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Peter Tofte 23/12/2022 18:41
    Road trip parada 3: PINDOBAÇU - Esmeraldas e cachoeiras.

    Road trip parada 3: PINDOBAÇU - Esmeraldas e cachoeiras.

    Lugar maravilhoso. Trekking de 3 dias visitando belíssimas cachoeiras.

    Trekking Montanhismo Acampamento

    Pindobaçu foi a joia da coroa nesta viagem de férias.

    Cidade pequena, norte da Bahia, para quem vem de Salvador fica antes da cidade de Senhor do Bonfim. É conhecida pela maior drusa de esmeralda já extraída no mundo, no distrito de Carnaíba. Mas o verdadeiro tesouro é o verde de suas montanhas.

    Minha namorada foi trabalhar perto de Senhor do Bonfim nas eleições e perguntou a um colega se haveria lugares legais para acampar nas imediações. Ele respondeu prontamente: Pindobaçu.

    Pesquisando no You.Tube vi imagens de belíssimas cachoeiras, inclusive filmadas de drone. Consultei o Wikiloc e descobri a trilha para a cachoeira da Fumaça/Poço das Estrelas, a primeira de um mesmo rio numa sequência de 3 cachoeiras que descem a montanha. Em seguida vem a Véu de Noiva e as Sete Quedas.

    Baixei a trilha para a consultar offline no meu celular.

    Saímos da bela Itaitu 8/12 com o tempo meio nublado. Mas desde o dia anterior tinha estiado. Com cerca de uma hora chegamos a Pindobaçu onde paramos numa padaria para fazer um lanche. Pé na estrada novamente e pouco depois da saída da cidade pegamos uma estrada de terra a esquerda rumo ao Poço Pelado, onde a trilha começava.

    Poças de água mostravam que a estiagem não teve tempo suficiente para secar a estrada. Sorte que boa parte do caminho era de areia ou cascalho. Subir serra em barro molhado não é para qualquer carro.

    Com meia hora de subida, pouco antes do início da trilha, a estrada ficava péssima, tinha um calçamento irregular de pedras grandes que maltrataram bem o fundo do veículo. Deveria ter estacionado o carro um pouco mais abaixo, não precisava ser fominha de querer chegar exatamente no começo da trilha.

    Chegamos no ponto indicado pelo Wikiloc e estacionei o carro debaixo de uma mangueira. Fizemos os últimos ajustes na mochila e pendurei o Spot X na alça desta. Partiu Poço das Estrelas!

    Logo no começo uma bifurcação. Tomei a esquerda pois era bem mais batida. Mas ao consultar o Wikiloc vi que na verdade deveríamos ter tomado a direita, regressei e começamos a subir uma trilha parcialmente encoberta pelo capim, com sinais de pouco uso.

    A trilha entrou num vale e seguiu na margem direta verdadeira de um riacho que descia a montanha. Num ponto vi um jirau montado numa mangueira (uma plataforma para caça de espera).

    Após meia hora de caminhada cruzamos o riacho e começou uma subida íngreme pela mata. Precisava constantemente olhar o Wikiloc no celular para acreditar que aquilo era uma trilha em meio a vegetação alta e fechada. Lúcia me perguntava se estávamos certos. Ela tinha visto também os vídeos mostrando idosos, crianças, religiosos e escoteiros acampados perto da cachoeira e era difícil acreditar que tivessem seguido por aquele caminho. Ou a trilha estava errada ou as chuvas fizeram o mato crescer muito.

    Continuamos a seguir o que mostrava o aplicativo e chegamos num platô no topo, onde a mata terminava.

    Alegria ao sair da mata.

    Uma vegetação baixa de capim e arbustos agora permitia um avanço mais rápido, mas nem sinal de trilha. Começamos a subir outra encosta com trechos de vara mato (arbustos). Não havia trilha onde o Wikiloc indicava. Parecia que quem gravou aquele caminho estava fazendo uma expedição exploratória.

    Até que finalmente encontramos uma trilha empedrada que seguia por uma encosta rumo a um selado. Mesmo este caminho parecia que era muito pouco usado. A vegetação só não o cobriu porque o chão era de pedras. Parecia ser uma trilha bem antiga.

