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Road trip parada 1: PESP Parque Estadual das Sete passagens.
Duas noites muito legais nesta joia do sertão baiano com companhias inusitadas!
CampingFérias.
Eu e minha namorada decidimos viajar pelo interior da Bahia para conhecer lugares novos que eu ainda não havia visitado. Tenho quase 20 anos percorrendo a Chapada Diamantina, mas não conhecia nada das Serras de Jacobina.
Estas Serras, do mesmo modo que a Chapada Diamantina, são continuação da Serra do Espinhaço. Alguns chamam de Chapada Diamantina Norte. É mais jogada de marketing pois o nome Chapada Diamantina já é bastante conhecido (uma “marca de sucesso”). Porém creio que isto é incorreto. As Serras de Jacobina têm relevo e vegetação diferenciadas em relação a Diamantina. Até o clima é diferente.
Um exemplo: o relevo típico da Chapada Diamantina são as montanhas em forma de tabuleiro (as chapadas – table mountains) e os cânions profundos. Isto não vemos em Jacobina ou são bem mais raros. Outra diferença: a Chapada Diamantina deve seu nome aos diamantes. As riquezas minerais de Jacobina são a esmeralda e o ouro.
Percorremos de carro mais de 1.600 km nestas férias, um circuito, primeiro para conhecer a região de Jacobina, depois Morro do Chapéu e então descemos para Riacho do Mel, este último, um ponto já na Chapada, ainda não visitado por mim, para depois regressar a Salvador. Este é o relato da primeira etapa da viagem. Alternamos hotel, pousada, camping estruturado e camping selvagem. Das 18 noites passamos 9 dormindo na tenda.
Saímos sábado 02/12 de Salvador e nosso primeiro destino foi o PESP – Parque Estadual das Sete Passagens, em Miguel Calmon /BA, gerenciado pelo INEMA, órgão ambiental da Bahia.
Chegamos lá as 15:30. O principal acesso está em obras. Assim pegamos um caminho alternativo, de terra, que é muito difícil subir sem um carro 4X4 em época de muita chuva. Mas dizem que até março/2023 o acesso principal estará pronto.
A sede do parque fica num lugar lindo, com bela área de camping. O camping conta com cozinha, dois sanitários e um chuveiro (água fria). Cobra 15 reais por barraca (não por pessoa). Fica complicado ter só dois sanitários com o camping cheio.
Estávamos sozinhos. Provavelmente devido ao tempo chuvoso. Montamos rapidamente a barraca porque estava prestes a chover. Mas logo chegou companhia. Para nosso espanto, três papagaios vieram ajudar a montar a tenda e inspecionar minha mochila. Depois uma siriema e um caititu começaram a rondar a área!
Papagaio de pirata. Papagaios ajudando na montagem da barraca e inspecionando a mochila. Caitetu passeando.
Mais tarde um guarda-parque explicou a docilidade dos bichos. A Polícia Ambiental resgatou estes animais mantidos em cativeiro e soltou no PESP. Como eles estão acostumados com gente se aproximam sem medo. E as vezes são inconvenientes como percebemos depois.
Conseguimos montar a tenda antes da chuva. Deixamos a comida na cozinha, botando algumas coisas na geladeira, entre elas um item imprescindível, o vinho.
Nosso cafofo. Ao fundo a cozinha/sanitário.
Com a chuva ficamos abrigados, aproveitando os intervalos de tempo bom para apreciar a vista a partir dos 2 mirantes próximos. O local fica a mais de 1.000 m de altitude. De um dos mirantes se vê a cidadezinha de Miguel Calmon.
Vista de um dos mirantes para a cachoeira do Jajai.
A siriema, vaidosa, deu um belo modelo!
A noite foi marcada pelo frequente tamborilar da chuva na tenda. Volta e meia ouvíamos o vuussssh, a aproximação de uma rajada de vento agitando as árvores da floresta como uma onda até bater na barraca. Deu 14º pela noite.
Bem abrigados na nossa casinha.
