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Peter Tofte 28/02/2020 09:56 com 1 participante
    Carnaval nas alturas - explorando o teto do Nordeste

    Carnaval nas alturas - explorando o teto do Nordeste

    Trekking com vários trechos off trail e vara mato por área pouco conhecida da região de Catolés/BA, onde estão os maiores picos do Nordeste.

    Trekking Montanhismo Acampamento

    Marcamos uma trilha para fugir do Carnaval de Salvador. Orlandinho Barros, que esteve em dezembro passado explorando a região de Catolés/BA, propôs um roteiro e apresentou um tracklog criado por ele para explorar um conjunto de montanhas na região. Para quem não sabe os maiores picos do Nordeste ficam ali. Inclusive alguns com a altura incorreta ou não catalogada, o que pode alterar o ranking dos picos mais altos se o IBGE revisar os dados.

    Partimos de Salvador as 10 horas de quinta 20/02. Nosso grupo era formado por mim, Orlandinho Barros, Lucas Andrade, Fabio Dal Gallo, Cris, Samuel e Lucinha. Todos trilheiros safos e veteranos. O convite ficou restrito a poucas pessoas porque sabíamos que a trilha seria bem difícil e não queríamos expor ninguém a uma situação de risco acima do seu nível de experiência. Boa parte da trilha seria exploratória. Não há trilhas guiadas (comerciais) na maioria do percurso.

    Chegamos em Catolés, povoado do município de Abaíra, as 20 horas, a 630 km de Salvador. Ficamos na pousada da simpática Dona Creuza.

    Dia seguinte as 8:30 já estávamos em Catolés de Cima onde deixamos os carros e partimos para a trilha que sobe para a Forquilha da Serra, entre as montanhas do Barbado e do Elefante.

    Em pé, da esquerda para direita, Fábio, Cris, Orlandinho, Lucas. Agachados Samuel e Lucinha.

    Na subida da forquilha. Ao fundo, o falso cume da Pedra do Elefante.

    Cruzamos a Forquilha duas horas depois da partida e imediatamente descemos para o outro lado, para o vale do Capão. Nosso objetivo era acampar no sopé da Pedra do Cigano. A descida teve bonitos trechos remanescentes de mata atlântica.

    Vista da Forquilha, já do outro outro lado. A direita o Barbado. A esquerda, parte do Elefante.

    Chegamos num platô com gerais ao sopé do Cigano por volta de 16:30 horas após uma subida cansativa vara-mato onde um dos companheiros caiu em cima de um mandacaru. Lugar lindo. Acampamos num gerais com um pequeno córrego. Admiramos a mudança de cor da gigantesca Pedra do Cigano que ficou vermelha ao pôr-do-sol e uma chuva caindo distante.

    O imponente paredão da Pedra do Cigano.

    Chuva. Este toró não pegou a gente.

    Preparamos a janta a luz das headlamp. Muita conversa e risada a beira da fogueira.

    Hora do chá (foto da Cris).

    Noite tranquila. Eu e Lucas bivacamos e o restante ficou em tendas.

    Dia seguinte iríamos contornar a Serra do Cigano e subir para a crista, onde alcançaríamos o ponto mais alto (a Pedra do Cigano) e desceríamos para um vale no lado oposto opara passar a segunda noite.

    Pedra do Cigano ao amanhecer.

    Contornando a Serra do Cigano rumo Oeste. Mais adiante subiríamos para a crista da serra (foto da Cris).

    No começo da subida perdemos a trilha e após algum vara-mato a reencontramos. Chegando na crista da serra, o tempo mudou e ouvimos alguns trovões.

    Crista.

    Decidimos contornar a serra pela encosta Norte mantendo-nos numa curva de nível. Isto porque seguindo pelo topo havia o risco de nos tornarmos para-raios. Neste processo pegamos vara-mato e uma chuva copiosa. Passamos por áreas onde claramente havia exploração clandestina de cristais.

    A descida para o vale foi difícil devido a vegetação e blocos de pedra. Por volta de 15:30 chegamos a um gerais onde atravessamos um riacho duas vezes e acampamos no local planejado para a segunda noite. O resto da tarde foi de tempo bom. Muita umidade devido a chuva recente e ao riacho próximo. Estávamos a cerca de 1.500 metros de altitude.

    Acampamento.

    Bonito anoitecer. O acampamento está a direita.

    Minha bota Asolo Shiraz após 6 anos de bons serviços prestados, percorrendo Andes, Patagônia, Pirineus e Círculo Ártico e, principalmente, a Chapada, soltou o solado no calcanhar. Possivelmente porque estava algum tempo guardada sem uso. Sorte que Orlandinho tinha uma agulha de costura de saco de aniagem e linha encerada e consegui prender o solado. Uma pena, adoro esta bota.

    Jantamos. Lucas inventou uma tapioca com gorgonzola que parecia uma delícia (não provei mas como adoro gorgonzola imagino como devia estar bom).