    No selado, paramos para descansar ao lado de uma matinha. Enquanto Lucia descansava eu segui por um capinzal e vi trilha batida coincidindo com o Wikiloc. Tinha o padrão de um caminho de gado.

    Descobrimos uns arbustos retorcidos (parecendo aqueles típicos de cerrado) com troncos recobertos de musgo vermelho dando um belo aspecto.

    O sendero era bem encharcado. Chegamos no topo de um platô de onde encontramos gado e avistamos lá embaixo, em outro platô, a capelinha, referência na região.

    Mas cadê a trilha de descida? Não havia. Precisamos descer em zig-zag procurando o melhor caminho até que chegamos ao platô. Lá o Wikiloc finalmente mostrou uma trilha razoável.

    Resolvemos não pegar a bifurcação para visitar a capelinha pelo avançado da hora. Queríamos montar acampamento antes de escurecer junto ao Poço das Estrelas.

    Seguimos por trechos bonitos de mata.

    Após uma hora cruzarmos um riacho e pegamos uma bifurcação a direita que permitia um belo visual da planície bem mais abaixo.

    O mirante.

    A trilha então começava a fazer uma curva a esquerda descendo e entrando num vale estreito onde corria o rio das 3 cachoeiras. Em determinado ponto avistamos ela, a Fumaça.

    No fundo deste vale ficava encravada a Cachoeira da Fumaça e o Poço das Estrelas. O visual na chegada é espetacular. A linda cachoeira bombava caindo num poço de águas escuras.

    Uma pequena trilha subia a esquerda levando a uma plataforma de pedra que chegava ao pé do paredão da cachoeira, isto cerca de seis metros acima do poção. Um ótimo local para armar uma ou duas barracas. E estávamos sozinhos. Durante toda a caminhada não vimos viva alma (nem alma morta ).

    Aquilo era o camarote da diretoria. Armamos nossa tenda (a Lanshan 2) perto do paredão em negativo e fomos tomar um banho de chuveiro numa das pontas da queda d’água. Bastava seguir por vinte metros naquela plataforma a partir de onde estava a barraca para chegar até a ducha. Não precisávamos descer para o poção.

    Nosso cafofo.

    Banho frio e revigorante. Pegamos água para a janta. Fizemos nossa comida perto da tenda e comemos bebendo um vinho, curtindo uma bela vista. Muitas andorinhas aproveitavam a última claridade para voar em torno do paredão.

    Vista da cachoeira a partir do local da tenda.

    Fomos dormir cedo ouvindo o forte barulho da queda d’água. Um pouco de spray batia na tenda devido ao grande volume de água que descia a cachoeira.

    O dia amanheceu lindo.

    Fumaça pela manhã.

    Vista do poção da Fumaça em direção ao topo da Véu de Noiva, ao fundo. Parece a borda de uma piscina infinita.

    Descemos o rio porque pouco adiante era a segunda cachoeira, a Véu de Noiva. Me abaixei na margem para pegar um pouco de água para beber e tchibum! Escorreguei e cai com roupa e tudo no rio. Lúcia não pode conter uma risada. Aproveitamos para tomar um banho frio logo cedo.

    Início da queda da Véu de Noiva. Meu banho surpresa foi um pouco mais para trás.

    Fumaça vista quase do topo da Véu de Noiva.

    Voltamos ao acampamento onde tomamos o café e desmontamos a tenda. A ideia era explorar o platô e visitar outros pontos. E acampar a segunda noite em local diferente, mais perto do morro que descemos no dia anterior (sem trilha). Ganharíamos algum tempo na volta.

    Pouco depois que saímos da Fumaça baixei para o poção da cachoeira Véu de Noiva onde tirei fotos. Lucia preferiu me aguardar na trilha principal já que o interesse de fotografar era meu e ficaria pouco tempo lá embaixo. A encosta até o poção era íngreme.

    Véu de Noiva.

    Mais meia hora e achamos o lindo local onde o pessoal acampa no meio da mata, que vimos nos vídeos. Por uma boa extensão da mata há local para acampar, plano, gramado, perto de fonte de água, na sombra de árvores. Lugar maravilhoso. Daria umas 100 barracas ali. Chamava a atenção que havia muito pouco lixo, considerando o nº de pessoas que frequenta este lugar. Notei nos vídeos que é o pessoal da região que conhece e o frequenta (das cidades de Senhor do Bonfim, Juazeiro, Petrolina e Jacobina). Poucos baianos de Salvador vêm para cá. Raros os turistas de outros estados. Estrangeiro então é ET. Situação bem diferente da Chapada Diamantina, super explorada.

