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Peter Tofte 29/10/2019 10:43
    O senhor das pedras

    O senhor das pedras

    Mergulho em condições excelentes (visibilidade e ausência de correnteza) a 70 m. de profundidade com um encontro inesperado!

    Mergulho

    Partimos cedo de Salvador. Após uma hora de navegação chegamos no ponto. Nos equipamos com uma grande expectativa. Dia esplendoroso, a água estava perfeita, azul caribenho e sem correnteza (nesta região por vezes temos fortíssimas correntes). László comentou que só faltava encontrarmos muita vida marinha lá embaixo. Parece que profetizou...

    Caímos na água e descemos até um platô de pedra. Prendi a carretilha na corrente da âncora e nadamos para a direta onde chegamos na margem do platô e onde havia um degrau de cerca de 10 metros. Neste ponto, o László, ao tentar filmar uma grande moreia, teve que recuar porque ela avançou em cima dele.

    Descemos este degrau de 10 metros, alcançando os 68 metros. Água limpa. Um cardume de olhos de boi começou a nos rodear, peixes curiosos. Alguns bem graúdos, de 10 kg. Avistamos ao longo da parede badejos quadrados e frades reais. Muito bonito.

    Em certo ponto Lászlo me disse para largar a carretilha pois não havia necessidade. Bastava nadar ao longo da parede em sentido contrário que a encontrariamos na volta e dali iríamos para a âncora.

    Passamos por uma gruta, provavelmente escavada por ondas quando o mar estava 70 metros mais baixo na última era glacial. László ia na frente filmando. Ele fez uma tomada de dentro para fora com um cardume de olhos de boi circundando. O efeito da luz e do fundo azul é maravilhoso.

    Em certo ponto ele fez sinal para subirmos para o platô, para pegarmos menos descompressão. Neste instante, no meio de um cardume de peixes pequenos surge ele, o senhor das pedras, um mero enorme.

    O mero (Epinephelus itajara), cujo nome científico foi dado por um explorador alemão do século XIX, que tomou emprestado a denominação tupi do mesmo: ita - pedra, jara - senhor, ou seja, senhor das pedras. Os índios na sua sabedoria sabiam que o peixe é o topo da cadeia alimentar nos arrecifes e pedras submersos. Nos EUA é conhecido como Goliath Grouper (Garoupa Golias). O adulto pode atingir 250 a 400 kg, por isto é muito cobiçado pelos pescadores (além da carne deliciosa) mas ele tem um crescimento demorado. Por isto a IUCN classifica este peixe como criticamente ameaçado e está protegido desde 2002 (pesca proibida) no Brasil. Mas infelizmente isto não é respeitado. Os pescadores quando pegam um rapidamente descamam e cortam o bicho em pedaçõs, ficando difícil flagrá-los.

    Justamente por estar no topo da cadeia, ele é destemido. Por vezes arranca um peixe se debatendo do arpão de um caçador submarino. E por vezes é curioso, permitindo a aproximação de mergulhadores.

    Nadou rapidamente para a gruta, que deve ser a toca dele (gosta de viver entocado) onde László fez excelentes tomadas.

    Depois de algum tempo correu para o fundo da gruta e decidimos subir. O computador já indicava cerca de duas horas de descompressão. Localizamos a carretilha, fomos até o cabo da âncora e iniciamos a subida e a longa descompressão, ainda com vívidas imagens do mero na cabeça.

    O gráfico do computador mostra a longa descompressão. Tempo total de mergulho 205 minutos. Ficamos cerca de 50 minutos no fundo. A diferença de tempo é na subida (descompressão).

    Peixe lindo, majestoso, espero que sobreviva a cobiça dos homens.

    Vida longa ao mero, senhor das pedras!

    Meu agradecimento a László Mósari por este soberbo mergulho e por ter cedido o excelente vídeo anexo.

    O László em primeiro plano. O maior especialista brasileiro em mergulho com rebreathers. O sorriso dele não precisa explicar!

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 29/10/2019 10:43

    Realizada em 27/10/2019

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    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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