lucas, o mentor da ideia de acordar tão cedo (e também o organizador desta aventura).

    Noite fria, quase sem lua. Partimos 4:20 e seguimos pelas ruas vazias de Andaraí até o ponto em que iniciava a trilha. Ligamos as headlamp e começamos a subida da Serra do Ramalho. Caminho bem marcado e Duda mostrava a opção certa sempre que havia bifurcação. Nos atalhos por vezes ficamos em dúvida, mas o instinto ajudou (posteriormente, já de volta a Salvador, na resenha da aventura, observamos no plot do GPS do caminho percorrido no Google Maps que os atalhos economizaram muito os nossos pés).

    Com pouco tempo avistamos uma linda raposa, que permaneceu nos observando encadeada pela luz. Um pouco para o lado os olhos de um filhote de urutau, agachado na rocha. Provavelmente salvamos este filhote, porque a raposa devia tê-lo farejado e estava procurando por ele.

    Ficamos alegres e deixei de xingar o Lucas. Não é que foi boa a ideia de partir de madrugada? A subida da Serra do Ramalho durante o dia é penosa porque fica muito quente.

    Assistimos o alvorecer. O sol surgiu fraco entre nuvens lançando raios sobre o Pantanal dos Marimbus. Vimos nuvens de chuva no horizonte, a Leste. Aproveitamos para comer algo a título de café da manhã enquanto apreciávamos a bonita vista.

    Chegamos no topo da Serra, logo antes da descida da Ladeira do Império, pouco antes das 9 horas, num local chamado de Arrochador, ponto onde os tropeiros aproveitavam para arrochar as barrigueiras, prendendo firmemente as cargas das mulas antes de iniciar a descida.

    Fomos ao mirante para tirar fotos, de onde avistamos bem abaixo a casa do seu Joia, nosso destino imediato. Ao Sul tentávamos distinguir o vale do Paraguaçu, destino dali a dois dias. Ao norte o imponente Morro do Castelo, separando o vale do Pati do vale do Calixto. Dava para avistar claramente a entrada do Cânion do Guariba, ao Sul, na parede oposta do vale do Pati.

    -->Peter, Duda, Lucas e Ernani - no mirante da Ladeira do Império.

    -->Lucas, Ernani, Duda e Ismarlei - no mirante superior da Ladeira do Império.

    Descendo a Ladeira do Império. O Morro do Castelo está no meio, ao fundo, isolado.

    Após uma hora descendo, chegamos na bifurcação para a casa do Joia, onde a descida ficou mais abrupta. Cruzamos uma ponte de troncos em zig-zag e na outra margem do Pati subimos para a Casa do Joia.

    Fomos recebidos por sua esposa, Dona Léu e seu filho, Alexandre, que nos serviram um bule do excelente café do Pati e comemos uns alfajores artesanais (produção própria). O Alexandre nos ofereceu dois cachos de banana.

    Além disto, o Alexandre deu dicas importantes para acharmos a trilha costeando o Paraguaçu. Naturalmente a conversa descambou para onça. D. Léu disse para mantermos a fogueira acessa a noite toda na toca do Guariba. Seu Joia chegou montado numa mula pouco depois. Falou para observamos se havia rastro de onça. Se ela passa num sentido, pouco depois volta no sentido contrário.

    Ernani entre D. Léu e seu Joia.

    Partimos por volta de meio-dia. Há uma trilha descendo o Pati entre a casa do seu Joia e o desfiladeiro do Guariba, pela margem direita verdadeira do rio. Trilha deliciosa, bem marcada. Entre as árvores observávamos o rio Pati e os paredões do vale.

    Paredões do Pati

    Rio Pati

    Após uma hora e meia chegamos na toca do Guariba, toca ampla, onde cabem duas ou três barracas. Notamos que na matinha em frente da toca havia um descampado onde cabiam mais três/quatro barracas.

    Lucas e Duda chegando na toca.

    Como chegamos em torno de 14 horas, decidimos armar acampamento e apenas explorar os arredores sem subir o Guariba. Todos cansados. Dormimos muito pouco na noite anterior.

    Vista da toca para o rio Guariba.