    Pegamos também a bifurcação para a capelinha, pequena construção, singela e bonita, mas em mal estado. Fica num local lindo, a mil metros de altitude, num avanço do platô, com vista para a planície a Leste.

    Ao Norte uma vista espetacular da Sete Quedas, a terceira das cachoeiras. É a mais alta das 3 cachoeiras.

    Descobrimos então o caminho mais utilizado (e fácil). Numa vereda ao lado da capelinha, descendo a montanha, havia uma trilha bem batida que sem dificuldade ia até a planície lá embaixo. Então era por ali que toda a gente vista nos vídeos subia até o platô. Lucia cogitou de descermos por ali dia seguinte, para evitar o sofrido caminho que fizemos na vinda. A trilha que baixei e seguimos no Wikiloc foi gravada por trilheiros hardcore.

    Mas se descêssemos por ali sairíamos longe do carro. Assim decidimos regressar por onde viemos.

    Entramos ainda numa mata onde descobrimos remanescentes de um garimpo, inclusive uma tenda de lona montada ainda intacta. O que garimpavam: ouro, esmeraldas?

    Encontramos as mesmas cabeças de gado que vimos ontem em cima do morro, do qual tivemos dificuldade para descer no dia anterior.

    Perto do final do dia decidimos acampar perto de um riacho com bom local para tenda.

    Flor junto a tenda.

    Como estava bem mais seco consegui fazer até uma fogueira no lajeado junto ao rio.

    A partir de meia noite ouvimos grupos de pessoas passando com lanternas. Era sábado de madrugada e o pessoal subiu para acampar na área perto da Fumaça. Devem ter saído sexta pela tardinha de cidades próximas. Alguns grupos eram grandes e devem ter alugado vans.

    De manhã cedo estávamos sozinhos. Iniciamos a jornada de volta. No pé da ladeira que teríamos que subir vi uma trilha que seguia rodeando o morro. Lembrei que ontem vimos as mesmas cabeças de gado que anteontem avistamos no alto do morro. Ou seja, deveria haver um caminho decente para subir/descer o morro. Gado não pega pirambeira.

    Dito e certo. Após um trecho contornando o morro a trilha tênue subia para onde desejávamos. Cocô de boi mostrava que passavam ali. Ia em direção ao colado. Assim a subida foi bem mais fácil que a descida.

    Com mais três horas chegamos ao carro. A volta sempre é mais fácil porque o caminho deixa de ser coisa completamente desconhecida.

    Descendo para o carro.

    Ao baixarmos de carro vimos pessoas chegando de moto e carro, mas deixaram os veículos na estrada abaixo de onde o idiota aqui decidiu estacionar o jipinho. Evitaram pegar o pior trecho, de apenas 200 ou 300 metros. Eles iriam apenas visitar o Poço do Careca (não eram trilheiros).

    Em Pindobaçu paramos para comer num restaurante de beira de estrada onde cai matando numa buchada de bode, comida típica da região, que há muitos anos não comia. Dormiríamos esta noite numa pousada na simpática cidade de Saúde.

    Comentários.

    Local lindo, não deixa nada a desejar a Chapada Diamantina. Faz tempo que não fico impressionado assim pela beleza de um lugar.

    Recomendo subir fora de final de semana pois muita gente vai acampar lá nestas ocasiões. Conseguir um local no camarote da diretoria do Poço das Estrelas num sábado/domingo deve ser muito difícil.

    O caminho fácil é pelo povoado de Lutanda. O hardcore é via Poço do Careca. Este acho que praticamente não usam mais.

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 23/12/2022 18:41

    Realizada de 08/12/2022 até 10/12/2022

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    2 Comentários
    Fael Fepi 29/12/2022 22:50

    Legal!! Só já tinha ouvido falar de uma. Colocar no roteiro. Obrigado pelo relato 👏

    1
    Peter Tofte 30/12/2022 11:07

    Fael, vale muito a pena. Região lindíssima.

    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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