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Peter Tofte 27/12/2016 14:14
    Travessia Cobiçado - Ventania, com Descida para Santo Aleixo

    Travessia Cobiçado - Ventania, com Descida para Santo Aleixo

    Travessia solo começando em Petrópolis e terminando em Santo Aleixo, com pouco peso e bivacando.

    Montanhismo Trekking

    Aproveitei uma viagem ao Rio e refiz outra vez solo a Travessia Cobiçado – Ventania (Petrópolis) que já havia percorrido em 2009. Porém desta vez decidi fazer uma variante: ao invés de descer para Caxambu (Petrópolis) desci para Santo Aleixo, distrito de Magé. Esta variante é puxada porque tem um bom desnível e a trilha é difícil em certos trechos, porque é pouco percorrida e o mato invade.

    Tive sorte porque não choveu, o que é muito bom para quem não leva tenda. Bivaquei num bonito local com Mata Atlântica.

    Saí do Rio terça, 20/12, no busão de 6:20 para Petrópolis. Lá peguei outro ônibus para o Centro onde esperei quase uma hora pelo ônibus 470, para Santa Isabel.

    A estrada é sinuosa. O ônibus sobe por ladeiras íngremes e passa por curvas fechadas onde precisou ocupar toda a pista para fazer a curva. Para ter uma idéia, uma das curvas se chama “curva do caixão”. Para ir a localidade de Três Pedras temos que avisar ao motorista, caso contrário ele passa direto. O cobrador puxou conversa, me perguntando se iria para o Cobiçado.

    - Sim.

    - E vai voltar por onde?

    - Santo Aleixo.

    - !!!!!

    O cobrador fez uma cara de espanto. Deve ter pensado que era louco. Voltar por um município distante, 1.500 metros montanha abaixo.

    Parti às nove e dez, da Igreja de Nossa Sra. da Penha, fim-de-linha de Três Pedras. A subida começa acentuada por uma estrada ao lado de plantações de hortaliças. Ao final da estradinha dobrei à esquerda ao lado de um caminhão quebrado e comecei um caminho 4X4 que some para dar lugar a uma trilha. A subida é bonita. Tem até araucárias.

    Início do caminho rumo ao Cobiçado.

    Araucárias com o Cobiçado ao fundo.

    Há uma bifurcação à esquerda devidamente assinalada por uma placa colocada pelo projeto “Caminhos da Serra do Mar”. O caminho segue daí por um pasto com predomínio de sapé e samambaia-brava. A pirâmide final do Cobiçado é inclinada. Cheguei ao topo com 1h:40 m. Vista legal para Petrópolis e para parte da Baía de Guanabara. Dá para ver todo o caminho a ser percorrido pelas cristas até o Ventania.

    Começo da trilha com a placa indicativa.

    Pico do Alcobaça, bem visível na subida para o Cobiçado.

    Perto do cume.

    Placa no Pico dos Vândalos. Comprovado!

    Vista do Vândalos para a crista que segui até a Pedra do Diabo (a esquerda). A direita, embaixo, a Agulha Itacolomi.

    Vista da Baía de Guanabara, do Vândalos. Ao centro o Pão-de-Açucar.

    Crista por onde segui. A partir da direita para a esquerda: Pedra do Diabo e Pedra do Inferno. A crista que liga os dois é o Tridente. Ao fundo, a esquerda, atrás das nuvens, a Serra dos Órgãos. Visível os Castelos do Açu (pequeno ponto abaixo da nuvem mais a esquerda)Agulha Itacolomi.

    Passando rente a Pedra do Diabo.

    Besouro Rinoceronte.

    A trilha agora está bem sinalizada e o trecho com exposição no Tridente foi evitado por um desvio. A descida escorregadia da Pedra do Inferno conta agora com ajuda de cordas. Trabalho muito bem feito pelo Projeto “Caminhos da Serra do Mar”. Acho que é uma parceria de uma ONG com o ICM-Bio/PARNASO.

    Descendo para o ventania.

    Cordas colocadas na descida da Pedra do Inferno.

