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Peter Tofte 28/03/2025 21:16
    Parque Nacional Cerro Castillo - Aysén - Patagônia chilena.

    Parque Nacional Cerro Castillo - Aysén - Patagônia chilena.

    Segunda vez no belíssimo parque nacional da região de Aysén, ao lado da Carretera Austra, percorrendo a travessia Las Horquetas em 4 dias.

    Montañismo Trekking

    Saltamos do pequeno ônibus aproximadamente 10 horas no acostamento da Carretera Austral em Las Horquetas. Um casal de trekkers americano saltou conosco. Bela manhã com um sol gostoso batendo em nossos rostos.

    No estacionamento ao lado da estrada haviam três carros parados. Provavelmente de chilenos que fariam a mesma travessia.

    Inicio.

    Tivemos que passar por algumas escadinhas destas que impedem o gado de passar. Terras privadas.

    Atravessamos uma pequena ponte pênsil e descemos pelo vale até a guarita de controle da CONAF. Estava fechada. Mas o livro de registro de entrada estava aberto para que preenchêssemos. Lucia notou que nesta manhã dois chilenos já haviam feito o registro, na nossa frente.

    Já havíamos pago o ingresso a concessionária do parque via internet e os comprovantes estavam no nosso celular. Em algum momento alguém iria pedir.

    Uma placa grande com um mapa dava boas indicações. Hoje andaríamos 15 km até a área de camping do Rio Turbio. Onde acampei em 2016, a guarderia na entrada do parque, não era mais permitido. Tanto melhor! O rio Turbio é um lugar lindíssimo.

    Tirei duas fotos do mapa da placa, para consultar caso necessário:

    Uma pequena ladeira através de pasto nos levou a um bonito bosque de lengas que acompanhou nossa jornada pela maior parte do dia.

    Depois da concessão a trilha ficou melhor sinalizada com estacas de aço vermelhas. Uma placa me chamou a atenção.

    Eles podem ser perigosos. Não havia esta indicação 9 anos atrás.

    Seguimos por bom tempo na sombra, aqui e ali desviando de poças de água. Havia chovido bem nos últimos dias. Passaram alguns trilheiros mais ligeiros que nós. Chegamos ao posto viejo da CONAF, também fechado.

    Estávamos em terras privadas e havia algumas pastagens com gado.

    Aproveitamos para lanchar na travessia do primeiro rio, mais caudaloso. Água fria até o meio da canela, mas nada arriscado. Só cuidado para não escorregar nas pedras do leito do rio.

    Deste ângulo não se percebe muito que o rio estava caudaloso.

    Em 2016 estava bem mais seco e não precisei sacar as botas em nenhuma das travessias.

    Enquanto lanchamos vários trilheiros cruzaram o rio. Me surpreendeu a quantidade. Na última vez, na mesma época, apenas encontrei dois chilenos no acampamento da 1ª noite (ver relato aqui: Cerro Castillo, Aysén, Chile – Patagônia). Creio que muitos trekkers esperaram a chuva passar para iniciar a travessia. E hoje era o primeiro dia com tempo bom. Demanda represada. Outra razão é que o PN Cerro Castillo é hoje mais renomado e conhecido.

    Continuamos. Sem saco para tirar os tênis a cada rio começamos a atravessá-los sem tirar os calçados. Eu estava com um bom tênis auto drenante. Para Lucia, com uma bota com Goretex, isto poderia cobrar um preço...

    Logo depois encontramos com um americano muito boa praça, o Adam, de Washington DC. Estava a vários meses percorrendo a América Latina, desde a Colômbia. Falava bem o espanhol. A conversa fluía em espanhol e inglês. Falou que o pessoal que ele mais gostou foi o colombiano e o brasileiro. Esteve até na Bahia, nossa terra, hospedado de graça num espaço da famosa Baiana System (que outra vez arrasou neste Carnaval)!

    Andava rápido apesar de ter duas mochilas, uma atrás e outra na frente. A de trás estava subdimensionada. Contou que estava arrependido de ter comprado uma mochila de menor capacidade. Eu, com uma 58 litros, e Lucia com uma 35+15, estávamos satisfeitos. Mas ele ainda carregava um drone como viemos a notar.