    Apenas Duda armou a tenda, e somente a parte interna (sem sobreteto) porque estava debaixo da laje da toca. Os demais não trouxeram barraca e bivacaram.

    O lugar é lindo. A desembocadura do Guariba no Pati é um pórtico de pedra monumental, como que marcando um lugar sagrado. A toca do Guariba fica no paredão do lado direito, se olhamos para o interior do cânion a partir do Pati. Dentro do desfiladeiro divisamos mata e mais mata primária, sem sinais de desmatamento.

    O pórtico do Guariba, olhando para o lado do Pati.

    Banho no rio Guariba. Água fria. Ao fundo o começo do cânion do Guariba.

    Fizemos a almojanta. Teve charque, linguiça, banana da terra, cebola assada e muita conversa. O Ismarley era nosso provedor magarefe mor. Tudo de primeira.

    Durante a maior parte do dia o tempo esteve nublado, com uma silibrina (leve chuvisco na linguagem nativa).

    De noite dormimos cedo, três alinhados lado a lado e eu ao lado da barraca do Duda. Teve gente com medinho de aranha, que quis ficar deitado no meio de dois para não ter problema com os insetos... Curioso observar que cada um de nos tinha seu medo (medo de arranha, de queda, de altura, de afogar-se, de ficar sozinho na trilha...) e sua coragem. O companheiro com medo de aranha era intrépido em subir rochas e escalar pedras. Em todo caso, em grupo fica mais fácil enfrentar os temores.

    Deixei uma vela UCO e uma sentinela acesos. A vela durou quase a noite toda (isto porque já estava parcialmente gasta). A luz era suficiente para guiar alguém numa saída para micção noturna e avisar aos bichos que ali havia gente.

    DIA 06/08: Explorando o Cânion do Guariba

    Acordamos 6 da manhã. Noite tranquila, mas choveu. Chuva forte em alguns momentos, ficava mais fraca depois, mas foi continua (a noite toda). Eu não dormi muito porque tomei café pela tarde do dia anterior e isto afetou meu sono. Apenas Ernani reportou que sentiu algo passando por cima de seu saco de dormir, na altura das pernas. Provavelmente um pequeno rato rabudo.

    Café da manhã com chapati muito bom, feito pelo mestre cozinheiro Lucas.

    Partimos pouco antes das 8 horas. Apenas uma mochila de ataque do Ismarley levava a comida de trilha para todos. A ideia era voltar no mesmo dia para a Toca do Guariba. Avançar o máximo possível no cânion, tentando chegar ao seu fundo.

    O rio subiu bem durante a noite devido as chuvas. Logo para contornar o pórtico de pedra e adentrar no desfiladeiro tivemos que molhar os pés (coisa que no dia anterior não acontecia).

    Bastou andar 10 minutos pela margem pedregosa para necessitarmos subir em uma rocha. Ao subir o meu pé de apoio escorregou numa pedra molhada e eu tchibum no rio. Menos mal que logo em seguida teríamos de nadar.

    Pouco adiante o cânion estreitava com o rio tomando toda a sua largura. As paredes não tinham uma margem que permitisse andar. Caímos na água e começamos a nadar. Pouco adiante, encostados na parede oposta, um lajeado submerso permitia andar com água pela cintura.

    O desfiladeiro é espetacular. Estreito, subia 50 a 70 metros, e algumas rochas no topo avançavam no ar ficando em balanço. Algumas árvores cresciam na beirada, formando um teto de copas de árvores sombreando o rio lá embaixo, por onde passávamos. Este trecho encanhonado tinha cerca de 100 a 150 metros e terminava numa pequena corredeira que superamos sem muita dificuldade.

    Todos usávamos bota com exceção do Duda, com uma Crocs. Fazia tempo que desencanamos de manter a bota seca. Teríamos de tirar e recolocar o calçado a toda hora, além de obrigar-nos a nadar segurando as botas com uma das mãos. Assim decidimos vadear o rio calçando sempre a bota encharcada. O maior risco era de escorregar e cair sobre as pedras, bem lisas devido a chuva.

