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Peter Tofte 09/01/2023 09:34
    Road trip parada 5: CAEM- A mística Igreja das Figuras

    Road trip parada 5: CAEM- A mística Igreja das Figuras

    Trilha e acampamento ao lado das ruínas da Igreja de São Miguel Arcanjo das Figuras, num local lindíssimo.

    Trekking Acampada

    No que baixamos da Payayá (vide relato) voltamos a Saúde, resolvemos algumas coisas na cidade, inclusive ressuprimento e continuamos a road trip para a Igreja das Figuras em Caem.

    As fotos que vi na internet mostravam as ruínas num local lindo. A Igreja de São Miguel Arcanjo das Figuras estava de pé até 1979 quando um raio a atingiu.

    Mas até hoje é local de romaria e peregrinação. A trilha que seguimos é caminho de romeiros que vem de Caem. Mas há mais um que vem do outro lado da serra, de Mirangaba (comunidade quilombola).

    O lugar tem um ar místico e é cheio de lendas.

    "O CONSTRUTOR

    Nascido por volta de 1710, em Oliveira dos Campinhos, distrito de Santo Amaro, Romão Gramacho foi sargento-mor e capitão do sertão. Ele viajava por Minas Gerais e pela Bahia em busca de ouro. Por onde passava, quando bem sucedido, fundava vilas e construía igrejas. Seu nome é citado como percussor da fundação de várias cidades – Itambé do Mato-Dentro (MG), Morro do Chapéu e Jacobina (BA), dentre elas. Seu nome também está associado a Área de Proteção Ambiental Gruta dos Brejões/Vereda Romão Gramacho, situada nos municípios de Morro do Chapéu, São Gabriel e João Dourado (BA).

    Conta a lenda que Romão fez um pacto com o diabo para encontrar ouro na Serra da Figura. Ele enganou o capeta e construiu a igreja dedicada a São Miguel Arcanjo, por volta de 1750. O tinhoso ficou furioso e começou a dar coices nas paredes do templo. O fato de um dos lados da construção ser inclinado fez a história ganhar credibilidade.

    Também existe o mito de que Romão escondeu ouro na igreja para escapar dos impostos cobrados pela corte portuguesa. Até hoje algumas pessoas vão até o local em busca do tesouro do bandeirante, que voltou para a terra natal muito rico e morreu em 1772.

    A Igreja das Figuras permaneceu de pé até 1979. Nessa época, funcionários do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia estiveram no local e tiraram várias fotos do templo, do altar e das imagens existentes, mas nada foi feito no sentido neste sentido. Pouco mais de um ano depois, um raio teria destruído o telhado da igreja, que depois sofreu um incêndio.

    O abandono do local por parte do governo estadual permanece mesmo depois de o Ministério Público encaminhar pedido de criação de uma unidade de conservação na Serra das Figuras, onde também foram achados objetos de valor arqueológico como urna funerária indígena."

    Texto de autoria do jornalista Paulo Oliveira. Confiram o artigo completo pesquisando no Google com:

    A romaria de São Miguel Arcanjo em Mirangaba - Meus Sertões

    A Igreja de São Miguel das Figuras tem o "Figuras" no nome devido as pedras nas redondezas que lembram figuras. O Romão Gramacho caprichou na escolha do local para a Igreja. Lugar lindo!

    ......

    Chegamos a Caem domingo, onde procuramos D. Esther e seu Lau na cidade (indicação de uma amiga de Lúcia em Jacobina). Eles tem um sítio no começo da trilha. Casal muito simpático e acolhedor. Nos deram permissão para estacionar o carro dentro do sítio Romaria, cedendo a chave para abrir a cancela.

    Seguindo a indicação deles subimos a serra de carro até o local. A estrada estava em boas condições. Nove Km depois estávamos em frente ao sítio Romaria (uma placa indicava) e estacionamos o jipinho debaixo de uma mangueira. Ultima arrumação na mochila e partimos.

    A trilha começa exatamente ao lado da cerca deles. De carro poderíamos seguir até a Igreja mas há uma extensa ladeira empinada que é muito difícil subir sem ser 4X4. Vimos depois a comprovação disto. Muito molhada eu acho que nem veículo com tração nas quatro subiria.

    A trilha a pé é mais direta e corta caminho. A estrada faz um balão maior e acrescenta uns km a mais.

    Ela inicia com uma suave subida em meio a sítios. Um jumento começou a zurar perto da cerca quando passamos. Tentei filmar e gravar o chamado do amigo mas não deu tempo. Fiquei só com a foto.

    Conforme ganhamos altura a vegetação passa de mata para campo sujo e começam as pedras na trilha.

    Marcações indicavam ser um caminho de romeiros.

    A placa indica a pedra das três comadres. Atrás um paredão de pedra num morro vizinho.

    A trilha desce em seguida para um pequeno riacho numa vereda onde paramos. Lucia me diz que está sentindo dor no pé direito. Tira as botas e deixa os pés mergulhados na água fria. Parece que teve uma entorse. O pé está inchado.

    Seguimos lentamente agora. Se voltassemos teríamos que percorrer quase a mesma distância que indo em frente. E ela, valente, não titubeou em prosseguir.

    Subindo a Serra das Figuras.

    Cruzamos o mesmo riacho mais adiante e entramos numa bonita mata. Eu seguia um pouco a frente para checar se íamos no caminho certo.

    Ao final da mata uma porteira delimitava um belo pasto. O Wikiloc mostrava que iríamos encontrar a estrada logo adiante (a estrada da ladeira empinada). Na verdade a trilha que gravei no Wikiloc para consulta offline era de mountain bikers e ia para a Igreja pela estrada e não pela trilha que seguimos.

