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Peter Tofte 25/04/2020 10:28
    Canapú - o peixe que estoura.

    Canapú - o peixe que estoura.

    Mergulho num empedrado a 48 metros onde encontramos o senhor das pedras, tb conhecido como Canapú, peixe que estoura. Com László Mócsari.

    Mergulho

    "A melhor maneira de observar um peixe é se tornar um."

    Jacques Costeau

    No final de semana anterior perdemos a âncora da lancha Blue num empedrado. Na ocasião notamos quando o cabo abruptamente folgou enquanto o guincho puxava a âncora para bordo. Ao içar, as pedras devem ter cortado o cabo. Decidimos que iríamos voltar ao mesmo lugar para recuperá-la, pois a âncora era uma fateixa de aço inox, algo que não é barato.

    Assim fizemos. Saímos de Salvador no sábado seguinte, pouco depois das 8 horas.

    Depois de 40 minutos de navegação chegamos no ponto. Ao descer, não levamos nem um minuto para encontrar a âncora perdida no fundo. Precisão do GPS e habilidade do comandante!

    Prendemos a âncora ao cabo e resolvemos fazer um passeio no empedrado antes de subir. Muita coisa bonita ali. As pedras formam colunas, arcos, corredores, a 48 metros de profundidade. Prendi a ponta do cabo da carretilha na âncora e começamos o passeio soltando o cabo da carretilha. Sem o cabo guia é fácil se perder no labirinto de pedras.

    Já quase aos 50 minutos de fundo László me aponta um cardume de xaréus que passava acima de nós. Quase no mesmo momento me apareceu um enorme mero entre as pedras. Avisei imediatamente ao László, que estava com a filmadora e passou a segui-lo, filmando.

    O mero tem o nome científico de Epinephelus itajara, onde itajara é senhor das pedras em Tupi Guarani.

    Ele me pediu para que ficasse ao lado do peixão, para dar uma ideia da dimensão do bicho. Estimamos que tinha cerca de 120 kg. Enorme e destemido, ele observava a gente, tranquilo e curioso. Não tem predadores. Cheguei a ficar a meio metro da cabeça dele.

    Num determinado momento ouvi um BUUUMM. Pensei que eram pescadores largando uma bomba nas proximidades (pesca ilegal e extremamante anti-ecológica). Que nada, László depois me explicou que era um ruído feito pelo mero com suas mandíbulas, para atordoar suas presas ou para assustar potenciais ameaças. De fato, justamente quando me aproximei dele ouvi o estouro. Tanto que na Bahia ele também é conhecido como Canapú, ou “peixe que estoura”, nome também de origem Tupi Guarani. infelizmente a filmadora, dentro da caixa estanque, não tem como gravar sons. Assim no vídeo não terão como ouvir o estouro.

    László continuou filmando. Enquanto isto eu passava por um pequeno aperto.

    Sem ter percebido, meu cilindro de gás diluente esvaziou e o contrapulmão do rebreather começou a colabar (comprimir, reduzindo o volume). Num circuito fechado, onde não jogamos o gás respirado fora, quando expiramos eles vão para um contrapulmão após passar pela cal sodada que absorve o CO2 da respiração. O diluente existe para injetarmos no contrapulmão evitando que ele colabe. Quando ele colaba não conseguimos respirar. Estranhei, porque a ADV (Automatic Diluent Valve) deveria injetar automaticamente o gás diluente mas não estava funcionando. Pressionei o botão de injeção manual e nada, sem resposta.

    Como estava sufocando, fiz o bailout, ou seja, sai do circuito fechado e fui para o aberto, o tradicional scuba (os cilindros que carregamos ao nosso lado). Verifiquei que a válvula do cilindro de diluente estava aberta (OK) e chequei o manômetro do diluente. Para meu espanto vi que a garrafa estava vazia!

    Peguei uma mangueira de injeção de um dos cilindros de bailout, com o gás de fundo, e acoplei na injeção manual do contrapulmão. Retornei para o circuito fechado fazendo a injeção manual do gás de fundo como diluente sempre que precisava (sempre que o contra pulmão colabava).

    László tendo notado que eu havia feito o bailout chamou o mergulho e começamos a recolher a carretilha para voltar ao cabo da âncora e iniciar a longa subida e descompressão (deco). Ele notou que havia um pequeno vazamento de gás na mangueira de injeção de gás no colete equilibrador. Por ali havia saído todo o meu gás diluente (uma mistura de 12% de Oxigênio, 43% de Helio e 45% de Nitrogenio).

    A esta altura o computador indicava 80 minutos de deco.

    Quase no final da descompressão notamos que o cabo da âncora da lancha, ao qual estávamos presos por jon lines, afrouxou de repente. O cabo novamente partiu! Eita empedrado de pedras afiadas! Sorte que o cabo da âncora era pesado, não flutuou, e continuamos nele. O barco então seguiu solto na superfície, conosco dentro d’água sendo puxados pelo cabo (não podemos subir até que termine a deco).

    Um navio passou perto porque ouvimos debaixo d'água o barulho forte do hélice do monstro de aço. Só faltava ele tirar um fino na nossa lancha! Este ponto de mergulho fica próximo a rota de entrada e saída dos navios na Baía de Todos os Santos.

    Finalmente subimos a bordo. Belas imagens. Mergulho nota 10 apesar dos perrengues. A cada dia descobrimos coisas novas e interessantes da vida marinha. As âncoras (agora duas!) teríamos que voltar novamente para resgatá-las.

    Vídeo gentileza do László Mócsari.

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 25/04/2020 10:28

    Realizada em 11/04/2020

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    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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