AventureBox
Crie sua conta Entrar Explorar Principal
Peter Tofte 07/12/2015 20:06
    Lagoa Verde - Subaúma / Bahia

    Lagoa Verde - Subaúma / Bahia

    Trilha e acampamento bushcraft num local lindo do litoral norte da Bahia

    Trekking Montanhismo Bushcraft

    Fui convidado pelo Alberto, um dos criadores do grupo Bushcraft Bahia para fazer uma trilha e acampamento estilo survivor em Subaúma, litoral norte da Bahia.

    O bushcraft é uma atividade que busca uma interação com a natureza em que seus praticantes procuram sobreviver nela com o mínimo de recursos possíveis usando o que o ambiente tem a oferecer e empregando técnicas antigas de acender fogo, construir um abrigo, fazer instrumentos, coleta e pesca de alimentos.

    De pronto aceitei porque nunca havia feito um acampamento neste estilo e também porque nunca acampei em ambiente de restinga. Já tinha ouvido algo sobre a beleza das lagoas entre Subaúma e Baixios mas não esperava encontrar algo tão bonito e ainda pouco conhecido.

    Apesar dos praticantes de bushcraft não levarem alimentos ou levar o mínimo possível, eu estava carregando o Plano B dentro da mochila. Afinal eu sou novato e poderia não encontrar comida na região. Mas a minha mochila estava bem leve, sem tenda ou saco de dormir.

    Saímos de Salvador na sexta 27/11/2015 com ponto de encontro num posto de gasolina em Lauro de Freitas, município vizinho no norte de Salvador. Dois carros e carona solidária, com os 6 participantes: eu, Alberto, Filipe, Paulo, Israel e Lucas.

    Cerca de uma hora e meia de estrada pela Linha Verde e chegamos em Subaúma por volta das 23 horas. Estacionamos e arrumamos as mochilas. Teríamos de andar uns 10 minutos pela praia e atravessar o rio Subaúma. Com a lua cheia não precisamos acender as lanternas de cabeça para andarmos na areia da praia. O Alberto planejou e sabia que estaríamos na maré baixa e assim foi fácil vadear o rio com água pela cintura. A sensação de andar pela praia deserta, enluarada e atravessar um rio de noite é muitíssimo legal.

    Mas precisa saber literalmente o caminho das pedras, saber por onde atravessar o rio para não cair num lugar mais fundo ou tropeçar. Só na hora da chegada na outra margem houve alguma dificuldade. Um de nós ficou com lama de manguezal quase até o meio da coxa.

    Entramos então numa pequena trilha arenosa que seguia pela margem esquerda verdadeira do rio. Eu usei chinelos de caminhada durante toda a trilha. Alguns iam descalços porque o chão era areia macia. Podíamos poupar as lanternas porque a faixa de areia branca do caminho era tranquila de seguir neste primeiro trecho.

    Era até melhor ficar sem lanterna pela beleza do lumiar na vegetação e para acostumar os olhos a escuridão. A vegetação ao lado da trilha era predominante bosque de restinga. Arbustos, palmeiras, mangabeiras, cajueiros e árvores pequenas nativas.

    Depois de 30 minutos de caminhada eu, Lucas e Israel resolvemos esperar pelos demais que ficaram para trás. Como estávamos num local em que um brejo havia alagado a trilha, aproveitamos as lanternas para pescarmos algumas piabas. Ofuscadas pela luz elas eram pegas na mão. Serviriam de isca no dia seguinte. Lucas foi o campeão absoluto da pescaria.

    Finalmente Alberto, Paulo e Filipe nos alcançaram. Ficaram para trás porque resolveram catar cajus maduros a beira do caminho. Assim providenciamos os peixinhos e o resto da galera conseguiu os cajus. Bom começo “survivor”.

    Seguimos e entramos num trecho com mata mais fechada formando um dossel sobre a trilha. Em dado momento o pelotão que seguia atrás avistou um homem agachado ao lado da trilha, quieto, com roupa de camuflagem. Paulo chegou a cumprimentá-lo. Ele rapidamente avisou ao resto do grupo daquele encontro estranho. Que diabo fazia uma pessoa agachada, escondida no mato?