    A noite a temperatura caiu para 19 °C no meu relógio.

    Na manhã seguinte deixamos o acampamento rumo SE. Planejamos contornar a Mata dos Ciganos pelo Norte, seguindo a crista da serra. Entretanto a subida estava coberta por uma mata numa área de grandes blocos de pedra e levamos uma hora e meia para transpor, usando o facão. Nem um trator de esteira conseguiria passar por ali!

    Foto da Cris.

    Na crista visualizamos a bonita Mata dos Ciganos, que parece ter pertencido a um cigano no passado.

    Subimos mais um pouco e logo descemos numa depressão, passando para outro morro. Finalmente chegamos num ponto onde observamos a extensa subida da Pedra do Elefante pelo seu lado Norte. Neste local paramos para lanchar.

    Vista neste ponto. Pedra do Elefante com seus quase 2.000 metros (1.953 mts). Atrás a direita, parcialmente oculto pelo Elefante, o Barbado, maior pico do Nordeste (2.033 mts).

    Um estreito desfiladeiro nos separava da Pedra do Elefante. Vencido o obstáculo começamos a subir o Elefante. Durante a ascensão vimos a formação de nuvens negras e ouvimos trovões. Como o som vinha de trás e o vento da nossa frente não ficamos apreensivos. Porém quando víamos um raio caindo contávamos os segundos entre o raio e o estrondo do trovão. A contagem era superior a 20 segundos. Se fosse igual ou inferior a 5 segundos era hora de se esconder rápido. Havia um trecho bem descoberto na subida do Elefante onde ficaríamos muito expostos as descargas elétricas, daí o cuidado.

    O vento virou e uma formação negra, que estava atrás, passou a vir em nossa direção com relâmpagos. Rapidamente nos sentamos numa reentrância da rocha enquanto vestíamos os abrigos de chuva. O cacau caiu. Chuva fria. Por uma hora esperamos passar a tempestade e deixar de relampejar. Observamos fascinados como o vento mudava rapidamente de direção no topo das montanhas. Uma nuvem de chuva a nossa direita, que rumava para trás, passou a vir na nossa direção, recomeçando com força a chuvarada. Estávamos ficando com frio apesar das capas de chuva pois estávamos imóveis, sem gerar calor pelo exercício. Imaginávamos se teríamos que acampar na montanha se o tempo não melhorasse.

    Apesar da preocupação não deixamos de apreciar o visual lindo da cadeia de montanhas ao Norte-Noroeste, envolto em nuvens, por onde passamos hoje e nos dois dias anteriores.

    A chuva diminuiu e depois cessou. Ouvimos os trovões cada vez mais ao longe. Retomamos a subida e com mais 40 minutos chegamos no topo da Pedra do Elefante. Vistaço. Observamos o vilarejo de Catolés envolto em chuva e toda a extensão da Serra da Tromba.

    Catolés tomando chuva e a Serra da Tromba ao fundo.

    Dava para avistar a Serra do Sincorá ao longe. O que mais impressionava eram as cascatas de água que despencavam do Barbado (maior montanha do Nordeste), na face voltada para o Elefante.

    Comemoramos com a alegria que sempre acompanha uma conquista e assinamos o livro de cume.

    Não demoramos porque o tempo poderia mudar. Baixamos pelo lado oposto, Sudeste e saímos num platô, falso cume do Elefante, onde observamos uma extensa mineração de cristais, inclusive com uma toca usada pelos garimpeiros. Mais uma descida e estávamos novamente na Forquilha da Serra, por onde passamos no primeiro dia. O circuito planejado tinha o formato de um oito inclinado, onde a Forquilha era a interseção do oito.

    Devido ao nosso grande atraso e ao tempo desistimos de subir o Barbado e descer para nosso acampamento planejado na Mata dos Frios. Armamos as barracas/tarpas na Forquilha, em meio a névoa e ao vento e preparamos o jantar. Sem banho porque a chuva fez o serviço.

    Armei numa péssima posição a minha tarp, erro de principiante. Durante a noite o vento canalizado na Forquilha (um colo estreito entre duas altas montanhas) aumentou assustadoramente. Já deitado fiquei com preguiça de levantar e reposicionar a tarp. Resultado, com o formato em “A”, um dos lados recebia em cheio as fortes rajadas de vendo e os espeques foram arrancados do chão. Botei pedras em cima. Porém o efeito de vela do tecido forçava muito o meu abrigo. O tecido formava uma barriga a cada rajada e eu recebia uma “barrigada”. Até que perdi a paciência e derrubei a tarp só ficando com o saco de bivaque como proteção. Consegui dormir. O saco de bivaque de e-Vent é muito eficiente.