    Mais adiante uma cachoeira caudalosa. Uma pedra grande, intransponível, dividia a queda d'água em duas. Tivemos que seguir pela direita, por baixo de uma lapa na rocha e subir agachados por uma fenda por onde escorria água.

    Onde podíamos, seguímos pela margem. Raízes, pedras, cipós e vegetação impediam um avanço rápido. Volta e meia regressávamos para o leito do rio e colocávamos o pé na água.

    Minha máquina Nikon Coolpix deu pau. A especificação dela diz que pode ser submergida até 10 metros de profundidade! Mas havia umidade dentro da lente e do display. Por isso não tirei poucas fotos dentro do Guariba. Os companheiros também não tiraram muitas fotos. Para não perder tempo e a máquina fotográfica.

    Outra cachoeira apareceu, com um poção bonito e grande. Desta vez dava para contornar subindo pela margem esquerda verdadeira. O pula e trepa pedras era constante, cansativo e demorado.

    Paramos por 40 minutos para lanchar numa laje de onde caia um córrego lateral, depois de quase 3 horas da saída da toca. Este córrego forma também um cânion, menor, que vem do Norte, só que em posição mais elevada em relação ao leito do rio Guariba.

    Parada para lanche. Início do cânion lateral do Guariba

    Como o tempo não tinha firmado e volta e meia chuviscava, decidimos voltar. Não só pelo cansaço. A decisão foi mais motivada pelo risco do rio subir e encurralar a gente. A cabeceira do Guariba estava longe, bem mais acima na Serra do Cotinguiba. Poderia estar chovendo forte lá.

    Decidimos ganhar tempo descendo parte do trajeto no próprio rio, fazendo o que Lucas chamou de Body Rafting. Deixávamo-nos levar pela correnteza em trechos mais tranquilos. Mas tínhamos o cuidado de flutuar com os pés na frente. Só Duda estava de capacete...(ele é careca). Mesmo assim o rio com água cor de Coca Cola (típico da Chapada) escondia pedras submersas mais rasas e umas pancadas doloridas foram inevitáveis. Mas a adrenalina foi muito divertida. Regressamos a toca do Guariba meia hora mais rápidos que no sentido inverso. Voltamos a ser crianças nesta brincadeira. Ficamos quase 6 horas dentro do cânion.

    --> Lucas, Ernani e Ismarlei. Bem ao fundo, adiantado na descida do rio, Duda acenando.

    Na toca preparamos a janta. Até carne de fumeiro teve.

    Outra noite tranquila, mas tive de usar o protetor auricular porque dois abnegados membros da equipe roncavam alto, fazendo um esforço para espantar a onça. Nesta noite não houve chuva e não fez frio.

    DIA 07/08: Regresso para Andaraí

    Acordamos cedo, 6 horas, pouco depois do sol raiar. O dia seria muito puxado. Descer o Pati até o final e depois pegar o Paraguaçu para voltar para Andaraí.

    Um dos companheiros, devido ao joelho dolorido de tanto vadear pelo leito do Guariba no dia anterior, pensou em voltar para a casa do Joia e dali para Andaraí. Mas desistiu, não só pelo espírito de aventura como (e principalmente) pelo receio de voltar sozinho e topar com uma onça. Iria conosco. Ele não se arrependeu da decisão.

    Saímos pouco antes das 8 horas. Atravessamos o Guariba na sua foz e, pouco depois, o Pati, passando para sua margem esquerda verdadeira. Como não choveu na noite anterior o rio baixou bem. Ainda assim o Pati merecia respeito.

    Seguimos de pedra em pedra. Em poucas ocasiões encontrávamos uma trilha lateral que subia pelas margens do rio. Isto normalmente acontecia quando uma grande rochedo impedia a passagem nas margens do rio.

    Duda se revelou um grande descobridor de trilhas. Elas começam meio escondidas pela vegetação e é preciso um certo olhar experiente para percebê-las.

    Nosso mestre mateiro, o Ernani Pena Boa, mostrava os rastros e dizia a que animal pertencia, o que provavelmente estava fazendo, além dos seus hábitos.

