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Ricardo Bianchetti 17/04/2024 11:12
    Bandeira - Calçado - Cristal

    Bandeira - Calçado - Cristal

    Circuito de um dia por três dos maiores picos brasileiros.

    Hiking Trekking Montanhismo

    Esse é um clássico!

    Ou melhor: três clássicos!
    Pico da Bandeira tem notoriedade de, por muito tempo, ter sido considerado o ponto mais alto do Brasil. Ao usar técnicas de maior precisão, decidiu-se que na verdade ele ocupa o terceiro lugar. Altitude de 2891 metros. O gigante da Serra do Caparaó. O ranking também tem espaço para seu subcume Pico do Calçado (2849 metros) e seu vizinho Pico do Cristal (2769 metros). Apesar da altitude o Bandeira não representa uma trilha difícil. Acessível a nível familiar. Boa para quem deseja fazer uma trilha, mas também ponto frequentado pelos curiosos. Já fazer a trinca Bandeira-Calçado-Cristal apimenta mais as coisas, exige um pouco mais de sebo nas canelas. É mais escasso de curiosos de plantão, que claramente se observa na densidade populacional que vai diminuindo ao passo que o Calçado vai ficando para trás.

    Mas se vamos sair da capital paulista, enfrentar 750 km de viagem, quase 12 horas, não tinha como ser diferente. Era para aproveitar os três gigantes do Caparaó. Tínhamos que ir até o Cristal. E fomos!

    Bandeira: clássicos são clássicos

    Abandonando a conveção de acampar no Tronqueira (primeiro camping) ou Terreirão (segundo camping) para pegar o nascer do sol lá de cima, começamos já as sete da manhã, onde um transfer 4x4 contratado no Alto Caparaó já no levou para o Tronqueira onde de fato começamos a trilha.

    Início da trilha - rumo Pico da Bandeira

    A trilha tem uma subida leve durante quase todo o início do trajeto, exigindo pouco do fôlego. O mesmo não pode se dizer da exposição ao sol, praticamente quase sem vegetação, só mesmo debaixo do boné e da bandana para se esconder. Para nós que fizemos no meio de junho o calor não chegou a incomodar, mas poderia. Em uma subida muito bem demarcada, em 4 km (que passam bem rápido) se chega ao Terreirão. Área de camping com banheiro estruturado (água gelada típica do Caparaó) e uma sombra para relaxar para encarar o segundo trecho que vai até o cume. E que é onde a trilha começa a se modificar.

    Seguindo a trilha. Bandeira visível no horizonte

    Da trilha pedregosa se começa discretamente a andar pelas rochas, a inclinação que era leve vai ficando um pouco mais acentuada e quando debaixo já se avista o cume do Bandeira, começa um trecho de "trepa pedra" e uma maior exigência das pernas. Nada muito complicado. Quando menos se vê, estamos ao lado da cruz tão característica do cume, que antes era uma bandeira colocada a mando de Dom Pedro II indicando o que, na época, era o ponto mais alto do Brasil.

    Pico da Bandeira - cume.

    Duas constatações sobre o Bandeira: foi o cume mais movimentado que vi desde a Pedra da Macela (hehe) e a vista é realmente muito bonita. Vale tirar um tempo para curtir lá em cima, que foi o que fizemos antes de chegar o momento de se despedir, afinal, nosso objetivo ainda era (a) chegar até o Cristal, e (b) voltar para a Tronqueira antes do anoitecer. O (b) era decisivo, mesmo que fosse necessário sacrificar o (a). Mas era só pensar nos 750 km de viagem para rapidamente concluir que não estávamos com tanta vontade assim de sacrificar o Cristal. E então se inicia a briga contra o relógio.

    Pico da Bandeira. Sobrou tempo para curtir um pouco a vista lá de cima

    Um Olho no Cristal e o outro no Relógio

    Já era umas 11:30 quando deixamos o Bandeira para trás e partimos em direção ao Calçado, passando por uma trilha mais rústica em direção sudoeste e com um pouco mais de sobe e desce por entre as pedras alcança-se o Calçado. Aos poucos o Bandeira vai ficando para trás. Aos poucos o Cristal vai se aproximando pela frente. 12:11 alcançamos o cume do Calçado. Perto das 12:30 uma parte do grupo saiu rumo ao Cristal. E esse trecho é a parte de maior complexidade de toda a trilha.

    Calçado - Aos poucos o Bandeira vai ficando para trás.

    Calçado - Aos poucos o Cristal vai se aproximando pela frente.