    Nos despedimos. Ele tinha uma passada mais rápida.

    Por volta de 17 horas chegamos na entrada do parque, onde acampei da última vez. Lugar cheio de taturanas e me queimei na ocasião.

    Seguimos porque teríamos mais uma hora até o camping rio Turbio.

    Ao sair da floresta baixamos num trecho do vale com uma grande área sem vegetação onde corria o rio Turbio e seus afluentes. Ao Sul dava para ver o passo Peñón, que cruzaríamos amanhã.

    Chegamos ao camping habilitado em meio a uma floresta de lengas tendo a direita o rio Turbio. Era cerca de 18 horas. Área ampla para acampar com baño e mesas/bancos. Deveria haver quase 20 tendas!

    Lugar lindo! Me arrependi de não ter acampado nesta área em 2016. Considero um dos mais belos acampamentos de toda a Patagônia, pelo cenário circundante.

    Montamos a barraca e fui tirar fotos.

    Ultimos raios de sol.

    Nada de banho hoje. O rio Turbio tem águas turvas (daí o nome) porque vem de uma geleira e carreia muita suspensão. Fomos de baby wipes mesmo.

    O único vaso sanitário aberto não estava muito ...hmmm...convidativo. Preferimos nos afastar do acampamento com uma pazinha.

    Chá, missoshiro e uma comida liofilizada foi a janta, nosso padrão nesta viagem.

    A noite fez 5ºC dentro da barraca. Céu estrelado, noite fria! Lucia, que não podia usar um frasco de xixi, saiu da barraca e contemplou uma lua cheia belíssima.

    Eu estava usando um Aegimax Wind Hard e Lucia um Marmot Never Winter. Meu quilt não era apropriado em latitude tão baixa. Na verdade, não esperava fazer esta trilha nesta viagem (mudança de planos). Assim, tive que usar também um agasalho de pluma, um colete de pluma, balaclava de pluma e calça de fleece. Lucia estava melhor com seu saco de dormir, mesmo assim usou seu agasalho e sua botinha de pluma.

    Em Santiago, prevendo uma situação destas, comprei uma garrafa Nalgene de um litro. Desprezada pelos trilheiros ultra light ela tem seu valor nestas ocasiões! Encher com água fervendo e botar debaixo do quilt. O plástico deixa passar calor na medida certa, sem queimar, e quatro horas depois ainda está quentinha, quase morna. Coisa boa! O ligeiro peso a mais é mais que compensado pelo conforto proporcionado. E pode ser até uma questão de sobrevivência!

    No caso eu fervia água e fazia chá, colocando-o no Nalgene. Além de aquecer, poderia beber um chá quente durante a noite. Normalmente eu o bebia morno no início da trilha, pela manhã, ao invés de água gelada.

    ....

    Amanheceu outro dia bonito. Seria um dia de apenas 8,8 km até o acampamento seguinte, El Bosque. Mas o passo Peñón estava no caminho...

    Subida tranquila pelo bosque de lengas com um córrego a nossa esquerda até sairmos da linha das árvores e cairmos numa canaleta de pedras, subindo para o passo.

    Passo Peñón visto quase do final da linha das árvores.

    Marcas amarelas nas pedras e pircas indicam o melhor caminho no pula pedras.

    Adam, que saiu mais tarde, nos alcançou já perto do selado. Neste ainda havia alguns manchões de gelo/neve que exigiam algum cuidado na descida. Lucia baixou bem vagarosa pois era sua primeira vez num declive assim. Passos curtos pisando firme com o calcanhar para fazer um mini degrau.

    Lucia no passo.

    Ponto mais alto do passo. A descida do outro lado merece atenção.

    Ao sairmos do gelo paramos para lanchar. Dali recomeçamos a descida, agora sem gelo, mas bem empedrada com declive acentuado. Lucia neste tipo de terreno é bem lenta. Acabei descendo na frente e esperei lá embaixo no anfiteatro, sentado de frente para a encosta e acompanhando a progressão dela. Sabia que não adiantava estar ao lado de Lucia para tentar apressar a descida. Aproveitei para comer alguma coisa.

    Adam chegou depois no anfiteatro, pois lançou seu drone para filmar a geleira acima, no Cerro Peñón. Me mostrou o vídeo. Geleira grande!

