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Peter Tofte 28/12/2015 10:50
    Travessia Capão-Mucugê na Chapada Diamantina

    Travessia Capão-Mucugê na Chapada Diamantina

    Travessia solo de 2 dias, bivacando, de Capão até Mucugê, cerca de 60 km, na Chapada Diamantina.

    Trekking

    Na realidade queria fazer a travessia Norte -Sul da Chapada Diamantina, de Capão até Cascavel/Ibicoara, num trekking de 4 dias, cruzando praticamente todo o Parque Nacional. Mas só dispunha de 2 dias. Assim cortei o trajeto pela metade, indo apenas até Mucugê, uma jornada de cerca de 60 km. Iria solo, bivacando, muito leve, o que me permitiu caminhar rápido.

    Cheguei as 7:30 em Palmeiras vindo de Salvador. O ônibus atrasou 2 horas porque a estrada BR 101 foi interditada para a colocação de uma passarela. Peguei uma lotação, uma kombi lerda, e oito e meia estava na Vila do Capão. Dali, com um moto-taxi cheguei 9 hrs no Bomba, começo da subida para os Gerais do Vieira.

    Bomba, começo do trekking.

    Num mirante no meio da subida encontrei um guia e 3 gurias. Iam fazer o Pati. Conversamos um pouco sobre os incêndios na Chapada e a demora do governo do Estado para mobilizar os meios para combater o fogo. Após a charla continuei a subida. No topo, começo do geralzão, parei para pegar água no Córrego da Galinha e comer meu café, dez da manhã. O guia reapareceu com uma das meninas. As outras foram deixadas para trás.
    Segui e logo depois ouço o guia gritando. Me voltei pensando que era comigo. Na verdade chamava as duas meninas que haviam passado por eles no córrego sem serem vistas e já seguiam na frente por trilha errada.

    Cito isto para mostrar que existe guia ruim na Chapada. Como responsável ele não deveria ter deixado duas clientes para trás. Elas erraram também porque chegaram numa bifurcação e não esperaram o condutor. Mas a responsabilidade primária é do guia.

    Vista do Vale do Capão, a partir do Córrego da Galinha.

    Cobrinha no caminho.

    Segui pelos gerais, dia bonito, em direção ao Quebra Bunda e ao Rancho, onde faria rápida parada.

    Todo córrego que cruzava eu jogava o boné legionário na água e molhava a cabeça, para aliviar o calor na caminhada.

    Cheguei no Rancho cerca de 11:30. É um lugar bonito para lanchar e tomar um banho. Lá joguei também minha camisa na água. Comi umas barras de cereal e pouco depois chegou o pessoal que havia encontrado antes (seguiam para o Pati). Ao mencionar que ia para Mucugê em dois dias, o guia disse que eu iria estourar os músculos. Percebi que o rapaz ainda não havia feito aquele trajeto. 60 km em dois dias, nos gerais, não é algo puxado.

    Poção do Rancho.


    Parti e subi o Quebra Bunda, deixando os Gerais do Vieira e passando para os Gerais do Rio Preto, ali com 1.400 metros de atitude, segundo o altímetro do relógio.

    Subida do Quebra Bunda

    Vista dos Gerais do Vieira, a partir do topo do Quebra Bunda.


    A jornada é bonita, caminhada fácil, à esquerda me aproximava do Vale do Pati, com o Morro do Castelo cada vez mais destacado.


    Almocei uns sanduíches perto de uma antiga cerca de pedra, junto da descida íngrime para a Ruinha, no Pati, isto por volta de 14 horas.

    Vista do Pati, perto da cerca de Pedra.

    Vista da Ruinha.

    Segui, volta e meia parando para tirar fotos e contemplar a vista do Pati.

    Caminhando em direção a Toca do Gavião, meu pernoite, encontro um guia conduzindo mãe e filha. Subiram para os gerais pelo Aleixo para visitar o Cachoeirão e estavam voltando para a vila de Guiné pelo morro do Beco. O guia, quase não reconheci pela barba espessa, era o Neinho, grande figura de Guiné, que considero um dos melhores guias nativos da Chapada, pelo conhecimento, atitudes, comportamento e preparo físico. Conversamos e surgiram ideias para novos trekkings por regiões pouquíssimo exploradas da Chapada, como a Pantomia (onde a onça mia), sul de Mucugê. Me despedi deles e toquei em frente.

    Cheguei a Toca do Gavião as 15:20 depois de 5,5 horas de caminhada.

    É uma das melhores tocas para bivacar da Chapada. Fica perto de água e é ampla o suficiente para 6 a 8 pessoas debaixo da laje de pedra. Estava sozinho nela.

    Minha Toca, Minha Vida:

    Como cheguei cedo fui até o Cachoeirão, meia hora dali. É a 2ª cachoeira mais alta da Chapada, depois da Fumaça. Não havia água. A seca acabou com a queda d'Água. Mas o visual continuava belíssimo.


    No trajeto até ali não vi muito mato queimado porque os incêndios se concentraram mais na área Norte do parque, perto do Pai Inácio e do Morro Branco no Capão. Havia alguns resquícios de queimada, mas de época anterior porque a vegetação já havia rebrotado.

    Preparei a janta na cozinha da toca, tomei um banho no córrego e me instalei confortavelmente para ler. Olhava o céu estreladíssimo sem nuvens. Dormi antes das 8 horas.