    Acostumados com as marcações e sinalizações em abundância até esse ponto, existe um estranhamento natural ao seguir caminho para o Cristal. A trilha exige um pouco mais de orientação e muitos dos caminhos não são tão intuitivos. Não tem a complexidade suficiente para se perder, mas sempre bom não arriscar. Começando pela decida mais apimentada do Calçado, o caminho em direção ao Cristal não economiza nas paisagens campestres do Caparaó. Já vale a caminhada e é uma pena que não dura tanto tempo até que o Pico Cristal esteja pronto na nossa frente, esperando pacientemente que se alcance seu cume.

    Todos os caminhos levam ao Cristal. Paisagem sensacional.

    Da base do Cristal chega-se a duas conclusões: (a) que montanha sensacional, (b) ela é bem mais vertical do que aparentava ser. De fato a subida pelo Cristal exige um grau de complexidade bem maior do que o Bandeira. O que não quer dizer que é tão complexo assim para quem está acostumado com montanhismo. Vencer o Cristal exige uma escalaminhada intensa, localizar caminhos e trechos que tem maior facilidade para poupar energia, encarar subida por algumas fendas e estar aberto a encontrar alguns trechos que tenham uma exposição maior a altura. As restrições para a trilha são válidas: nem todo mundo que frequenta o Bandeira estaria preparado para frequentar o Cristal. O oposto também é válido: o diabo não tão feio quanto se pinta.

    Vista do Cristal. Me encantaria mais que o Bandeira. Que bom poder ter as duas!

    E feio certamente não é um adjetivo que caiba no Cristal. Possuindo uma vista que, em muito, ultrapassa a do Bandeira, o Cristal é (perdão do trocadilho) uma jóia no meio do Caparaó. A vista em 360° é impressionante, e a menor quantidade de gente fez nosso grupo entrosar em uma prosa gostosa perto do cristal colocado estreategicamente no cume, torna difícil pensar em encarar o caminho todo de volta.

    Foto com o Cristal no cume do Cristal.

    Mas era necessário... a descida era bem mais fácil (e mais rápido) que a subida.

    Chegamos no cume do Cristal às 13 e 30.

    Reencontramos sua base às 14 e 30.

    A meta era estar na Tronqueira às 18h.

    Descendo o ex-ponto mais alto brasileiro

    O caminho de volta entre Cristal e Calçado ainda encantava pelas paisagens do Caparaó, mas confesso que, passado a euforia de ter feito os três cumes, foi um pouco mais tedioso chegar ao Calçado novamente, sobretudo se contar que aquela decida que falei que era apimentada, agora virou uma subida. 15:10 estávamos no alto do Calçado reencontrando com o restante do grupo. Já 15:30, indo em direção à bifurcação da trilha com o Bandeira presenciei uma formação de nuvens bem interessante

    Do bandeira só foi acenar de longe e seguir em direção ao Terreirão. Descida abaixo até poder parar lá no acampamento e comer o último lanche da trilha. Seguindo em direção ao Tronqueira, aos poucos fomos vendo o sol se despedir.

    Fim de jogo. Dia anunciando seu fim na descida para o Tronqueira

    Apesar da descida de apenas 4 km, o caminho da volta pareceu ter se alongado um pouco mais do que a ida. Experiência comum quando a gente sabe que está chegando no final, mas o final não chega. Nesse ponto o sol já começava a dar sinal de cansaço e,respeitando o inverno, se pôr antes das 18:00. O tempo de luz natural estava no fim.
    Claro que a lanterna fazia parte dos meus acessórios na mochila. De lá ela nunca sai, mas estava tão perto que ainda continuei insistindo em usar o restinho de luz natural que segurava o dia. E que dia! O melhor da trilha para o Bandeira é que as sinalizações vão te avisando cada quilômetro percorrido. Nada passa despercebido. E como quem pede um belo objetivo cumprido, apareceu o Tronqueira com o último fio de luz disponível no dia. Fim de trilha! Agora era pegar o 4x4 e poder comer muito bem no Alto do Caparaó.

    Na balanço final, foram ótimos esses 20 km de trilha.

    Só não tem como dizer o mesmo dos 750 km de retorno a São Paulo.

    PS: Se tiver um tempo vale a passada pelo Vale Encantado. Trilha tranquila, lugar excepcional, mas a água mais gelada que já entre na vida

    Ricardo Bianchetti
    Ricardo Bianchetti

    Publicado em 17/04/2024 11:12

    Realizada de 08/06/2023 até 09/06/2023

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    Ricardo Bianchetti

    Ricardo Bianchetti

    São Paulo - SP

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    “Como Vejo o Mundo - Diário Pessoal de Aventuras” Montanhas, trilhas e essas coisas Biólogo e Mineiro morando em São Paulo Instagram: @ricardo.bianchetti

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