    Lucia chegou e iniciamos o caminho no platô quase sem vegetação do anfiteatro, até alcançarmos um bosque de lengas onde começava uma descida pronunciada.

    Deixando o anfiteatro e entrado no bosque de lengas. Última visão do passo Peñón.

    Encontramos Adam mais a frente porque ele pegou um caminho errado. Seguiu em frente quando a trilha dava um zignau à direita. A barra de aço vermelha de sinalização ficava meio que oculta. Adam estava fechando a trilha errada com galhos para que que ninguém mais se enganasse. O cara era um anjo na trilha.

    Seguimos. Nos córregos pequenos a ponte era um tronco de madeira que exigia equilíbrio e bastões. No rio havia pontes.

    Vista de uma das pontes para o maciço do Cerro Castillo.

    No fundo do vale o acampamento antigo, “en recuperación”. Uma placa dizia mais meia hora para o camping oficial (El Bosque).

    Placa mentirosa. Mais uma hora subindo por uma trilha cansativa, com trechos íngremes. Esta travessia não é facinha!

    Chegamos no acampamento quase ao escurecer.

    Nosso lar.

    Fica ao lado de um bonito rio que desce a montanha. Se baixar para o rio, onde buscávamos água, é possível ver o belo Cerro Castillo entre as árvores.

    Jantamos e outra vez banho de baby wipes. Posso até tomar banho de rio, mas deve ter sol ainda.

    Notei como pouco me recordava das paisagens e das trilhas que percorri apenas 9 anos antes. Uma das explicações é que andei muito rápido. Para dar uma ideia, fui da guarderia (entrada do parque) até a laguna Cerro Castillo (2ª noite - era permitido acampar lá na ocasião) em apenas um dia, 14 km bem exigentes com uma mochila bem mais pesada. Em compensação não memorizei bem as paisagens. Ou será esclerose?

    .....

    Amanheceu outro dia ensolarado. Partimos para a laguna do Cerro Castillo. Subida fácil. Chegamos cerca de 11 horas e tiramos fotos da bela laguna glaciar. Adam lançou o drone, por isso partimos para o Morro Negro rumo ao acampamento Porteadores antes dele.

    Laguna no seu deságue. Parecia um espelho refletindo o Cerro Castillo.

    Subida fácil a princípio, mas logo entramos num terreno bem pedregoso, pula pedra insano. Era a morena lateral de um glaciar que na última era do gelo (há 10 mil anos) tratorou aquela encosta com força fenomenal.

    Lúcia ficou para trás. Deixei minha mochila e voltei para pegar a dela e assim ajudar, pois o equilíbrio do corpo andando nas pedras sem a mochila fica mais fácil.

    Vista da laguna a partir da morena.

    Vista mais acima.

    Paramos para comer algo antes de subir o Morro Negro (1.689 m). Ascenção fácil, mas cansativa.

    Dava para ver a vila de Cerro Castillo lá embaixo.

    Depois percorremos um bom trecho pela crista deste morro até quase no ponto onde ele se encontra com o Cerro Castillo. De lá uma descida muito pedregosa até o acampamento Porteadores. Adam lançou o drone mais uma vez.

    Grande Adam! Na subida do Morro Negro.

    Tirou uma foto nossa.

    Da crista dava para observar bem as montanhas ao sul. A maior de todas, pela direção e imponência, tenho quase certeza que era o cerro San Lorenzo, 2ª mais alta da Patagônia chilena. Fiquei no refúgio do acampamento base em 2016.

    Descida lenta de Lucia devido ao tipo de terreno. Fiquei preocupado porque não queria ser pego pelo anoitecer na encosta do Morro Negro. Fiquei bravo com ela. Mas era uma limitação que é difícil de superar (medo de queda nas pedras).

    Vista do cimo do Morro Negro para o circo onde fica o acampamento Neozelandês.

    Lucia propôs acamparmos num platô onde havia água e começava a linha das árvores. Disse-lhe que não. Além de ser lugar não autorizado, o Adam, que baixou primeiro, poderia ficar preocupado e alertar os guarda parques que algo havia ocorrido.