O dia seguinte amanheceu também chuvoso. As tampas das panelas, que deixei a noite sobre o fogão da cozinha, estavam jogadas no chão. Os autores chegaram voando em seguida. Os papagaios pousaram nas vigas internas da cozinha com olhar pidão. Dei pedacinhos de beiju. A siriema veio logo depois cobrar seu quinhão.
Andando pela área um papagaio (papagaia, na verdade) pousou no meu ombro. Ficou um tempão. Eu andava e ela nada de sair do novo poleiro móvel. Ofereci minha mão para ela trocar meu ombro pela mão e ela me bicou forte. Fui até um guarda-parque e ele me ensinou o macete: estender um pedacinho de pau ao modo de galho que ele sai do ombro.
A siriema tem um canto alto, bem caracteristico, para marcar seu território. O engraçado é que outra siriema, esta selvagem, também frequenta a área do camping. Só que ela não pede comida ou se aproxima das pessoas. Ela percebeu, através da companheira dócil, que não precisava ter medo de gente. A capacidade de aprendizagem dos animais é incrível.
O tempo só abriu pela tarde. Aproveitamos e pegamos uma trilha para tomar um banho num córrego a meia hora de caminhada. Visitei duas lindas cachoeiras na proximidade, uma delas a da Jajai. Estavam bombando.
Corrego onde tomamos banho e a Jajai bombando.
As demais cachoeiras, mais longínquas (3 horas ou mais de caminhada), só com guia (70 reais). Com a chuva nenhum guia credenciado subiu para o parque. As trilhas são acidentadas e molhadas, com o risco de cabeço d’água, tornando-as perigosas. Estas trilhas percorrem cânions até o pé das cachoeiras.
Paciência. Ficará para época mais seca a visita a estes atrativos. O pessoal do INEMA disse que estava há uma semana chovendo direto. Mas percebemos que a paisagem do parque é lindíssima.
Trilha sombreada.
No final da tarde observei as araras (também resgatadas do cativeiro) e um gambá selvagem (igualzinho aos dos desenhos americanos). Os jacus, porém, não apareceram perto da sede do parque.
Como o tempo estiou jantamos numa mesa debaixo de uma árvore, bem acompanhados pelo vinho.
Na manhã da partida vi os papagaios tentando roer um saco plástico com purê de batata em pó, que inadvertidamente havia deixado sobre a pia da cozinha. Danados!
Gentilmente, com uma vassoura, convidei-os a sair da cozinha.
Lucia ao chegar na cozinha mais cedo viu a siriema em cima do fogão. Então a autoria da derrubada das tampas das panelas na manhã anterior ficou duvidosa, entre os pagagaios e a siriema.
Após o café pagamos o camping, nos despedimos do simpático pessoal do INEMA e descemos a serra rumo a Jacobina/Itaitu, nosso próximo destino, um pouco mais ao norte, que será objeto de outro relato.
Descobri depois, ao pendurar o sobreteto da minha tenda para secar, na varando do hotel de Jacobina, uns pequenos rasgos. Pelo tipo e local dos cortes com certeza foram os papagaios!
Comentários/Recomendações.
Evitem finais de semanas especialmente no período de férias. Lota e o camping tem pouca estrutura. Melhor é ir durante os dias úteis fora das férias escolares.
De junho a agosto faz um bom frio para os padrões baianos. Mas agora, início de verão, agradáveis 14 a 20ºC de noite.
Não deixem comida exposta ao dormir. Caso contrário os papagaios e a siriema fazem a festa.
O PESP deveria ser bem maior, englobando todas as serras até o norte de Jacobina. Mas o interesse fortíssimo de mineradoras internacionais de ouro (várias minas na região) impediram a expansão do parque.
Na continuação da viagem visitamos outros lugares belíssimos que não deixam nada a desejar a Chapada Diamantina. Nos próximos relatos tentarei mostrar toda esta beleza.
Que aventura massa! Mais um relato excelente! A participação dos papagaios e siriemas deu um upgrade na aventura.
Sempre belas aventuras!