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Peter Tofte 04/04/2018 11:51
    Gerais do Machambongo e as três mais belas.

    Gerais do Machambongo e as três mais belas.

    Trekking de 4 dias através dos Gerais do Machambongo, sul do PN Chapada Diamantina, passando pelas três mais belas cachoeiras da Chapada.

    Trekking

    Estava sem programa para a Páscoa e não queria ficar esperando o coelhinho sentado no sofá de casa. Soube por um amigo, na última reunião do Bushcraft Bahia, que Victor Scarlato propôs fazer na Semana Santa a cachoeira da Engrunada por cima com um guia. Área bastante selvagem, poucas pessoas conhecem esta trilha. Contatei ele para fazermos juntos. Mas o guia deu para trás. Assim, como plano B, sugeri um roteiro que vinha matutando há algum tempo: cruzar de Oeste para Leste a parte Sul do Parque Nacional da Chapada Diamantina, indo da Fumacinha até a Encantada, ambas por cima, ida e volta. No caminho passaríamos ao lado da Penedo. Num único roteiro de trekking visitaríamos três cachoeiras. Sairíamos do município de Ibicoara e iríamos para o município de Itaetê. Depois regressaríamos pela mesma trilha, em sentido contrário.

    Elas são as três mais belas cachoeiras da Chapada. A Fumacinha é surpreendente, a Encantada é grandiosa e a Penedo é escultural. Cada uma com sua beleza superlativa.

    Visitei a Fumacinha por cima em 2006; por baixo, em 2007. A Encantada por baixo visitei em outubro de 2016 (vide relato "Itaetê - O lado B da Chapada Diamantina"). Victor visitou duas vezes a Fumacinha por baixo. É a sua favorita. Mas não conhecia a parte de cima.

    Em diversas cachoeiras da Chapada Diamantina, fica um tanto complicado visitá-las, num mesmo dia, por cima e por baixo, já que os cânions são profundos e íngremes e ficam no final de um cânion extenso.

    Apenas eu e ele fomos nesta empreitada. Os demais não aceitaram o convite porque já tinham outros programas para a Páscoa ou acharam puxado demais.

    Chegamos na bela cidade histórica de Mucugê às sete horas da noite de quarta, onde Ana Moraes nos esperava. Ela seria a responsável pela logística: hospedagem e o transporte/resgate no ponto de início/fim do trekking.

    Saímos para jantar debaixo de uma chuva copiosa. Andávamos nas calçadas estreitas tentando abrigar-nos debaixo da projeção dos telhados com eira e beira das velhas casas do tempo do Império. Evitamos andar na rua de calçamento secular, de pedras irregulares.

    1º dia

    Saímos por volta de oito horas rumo ao distrito de Cascavel, em Ibicoara. Passamos pelo povoado de Campo Alegre e adentramos numa estradinha de terra enlameada, estreita, ladeada por cafezais. O céu estava carregado de nuvens de chuva, volta e meia chuviscava.

    Ana deixou-nos no início da trilha. Levamos cerca de meia hora até atingir os Gerais do Machambongo, um campo limpo de altitude, para onde os vaqueiros levavam o gado para a invernada, antes da proibição do IBAMA.

    Decidimos visitar primeiro a Fumacinha por cima, mais ao Sul, para depois subirmos para o local do acampamento, a Toca do Vaqueiro.

    A Fumacinha por baixo deixa os turistas boquiabertos: uma grande queda d'água através de uma fenda estreita e escura, com paredes em negativo.

    Tomamos rumo Sudeste e logo observamos uma fumaça saindo de um ponto na direção para a qual a trilha seguia. Descobrimos a razão de ser do nome Fumacinha! O spray gerado pela queda e pelo impacto d'água criava uma "nuvem de fumaça" brotando dos Gerais. Mas para ver isto é preciso muuuuita água, ou seja, muita chuva. Em 2006, fui na época da seca, assim não tinha observado este belíssimo fenômeno.