    Consegui chegar no Alto da Ventania em apenas 2h:40 m, a partir do Cobiçado, incluídas as paradas, passando pelo Vândalos, Pedra do Diabo, Tridente e Pedra do Inferno (pessoal inspirado que batizou os 5 cumes da Serra da Estrela!). Total de 4h:40m, considerando a subida do 1º cume, o Cobiçado. Fiz num bom tempo. Não parei muito para curtir as vistas porque havia previsão de chuva e trovoada no meio da tarde.

    Caminho percorrido, visto quase do Alto da Ventania. Da direita para a esquerda: Cobiçado, Vândalos e Pedra do Inferno (a Pedra do Diabo e o Tridente estão atrás desta). Em primeiro plano um marco da trilha.

    Alto da Ventania.

    Pegar uma tempestade elétrica numa crista pode ser muito ruim. Já temos um histórico de mortes na Serra dos Órgãos. Além disto, como iria bivacar, é sempre bom chegar mais cedo para achar um lugar mais protegido.

    Minha rapidez em boa parte era devida a estar com apenas 6 kg na mochila (sem contar a água), isto para 2 dias, porque troquei a barraca/saco de dormir por um poncho/carpa e um saco de bivaque.

    No Ventania, onde cheguei as 13:30, com tempo bom (apenas algumas nuvens) eu visualizei o bonito local que acampei em 2009.

    Decidi então iniciar a descida para Sto. Aleixo porque ainda era cedo e, mais abaixo, poderia ficar mais abrigado no caso de tempestade. O livro que possuía falava de um largo na mata com um riacho por perto, um lugar que imaginei que seria bom para acampar.

    A descida segue a orientação de um descampado em linha reta, formando um corredor no meio da mata, para a passagem de Linhas de Transmissão ligando Petrópolis à Baixada Fluminense. Como a descida é muito acentuada, na maior parte a trilha vai pela mata ao lado do corredor, para vencer o desnível em zigzag.

    O trecho inicial passa entre torres de transmissão, mas logo entra na mata à esquerda. A descida até outro ponto em que reencontra o corredor das linhas (1º platô) levou cerca de uma hora, pela floresta.

    Trilha na mata.

    Descida até o 1º platô. A trilha desce pela mata a direita da foto.

    Ao chegar ao platô, cruzei o corredor por baixo das linhas de transmissão para entrar quase que imediatamente na mata à direita, descendo uma pequena vereda lateral onde corre um riacho. É uma mata primária, de árvores bem altas. Ouvi o grasnar típico do jacu e logo após o seu vôo pesado. Isto testemunha a conservação da área, pois o jacu é muito caçado e está desaparecido em várias regiões.

    Riacho antes do acampamento.

    Mais cinco minutos de andada cheguei ao largo da árvore, como descrito no guia. Local bom para acampar. Havia indícios de acampamentos anteriores.

    Como viajei para o Rio só com bagagem de mão não pude transportar espeques nem bastão de caminhada. Assim tive que montar minha carpa entre as árvores para sustentar o tecido. E também não achei os cordoletes que havia separado. Utilizei cipós para amarrar e tensionar o abrigo.

    Não choveu a noite inteira, mas senti um pouco de frio, apesar de só ter feito 19º C. Dormir no chão da floresta foi tranqüilo, mas ouvi algo mexendo no meu reservatório de plástico com água, a alguns centímetros atrás da minha cabeça. Provavelmente um rato silvestre ou um gambá. Já nem abro mais os olhos. Faço um PSSSSTTT, para avisar que tem um bicho bem maior tentando dormir...

    Acordei pouco antes das sete e após arrumar as coisas e um lanche sai as 8:25. Com um pouco de caminhada saí outra vez no descampado das linhas de transmissão. Aparecem vários rastros de gado que confundem, mas a direção é obvia e o roteiro alerta que devemos bordear o vale pela direita, subindo um pouco.

    Cheguei na Garganta das Três Torres, onde três torres de alta tensão marcam o ponto de uma queda abrupta. As linhas de transmissão descem praticamente um quilometro sem sustentação, despencando para o segundo platô.

    Vista da Garganta das Três Torres, para o Pico Maior de Magé.