    Chegamos nas terras do seu Almir. Um lindo pasto gramado e uma vista sensacional para o Sul, serra de Jacobina. Ele estava em casa e conversamos um pouco com ele. Gentil, ofereceu o terreno em frente para acampar. Teríamos água encanada para usarmos.

    Mas escolhemos acampar mais em cima, num colo, logo abaixo da Igreja. Seguimos pois não tardaria a escurecer. A subida desde o sítio, que poderia ser feita em uma hora, durou 2 horas e tanto devido ao pé de Lúcia.

    O colo acima. A Igreja pode apenas ser vislumbrada entre as palmeiras.

    Ao atingirmos o colo largamos a mochila e subi os poucos metros que faltavam para as ruínas porque queria fotografar antes de escurecer.

    Lucia, cansada e dolorida optou por deixar para o dia seguinte a visita.

    Depois das fotos desci para onde Lucia me aguardava no colo. Acampamos no gramado a esquerda de onde ela está na foto abaixo. A estrada de terra atinge o colo e desce para o outro lado, a caminho de Mirangaba.

    Armamos rapidamente a tenda. Durante a tarefa Lucia sentiu picadas de formigas na perna. Logo senti também. Parecia que escolhemos um ponto justo em cima de um formigueiro. Deslocamos rapidamente a tenda já armada (vantagem de uma autoportante).

    Não vi formigueiro. Não eram saúvas. Pareciam ser formigas de correição. Uma característica é que subiam pelo calçado e pelas pernas por dentro das calças e só mordiam ao chegar no meio das pernas.

    Tivemos que converter as calças em bermudas tirando as pernas com a abertura do ziper. Após alguns minutos caçando-as, o alívio!

    Por do sol. Pelo fato de estarmos no colo, tinhamos vista para os dois lados. A linha ao fundo atrás do mandacaru é a Serra do Tombador (foto logo abaixo).

    Um pouco antes do ocaso eu desci para o outro lado onde suspeitava que tinha uma vereda com água no pasto. Havia. Enchi três frascos e subi. Eu e Lúcia molhamos um pano e esfregamos em todo o corpo. Era o banho do dia pelo adiantado da hora.

    Ainda desci mais uma vez para buscar água, já no escuro, com a headlamp. A luz fazia brilhar dois pares de olhinhos na escuridão. Eram dois urutaus pousados na estrada.

    Janta tranquila. Já na barraca ouvimos o barulho de motos que voltavam para casa após trabalharem nos sítios na direção de Mirangaba.

    Amanhecendo o dia com névoa.

    Fomos acordados já com o clarear do dia, quatro e pouco da manhã, com o barulho do gado em volta da tenda. Bichos curiosos, cheiravam a barraca que invadiu seus domínios.

    Visitas.

    Era para subirmos a Igreja de modo a Lucia visitar e tirar mais umas fotos. Mas chegou um motoqueiro nas ruínas que Lucia achou suspeito e, com receio, não subimos. Seu Almir havia nos contado a história de um rapaz escondido que o surpreendeu anos atrás na fazenda.

    Desmontamos a tenda e descemos para nos despedir do seu Almir. Ele pediu desculpas porque pensou que iríamos acampar mais em cima, junto a igreja, onde a cerca impediria o gado de chegar. Se soubesse que acampamos onde ficamos não teria soltado o gado após tirar o leite.

    Dissemos que não pertubaram. Foi até engraçado. E, afinal, os intrusos eramos nos.

    Numa próxima vez, disse, deveríamos acampar junto a casa. Algo a considerar. A vista é soberba. E haveria cafezinho de quebra.

    Linda vista para o Sul da casinha do seu Almir, dono da fazenda. As serranias de Jacobina.

    Ouvimos fogos de artifício saindo da Igreja. O motoqueiro solitário estava explicado. Era um devoto de Sta. Luzia e era o seu dia (13/12). Devia estar pagando promessa.

    Nos despedimos e decidimos descer pela estrada de terra, mais fácil que a trilha, embora mais longa, devido ao pé ainda dolorido da Lúcia. Já estava melhor com ajuda de analgésico e antiinflamatório mas doia um pouco. Saimos da fazenda num platô elevado e logo depois começamos a descer a longa ladeira de barro e pedras. Em alguns pontos a inclinação da estrada parecia ser de 40 graus.

    No meio da ladeira vimos parte de um carro que não era 4X4. Ele tentou subir mas deve ter derrapado e perdido o controle.

    A ladeira ficava na sua maior parte ensombreada pela mata, daí o barro demorar para secar. A floresta era bonita.

    Chegamos no meio da manhã no sítio onde encontramos D. Esther e seu Lau, que subiram de Caem. Ofereceram o chuveiro quente para o banho e trocamos de roupa. Lucia fez Reiki com D. Esther enquanto eu me banhava. Depois seu Lau mostrou a bonita horta e me ofereceu um frasco de molho de pimenta jalapeña plantada por ele. Pretendem fazer um centro holístico no sítio.

    Seu Jau nos contou que foi ele que botou a cruz de madeira nas ruínas. Os vereadores de Caem só aparecem lá no dia de São Miguel para distribuir santinhos para os romeiros. Mas nada de batalharem pela conservação da estrada e do monumento. Só politicalha.

    Lucia entre D. Esther e seu Lau. Casal muito legal!

    Podem contar com o apoio deles no início/fim da trilha. O carro consegue chegar até o sitio Romaria sem problemas. Mais adiante é que o bicho pega (a ladeira).

    De Caem, seguimos para Morro do Chapéu, que será objeto do próximo relato desta road trip.

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado en 09/01/2023 09:34

    Realizado desde 12/12/2022 al 13/12/2022

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    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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