    Em determinado momento ele sentiu um cheiro diferente mas ficou calado. Apenas no final da viagem ele nos contou: aquele cheiro era típico de onça (cheiro de cabaça madura). Possivelmente uma onça havia passado a pouco. Talvez estivesse inclusive observando nossa passagem.

    Em uma pausa para beber água avistamos uma jiboia branca adormecida em cima de uma pedra na margem do rio. A barriga demonstrava que ela estava digerindo algo que havia capturado. Lucas, com o bastão de selfie, filmou a cobra, quase alisando-a.

    As paisagens no Pati de baixo são espetaculares. Existem pontos em que o rio forma poções bons para banho. Não havia ninguém além de nos e dos bichos. Pouco sinal de passagem de pessoas. Creio que apenas uma ou duas agências de trekking fazem este roteiro.

    Num belo trecho havia uma prainha com um pequeno capinzal. Comentei com Ernani que ali era uma boa pastagem para veado. Dito e certo. Logo em seguida ele encontrou pegadas claras do animal na areia.

    Um grande, alto e lindíssimo paredão de pedra marca um ponto que o rio faz uma curva para a direita. Temos que andar por prateleiras de rocha, as vezes agarrados na parede, mas tudo muito fácil, exceto para quem tem perna curta.

    Encontramos também o camarote, ponto elevado do rio, numa lapa de pedra, onde poderia dormir um grupo. O Lucas e o Alberto Alpire, que ali estiveram 2 anos antes, batizaram assim o local. E fica justamente acima de um poção excelente para banho.

    Paramos para almoçar cerca de 12:30, quase no encontro do Pati com o Paraguaçu. Estávamos já cansados, precisando repor a energia.

    Decidimos fazer um grande sopão no meu fogareiro a álcool. Depois fritamos uma linguiça com pedaços de bacon. Como bebida, Tang, como sobremesa, chocolate. Nestas horas ninguém pensa em dieta.

    Trecho final do Pati, antes de desembocar no Paraguaçu.

    Quase uma hora parados, almoçando. Seguimos e pouco depois chegamos no Paraguaçu. Encontramos garimpeiros fazendo a lavra do diamante. Deram a dica de como seguir descendo o Paraguaçu.

    Passamos diante da toca que ocupavam. O pessoal fica uma semana garimpando naquela área, de cada vez. Eles ficaram ressabiados com nossa presença.

    Um rapaz chamado Jessé estava passeando por lá e tirou fotos do grupo a nosso pedido.

    Seguimos pela margem esquerda verdadeira do Paraguaçu, procurando o início da trilha, marcado por um pano. A trilha iniciava por cima de rochas e tínhamos que observar o caminho lógico, o desgaste das pedras e pegadas em pontos com areia.

    Jessé estava voltando para Andaraí e nos alcançou pouco depois. Ele mostrou o ponto em que uma trilha super escondida iniciava a subida se afastando das margens do rio. Após algum tempo descemos outra vez para as margens do rio. Mas pouco depois voltamos a subir e andamos muito pelas laterais do cânion, observando as belas vistas do Paraguaçu lá em baixo, mas ao mesmo tempo imaginando quão difícil e demorado seria se fossemos pelas margens do rio.

    Passamos por duas tocas de garimpeiro, ao lado da trilha, da época do auge do garimpo. Uma delas tinha quarto e cozinha.

    Chegamos na Donana (pequeno açude logo antes da ponte sobre o Paraguaçu) ao escurecer. Muito provavelmente, sem a ajuda do Jessé, levaríamos 2-3 horas a mais pelas margens do rio, e teríamos de caminhar no escuro.

    Comemoramos e tiramos as tradicionais fotos finais do grupo

    O Jessé não queria aceitar um dinheirinho que queríamos dar-lhe como agradecimento. Precisamos insistir muito. Santo Jessé! Sem a ajuda dele teríamos concluído o percurso com muito mais dificuldade.

    O Ernani conseguiu uma carona e foi buscar o carro em Andaraí, distante 3 km da Toca do Morcego. Quando fomos resgatados seguimos direto para um restaurante.

    Voltamos para Salvador no dia seguinte, acordando as 3 da manhã. Estávamos muito cansados para voltar na mesma noite.

