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Road Trip Bahia 2024 - em busca de cachoeiras
Duas semanas percorrendo a região de Morro do Chapéu e Serra de Jacobina atrás de belezas naturais e cachoeiras.
Trekking MountaineeringA Bahia é um mundo, com muitas belezas naturais por conhecer. Gostamos de descobrir novos lugares especiais, especialmente cachoeiras. O carro é muito útil nestas explorações, daí fazermos uma road trip anual, afora os trekkings.
Saímos de Salvador dia 03/11 rumo a Morro do Chapéu e a Serra de Jacobina.
Pernoitamos na cidade de Morro do Chapéu após visitarmos uma vinícola (a região é produtora de vinho). Precisamos usar um casaco de pluma devido ao frio.
Dia seguinte partimos para o rio do Ligeiro, distante meia hora de carro. É a praia do pessoal de Morro, sorte que era segunda-feira, e a praia ficou só nossa. Paramos o veículo e ao lado armamos a barraca, a 10 metros do rio. Legítimo car camping. Tomamos um bom banho.
Tenda a 3 metros do carro.
Rio do Ligeiro.
Dia seguinte deixamos o carro estacionado defronte a casa do seu Duda, 5 km adiante, e descemos com as mochilas o rio do Ligeiro em busca da Cachoeira do Agreste I, com ajuda do Wikiloc. Seguimos andando pela margem ou pelo leito.
Com uma hora de caminhada chegamos ao topo da cachoeira e descemos para o poção inferior.
Agreste I. A pouca água que caía estava atrás desta grande rocha.
Pouca água porque estávamos no final da estação seca. E rio abaixo um grande poção de águas escuras onde nadamos. Lúcia ficou invocada com bolhas de ar que saiam do fundo do rio. Para acalmá-la disse que era apenas uma sucuri soprando bolhinhas. Mas, de fato, parecia que havia algo produzindo aquelas bolhas.
Vista de cima da piscina da sucuri kkkk.
Demos um tempo na sombra de uma árvore (solzão) e lanchamos. Depois retornamos rio acima em busca de lugar para acampar. Junto a cachoeira não havia espaço plano para armar a barraca. Terreno muito pedregoso e acidentado.
Achamos um ponto sombreado por árvores junto a um açude, para armar a tenda. Outro banho e preparamos o jantar a luz do entardecer.
Como não havia muito fluxo de água no rio usei o Clorin para assegurar a potabilidade. Algo que não faço na Chapada Diamantina.
Nosso açude particular. O rio do Ligeiro tem muitos destes pequenos açudes.
A noite colocamos uma esteira nas lajes de pedra para deitar e observar estrelas, aviões e satélites passando.
Dia seguinte retornamos ao carro e proseamos um pouco com seu Duda, que mostrou o rio nas redondezas.
Voltamos para o mesmo lugar do 1º pernoite no rio do Ligeiro e dali decidimos caminhar até a Agreste II. Da Agreste I, onde estávamos, não havia trilha e o rio é muito acidentado.
Quatro km de caminhada com sol forte. Observei que a estrada não estava tão ruim assim, dava para ter ido de carro. Chegamos numa propriedade privada com um portão. Sorte que estava aberto. Parece que houve a intenção de cobrar entrada pois há uma portaria semiacabada. Não foi o caso de cobrança.
Descemos para o rio e seguimos pela margem esquerda verdadeira por uma bela vegetação de caatinga alcançando um lindo mirante no topo da cachoeira. Não havia caminho para o poção inferior. Compreendi logo que a trilha para baixo da cachoeira deveria ser na margem direita verdadeira. Teríamos que voltar tudo pois não dava para simplesmente atravessar o rio porque ele corria num cânion íngreme 20 metros abaixo de nós. Desde cânion a Agreste II caia num cânion mais fundo ainda.
Agreste II. Mais bonita e maior que a Agreste I.
Voltamos até o começo da trilha onde tomei um banho no açude e lanchamos.
Rio a jusante do açude, no começo das trilhas. Lanchamos na casinha ao fundo.
Decidimos voltar ao carro e não visitar o poção inferior da cachoeira. Esta parte é linda, porque o rio escavou um avarandado (negativa) em ambos os lados do poção. Fica para a próxima vez. Neste atrativo não encontramos quem quer que seja.
Notei no Google Maps que existe uma estrada alternativa cuja entrada é na Estrada do Feijão, antes de Morro. Não precisávamos ter andado 8 km ida e volta debaixo do solzão.