    Após uma hora e pouco chegamos as margens do rio Una, que alguns chamam de Riachão. Muito caudaloso. O banho ali não estava convidativo.

    Ponto onde a trilha chega na Fumacinha, logo antes da primeira queda. Muita água e correnteza.

    Contornamos a cachoeira pela margem direita verdadeira tirando fotos e filmando a primeira queda d'água, seguindo lá de cima, pelas bordas, o fluxo do rio adentrando o cânion estreito. A segunda queda (a principal) cai numa fenda estreita e sumia das nossas vistas (paredes em negativo). Visível, apenas a nuvem de spray d'água que subia para os céus. Tiramos também fotos do bonito e estreito cânion por onde continuava fluindo o rio depois da queda.

    Primeira queda.

    Segunda queda (100 metros de altura). Só dá para ver o spray. Paredes estreitas e em negativo. O pequeno ponto azul na borda é o Victor.

    Victor pensou ter achado onde começava a descida da fenda da Fumacinha (posteriormente descobrimos que era bem mais distante daquele ponto). Contudo, descer não estava nos nossos planos. O rio estava bem cheio e provavelmente lá embaixo não conseguiríamos entrar no poção da cachoeira.

    O cânion abaixo da queda da Fumacinha.

    Depois soubemos que Alex, guia da região, estava guiando um grupo subindo o cânion (Fumacinha por baixo). Tiveram que abortar porque a correnteza e o volume d'água tornaram as travessias do rio muito difíceis.

    Após o lanche e mais algumas fotos partimos para a toca, que fica ao norte, às margens do mesmo rio.

    Chegamos por volta de 14h30 na Toca dos Vaqueiros e ela era só nossa! Esta toca é uma das melhores da Chapada e foi construída por vaqueiros que tomavam conta do gado na invernada. Aproveitaram uma reentrância de pedra existente e a fecharam com paredes de pedras, fazendo janelas e uma porta. Tem uma cozinha externa com um fogão à lenha de pedras. Uma mordomia!

    Vista da janela. Rio Una visível.

    Do outro lado do rio, um pouco mais acima, o curral feito também com cerca de pedras.

    Ao tomar banho aproveitamos para vadear o rio com ajuda de bastões para saber se era possível atravessá-lo devido a forte correnteza. A água não batia no joelho e, para nossa sorte, o leito era um lajeado liso. Era possível atravessá-lo sem botas devido à ausência de pedras pontiagudas. No entanto, era preciso técnica: atravessar andando de lado (andada de caranguejo), de frente para a correnteza, passos curtos e tateando/se apoiando com os bastões. O forte fluxo da água podia fazer alguém perder o pé de apoio e um escorregão levaria a pessoa rio abaixo até conseguir se agarrar à uma pedra.

    Depois do teste (a travessia com mochilas seria apenas no dia seguinte) voltamos para a toca. Aproveitei um pouco de lenha e fiz o jantar. Victor usou o fogareiro a gás dele. Choveu durante a noite.

    2º dia

    Acordamos no escuro, às 5h da matina. Teríamos uma longa jornada pela frente, o rio estava ligeiramente mais caudaloso devido à chuva da noite. Após o café e a arrumação das mochilas, descemos para o rio. A travessia, já ensaiada no dia anterior, não foi muito difícil. O peso das mochilas ajudou a firmar nossos pés nas lajes escorregadias.

    Victor, já no final da travessia. Ali a correnteza já não era forte.

    Saindo da água, calçamos as botas e após rápida procura achamos a trilha. O GPS confirmou que o way point, que plotei a partir de imagem obtida no Bing Maps, batia com aquela trilha.

    O dia estava nublado e com temperatura amena. Eita geralzão grande! Ao norte observamos bem longe a Tesoura da Serra, o selado que separa os Gerais do Machambongo do vale com a nascente do rio Mucugê.