    Agradecimentos e recomendações

    Há algum tempo pensei em fazer este roteiro (Pati de baixo), mas sozinho é meio arriscado. Além do risco de queda e fratura (dificilmente vai passar alguém para socorrer, como no Pati de cima), existe a possibilidade de topar com um felino/cobras. O ideal é fazer em grupo ou com um guia experiente. O grupo me deu a oportunidade de conhecer esta linda área.

    Região linda, selvagem. Por isto o cuidado com a natureza deve ser redobrado. Leave no trace. Não deixe lixo e cuidado no acampamento, para não alterar o entorno.

    Pretendemos voltar para explorar mais o vale do Guariba, indo ate o final. O ideal é acampar uma noite lá dentro porque acho bem difícil fazer um bate e volta estabelecendo um campo base na toca do Guariba. O terreno é difícil e a progressão é lenta pelo leito do rio.

    Deve-se fazer isto na época de seca na Chapada. No verão é bem arriscado porque o rio sobe bastante com chuvas intensas. O risco de ficar preso no cânion é grande.

    Uma vantagem é ter a casa do seu Joia não distante (1,5 horas da toca do Guariba). Em caso de emergência ele dispõe de mulas e uma evacuação para Andaraí fica viável. Também oferece pouso e janta. Quem chegar mais tarde no Pati pode pousar lá uma noite antes de seguir rumo sul.O contato pode ser feito pelos tel. (75) 8204-5904 / 8128-8482 / 3335-2183 ou pereiramaxpati@gmail.com.

    Agradeço ao Lucas, líder da expedição, veterano da Chapada, que puxou a ideia e organizou a trip. Ele visitou a região dois anos antes. Também agradeço ao Ernani, Ismarley e Duda, excelentes trilheiros e companhia divertida, compartilhando conhecimentos comigo. Infelizmente não contamos com a presença do Alberto Alpire, fundador do Bushcraft Bahia, núcleo de onde partem estas iniciativas. Ele também conhece o Guariba mas não pode ir, por compromissos de trabalho.

    O cânion do Guariba e o Pati de baixo são locais maravilhosos, sem aquela movimentação toda de gente no Pati de cima. Espero que o terreno difícil e a ausência de trilhas mantenha a região pouco frequentada, especialmente por pessoas que não sabem curtir a natureza sem sujar e agredi-la.

    O Pati de cima é para turistas. O Pati de baixo é aventura para trekkers experientes ou acompanhados por um bom guia e apoio.

    A beleza deste lugar selvagem ficará para sempre na memória de quem visitá-lo.

    09/09/2016: acrescentei um video, feito pelo Lucas Andrade, Guariba parte 8, mostrando a volta descendo o rio Guariba.

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Published on 08/11/2016 17:31

    Performed from 08/05/2016 to 08/07/2016

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    6 Comments
    Ernani 08/11/2016 19:00

    Mestre Peter... Foi uma honra enorme, fazer trilha com o Senhor,Duda, Lucas e Ismarley.

    Alberto 08/12/2016 10:01

    Como sempre mais um excelente relato de Peter. Suas aventuras ja conseguem completar um livro com varios volumes. Abraco!

    Peter Tofte 08/12/2016 10:02

    Ernani, a honra foi minha em ter saído com vcs! Torcendo para não demorar muito a próxima trilha!

    Peter Tofte 08/12/2016 10:05

    Edver, a onça não se aproxima muito de lugar com gente e cheiro de fumaça. Mas no trecho do rio não vimos nenhuma árvore de cabaça (pode ser que simplesmente não tenhamos visualizado a árvore) e o cheiro de cabaça madura é igual ao da onça. Em todo caso não vimos rastros dela.

    Peter Tofte 08/12/2016 10:08

    Beto, se eu escrever um livro conto com vc para ao menos ter um leitor! Kkkkkk

    Denis Paulo Costa Reis 08/23/2016 08:36

    Caraca broder, que relato top. Parabéns pela trip!!! Fiquei instigado pra fazer o Pati de baixo. Vamo ver ai Duda, na próxima me chame!!!

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    Peter Tofte

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    Salvador, Bahia

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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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