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Peter Tofte 09/02/2023 12:41
    Poço das Estrelas via Lutanda

    Poço das Estrelas via Lutanda

    Quatro dias maravilhosos numa das mais belas cachoeiras da Bahia em excelente companhia.

    Foto portada: gerais acima da cachoeira da Fumaça (Ernani).

    Foto avatar: rã Bokermannohyla oxente

    Um casal de amigos, Ernani e Dani, me disseram que dois amigos deles, biólogos, colegas de graduação na UFBA, estavam vindo para Salvador e queriam conhecer as cachoeiras de Itaitê. Me convidaram para ir junto.

    Propus uma alternativa: irmos para a cachoeira da Fumaça em Pindobaçu, que visitei em dezembro passado e adorei (ver relato "Road trip parada 3 - Pindobaçu - esmeraldas e cachoeiras"). Eles não conheciam. Argumentei que com chuvas fortes seria difícil subir os cânions da Encantada e do Herculano (em Itaetê), além da distância maior e estrada não tão boa.

    Concordaram e saímos de Salvador 4:30 da manhã. Paramos em Capim Grosso 8:30, onde tomamos um café reforçado (que incluía mocotó). Chegamos ao nosso destino, Lutanda, distrito de Pindobaçu, por volta de 12 horas, onde deixamos o carro no quintal do seu Pedro.

    Em dezembro passado fui para a cachoeira da Fumaça por um caminho hardcore, via poço do Careca. Agora iríamos por uma trilha bem mais fácil, via Lutanda. Lutanda é um nome bonito, provavelmente de origem africana. Há várias comunidades quilombolas na região.

    Pegamos com seu Pedro as indicações para subir para a capelinha. O App Wikiloc, onde baixei a trilha para consultar offline, não aparecia a nossa localização. Se tornou inútil.

    Mas com a orientação foi fácil chegar ao início da trilha batida. Com alguns minutos de andada atravessamos o rio da Fumaça.

    Pedro, Breno, Dani e Ernani após a travessia.

    Uma hora após a partida estávamos no pé da serra. Subida cansativa, especialmente o último trecho, mais íngreme, erodido e com muitas pedras soltas na trilha.

    Chegamos 14:30 na capelinha onde curtimos a bela vista, lanchamos e fotografamos. Quase 1.000 metros de altitude.

    O quinteto na capelinha (foto Pedro).

    Ernani no mirante da capelinha. Ao fundo, a Sete Quedas.

    No platô o avanço foi fácil. Campos de gramíneas intercalados por bosques. Mergulhamos numa belíssima florestinha na encosta de um morro.

    Foto Dani.

    Menos de uma hora depois da saída da capelinha chegamos no poço das Estrelas, cachoeira da Fumaça. Os companheiros de jornada ficaram de queixo caído com a beleza do lugar.

    A cachoeira tinha bem menos água que no começo de dezembro. Mas estava muito bonita porque a queda batia nas rochas e subdividia em outras quedas dando um efeito de chafariz.

    O quinteto no poço das Estrelas (foto Pedro).

    Armamos as tendas. Ernani e Dani ficaram no camarote da diretoria e eu, Breno e Pedro mais abaixo.

    Tomamos um banho frio. Ficamos o resto da tarde descansando no acampamento.

    Tenda branca de Dani e Ernani no camarote da diretoria, a esquerda da cachoeira (foto ernani).

    De outro angulo, do lado da tenda.

    De noite a janta e uma fogueira tomando licor de cambuí. Descobrimos que todos esquecemos de colocar na mochila a cachaça de Abaíra, que Ernani distribuiu em pequenas PET de Coca-Cola e que cada um deveria levar. Tragédia!

    Noite com temperatura agradável, 22 graus. Mas Ernani e Dani dormiram mal porque os isolantes infláveis da Klymit, de ambos, esvaziaram. No exame que fizemos pela manhã me pareceu ser um defeito de fabricação.

    Eu, Pedro e Ernani fomos para a área de camping (local que cabem muitas barracas) num bosque a 15-20 minutos dali e procuramos o caminho para o topo da cachoeira da Fumaça. Não foi difícil encontrarmos. Fotos e mais fotos.

    Topo da Fumaça onde se vê metade do poço das Estrelas e o rio correndo para a queda da Véu de Noiva.

    Outra foto, esta de Ernani. Acampamos lá embaixo junto ao poção.

    Voltamos para a área de acampamento e ao atravessarmos o rio descobrimos uma trilha que subia para o lado esquerdo do cânion.

    Um teiú no caminho (foto do Pedro).

    Alcançamos uma área de platô. Como a trilha era um pouco apagada eu liguei o GPS do meu relógio para garantir o caminho de volta. Percorremos durante uma hora uma área bem selvagem. Vegetação baixa com ilhas de árvores.

    Parece um bosque de bonsai.

    Lá no platô superior, olhando para oeste, apenas matas, sem sinal de habitações. Chegamos na borda da serra, com vista para leste, e avistamos Lutanda (de onde partimos) e outro povoado, Grota dos Ferreira. Mais ao longe, a beira da BA 131, a cidade de Antonio Gonçalves.

    Consegui ligar para casa deste ponto alto. Voltamos dali e chegamos no acampamento por volta de 14:30. No caminho uma das botas de Ernani soltou o solado. No último trecho ele foi com um pé descalço para o acampamento.

    Lanchamos e tiramos o resto da tarde para descansar, se banhar e conversar. Ernani recolocou o solado no lugar com ajuda de silver tape e cordolete.

