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Rafael Damiati 09/12/2020 22:18 com 2 participantes
    A Travessia que é BoBa só no nome | PNT | Rio de Janeiro/RJ

    A Travessia que é BoBa só no nome | PNT | Rio de Janeiro/RJ

    Relato da travessia Botafogo x Barra, realizada em fevereiro de 2020.

    Hiking Montanhismo

    Sim, você já deve ter visto algo sobre essa mesma travessia aqui na AventureBox. Meus parceiros André Leopoldino e Bruno Negreiros também fizeram, cada um deles, seus próprios relatos sobre essa caminhada.
    Como eu tenho trazido pra cá os relatos que escrevo para o Boletim do Centro Excursionista Brasileiro, chegou a hora de compartilhar a minha versão da história, mesmo sabendo que a aventura não é inédita por aqui. Então, antes de começar a ler esse relato, eu sugiro que você prestigie os relatos dos amigos. No final das contas, cada um sempre tem uma visão diferente dos fatos.

    Leia os outros relatos:

    BoBa por André Leopoldino

    BoBa por Bruno Negreiros

    Relato publicado no Boletim do Centro Excursionista Brasileiro, edição mai/ago de 2020. Disponível em www.ceb.org.br.

    Siga o @centroexcursionistrabrasileiro

    Durante o meu Curso Básico de Montanhismo, ao fazer minha primeira escalada nas aderências do Contraforte do Corcovado, local também conhecido no clube pelo nome da rua de acesso (Viúva Lacerda), ouvi uma colega reconhecendo aquela entrada de trilha como sendo o início da travessia BoBa.

    Eu que gosto de escalar, mas também não dispenso uma boa caminhada, nunca esqueci esse nome. Tempos depois, descobri que não se tratava de uma caminhada tão boba assim. A travessia BoBa, Botafogo x Barra, liga os dois bairros através da junção de trilhas pela floresta da Tijuca. São aproximadamente 22 km de distância com 1800 m de ganho de elevação acumulado, dependendo das variantes escolhidas.

    Visão geral do nosso roteiro. É possível ir de Botafogo à Barra quase sem botar o pé no asfalto?

    Quase quatro anos depois do CBM, recebi o convite do André Leopoldino (Dino) para me juntar ao forte e reduzido grupo disposto a encarar a travessia. Estiveram conosco Bruno Negreiros, Bruno Lacerda e Osório. Por coincidência, pouco antes da caminhada, encontrei um artigo no boletim do CEB, datado de 2013, trazendo a experiência vivida por outros cebenses na BoBa, o que nos motivou ainda mais a repetir o feito.

    Começamos a empreitada às 6 horas em ponto do sábado, 1º de fevereiro. O início da trilha até a base das aderências do Contraforte já nos era conhecido. Um pouco mais a frente o deslocamento começou a ficar mais lento, pelo mato fechado, nos trazendo um aperitivo do que encontraríamos em diversos momentos daquele dia.

    Por volta das 07:45h cruzamos a trilha Parque Lage - Corcovado e ali pegamos novo trecho de trilha fechado. Utilizando o GPS e o bom senso, fomos vencendo os trechos de orientação mais trabalhosos até chegarmos na Cachoeira dos Primatas (09:15 h). Após um rápido descanso, seguimos em direção à Vista Chinesa, agora por um trecho da Transcarioca (trecho 17). Nesse trecho conseguimos andar mais rápido, considerando que estávamos em trilha bem marcada e manejada. Nesse caminho, passamos pela Cachoeira da Gruta e pelo velho (e caído) Jequitibá. Logo estávamos na estrada Dona Castorina (10:50 h), aquela que liga à Vista Chinesa ao Jardim Botânico, que continua com acesso bloqueado aos veículos.

    Visão emoldurada da Zona Sul no Mirante da Lagoa. Foto: Bruno Lacerda

    Importante lembrar que esse foi um típico dia de verão carioca, ou seja, a essa altura já havia um Sol para cada um de nós. Ainda que a maior parte da caminhada seja na sombra, aguentar o calor e umidade se tornou um grande desafio durante a travessia. Pensando nisso, questionei o Dino se não seria melhor seguirmos pelo asfalto até a Vista Chinesa, pois já estávamos próximos. Ele insistiu que deveríamos fazer o trajeto por trilhas sempre que possível, portanto cruzando a pista e descendo em direção à Cachoeira da Imperatriz, conforme observava em seu GPS.

    Seguimos essa opção, enfrentando uma boa descida até a cachoeira, mas pensando que logo subiríamos todo o desnível novamente, perto do horário mais quente do dia. A cereja do bolo foi descobrir, já na cachoeira, que ele tinha olhado o tracklog errado! Ele havia feito aquele trecho com alguns amigos há pouco tempo e o registro ainda estava no GPS. Somente na cachoeira percebeu que o caminho mais lógico seria mesmo ter pego o trecho de asfalto, mas já era tarde. Dali fomos mesmo pelo trecho da Transcarioca, passando, mais a frente, pelo Fusca colorido e abandonado. De lá começou o toca pra cima até a Vista Chinesa. Sofremos com o calor nesse trecho e a cada inspirada, nossos pulmões se enchiam de ar bastante quente.