    Apos rápida deliberação resolvemos apressar o passo com as lanternas apagadas. Podia(m) ser assaltante(s). Mas a impressão maior é que era um caçador furtivo, por isso a roupa de camuflagem e o latido de cachorros que estávamos ouvindo. Mas, se era caçador, devia estar armado. Tomamos distância rapidamente.

    Ficamos mais tranquilos ao chegarmos na Lagoa Verde, nosso destino. Contornamos a lagoa até atingirmos as dunas que margeavam seu lado Leste. Beleza impressionante. A duna caia em cima da lagoa, o contraste da água claríssima com a areia branca debaixo do luar.

    Subimos a duna e poucos metros depois estávamos no local de acampada, onde o grupo já tinha ficado em viagem anterior.

    Aproveitamos umas estacas com bandeirolas que estavam fincadas em alguns pontos das dunas (parece que houve uma competição de quadriciclos no local e as bandeirolas marcavam o trajeto) para fazermos um abrigo com as lonas que havíamos trazido. Poderia chover durante a noite. O céu começava a ficar nublado. Lucas parecia um tatu cavando sem parar uma cova na areia, com uma lona cobrindo, onde dormiria. Israel também fez o seu próprio abrigo. Os demais ficaram debaixo do abrigo coletivo. Eu preferi dormir sozinho dentro do meu saco de bivaque.

    Alguns se animaram e acenderam uma fogueira com glicerina e permanganato para esquentar comida. Eu estava satisfeito com os cajus que comi no caminho.

    Antes de dormir tomamos um banho na lagoa. Não me lembro de ter tomado um banho com uma água em temperatura tão deliciosa, isto duas da madrugada. A água não era fria nem quente, era simplesmente ideal!

    Dormi que nem uma pedra as 3 da manhã. Teríamos apenas 3 horas de sono porque as 6 o sol já estaria alto e forte e seria impossível dormir na areia das dunas. Mas foi um sono muito confortável, a areia era um colchão macio e tornava o isolante dispensável. Usei o isolante apenas para não sujar de areia o saco de bivaque.

    Não choveu durante a noite. Fui um dos primeiros a levantar e tirei fotos. A galera acordou aos poucos. Desfizemos o acampamento tomando o cuidado de não deixar rastros. Fomos todos para a lagoa. Eu, Paulo e Israel trouxemos máscara e snorkel porque Alberto havia sugerido. Fiquei besta com a lagoa: no máximo 5 metros de fundo, que é ocupado por algas verdes numa água cristal (daí provavelmente o nome Lagoa Verde). A duna formava uma ladeira submersa até o fundo de algas. Cardumes de peixinhos nadando de um lado para outro. Um dos lugares mais bonitos da Bahia!

    Depois do snorkel, eu e Alberto saímos para coletar cocos e cajus. Na outra margem da lagoa se avistava as ruínas de uma casa, no meio de um coqueiral, habitada até os anos 90 pelo antigo proprietário daquelas terras. Passamos perto dela na noite anterior, mas não a vimos no meio da vegetação.

    Conseguimos tirar 6 cocos, um para cada um, e muito, muito caju. Haviam coqueiros bem carregados, mas muito altos. Ali não se passaria fome se quiséssemos apenas comer o que obtivéssemos na natureza. Nunca comi tanto caju na vida. E estava imaginando as cajuroskas que faria ao chegar em casa.

    Abrimos, bebemos e comemos dois cocos e levamos os demais e os cajus para os quem estava pescando. Mas a pescaria não deu resultado.

    Por volta de 10 horas chegaram turistas. Uma Land Rover traz pessoal de Baixios para visitar as 3 Lagoas (a Verde é uma delas). Puxei conversa com o guia e ele disse que considerava a lagoa Verde a mais bonita. A agência cobra 60 reais por pessoa para um passeio de meio dia (das 8 até as 13 horas). Se tiver um carro de tração 4x4 paga a entrada e mais R$ 50 para um guia acompanhar, exigência da comunidade de Baixios. Como viemos a pé desde Subaúma curtíamos free todo aquele paraíso. Alguns moradores da vila chegaram pouco depois.