    Subimos para um platô e de lá seguimos para leste. À nossa esquerda, em paralelo à trilha, um cânion. Após cerca de duas horas de caminhada avistamos uma referência importante: uma grande pedra em formato de chapéu chinês. Logo em seguida, começou uma longa descida. Já avistávamos a Chapadinha, um platô por onde corre o rio Talhãozinho antes de cair na Cachoeira Encantada.

    Chapéu chinês à esquerda.

    A descida durou duas horas. Em alguns momentos perdemos a trilha; as últimas chuvas transformaram a trilha nas baixadas em córregos. Ficávamos na dúvida se era o caminho ou um córrego. Muito solo encharcado.

    No meio da descida, pouco antes da trilha virar em sentido norte, chegamos num córrego onde descansamos e lanchamos.

    Finalmente, chegamos a um riacho num vale estreito que indicava o fim da serra e o começo da Chapadinha. Atravessamos com água no peito; fomos calçados porque o rio tinha leito bem empedrado.

    Riacho da "Molhação". Provavelmente é o rio Jibóia.

    Na outra margem subimos um pasto bem cuidado (bem visível na foto do satélite) e o cruzamos rumo norte.

    Subindo o pasto bem cuidado. Ao fundo o cânion do rio que tivemos que transpor com água na altura do peito.

    Passamos por duas porteiras e dobramos para a direita, onde esperávamos encontrar uma estrada. Achamos um atalho com marcas de pneu de moto e decidimos seguí-lo. Porém, depois de certo tempo ele virava para a esquerda, aparentemente na direção errada. Voltamos e fomos para uma pequena casinha onde perguntamos a um sinhozinho, seu Amarildo, onde era a estrada para a Encantada.

    Ele passou as dicas para chegar a Encantada. Tínhamos que seguir pela trilha da moto mesmo. Agradecemos. Senti, ao nos despedirmos, que ele queria puxar um pouco mais de conversa. Imaginei o quão solitário ele devia se sentir naquele ermo. Mas, ainda tínhamos de andar pelo menos duas horas; infelizmente, não deu para ficar.

    Seguindo as orientações do Amarildo chegamos à uma estrada de terra. Veículos 4X4 conseguem chegar num ponto a apenas meia hora da Encantada. Dobramos à esquerda e caminhamos pela estrada. Passamos por uma plantação de banana à direita e, bem mais adiante, um local para camping chamado Toca do Lobo. Victor botou olhos compridos num abrigo para redes (redário) pensando que seria ideal para passarmos a noite. Iríamos para a cachoeira e depois poderíamos voltar para lá.

    Entretanto não havia ninguém. Estava tudo fechado (estranho isto num feriado) e com várias placas "Proibido a entrada". Victor disse que não faria mal passarmos a noite ali. Fui contra porque se o dono aparecesse podia dar confusão; assim, descartamos a idéia.

    No final da estrada um pequeno local de estacionamento à sombra de eucaliptos e uma placa: trilha a 100 m. Nesta distância, a trilha quebrava para a esquerda e descia para a cachoeira. Saímos num lajeado e uma tubulação azul mostrava a direção óbvia a seguir.

    Cruzamos um braço do rio seco, largo e empedrado, passando em seguida por um pequeno trecho mais alto com vegetação e chegamos nas margens do rio Timbozinho, num ponto que o GPS indicava que ainda faltavam 300 metros para a cachoeira.

    Atravessamos o caudal (não dava para continuar na mesma margem) e descemos. Uma sucessão de três quedas levava até onde o rio desabava 200 metros dentro do cânion da Encantada; na minha opinião, a mais bela cachoeira da Chapada.

    Uma das cachoeiras antes da grande queda. O rio passa inteiramente debaixo de uma ponte de pedra natural (centro da foto). A Encantada fica mais ao fundo, à esquerda.

    Não dava para acessar a queda principal dali. Voltamos para o braço do rio seco, que sabíamos que seguia também para a queda. Com 20 minutos chegamos no topo da cachoeira. Vista espetacular.

    Um pouco mais abaixo a água despenca de 200 metros de altura.