    Descida brutal começa agora! Bem abaixo a linha de transmissão rasga o 2º platô.Pouco adiante o caminho entra na mata à esquerda. Não fosse o croquis explicativo da trilha seria difícil achar esta entrada. Comecei um grande zigzag pela encosta, numa trilha muito bem feita. Mas com uma hora que saí do acampamento começaram os taquaruçus, bambus nativos, tombados na trilha. Quando ainda estão verdes é difícil corta-los. Os ramos menores têm espinhos e fui obrigado a fazer vários agachamentos e passar quase rastejando nos trechos em que eles formavam túneis. Arranhões e alguns escorregões são inevitáveis. Certo cuidado é necessário para não perder a trilha. Suspirei aliviado quando cheguei ao segundo platô as dez da manhã, no descampado das torres de transmissão, ao lado de um pequeno riacho. Foi uma longa e difícil descida. Sem dúvida é o pior trecho.

    Pico Maior de Magé. Em primeiro plano um taquaruçu.

    Descida para o 2º platô. Ufa!

    Lanchei e depois recomecei na trilha pelo próprio corredor das linhas de transmissão até que ela entra de novo na mata a esquerda. Aí a trilha fica deliciosa, larga e percorre um bonito trecho de mata com lindos riachos.

    Cheguei ao portão do Clube Campestre dos Suboficiais da Aeronáutica pouco antes do meio-dia. Aproveitei para tomar um banho de rio com roupa e tudo. Teria mais 30 a 40 minutos para chegar no centrinho de Santo Aleixo. Até lá sequei a roupa, com o calor que fazia.

    Peguei um ônibus parador e cheguei no Rio as quatro da tarde. Saltei no camelôdromo ao lado da Central do Brasil. Vixê! Que contraste em relação à tranqüilidade das montanhas e matas que percorri!

    Dicas

    A melhor época: outono-inverno (abril-maio até setembro-outono), estação seca. Evitar quando houver previsão de chuvas e trovoadas. Dei sorte porque estiou após uma semana de chuvas. Assim encontrei água fácil e não tive problemas com carrapatos.

    Água: na estação seca leve bastante na travessia Cobiçado - Ventania. Apenas há um ponto antes do Cobiçado e outro no Alto da Ventania, dentro da mata, descendo. Na descida para Santo Aleixo há vários córregos. Alguns secam no inverno. Mas não há dificuldade para encontrar água.

    Volta: Descendo do Alto da Ventania para Caxambu (lado de Petrópolis) é tranqüilo. Se for descer para Santo Aleixo (lado de Magé), é bem mais duro. É bom levar um facão na segunda alternativa.

    Navegação: a Travessia Cobiçado - Ventania segue uma linha óbvia de cristas e agora está bem demarcada. A descida para Santo Aleixo não. Neste caso é fundamental ir com alguém que já conheça a trilha ou ter em mãos o descritivo e o croquis da trilha que você encontra no ótimo livro “Guia de Trilhas de Petrópolis” do Waldyr Neto.

    Trilha muito legal, perto do Rio de Janeiro e cabe num fim-de-semana! Recomendo!

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 27/12/2016 14:14

    Realizada de 20/12/2016 até 21/12/2016

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    5 Comentários
    Fabio Fliess 27/12/2016 14:44

    Muito bom Peter! A Cobiçado X Ventania é uma trilha clássica aqui da cidade e no seu caso, vindo de longe, emendar com outra trilha é uma boa pedida!!! Refiz a Caxambu x Santo Aleixo no mês passado e também sofri um pouco no trecho dos taquaruçus. Em vários pontos tivemos que usar facões para limpar um pouco a trilha! Na ocasião conheci um poço bem legal, cerca de uns 500m antes do Clube Campestre. Chama-se Poço da Pegada do Gigante! Excelente pedida para esse calorão! Parabéns pelas trilhas...

    1
    Peter Tofte 27/12/2016 14:57

    Valeu Fabio! Hora destas vamos fazer uma trilha juntos! Aí no Rio ou aqui na Bahia! Gostaria de conhecer a região dos 3 picos em Friburgo.

    1
    Fabio Fliess 28/12/2016 07:50

    Peter, os 3 Picos é sensacional... Um lugar para voltar sempre!!!! O parque inteiro é incrível e tem uma quantidade absurda de trilhas e montanhas! Recomendo... Quando vier, avise! Quem sabe rola uma trilha juntos! Grande abraço.

    1
    Peter Tofte 28/12/2016 09:21

    Valeu Fabio!

    Felipe.rocha79 05/01/2022 18:04

    Gostei da rota 👍🏼⛰

    1
    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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