    Apareceu um grupo grande, cerca de 10 pessoas da região. Visitavam a cachoeira e fizeram linguiça assada numa fogueira. Muito gentis ofereceram cerveja. Ao final, nos deram uma garrafinha de vodka, um resto de licor de gengibre, um pote de margarina cheia até a metade com mel (haviam colhido numa colmeia selvagem no caminho) e limões. Providencial porque esquecemos nossa cachaça!

    Desceram para Lutanda do meio para o final da tarde.

    A noite fizemos uma caipiroska com o que ganhamos e proseamos em volta da fogueira. Muita risada.

    Dia seguinte fomos rio abaixo para visitarmos o poço inferior da Véu de Noiva e o topo da grande Sete Quedas.

    Véu de Noiva (foto Ernani)

    Na beirada de uma das Sete Quedas (foto Dani).

    Enquanto estávamos na Véu de Noiva avistamos um grupo chegando ao poço das Estrelas por outro caminho. Ao voltarmos ao acampamento encontramos eles lá. Eram na maioria da Grota dos Ferreira. Subiram por outra trilha, mais curta, porém bem mais íngreme. Dona Menininha, de quase 60 anos, subiu de havaianas. Me senti o próprio Nutella comparado a ela.

    Trouxeram frutas e comida para também lanchar no local. No meio da tarde desceram. Percebemos que boa parte do pessoal das localidades próximas visita a cachoeira, mas num esquema de bate e volta. Não tem equipamento ou não gosta de acampar. Para nossa alegria, já que todas as noites dormimos sozinhos no lugar.

    Acabei tirando uma soneca no lajeado. Ernani tirou fotos sensacionais da piscina infinita (poço superior da Véu de Noiva) com o celular numa técnica recém-descoberta por ele.

    Dani no poço superior da Véu de Noiva (foto Ernani).

    Observamos pássaros lindos. Taperuçus de coleira branca (Streptoprocne zonaris) pousados na parede debaixo da cachoeira, saíras douradinhas (Tangara cyanoventris) e um sanhaço de fogo (Piranda flava). A identificação foi feita pelo Pedro.

    Ao escurecer, depois do jantar, Pedro e Breno saíram para o bosque na área de camping para uma pesquisa de campo de herpetologia procurando com a lanterna as rãs do local. Acompanhei-os. Entre as copas das árvores divisamos a lua quase cheia.

    Uma Bokermannohyla oxente.

    Na volta tomei um banho de rio antes de dormir.

    Dia da partida. Acordamos as 6 horas. Uma névoa está sempre presente no clarear do dia. Daí o nome serra da Fumaça. A descida foi feita em 3 horas. Carregamos todo nosso lixo e parte do lixo encontrado no local. Infelizmente a educação ambiental não é o forte do povo que frequenta o lugar.

    Carregando o lixo dos outros no saco branco.

    Descendo para Lutanda.

    Durante a descida um inseto começou a morder a perna de um companheiro, dentro das calças. Sentindo dor, ele baixou as calças e pediu para localizar o inseto. Claro que aproveitamos para tirar fotos e zoar com o coitado.

    Ao chegarmos a Lutanda, na casa de seu Pedro, onde deixamos o carro, ele ofereceu manga e umbu. Uma delícia.

    Dani com seu Pedro e Mariele.

    Almoçamos no restaurante Panela de barro de Dona Dagmar em Pindobaçu. Galinha caipira e baião de dois de respeito. E ainda visitamos um tio de Ernani, o sr. Antonio Peralva, que ele não via desde 2008.

    Chegamos em Salvador as 19 horas após uma viagem tranquila.

    Esta área toda deveria ser Parque Nacional ou Estadual. Mas nestes anos todos tanto esquerda como direita no poder não fizeram nada. Tem muita demagogia e na realidade só pensam em $$$$$. Precisamos de um partido realmente verde governando o País e a Bahia.

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado en 09/02/2023 12:41

    Realizado desde 01/02/2023 al 04/02/2023

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    7 Comentarios
    Ernani 09/02/2023 13:35

    Mais um excelente relato!  Relembrar é viver!  Que massa os encontros com os nativos! Boas prosas e novas amizades! Dona Menininha prometeu fazer um almoço com galinha de quintal e doce de leite de sobremesa!  Ansioso por esse retorno!  

    3
    Frank 09/02/2023 14:10

    Mais um show de relato. Esse rolê tá na nossa lista. Peter, escreva um livro de cronicas trilheiras...vai sair muita coisa boa dessas memórias

    2
    Peter Tofte 09/02/2023 14:21

    Frank, uma hora destas vamos combinar algo juntos!

    Daniela Coelho 09/02/2023 14:37

    Viagem sensacional!!! Peter, como sempre, acertando na escolha do roteiro e arrasando no relato! 

    1
    Peter Tofte 09/02/2023 15:39

    Dani, vamos abrir a empresa Cobra Criada Guiadas e Estudos Ambientais Ltda... kkkkkk

    1
    Jose Antonio Seng 17/02/2023 22:23

    Sensacional, como sempre, Peter ! Lindas fotos. E que foto foi aquela da Dani ?!?! Capa de livro !

    1
    Rodrigo Oliveira 08/03/2023 17:30

    Bonito Lugar Peter! Nem sonhava com essas serras aí e as cachoeiras sendo tão bonitas! Infelizmente quando se trata de meio ambienge na Bahia, no Brasil para ser sincero, as coisas são sempre ruins ou piores. Tamo precisano dar uma pernada Hardcore em busca de um certa cachoeira perdida, não é mesmo? Abração!

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    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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