    Nem o Fusca botou o "pé"no asfalto! Foto: Bruno Lacerda

    A parada para o almoço foi na Vista Chinesa e, pelo cansaço da subida anterior, resolvemos aproveitar um pouco mais (ficamos quase uma hora!). Ali conseguimos também comprar alguma bebida gelada para dar aquela moral. Às 13:00 horas partimos em direção ao Cochrane. Apesar de pouco movimentado, o trecho é relativamente bem aberto até o cume do Andorinhas. De lá até o Cochrane o mato começa a fechar um pouco, mas foi do Cochrane para baixo que a orientação complicou.

    Nosso tracklog de referência não batia com o mato fechado que existia a nossa volta. Nessas horas não tem jeito, é disposição para varar mato, passando por trechos que parecem e às vezes não são trilhas. E nesse ritmo, alternando entre um pouco melhor e muito pior, fomos descendo em direção ao prédio abandonado da Cândido Mendes. O trajeto que seguimos nos levou diretamente à propriedade abandonada, da qual saímos pelo portão já na Estrada das Canoas (15:35 h), bem próximo ao acesso da rampa de voo livre da Pedra Bonita.

    Naquele ponto tivemos novamente uma conversa sobre qual caminho escolher. Subir pela estrada de paralelepípedo até a rampa ou pegar a trilha que vai para a base da via Jorge de Castro, contorna a Agulhinha da Gávea, e assim se aproxima da rampa. Novamente fomos vencidos pela fome de trilha do Dino e, portanto, escolhemos a opção com maior ralação. Acabamos com alguma dificuldade de orientação, já na base da Agulhinha. O tempo estava virando e já eram 16:00 horas. Ponderamos que o vara mato poderia demorar muito e optamos por voltar até a Estrada das Canoas e subir pelo popular caminho em direção à rampa. O lado positivo foi ter abastecido o estoque de água para o trecho seguinte, naquela caixa d’água que existe na subia da estrada.

    O tempo já estava totalmente encoberto e ventava moderadamente. A meteorologia previa chuva no final da tarde e a gente já não tinha dúvidas disso. A combinação estava perfeita para a chegada do pé d’água: dia extremamente abafado pela manhã, ventania após o meio-dia e nuvens carregadas no meio da tarde. Nossa foto na rampa da Pedra Bonita já foi quase sem paisagem e as últimas decolagens de asa delta aconteciam entre nuvens. Às 17:00 horas a água estava prestes a cair, mas não estávamos contentes em fazer a BoBô (Botafogo - Bonita) ao invés da BoBa. Decidimos então tocar para o trecho final.

    Nuvens se aproximando da rampa de voo livre.


    Partimos em direção à Barra, pela trilha que vai em direção às vias da base da Pedra Bonita e da Pedra da Gávea. Quem passa por ali já sabe: tem cachorro bravo! Eu já havia passado duas vezes e confesso que nunca tinha visto o famoso cachorro. Mas dessa vez o tempo fechou (em todos os sentidos!). Eram dois animais latindo bem de longe, mas que logo foram se aproximando até nos encontrar na trilha. Nos reunimos e eles nos cercaram na trilha, um pela frente e outro pela retaguarda. Fomos medindo força com os cachorros para ver quem tinha mais medo, avançando espaço no terreno, e aos poucos conseguimos seguir nosso caminho, enquanto os cães continuavam latindo lá atrás.

    Finalmente o chuvisco começou a cair, mas ainda estávamos protegidos pela copa das árvores. Como o trecho é bem batido, conseguimos avançar rapidamente até o colo entre a Pedra Bonita e a Pedra da Gávea (17:30 h). De lá para frente era só descida, mas um trecho novo para todos nós. Passamos por algumas árvores caídas, pela bifurcação do grotão e seguimos baixando em direção à entrada do PNT. Após alguns minutos a chuva apertou e a noite já pedia pelas lanternas, o que nos fez decidir em abortar o ataque até o Focinho de Cavalo. Também tocamos direto, sem parar no mirante do Itanhangá.

    Perto do fim, nos empolgamos com uma rua calçada de pedras, mas que percebemos ser o caminho errado. Corrigimos a rota e fomos firmes, animados e molhados em busca de completar o desafio. Fechamos a travessia às 19:00 horas em ponto, na portaria do PNT. Na nossa empreitada, totalizamos 21,6 km, 1900 metros de desnível acumulado e 13 horas exatas, quase sem botar o pé no asfalto!

    O sobe e desce ao longo do dia, com destaques para alguns pontos de interesse.

    Rafael Damiati
    Rafael Damiati

    Publicado em 09/12/2020 22:18

    Realizada em 01/02/2020

    2 Participantes

    André Leopoldino (Dino) Bruno Negreiros

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    6 Comentários
    Bruno Negreiros 10/12/2020 08:48

    Um dia de muita diversão e calor! Hahahahaha

    Bruno Negreiros 10/12/2020 09:49

    Feliz demais de andar com esses carar!

    Rafael Damiati 10/12/2020 10:35

    Aguardando as próximas, Bruno! \m/

    Bruno Negreiros 10/12/2020 17:06

    #meleva

    Jose Antonio Seng 11/12/2020 18:54

    Olha, como carioca, só tenho elogios para que continua a fazer trilhas na cidade do Rio. Aqui é bonito e as trilhas são bem belas. Mas a quantidade de assalto assusta. Vcs tiveram algum problema ? Abs

    Rafael Damiati 12/12/2020 13:54

    Felizmente fizemos sem problemas, Jose! Abraço

    Rafael Damiati

    Rafael Damiati

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