Tiramos a noite em Morro do Chapéu num hotel furreca. O bom, anterior, estava lotado. A cidade não tem muita oferta de leitos.
Dia seguinte partimos para Miguel Calmon, dali subindo para o Parque Estadual Sete Passagens (PESP). Mas logo na Portaria explicaram que o camping estava fechado. O INEMA já estava há um ano para regulamentar o uso da área do camping deixando-o fechado enquanto isto. O parque tem atrações lindas e dá para fazer bate-e-volta. Mas o delicioso é acampar ali, a quase 1.000 metros de altitude depois de visitar os atrativos. Já estive lá acampado duas vezes por isso adoro o lugar. Não vale a pena descer para pernoitar na cidadezinha de Miguel Calmon. Uma lástima esta demora para regulamentar e reabrir o camping.
Apenas lanchamos no PESP e decidimos seguir para Mirangaba, para a cachoeira do Gelo, pulando para a próxima etapa planejada da viagem.
Pé no acelerador. Passamos por Jacobina e chegamos a Mirangaba em duas horas. Dali estrada de chão por mais meia hora, até onde começamos a trilha de meia hora para a cachoeira. No lugar onde deixamos o carro havia um bar onde encomendamos uma galinhada com óleo de babaçu, especialidade da casa, para o dia seguinte, na nossa volta.
A caminho da cachoeira do Gelo.
Pense num lugar bonito! A cachoeira cai num poço de águas negras que banham uma praia de areia branca, onde armamos a tenda. Após o jantar, à noite, estendemos a esteira na areia e tomamos um vinho ao som da queda d’água. Noite linda. Mas ali não era lugar para acampar se ameaça chover bastante. Um povo da cidadezinha de Valente resolveu acampar ali apesar do aviso dos moradores de que vinha chuva. Choveu muito a noite e as pessoas bem embriagadas acordaram com água dentro das barracas. Tiveram que evacuar a área às pressas.
Ficamos acampados sozinhos. Nestes locais planejei chegar e ficar em dia de semana para evitar a muvuca.
Nossa tenda nossa vida...
Voltamos dia seguinte por volta de meio dia para o carro e comemos a galinhada de dona Bia, no Bar do Beto. Delícia feita num fogão a lenha. E ainda compramos um litro de óleo de babaçu, que além de uso culinário tem uso cosmético. Eu usarei na salada e Lúcia na pele.
Despedida. Gente simples e hospitaleira. Comunidade quilombola.
Rumamos então para o povoado de Nuguaçu, para visitar a cachoeira de mesmo nome. O Wikiloc é imprescindível nestes roteiros.
A cachoeira ficava cerca de 30 a 40 minutos de onde deixamos o carro. Ela tinha pouca água e vinha de grande altura em 3 etapas escorrendo numa encosta rochosa com inclinação entre 45 e 60°. Ao final de cada etapa (queda) havia um poço num degrau da rocha de onde a água caia para a próxima etapa. Pena que não dava para acampar ali junto a estes poços nos degraus. O terreno era muito acidentado. Não dava sequer para pôr um saco de bivaque.
Uma piscina em cada degrau.
Vista da cachu do outro lado do rio. Note que são três quedas consecutivas.
Vista vale abaixo.
Voltamos pela mesma trilha em meio a mata até um ponto plano a beira do rio onde o pessoal acampa. Havia até uma mesa estilo bushcraft feita de galhos. Lugar bonito.
Armada a tenda fomos para o banho. Estávamos usando uma tina de água que colapsava, da Sea to Summit, que permite pegarmos uma boa porção de água. Entravamos na água para nos molhar e, em seguida, nós ensaboávamos com sabão de coco fora do rio e usávamos a água da tina para enxaguar, afastados da corrente d’água. Assim o sabão ficava longe do rio. O conjunto tina + kit de limpeza de cozinha (escova, porta detergente, toalhinha e esfregão) não pesava mais que 200 gramas. Depois do jantar usamos novamente a tina e o kit para lavar a louça, desta vez evitando que o detergente alcançasse o rio. É um bom acessório para a prática do leave no trace. Penso também em usar a tina em lugares frios para misturar água fria com água fervente de um fogareiro para que o banho de caneco de Lúcia não fique tão frio.
Outra noite tranquila sem chuva.