    Victor chegando no ponto da queda da Encantada.

    Feliz! Pouco adiante o quedão de 200 metros.

    O cânion da Encantada é grande e bem largo. Não pudemos chegar no ponto exato em que a água caia em queda livre porque teríamos de descer para mais dois pequenos platôs que estavam com uma torrente de água. Seria muito arriscado. Na época mais seca isto deve ser possível.

    Voltamos alegres. Vimos uma pequena toca na margem do braço seco do rio e decidimos acampar ali. Não era muito abrigada, uma chuva forte podia molhar.

    Vista da toca. Braço seco do rio. Notar que é bem largo.

    Não deu outra. Ao terminarmos o jantar, começou a chuviscar e depois a chover. Fomos dormir, mas a água escorria pelo teto e pingava. Os respingos batiam no Victor. Eu, por minha vez, fiquei num canto em que parte da água que escoava de um barranco passava por baixo do meu isolante. Sorte que em cima dele eu tinha um colchão inflável; assim, a água não incomodava. Prendemos um toldo e um poncho no teto, de modo a formar uma parede para os respingos não pegarem no meu companheiro de trilha.

    Voltamos a deitar. A chuva não passava e ficou mais forte. Dali a pouco, ouvimos um barulho de cachoeira. Uma tromba d'água veio e transformou o braço seco numa corredeira. Não estávamos muito altos em relação ao leito. Disse brincando para o Victor que iríamos visitar a parte de baixo da Encantada do modo mais rápido possível se outra tromba mais alta e forte viesse. Não devia ter dito isto porque ele demorou muito para pegar no sono, olhando de vez em quando para o leito do rio, para acompanhar a altura da água. Pela minha experiência, eu acreditava que aquele leito largo tinha que receber muito mais chuva para a água subir até onde estávamos. E havia uma rota de fuga se o rio nos alcançasse. Não demorei para dormir. Pela madrugada a chuva cessou.

    Lembrei, então, da proposta de ficar na Toca do Lobo. Teríamos dormido bem mais tranqüilos e confortáveis.

    3º dia

    Dia da volta, novamente acordamos as 5h da matina. Regressaríamos à Toca do Vaqueiro pelo mesmo caminho. Chato, mas nosso resgate foi combinado do outro lado da Chapada, no mesmo local de onde partimos. Se o resgate fosse na Colônia (povoado do município de Itaetê) andaríamos bem menos, mas o carro teria que dar uma boa volta, desde Mucugê, por estradas precárias.

    Partimos com tempo nublado. Passamos pela Toca do Lobo, que continuava fechada. Acho que, por dentro, o Victor praguejava por eu ter feito oposição a idéia dele de dormir ali.

    No córrego (que marcava o fim da Chapadinha e o começo da subida da serra), o rio aumentou de nível devido à chuva. Desta vez tiramos a s botas. A água chegou no ombro do Victor, ele tropeçou e parte da mochila tocou na água. Ele teve um reflexo rápido para impedir que o backpack molhasse todo. Na minha vez, usei a mochila nas costas, normalmente, pois era estanque. Notei que ela me alçava na água porque o bolsão de ar no seu interior fazia-a flutuar.

    Subimos a serra rapidamente. Não perdemos a trilha uma única vez porque já sabíamos os pontos difíceis. O Victor 4X4 botava no modo turbo e subia sempre na frente, pelo menos 20 a 50 metros de distância; volta e meia parava para manter o contato visual. Vinte e um anos de idade nos separavam e fazem diferença!

    Às onze horas estávamos novamente no chapéu chinês, final da subida. Logo adiante paramos para lanchar.

    Depois fomos para um ponto na trilha que marquei no GPS. Este way point ficava bem no través da cachoeira do Penedo, que não era visível da trilha.

    Andamos cerca de 200 metros rumo norte e avistamos o cânion e, do outro lado, um cânion lateral onde caia a Penedo, a cachoeira que Victor mais queria ver. Fomos um pouco mais para à esquerda, descendo, para ter uma visão melhor da queda d'água porque ela ficava num desfiladeiro estreito.