    Pela manhã a névoa e o vento forte continuavam. Tomamos café e confabulamos: com o vento, as nuvens baixas e as pedras molhadas era arriscado subir o Barbado (houve casos de gente perdida que foi obrigada a passar a noite na montanha, ficando com hipotermia). Combinamos esperar até as 9 horas para ver se melhorava. Nada, desistimos e acionamos o plano B: descer até os carros em Catolés de Cima onde iríamos para o Guarda Mor para pegarmos a Mata dos Frios pelo outro lado do Barbado.

    Durante a descida, já perto do final, o sol abriu e o gigante do Nordeste, o Barbado, apareceu completo na nossa direita. Porém o horário já desestimulava a volta. Fomos para os carros.

    Na trilha o Lucas me mostrou uma coluna de formigas de correição se deslocando. Ele me disse que um tapete de formigas destas caçando a noite pode representar uma dolorida surpresa para alguém bivacando.

    No terreiro do seu Raimundo compramos café da região, bebemos refrigerantes e atacamos duas jacas, uma jaca mole e outra dura. Teve gente que comeu pelo menos 15 bagas de jaca, mostrando quanta energia gastamos nos 3 dias anteriores.

    Partimos para Catolés, onde alguns fizeram compras extras e rumamos para o Guarda Mor onde deixamos os carros no terreiro de Seu Jurandir e Dona Raimunda.

    Enquanto nos preparávamos, avistamos um pessoal baixando pelo Rolling Stones, a brutal descida do Guarda Mor. O grande Chico estava guiando (ver relato "Barbado" aqui no Aventure Box ). Estavam chegando de uma travessia a partir de Rio de Contas, passando pelo pico do Itobira. Não pudemos esperar por eles e seguimos.

    Subimos por volta das 14 horas. Trilha bonita mas íngreme no começo. A Mata dos Frios fica num vale estreito entre a fralda Sul-Sudeste do Barbado e o conjunto de montanhas do Guarda Mor. Após duas horas e quarenta minutos chegamos no topo da Cachoeira dos Frios, linda área para acampar. Era nossa pretensão dormir nesse local já na noite anterior, frustrada pelo atraso e o tempo ruim.

    Relaxamos e descansamos porque a última noite foi de pouco sono. A vista para Sudoeste é espetacular.

    Vista do meu abrigo.

    Piscina no poço superior da cachoeira. Considero um dos locais de acampamento TOP 10 da Chapada.

    Durante a noite um vento Nordeste encanado descia o vale, mas nada comparado ao vendaval da noite anterior.

    Causos e risadas em volta do fogareiro a lenha do Fábio, no lajeado a beira do rio.

    Acabei compartilhando meu tarp com o Lucas porque ele descobriu que montara o dele sobre um formigueiro de formigas negras (mordida dolorosa).

    Eu, Samuel e Lucinha descemos no dia seguinte para o Guarda Mor, terça de Carnaval, para estar em Feira de Santana e em Salvador pela noite.

    Orlandinho, Cris, Fábio e Lucas ficariam mais um dia explorando os picos das redondezas.

    Créditos:

    A idealização desta trilha e o tracklog são méritos do Orlandinho Barros.

    Os bons motoristas foram o Fabio com a Tracker e o Samuel com a Troller. É bom ter um 4X4 nesta região.

    As melhores fotos, podem ter certeza, são da Cris. Tiradas de smartphone!

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 28/02/2020 09:56

    Realizada de 21/02/2020 até 25/02/2020

    1 Participante

    Lucas Andrade

    Visualizações

    2084

    10 Comentários
    Peter Tofte 28/02/2020 11:46

    Valeu Ernani e Dani! Muito bonita a foto de vcs no perfil de Dani. Parece cena de filme (Rei Leão?).

    Douglas Dessotti 01/03/2020 13:13

    👏👏

    Daniela Coelho 04/03/2020 08:53

    kkkkk... foi lá no Barbado!

    Fael Fepi 04/03/2020 21:09

    Muito bom Peter. Parabéns para todos do grupo.

    Peter Tofte 05/03/2020 07:54

    Valeu Fael e Douglas!

    David Sousa 03/07/2021 01:31

    Taturana faz tempo que eu não via

    Ayla Merli 25/07/2021 00:50

    Fiz uma trilha semelhante, com mais dois familiares. Subi ali entre o pico do elefante e a mata do cigano, pelo lado leste, não partindo da forquilha, mas sim de uma trilha bem gasta que sai de uma estrada de catoles de cima. Depois de dormir, acompanhamos a crista do elefante até o topo e de la pegamos a trilha pra forquilha (dormindo nela). Foi bem interessante, mas fiquei com vontade de explorar mais a região. Vcs tem o tracklog? Ou as coordenadas das fotos ou coisa assim? Muito bom o relato (e as fotos). Parabenss

    1
    Peter Tofte 25/07/2021 06:44

    Obrigado Ayla. Vale a pena conhecer a região descendo a forquilha'(para o lado oposto de Catolés). Eu não tenho o track log. Verei se um conhecido tem.

    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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