- Como posso aprender com a montanha mestre?
- Suba!

(Koan)

Para quem chegou neste relato diretamente, esta é a terceira de quatro partes do relato do Trekking no Parque Provincial do Aconcágua até o cume do Cerro Bonete. Os links para as demais partes do texto estão ao final da página!

Confluencia x Plaza de Mulas (Aconcágua Basecamp)

No dia 10 janeiro, acordamos no acampamento de Confluência depois de um dia de aclimatação na Plaza Francia, tomamos um café da manhã reforçado para encarar a longa caminhada até a Plaza de Mulas, onde fica o basecamp do Aconcágua. A caminhada nesse dia é de cerca de 18 km com uma ascensão de aproximadamente 1.000 metros.

Nos reunimos na tenda principal do acampamento para organizar as mochilas, desmontarmos as barracas e nos despedirmos do Antonio que iria descer para Horcones devido ao sintomas de MAM que comentei no relato anterior. É difícil nos despedir dos amigos nesses momentos ,mas com a saúde não se brinca e a montanha sempre estará lá! Quer dizer, tens uns meteoros por aí, mas não vamos pensar nisso rsrs

Mochilas nas costas, uma boa quantidade de água (3 litros) e lanches preparados, seguimos em direção a Plaza de Mulas. A trilha começa no mesmo caminho que vai para a Plaza Francia mas na descida íngrime do vale seguimos agora para esquerda no caminho que cruza uma ponte de ferro. mas logo em seguida subimos tudo novamente! Seria um bom lugar para se instalar uma tiroleza e cortar caminho rsrs

Na sequência a trilha chega a um grande vale chamado de Playa Ancha, praticamente plano mas com uma leve inclinação que segue infinitamente em direção às montanhas nevadas. Que lugar lindo! Ali já fiquei, tirei a câmera da mochila e perdi alguns minutos fotografando.

Mesmo dentro do vale o vento frio está sempre presente. Em alguns momentos vimos o helicóptero de suporte do parque que sobe durante todo o dia até Plaza de Mulas para resgate e resuprimento. Seguimos em frente em um passo rápido e contínuo. A paisagem, devido à grande distância dos vales, não muda muito e logo a caminhada entra em um rítmo contínuo e meditativo.

Durante todo dia nos encontramos com outros grupos de montanhistas subindo e descendo. Sem dúvida um fluxo maior de montanhistas se comparado à Plaza Francia.

Depois de algum tempo chegamos na curva do primeiro vale, onde começamos a margear um pequeno riacho de desgelo que corta os vales. Contornamos a primeira curva ao final do vale e... olha só... outro vale gigante! São uns três vales seguidos que você quase não encherga o fim. Uma paisagem incrível!

Já no final do terceiro vale, cruzamos o rio e chegamos a uma pedra com uma sombra agradável para um lanche. Esta é a metade do caminho, não em quilometragem mas em tempo, cerca de 4 horas. Dali em diante ,apesar de ser mais curto o caminho, começam as subidas!

Vários grupos estavam lanchando nesse local que se chama "Ibañes" (se não me engano). Renovamos as energias, tomamos muita água e seguimos à direita da pedra, já iniciando a subida.

Aos poucos as montanhas nevadas vão se aproximando, o frio e o vento começam a se intensificar e a altitude nesse momento já faz com que a caminhada se torne mais lenta para que o oxigênio seja suficiente.

A subida segue aos pés do Aconcágua com uma inclinação moderada, passando algumas vezes por alguns canais de erosão.

Depois de algumas horas chegamos na parte mais acentuada da subida, aquele ziguezague com pedras soltas, daquelas que não dá pra firmar o passo de jeito nenhum, depois de mais de 7 horas de caminhada! Ali "o filho chora e a mãe não vê", como diz o ditado rsrs . Literalmente é para acabar! Um pensamento que sempre me vem em mente nesses momentos é "Porque eu não estou surfando?" rsrs.

Ufaaaaaa acabouuuu! Passado o perrengue, chegamos a Plaza de Mulas... só que não! Mais uma descidinha e mais uma ladeira para não ficar achando que a vida de montanhista é moleza.

Agora sim! Ufaaaaaaaa! Chegamos aos 4.300m da Plaza de Mulas e junto conosco uma nevasca sempre presente ao final da tarde! Foram cerca de 8 horas de caminhada.

Encontramos a tenda principal da agência e eu só me lembro de encontrar uma cadeira e ficar sentado por algumas horas rsrs. Logo uma moça da agência, que cuida do acampamento, serviu um pãozinho com porções de queijo e presunto. Luxo na montanha! Mas eu juro para vocês, foi o melhor pão com presunto e queijo que eu comi na vida! É sério, pode ir lá e provar para ver se não é verdade rsrs

A nevasca se intensificou bastante e decidimos dormir essa noite na tenda de modo improvisado e no final da noite ainda rolou uma pizza servida pela cozinha da agência! Quanta mordomia, isso que é vida!

FRIO! Que noite fria, em vários momentos sentia as gotículas de água no meu rosto caindo da condensação no teto da tenda. Me lembro de tatear a mochila a noite para tomar água mas quando virei a minha garrafa não desceu nada, tudo congelado. Nesse momento entendi a importância das garrafas térmicas nessa altitude.

Pela manhã, parecia que os pés estavam congelados e eu estava contando os minutos para os primeiros raios de sol chegarem ao acampamento. Mas nem tudo são flores, o acampamento fica aos pés do Aconcágua lembra? E o sol nasce bem do lado dele! Me lembro até agora... 9h30! Foi a hora que o sol chegou na tenda! Nunca amei tanto o sol! rsrs.

Day Off, no dia 11 descansamos para recuperar as forças e atacar o Bonete no dia seguinte! Torcendo para que o tempo ficasse bom. Conhecemos o acampamento, conversamos com vários brasileiros e encontramos gente do mundo todo. Tinha até um grupo de Cholitas montanhistas famosas gravando um documentário que pareceu ser bem interessante e estavam se aclimatando para fazer o cume. Depois pesquisei e descobri mais sobre elas! Muito legal o projeto, veja o vídeo!

Visitamos também um atelie de pintura... Sim, um atelie a cerca de 4.300 metros de altitude. Um pintor que toda temporada sobe a montanha e passa a temporada pintando com a inspiração das montanhas.

Nessa noite montamos as barracas e aprendi uma dica muito boa: aquecer a água, colocar em uma garrafa e depois dentro do saco de dormir! Como é bom sentir os dedos do pé na hora de dormir rsrs. E sempre com uma térmica extra com água quente na barraca para se hidratar durante a noite!

Nessa altitude estávamos bebendo cerca de 4 litros por dia. Ainda assim, encontramos um grupo de brasileiros que um dos amigos estava em um estado mais grave de MAM, com princípio de Edema Pulmonar, e teve de descer de helicóptero.

Agradeci por chegar até ali e estar bem, curtindo a montanha! Claro que o corpo estava cansado da caminhada e a cabeça um pouco pesada pela altitude, mas estava bem disposto e com as energias renovadas para o dia seguinte para atacar o Cerro Bonete e atingir minha meta nessa viagem, chegar aos 5.050 metros de altitude.

Obrigado pela leitura! Continuo a última parte da viagem no próximo relato!

1) Puente del Inca x Confluencia
2) Plaza Francia, Face Sul do Aconcágua
3) Confluencia x Plaza de Mulas
4) Cerro Bonete

Valeu pessoal, bons ventos!