Dia seguinte saímos de carro pela estrada de terra e avistamos uma grande e bonita caninana atravessando a estrada, com seu belo preto e verde. Saltei do carro para tentar filmar. Mas ao perceber minha aproximação ela serpenteou para o mato e subiu quase verticalmente para uns galhos e desapareceu. Minha valente Lúcia ao ver a cobra tratou de fechar o vidro da sua janela no carro. Dei risada da precaução dela, mas ao ver a cobra com quase todo corpo na vertical notei que uma caninana tranquilamente entraria pela janela de um automóvel.
A caninana (Spilotes pullatus) não é peçonhenta, mas é agressiva. Ataca e morde se se sentir ameaçada. Já presenciei amigos do grupo de bushcraft terem de se esquivar dela.
Prosseguimos agora pelo asfalto passando por pequenos vilarejos. Num deles avistamos um caminhão mercado, cheio de bugigangas penduradas. O dono-motorista passava com determinada frequência pelos povoados e anotava num caderninho o crediário que fazia para os moradores. Casas Bahia do sertão. Tirei uma foto.
Seguimos para o outro lado da serra de Jacobina, passando por Carnaíba de Baixo, onde foi encontrada a maior drusa de esmeralda do mundo. Em alguns morros notávamos as feias cicatrizes da mineração.
Atravessando a serra passamos ao lado da bonita represa de Pindobaçu.
Paramos para almoçar a beira da estrada num restaurante com WIFI para falarmos com nossos parentes. Acampando ficamos por vezes 2 a 3 dias sem sinal. Boa desintoxicação.
De lá tocamos rumo a cachoeira do Payayá que já conhecíamos de 2022.
Paramos o carro, atravessamos o rio Payayá e fomos para o local de acampamento a apenas 10 minutos. Botamos a tenda a sombra das árvores. Não fomos para a cachoeira porque já conhecíamos e é proibido acampar lá (é uma RPPN) embora não respeitem.
O rio tinha menos água, mas ela estava deliciosa, O problema eram as piabas que insistiam em fazer a remoção dermatológica das marcas na pele, especialmente dos rubis.
Fui ao carro buscar algo e na volta um animal escuro grande, quadrupede, saltou da mata a margem do rio e atravessou correndo a trilha, entrando na mata outra vez. Fez um bom barulho. Eu e Lúcia não conseguimos enxergar direito porque foi muito rápido. Creio que era um porco do mato.
Na hora mais quente da tarde fomos para barraca assistir um filminho da Netflix.
Ao entardecer jantamos a beira do rio, bebendo vinho.
Outra noite agradável, sem chuva.
Após desmontar acampamento fomos para Pindobaçu tomar um café e comprar um queijo e dali seguimos para Laginha, onde pegamos uma estrada de terra até a barragem de Bananal. Deixamos o carro no quintal da casa do simpático seu Jacaré.
Partimos com as mochilas para a cachoeira do Apertado (que deságua na barragem). Uma boa subida contornando uma montanha. Desta vez não havia trilha no Wikiloc. Perdi uma hora seguindo umas setas (que pessoas de moto disseram indicar o caminho) e que na verdade levava para uma fazenda. Seguindo a lógica descemos por uma trilha para o vale do rio. Apenas reparei que não havia marcas de pegadas e sim de boi, com estrume. Me pareceu ser o caminho que o gado seguia para beber água no rio.
Subindo morro. Lúcia descansando um pouco debaixo de uma jaqueira.
Dito e feito, Chegamos no rio, mas sem sinal da cachoeira. Mas o lugar era lindo e decidimos atravessá-lo e acampar na margem direita verdadeira onde havia um bom espaço.
Uma estrutura bushcraft que aproveitamos para estender roupas.
Rio bonito.
Tivemos que limpar a área pois deixaram lixo no local. Banho e jantar. Antes do escurecer tomamos ainda outro banho de rio.
De noite começou a chover bem, com relâmpagos e trovões. Fiquei preocupado pois não conhecia o rio e se ele subisse muito poderíamos ficar presos na margem oposta a trilha. Isto já aconteceu comigo. Mas risco d’água alcançar o acampamento não havia.
Parou de chover de madrugada. Não foi muita chuva. Quando a terra está muito seca após uma prolongada estiagem, ela absorve muita água e os rios não enchem muito.
Lúcia resolveu ensacar o lixo encontrado no acampamento, carga extra para carregar até a lixeira mais próxima, na barragem.
Sobrei nesta história de carregar o lixo...
Após subirmos a encosta deixei minha mochila com Lúcia e procurei a descida para a cachoeira do Apertado. Cheguei ao rio outra vez, mas não achei. Provavelmente devemos seguir pelo leito do rio, a trilha não chega até lá. O Google Maps mostrava que era pouco rio acima andando pelo leito. Não quis ir porque demoraria e Lúcia ficaria esperando muito. Esta cachoeira não tiquei. Motivo para voltar aqui.