    Nisto, descobrimos a trilha que ia para o mirante e, também, para a fenda que desce pela parede do cânion para o poção da Penedo. Vista espetacular deste mirante. A Penedo cai por uma parede lateral ao lado de uma enorme coluna de pedra que parece fazer parte de um portal de castelo de gigantes (daí o nome Penedo).

    Penedo. A foto não fâz jus a beleza da cachoeira.

    Não descemos a fenda pelo adiantado da hora. Levaria ao menos três horas para descer e subir, além de estar escorregadio devido às chuvas. A cachoeira merecia um dia inteiro só para explorar. O ideal é usar a Toca do Vaqueiro como base e fazer um bate-e-volta no mesmo dia.

    Esta cachoeira só existe no período de chuvas. Presenciamos algo belíssimo que em boa parte do ano não é possível ver.

    Levamos mais uma hora e meia para chegarmos na toca, por volta das 14 horas. A toca estava cheia, com cerca de nove pessoas, todas de Salvador. Um rapaz cruzou o rio para nos ensinar como atravessá-lo; apesar de já sabermos como fazer, agradecemos a gentileza.

    Notamos que o volume de água havia aumentado e a correnteza estava mais forte. Um rapaz comentou que não sabia como isto tinha acontecido porque na noite anterior não tinha chovido ali e o dia foi ensolarado, lindo. A bacia de captação do rio Una é muito grande. Toda a água que cai no Gerais do Machambongo flui para ele. Choveu mais ao norte e onde pernoitamos na noite anterior; assim, encheu mais o rio embora não tenha chovido no local da toca.

    Para nossa sorte o pessoal estava levantando acampamento; não passariam a noite ali. Digo isto não pelo pessoal em si, muito simpático, mas porque se ficassem ali não haveria espaço para mais dois na toca. A galera chegou na sexta e visitou a Fumacinha. Hoje, sábado, fizeram um bate-e-volta ao mirante da Penedo. O trecho entre a toca e o mirante parece ser bem batido.Porém, de lá para a Chapadinha (Encantada) parece que só os nativos fazem.

    Não pudemos deixar de reparar no tamanho e no peso das mochilas da galera, considerando que só passaram dois dias ali. E na panela de pressão e nas caçarolas grandes presas no lado de fora das mochilas. Parece que foi uma trilha engordativa (preciso de uma destas)!

    Após partirem, botamos as coisas para secar. Deitei no isolante em cima da pedra da diretoria (um local mais alto em relação à toca) e acabei dormindo. O Victor ficou preocupado com o meu sumiço porque procurou e não me achou. Gritou meu nome e eu não ouvi, ferrado no sono. Imaginou até que eu tinha ido tomar banho no rio e caído, com a correnteza me arrastando. Acordei de supetão e aí ouvi o Victor, avisando-o onde estava.

    Mais tarde, enquanto começava a preparar a janta, chegou Gigante, um guia bem conhecido da região, que conduzia duas jovens. Estavam vindo da Fumacinha. A toca acomodava tranqüilamente cinco pessoas.

    Ao anoitecer, uma lua cheia grande e alaranjada se ergueu majestosa acima dos Gerais. Show! Conversamos e trocamos idéias com a galera. O Gigante, há muitos anos guiando na região, sabia de muitas histórias e tínhamos muitos conhecidos em comum.

    Victor foi deitar mais cedo, na noite anterior dormiu pouco; eu tampouco demorei a dormir. No dia seguinte, poderíamos acordar mais tarde. O ponto de resgate ficava no máximo a duas horas da toca.

    4º dia

    Victor acordou às 6 horas; eu, meia hora mais tarde. As jovens ainda pregadas no sono. Gigante já acendia a fogueira para preparar o café. Baita café da manhã com ovos, cuscuz, banana da terra, pão quente. Muito gentil, ele ofereceu-nos a comida.