    Não levei saco de dormir. Apenas um saco de bivaque de e-Vent e um liner Reactor Extreme da Sea-to-Summit. A combinação funcionou bem até as 2 da madruga, quando o meu metabolismo da janta diminuiu e a temperatura ambiente caiu abaixo de 18°C. Dai tive de vestir um fleece Polartec leve. Acho que aqui no Brasil, fora do inverno no sul, esta será a minha configuração para dormir. O saco de bivaque mais o liner pesam cerca de 900 gramas. Se levasse minha tenda, só ela seria 1,65 kg. Não pesei a mochila antes de sair de casa mas creio que não pesava mais de 6 kg com comida. Não tinha como levar muita coisa na mochila de 45 litros.

    O conteúdo da mochila (exceto cozinha). Me dei ao luxo de trazer travesseiro!

    Acordei 5 da manhã com a luz e a passarinhada. Fui acender o fogo e fazer o café.

    Parti 7 horas. Bom sair cedo para começar a andar com o dia menos quente. Rumo Sul outra vez.


    A navegação é extremamente simples. Basta seguir e deixar o rio Preto sempre à direita. Ele desce também em direção a Mucugê, se encontrando com o Rio Paraguaçu um pouco antes da cidade.

    Sozinho nos Gerais. No segundo dia de caminhada não vi ninguém até chegar a Mucugê.


    Perdi a trilha num determinado momento, onde havia brejo. Fui reencontrá-la apenas meia hora depois. Fazia 7 ou 8 anos que havia passado por ela. A memória falha mas a lógica da navegação não.

    Meu receio de falta d'água não se confirmou. Vários córregos cruzavam a trilha e todos tinham água. Isto depois da estação seca, de forte estiagem. Apenas no Cachoeirão, que está numa altitude maior, faltou água.

    Córrego das Prateleiras (denominação dada por mim):

    Sinal de tamanduá: cupinzeiro aberto.


    À medida que avançava para Mucugê a altitude baixava lentamente dos 1.450 metros para 1.000 metros e ficava mais quente. Por volta de meio-dia e meia parei numa toca para almoçar e tirar fotos dos desenhos pré-históricos, pinturas rupestres, feitos pelos 1º nativos da região.

    Vista da Toca das pinturas rupestres, com o Rio Preto abaixo.
    Mais 50 minutos e cheguei no Paraguaçu. Atravessei a pé o rio. Esta travessia não deve ser tentada na época das chuvas porque o Paraguaçu se torna muito largo e caudaloso e fica bem difícil atravessá-lo.

    Ponto da travessia:

    Tomei um banho delicioso com roupa e tudo. Até chegar em Mucugê, mais meia hora, elas estariam secas e sem suor.

    Local do banho. Encontro do Rio Preto com o Rio paraguaçu.


    Mucugê, linda cidade histórica, bem preservada. Procurei uma pousada barata. Fiz um passeio pela cidade, admirando seu casario e visitando o famoso cemitério bizantino. Quase fui trancado lá dentro porque fecham ao anoitecer. Dormir no mato eu durmo, mas com alma penada, brrrr....Se me trancassem pulava o muro!

    Jantei uma boa pizza e fui dormir cedo.

    No dia seguinte, 4:30 da manhã, peguei um ônibus de volta para Salvador onde cheguei por volta de 14 horas.

    Trekking bonito e sussa!

    Infos:

    Salvador-Palmeiras: Real Expresso ou Rápido Federal, R$ 75
    Transporte Palmeiras-Capão, preço varia conforme lotação. Kombi lotada R$ 12
    Moto-taxi Capão-Bomba R$ 15
    Mucugê-Itaberaba-Salvador Águia Branca, R$ 30+25
    Pousada Jardim do Éden em Mucugê. Simples, R$ 30 sem café da manhã (não dá para pegar o café da manhã, ônibus sai as 4:30 da madrugada!).

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 28/12/2015 10:50

    Realizada de 08/12/2015 até 09/12/2015

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    8 Comentários
    Carlos Araújo 05/01/2016 01:25

    Fiquei feliz com o relato. Apesar do fogo, há muito da Chapada ainda preservado :)

    Peter Tofte 06/01/2016 09:30

    Valeu Carlos. A Chapada tem muita coisa bonita e não atingida pelos incêndios. O fogo atingiu mais o norte do parque, no Morro do pai Inácio, Morrão e também o Morro Branco do Capão. A parte central não foi atingida. Agora é torcer pela recuperação e que da próxima vez acionem mais rapidamente bombeiros e aviões de combate ao fogo, não deixando assumir as proporções que o incêndio atingiu.

    Emerson Fernandes 24/01/2016 22:22

    Espero chegar a minha oportunidade de conhecer a Chapada Diamantina. Quanto ao fogo, é ele que regenera a natureza!

    Icaro 25/02/2016 11:13

    Grande Peter!! Suas caminhadas me inspiram!! Fiquei curioso com essa tal Pantomia!! Há um tempo atrás li um relato seu onde citava a vila do Rabudo, só sosseguei quando fui até lá, descendo o rio dos Caldeirões, lugar histórico... Essa trilha atravessando o parque merece atenção!! Parabéns pelo espírito pioneiro!!!

    Peter Tofte 29/02/2016 19:38

    Valeu! Vc se adiantou! Ainda não conheci o Rabudo. Quer dizer que se descer o Caldeirão acabo encontrando as ruínas do Rabudo? Abraço!

    Peter Tofte 29/02/2016 19:40

    Ainda não fiz a Pantomia, mas com certeza posto o relato aqui depois que for. Ou quem sabe vc posta primeiro Icaro!

    Edvander A. Nepomuceno 04/07/2017 16:32

    Obrigado pelo relato, Peter! Irei fazer o percurso do Cachoeirão a Mucugê em agosto (com GPS). Foi muito bom saber que não é tão complicado e que dá para fazer esse trecho em um dia.

    Peter Tofte 05/07/2017 12:17

    Ed, como é dentro de um vale com o Rio Preto sempre a sua direita, não é difícil!

    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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