Outro ponto do rio. Desci mas nada da Apertado.
Voltamos a represa e decidimos acampar numa bela península gramada, a beira da água. Antes, porém, fomos de carro até Laginha para almoçar no restaurante de um posto e ver as novidades pelo WIFI. Lucia aproveitou para comprar um feijão e carnes para feijoada, encomenda do seu Jacaré.
Beira da barragem.
Outra noite muito agradável com ajuda de um bom vinho. Antes de falarem que somos pinguços devo dizer em nossa defesa que procurávamos alternar uma noite com bebida e outra sem. Mas o vinho combina maravilhosamente com estes belos lugares. E uma garrafa dividida entre dois não deixa ninguém incapacitado no caso de uma emergência.
Choveu também durante a noite e Lucia ficou com receio da água da barragem subir e pegar na barraca (estávamos bem perto da margem). Disse-lhe que o espelho d’água era grande e era muito improvável isto acontecer. Além disto o gramado não tinha indício de que era alagado.
No dia seguinte voltamos para Pindobaçu para comprar mertiolate e band-aid porque Lucia sofreu um pequeno corte, além de repor o pão nosso de cada dia.
De lá o planejado era subir para a belíssima cachoeira da Fumaça-poço das Estrelas via Lutanda, caminho que Lúcia não conhecia.
Mas na estrada mudamos de ideia e decidimos visitar o poço do Pelado, com cachoeira do mesmo nome. Havíamos pulado este atrativo em 2022. A subida para a cachoeira da Fumaça é puxada e estava fazendo muito calor. No poço do Pelado o carro sobe bastante e chega pertinho.
Deixamos o carro e, após 20 a 30 minutos de caminhada, baixamos até o poço. Lindaço! A cachoeira não tinha muita água, mas o poço inferior estava cheio. A Guarda Municipal de Pindobaçu estava fazendo um bom trabalho ao impedir que excursões de fora chegassem ali nos fins de semana. Infelizmente este pessoal suja muito (não leva o lixo embora) o que deixava os moradores de Pindobaçu revoltados. Isto explicava o porquê do lugar estar tão limpo (é uma APP).
Armamos a tenda debaixo de uma árvore. Peguei o celular para tirar fotos e fui explorar rio acima, no topo da queda d’água. Uma bonita vista. Olhei o altímetro. Estava a cerca de 1.000 metros.
Poço do Pelado visto do topo da cachoeira. Nossa tenda estava debaixo das árvores à esquerda.
Desci para o poção inferior e tirei mais fotos. Belo lugar.
Depois do poço inferior o deságue entra num cânion estreito com várias quedas até o vale bem abaixo. Vale uma exploração, mas a descida é bem difícil.
Outra bela noite a beira da água. Desta vez apenas com um leve chuvisco.
Prestes a sair, já com saudades.
Esta foi nossa última noite de camping (8 noites acampados) e dali seguimos rumo Norte, para Juazeiro/Petrolina, as margens do São Francisco, a convite de um grande casal de amigos.
RECOMENDAÇÕES
Vários pontos visitados devem ser evitados nos fds e feriadões se vc quiser solitude e paz. É a praia dos moradores da região.
Trilhas tranquilas, a grande maioria podemos levar crianças.
Use um App tipo Wikiloc para chegar na cara do gol. Apenas a cachoeira do Apertado não estava nele.
É tranquilo para estacionar o carro nestes lugares que frequentamos. Não precisa ser 4X4 para chegar, possivelmente com excessão do poço do Pelado com muita chuva.
Aproveite a culinária local, especialmente a quilombola.
Embora haja mercados nas cidadezinhas das redondezas as vezes não encontramos alguns produtos. Por exemplo, não encontramos salame nos mercadinhos.
De nov/dez até março chove e pode ter algum problema na travessia de rios. Mas o caudal das cachoeiras estará bem maior.
Seus relatos são fantásticos 🙌🏽🙌🏽
Valeu Marlon! Se incentivarem vc e outros a conhecerem estes lugares valeram a pena terem sido publicados!
Kkkkk boa. Tenho muita vontade de ir conhecer a chapada Diamantina, talvez nos próximos anos dê certo.
Valeu pelo relato, Peter. Essa é uma região que cogito tentar alguns trekkings nos próximos anos. Abs.