    Resolvemos adiantar a hora do resgate, combinado para às quatro horas da tarde. Partimos rumo a Campo Alegre. No topo, logo antes da descida dos Gerais, mandei um zapzap para Ana que prontamente respondeu, combinando pegar-nos dali a uma hora (estávamos a 60 km de Mucugê).

    Pouco antes de chegar a estradinha de terra encontramos um guia com um grupo de jovens indo para a Fumacinha. Parecia que iam para a praia porque usavam bermudas e bermudinhas. Meio que sem noção. Mesmo nos Gerais há capim que corta, plantas com espinhos, insetos. Pessoal inexperiente.

    Voltando pelos Gerais.

    Para adiantar, fomos andando até o povoado de Campo Alegre, passando pelas plantações de café. Lindas paisagens.

    Ela encontrou-nos no caminho. Deixamos as coisas em Mucugê e, após um banho, fomos almoçar em Igatu, uma gracinha de vilarejo histórico a 22 km de Mucugê.

    Ruazinha de Igatu. Notem a fiação cheia de vegetação.

    Assim, fizemos um trajeto muito pouco percorrido na sua totalidade (a ligação Fumacinha - Encantada) passando pela Penedo. Num só roteiro, três maravilhas da Chapada. A distância entre a Toca do Vaqueiro e a Encantada é de 25 a 30 km, que fizemos em seis horas e meia - sete horas. O Orlando Bernardino, conhecido guia de Itaetê, falou que era difícil fazer o trajeto em um dia, mas conseguimos!

    Recomendações

    Esta trilha não é um trekking para Mauricinho e Patricinha. Trilha cansativa, exige condicionamento físico, embora não tenha grandes diferenças de altitude. Precisa saber navegar e seguir trilha. Pode ser técnica se os rios estiverem cheios devido à chuva.

    Não há refúgios estruturados. Deve levar tudo o que necessita.

    Quatro dias é puxado. O ideal é descansar um dia na Encantada. Um dia a mais se quiser descer para o poção da Penedo. Dois dias a mais se quiser descer para a Encantada e subir de volta.

    A estação seca vai normalmente de julho a outubro, ideal para fazer a Fumacinha e Encantada por baixo. O espetáculo das cachoeiras com pouca água não é tão grandioso, mas é muito mais seguro e confortável, e, é claro, não se corre o risco de abortar a trilha.

    Nos feriados, não conte muito em ter lugar disponível na Toca dos Vaqueiros, pode estar lotada. Leve tenda ou toldo para bivacar.

    O mapa do Sapucaia (Trilhas e Caminhos) é referência, mas não mostra a trilha Toca dos Vaqueiros - Encantada. Ademais, ele está desatualizado na região da Chapadinha (não mostra a estrada). Você consegue visualizar a trilha no Bing Maps, fotos do satélite, se tiver um olhar atento e treinado.

    Se tiver pouca experiência em trekking contrate um guia. Recomendo:

    - Neinho, de Guiné (75) 3338-7054, um dos melhores guias nativos da Chapada.

    Para a logística e hospedagem alternativa, recomendo a Ana Moraes (75) 98114-0275, que mora em Mucugê, cidade muito mais bonita e agradável que Ibicoara.

    Ônibus para Ibicoara e Mucugê: Cidade Sol (serviço ruim). Sai de Salvador sexta à noite e volta domingo de noite.

    Como alternativa de volta, dá para ir da Toca dos Vaqueiros para Mucugê pelos Gerais do Machambongo e Vale do rio Mucugê; leva em torno de um dia e meio, dormindo na Toca do Maluquete.

    Não confiem muito na previsão do tempo para a Chapada. Erra muito. O Climatempo, por exemplo, estava prevendo ZERO chuva para os quatro dias em Ibicoara.

    Bordeamos pelo sul uma zona intangível do Parque Nacional, a mais selvagem da Chapada, que fica entre os rios que alimentam as cachoeiras de Bom Jardim e Encantada. Especial cuidado deve ser tomado com a natureza e com o fogo.

