Passei a minha infância frequentando um sítio na Serra da Bocaina onde meu pai e um amigo apicultor começaram a montar um apiário. Sempre passávamos os finais de semana percorrendo pequenas trilhas e visitando cachoeiras na região. Era sempre uma aventura garantida ir para o sítio, passar a noite com a luz de lampião, fazendo comida no fogão à lenha, indo buscar farinha de milho no moinho de pedra tocado por roda d'água... quantas lembranças!

Nessa época, há mais de 15 anos, sempre ouvíamos histórias dos tropeiros que atravessavam a Serra do Mar em cavalgadas até o litoral. Aquilo era impressionante para mim, uma jornada que despertava muita imaginação, uma aventura que estava muito além do que imaginava ser possível. Alguns anos depois lá estava eu novamente, com um grupo de amigos para cruzar a serra a pé rsrs!

A Trilha do Ouro, também conhecida como Caminho de Mambucaba, tem início na portaria do parque em São José do Barreiro e término no sertão de Mambucaba, município de Angra dos Reis, RJ. Dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina são percorridos cerca de 50 km, geralmente divididos em três dias de caminhada.

No dia 24 de Fevereiro de 2017, reunimos Luiz, Bruna Fávaro, Sara Kang, Jeff Almeida, Graciela Rodrigues e eu em São José do Barreiro, noite anterior a nossa saída, para organizar as mochilas e fazer o último checklist para o início da trilha na manhã seguinte!

Passamos a noite em uma hospedagem muito simples, um quarto com três beliches e um banheiro, oferecida gratuitamente pelo Eliézer, que nos cobrou R$125,00 para nos deixar de carro na entrada do parque e buscar na volta R$ 650,00. A casa dele fica na esquina da rodoviária da cidade.

Dia 1 - Portaria do Parque x Pousada do Senhor Tião

Saímos de manhã do centro de São José do Barreiro de carro com Eliézer e seguimos por alguns quilômetros por estradas de terra até a entrada do Parque Nacional da Serra da Bocaina onde fizemos nosso credenciamento para realizar a trilha (É preciso agendar com antecedência a entrada no parque).

- Saindo da portaria do parque, depois de aproximadamente 1,2 km, chegamos à Cachoeira Santo Isidro em uma saída à esquerda. Uma cachoeira fantástica que valeu a pausa para fotos.

- Depois de aproximadamente 6,5 km pegando o atalho, chegamos à bifurcação que leva para a Cachoeira das Posses, também numa saída à esquerda. No início da trilha em direção à cachoeira há uma casa abandonada do lado direito. A cachoeira fica à 800 metros depois da saída à esquerda.

- Ao retomar a trilha principal, seguimos mais 4 km por um caminho abrigado de mata com alguns pontos de água e depois mais 6 km por estrada de terra, menos abrigado até a pousada do Senhor Tião onde passamos a noite.

- Na pousada do Sr. Tião existe a opção de acampar ou ficar hospedado em um dos quartos. A pousada oferece banho, jantar e café da manhã para os aventureiros que querem um pouco mais de conforto ou fazer a trilha mais leve.

Dia 2 - Pousada do Senhor Tião x Cachoeira dos Veados

- Saindo da pousada do Sr. Tião com mais 1 km passamos pela Pousada Barreirinha, outra boa opção para se hospedar.

- Mais alguns quilômetros chegamos até a casa do senhor Luiz, uma pequena fazenda no meio da Serra onde paramos para um um dedo de prosa e um café no fogão a lenha. Conhecemos um pouco da vida simples e histórias desse senhor tão hospitaleiro.

- Com mais 8 km de estrada de terra e 4 km de trilhas um pouco mais fechadas chegamos até a cachoeira do Veado. Nesse percurso começam o calçamento da antiga estrada real. Do início do calçamento até a Cachoeira do Veado são aproximadamente 5 km.

- Chegando na Fazenda Central passa-se por um rio com uma pinguela. Existe uma boa área de camping ao lado do lago da fazenda. Descendo mais um trecho chegamos em uma “gaiola” para atravessar o rio e um pouco mais adiante uma ponte.

- Do outro lado do rio há mais uma pousada com camping pago, mas seguindo a trilha antes de atravessar a ponte chega-se à Cachoeira dos Veados. Há lugar para camping selvagem próximo à cachoeira.

- Nosso plano inicial era ficar no camping selvagem próximo a Cachoeira dos Veados mas a área já estava ocupada então seguimos para passar a noite no camping da pousada.

Dia 3 - Cachoeira dos Veados x Mambucaba

- A saída da trilha segue pelas margens do rio retornando alguns metros até a ponte que atravessa o rio até a pousada.

- Durante todo o último dia passamos por trechos de mata fechada e pelo calçamento real. Uma mata muito rica e cheia de bromélias. Sem dúvida a parte mais bonita de toda a trilha.

- Restando 4 km para o final da trilha atravessamos o Rio Mambucaba por uma ponte suspensa à esquerda.

- A trilha acaba em uma estrada de terra ainda longe do bairro de Mambucaba e da estrada Rio - Santos, nesse ponto alguns moradores locais oferecem refeições e o resgate costuma aguardar os trilheiros ao lado da Ponte do Arame.

Considerações

Depois dessa experiência que me trouxe algumas lembranças de infância percebo o quanto um sonho ou desafio pode parecer insuperável em algum momento e aos poucos vai se tornando simples e "fácil" com tempo, experiência, treinamento e planejamento.

Para os adimiradores de plantas, um dos pontos fortes dessa trilha é a quantidade e diversidade de bromélias. Me renderam um belo registro fotográfico.

O antigo calçamento real resgata um pouco da História do Brasil, uma história triste pela perspectiva do trabalho escravo. Por vários momentos pensei na dificuldade e no sofrimento para se trazer pedras gigantescas para o meio da mata. A natureza aos poucos vem desmanchando essa história com as enxurradas que cortam a trilha, em vários pontos as pedras já não estão mais em seu lugar original.

Fico dividido entre torcer para que o Parque Nacional consiga preservar esse calçamento ou deixar que a natureza siga seu curso natural e continue transformando a trilha.

Recomendo a Trilha do Ouro! Uma trilha clássica que vale o check no seu AventureBox! ;)

Valeu galera, boas aventuras!

Contato:

Eliézer - Transporte e Resgate: (12) 3117-2123