    Deste modo continuamos a baixada. Minha preocupação se dissipou diante daquele belíssimo bosque de lengas que percorríamos e ao perceber que alcançaríamos o fundo do vale a tempo. Chegamos ao acampamento Porteadores justo ao escurecer. O Adam já estava esperando com a headlamp ligada do outro lado do rio e mostrou onde se podia cruzá-lo sem molhar os pés. Eram 20:30. Ele disse-nos que se não chegássemos até 21 horas ele iria subir para procurar-nos.

    Por essas e outras convidei-o a nos visitar na Bahia, oferecendo hospedagem conosco.

    Armamos o acampamento e jantamos no escuro. Fui buscar água numa bacia colapsável no rio e joguei água fervendo em cima para ficar quentinha e fazer um escalda pés para Lucia, que estava com os pés doloridos.

    Acampamento com áreas planas, cercadas, com mesas e bancos. Banheiro seco razoável.

    Novo banho de lencinhos. Affff!

    Combinamos com Adam sairmos dia seguinte 9 horas para a vila Cerro Castillo. Por compromisso com amigos que vinham de São Paulo, que encontraríamos em Puerto Montt, pulamos a última noite (4ª) no acampamento Neozelandês e a visita a laguna Duff, acima. Já havia visitado em 2016.

    ,,,,

    Último dia.

    Nossa barraquinha ao amanhecer.

    Nove horas já estávamos prontos. Encontramos Adam tomando café. Não havia ainda desmontado a tenda. Disse que desceria mais tarde. Nos despedimos e baixamos.

    Outro bonito caminho, desta vez fácil e bem batido. Muita gente sobe por ali para apenas visitar a laguna Duff e o Neozelandês, pagando ingresso de apenas um dia.

    Olhando para trás, na descida para a saída do parque. Em destaque creio ser o Cerro Palo.

    Descida muito tranquila.

    Na planície, chegamos pouco depois das 11 horas na casinha de controle. Lá apresentamos nossas entradas. Checaram e nos deram um recibo de papel. Parece ser conversa esta informação de que só pode comprar ingresso antecipadamente no site. Vi pessoas pagando na hora o ingresso.

    Um carro grande estava estacionado ao lado e parecia que fazia transporte de pessoas. Perguntei ao condutor e ele confirmou. Eram mais 6,6 km até a vila em estrada de rípio. Pagamos com prazer os 3.000 pesos cada. E chegamos a tempo de comprar comida numa lanchonete e pegar o ônibus de meio-dia para Coihaique!

    Em Coihaique não saímos da rodoviária. Demos sorte e pegamos dois dos lugares do ônibus lotado, de passageiros que não compareceram, e fomos sentados até Puerto Cisnes. Fica quatro horas de distância ao norte. Na manhã seguinte pegaríamos uma barcaça (ferry boat) ali. Viagem de 12 horas até Quellón (Sul da ilha de Chiloé).

    Dormimos num hostal muito bom em Puerto Cisnes. Cidade bonitinha, como parece ser a regra aqui.

    Embarcamos no ferry meio-dia no dia seguinte. A viagem na barcaça vale muito a pena, navegando pelos lindos canais e ilhas ao sul de Chiloé. Bem mais confortável que ônibus.

    Chegamos em Quellón meia noite. Sorte que consegui um telefone de hostal e pudemos dormir até 6 horas da manhã.

    Dali foram mais 4 horas de ônibus para Puerto Montt. Combinamos com o casal de amigos que nos encontraríamos na rodoviária para comprar a passagem seguinte para a vila de Hornopirén, próxima etapa de nossa viagem, e a primeira deles. Iríamos subir para o PN Hornopirén (próximo relato).

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado en 28/03/2025 21:16

    Realizado desde 10/03/2025 al 13/03/2025

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    2 Comentarios
    Duda Borges 28/03/2025 21:31

    Peter, antes de mais nada, meus parabéns pelo relato e pela aventura. Achei um tanto seco, mas vc disse no relato que havia mais água agora do que em 2016, é isso mesmo?

    1
    Peter Tofte 29/03/2025 15:18

    Com certeza Duda. Passei o rio sem tirar as botas. Agora impossível. Tirei a foto afastado do rio, daí a impressão.

    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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