    Usamos GoPro e a câmara do celular. Os Gerais e as cachoeiras são muito fotogênicos. Quem tiver e quiser carregar o peso, leve uma câmara boa com lente grande angular e com bom zoom, pois vai tirar excelentes fotos.

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 04/04/2018 11:51

    Realizada de 29/03/2018 até 01/04/2018

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    6 Comentários
    Fabio Fliess 05/04/2018 09:57

    Caramba Peter! Que lugares incríveis... Uma cachu mais linda que a outra! Definitivamente, bateu uma dor de cotovelo por não ter conhecido a Chapada Diamantina ainda! kkkkkk Parabéns.

    Peter Tofte 05/04/2018 10:28

    Kkkkkkkk. Convite não falta Fabio! Vamos trocar uma guiada aos 3 Picos por uma na Chapada!

    Fabio Fliess 05/04/2018 10:29

    Opa! Por mim, mais do que combinado... Vamos agitar umas datas!!!!! :D

    Rodrigo Oliveira 08/04/2019 13:50

    Fala Peter! Acompanho suas trilhas desde os mochileiros.com, em 2011. Conheço um pouquinho da chapada, onde vou desde 98. mas, nem de longe tenho a experiência que vc. Conheci o Vitor e o Lucas, da Planeta Outdoor esse ano, e por pouco não acabamos fazendo uma caminhada juntos. Abortei a ida ao Penedo, no fim do ano passado por falta de chuvas, e aproveitei e levei minha namorada para conhecer a fumacinha; Onde já estive a primeira vez em 2012. Me impressionei com a quantidade de gente de 'bermudinha", ouvindoi caixinhas de som no meio da trilha, e de guias mais preocupados com "mostrar que são guias" do que propriamente agir como tal. Uma pena. A m inha proxima trilha naquela região deve ser essa que vocês fiuzeram. E pretendo também fazer o ataque ao cachoeirão pelo Vale do Rio Preto, saindo de Mucugê e descendo a fenda. Você tem alguma dica que poderia me dar? E minha câmera vai adorar, como sempre! Quem sabe fazemos uma pernada juntos, né?

    Peter Tofte 09/04/2019 11:49

    Oi Rodrigo! Sim, é uma pena como tem guia despreparado levando cliente idem. Acham que sabem tudo. Falta humildade para compreender que a vida é um eterno aprendizado. Quanto as trilhas: no Google Maps dá para visualizar a trilha Toca do Vaqueiro - Chapadinha, passando ao lado do cânion da Penedo. Se vc estudar a foto do satélite e marcar uns way points acho que não terá problemas de navegação. Mucugê-Cachoeirão pelos Gerais do Rio Preto não tem muita errada. Nunca desci a fenda do Cachoeirão para a Prefeitura mas já vi trilha no Wikiloc. Só baixar e seguir. Saindo cedo de Mucugê vc chega na Toca do Gavião no meio da tarde. Entre no Bushcraft Bahia que tem reuniões mensais na loja do Lucas. Ficará mais fácil marcarmos uma trilha juntos. Vai ser legal fazer uma pernada com vc!

    Rodrigo Oliveira 19/04/2019 21:48

    Farei isso! Assim que der uma nova passada na loja, vou requisitar minha entrada no grupo! Sobre a Rio preto, eu dei uma olhada no wikiloc, parece um caminho bem tranquilo mesmo. Já ouvi relatos bem contrastantes sobre a fenda do cachoeirão. Uns dizem que é "um terror" outros que é sussa. Enfim, é ver para crer, né? Sobre os guias, é uma lástima. Alguns tem a montanha e a natureza no sangue, outros apenas os animais nas notas de real ou o verde do dólar. ATé! Vamos por as botas na estrada. As fotos, eu garanto! abraço!

    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
    3830

    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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    Mínimo Impacto
    Manifesto
    Rox

    Renan Cavichi, Dri @Drilify e mais 441 pessoas apoiam o manifesto.