    Por volta das 3 da tarde zarpamos para nosso próximo local de acampamento. Subimos para as dunas e após apenas 30 minutos chegamos num local onde uma estrada de areia atravessava um pequeno trecho de mata. Como a estrada não tinha tráfego, resolvemos acampar ali. Andei até a praia a cerca de 1 quilômetro de distância para ver o mar. A praia de mar aberto não era muito bonita. Na área havia duas lagoas bem rasas, mais para brejo do que para lagoa.

    Cada um montou seu abrigo. Novamente apenas joguei na areia o meu isolante e saco de bivaque. O pessoal aproveitou novamente as varetas das bandeirolas para fazer seus abrigos e o suporte das panelas nas fogueiras. O pessoal zoou com Filipe pois ele parecia que tinha montado uma tenda de torneio medieval porque as bandeirolas estavam ainda panejando. Alberto resolveu fazer uma cama suspensa com paus e a corda que havia trazido. Não levei fé na cama, achava que o peso faria tudo desabar. Mas não é que deu certo!

    O Alberto encontrou um pequeno escorpião na alça de sua mochila, que estava pendurada no tronco de uma palmeira. Causou preocupação porque iríamos dormir no chão.

    Fizemos a janta com fogueiras e proseamos. Acabei não vendo a enorme lua quase cheia que se ergueu do lado do mar. Tentaram me acordar, mas dormindo estava, dormindo fiquei.

    No dia seguinte o Paulo foi o primeiro a se levantar. Sentiu algo no braço e deu um tapa, pensando no escorpião da tarde anterior. Era uma pequena lagartixa. O tapa fez com que o reptil deixasse o rabo para trás sobre o braço do Paulo. Ele não conseguiu voltar a dormir. Posso atestar que ele levou um susto mas não deu nenhum gritinho...

    O café da manhã foi aquecido nas fogueiras. Conversa sobre técnicas de bushcraft e todos testamos a cama suspensa do Alberto. Desmontamos acampamento, jogamos areia onde ficavam as fogueiras e deixamos tudo limpo. Nossa passagem não deveria deixar marcas.

    Voltamos para a lagoa Verde onde outra vez tomamos banho. Antes de partir pegamos mais cajus (afinal tinha uma cajuroska para fazer em Salvador).Apenas cerca de 10:30 saímos para retornar à Subaúma, para aproveitar a maré baixa de meio-dia. Não queríamos atravessar o rio a nado com mochilas carregadas.

    Ainda bebemos uma cerveja no bar em frente ao qual estacionamos os carros. A volta foi tranquila para Salvador.

    Passeio excelente, nota 10, com uma galera muito legal do Bushcraft Bahia!

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 07/12/2015 20:06

    Realizada de 27/11/2015 até 29/11/2015

    Visualizações

    6761

    8 Comentários
    Alberto 07/12/2015 22:11

    Excelente relato p um excelente passeio!

    Peter Tofte 21/12/2015 20:07

    Eu gostei muito da trilha! Agradeço o seu convite Alberto Alpire! Vamos tentar fazer a travessia completa das 3 lagoas, Baixios - Subaúma em 3 dias!

    Vangelis Medina 03/07/2018 20:48

    Estou querendo iniciar nesse mundo e estou procurando pessoas que fazem trilha proximo a Salvador e no Reconcavo.

    Peter Tofte 07/07/2018 14:16

    Entre em contato com o pessoal do Bushcraft Bahia. Quando voltar de viagem vc me passa seu telefone e eu peço para adicionar no WhatsApp do grupo.

    Vangelis Medina 17/07/2018 08:59

    Opa, obrigado pelo retorno. Meu cel 71 9 9249-8662

    Peter Tofte 18/07/2018 08:06

    Vangelis, vc já foi adicionado?

    Vangelis Medina 23/07/2018 19:37

    Ainda não.

    Peter Tofte 24/07/2018 08:30

    Já pedi para vc ser adicionado ao grupo.

    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
    3832

    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

    Mapa de Aventuras


    Mínimo Impacto
    Manifesto
    Rox

    Dri @Drilify, Bruno Negreiros e mais 442 pessoas apoiam o manifesto.