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Case Aquino 12/08/2023 18:40
    Cerro Plata, Adolfo Calle e Franke

    Cerro Plata, Adolfo Calle e Franke

    Um pequeno passo pro montanhismo, mas um gigante pra mim.

    High Mountaineering Camping Mountaineering

    Toda expedição para alta montanha requer muito preparo e planejamento, a parte do preparo estava em dia, com diversos treinos de corrida, corrida em ladeiras, pedais frequentes de 40 a 50 quilômetros de distância, treino com cargueira sempre pesando 20 quilos, fortalecimento da musculatura mais utilizada em um trekking… na parte psicológica li vários livros de relatos sobre expedições de alta montanha (Annapurna, Tocando o vazio, Montanha sombria, Morte e Vida no K2, No ar rarefeito, Conquistadores do Inútil, são alguns dos que li e recomendo) além de filmes e documentários sobre o tema, acredito que fazendo isso podemos preparar o nosso “estado mental” para suportar os desconfortos que iremos passar na alta montanha, e não se engane, pois eles irão aparecer em um momento ou outro não importa seu preparo, agora a parte do planejamento… ai já é outra história.

    Aproximadamente 6 meses atrás, acredito que em meados de Abril desse ano, decidi juntamente com minha esposa realizar nossa primeira Alta Montanha, já temos uma grande experiência em Travessias e Trekkings pelo Brasil e acreditamos que estava na hora de buscar montanhas mais altas, como sempre, gosto de realizar as aventuras sem apoio ou suporte de empresas de turismo, não que isso seja de alguma forma um demérito para quem utiliza esses serviços mas é algo pessoal, gosto de ter que carregar meus próprios equipamentos e saber que só posso contar comigo mesmo ou com quem estiver junto, acredito que a prática do montanhismo nos faz perceber o quão pouco realmente precisamos para viver já que somos privados de diversas coisas comuns do nosso dia a dia, e quando vejo expedições que fornecem vários luxos aos seus participantes sei que isso não é pra mim, não que os motivos e sentimentos ao praticar montanhismo possam ser reduzidos a algo tão simples como privação material.

    Os meses foram passando a data da viagem foi se aproximando, o dinheiro necessário já estava separado e as passagens compradas, li alguns relatos sobre grupos que realizaram ascensões a montanhas dentro do Parque Cordón Del Plata e o planejamento se resumia basicamente a isso, não tínhamos nada reservado com antecedência, contatos de transfer, guias, ou lojas de aluguel de equipamentos, nem se quer estadia para o dia da chegada (um Domingo quase as 20:00), a aventura iria começar assim que colocasse o pé fora do aeroporto, não irei me estender nas partes dos problemas com o estacionamento do aeroporto, com o voo, transfer, transporte da minha mochila… senão o relato ficará muito longo e sem foco.

    1º Dia no Parque Cordón Del Plata.

    Ficamos dois dias no centro de Mendoza, em um Hostel chamado Katana que fica aproximadamente 15 minutos do aeroporto e muito próximo das ruas que tem as lojas de aluguel de equipamentos para alta montanha, iríamos precisar de vários equipamentos já que os nossos são apropriados apenas para as montanhas brasileiras, isso incluiu uma barraca 4 estações, botas duplas e crampons, miton, blusa de pluma e saco de dormir -20. Equipamentos alugados taxi reservado era hora de partir para Vallecitos, onde fica localizado o Parque e as montanhas que iriamos tentar realizar. Estávamos indo para o parque com um grande receio de não conseguir nem sair dos abrigos, pois quando chegamos na Argentina (2 dias antes) uma nevasca atingiu a região onde fez nevar até nos abrigos coisa que não é normal pelo menos não em Novembro, apenas carros 4×4 estavam conseguindo chegar na região, porém dois dias depois o tempo tinha apresentado uma melhora e decidimos arriscar mesmo o dono da loja de aluguel de equipamentos nos informando que não era uma boa ideia e nos chamando de loucos.

    Do centro de Mendoza até o parque de carro leva um pouco menos de 2 horas, as 15:00 horas já tínhamos nos hospedado no Abrigo Sky & Mountain, deixado nossos equipamentos e decidimos dar uma pernada até onde fosse possível, seguimos pela trilha principal e chegamos até o Camping Verguitas, o primeiro ponto de acampamento, esse caminho é o mesmo para todas as montanhas, de lá elas começam a bifurcar, mas bastou essa primeira subida e a vista das montanhas nevadas para nos encher de energia e perceber que seria possível fazer muito mais nos próximos dias, voltamos para o abrigo antes de escurecer para tomar um banho preparar a mochila e descansar para os próximos dias.

    1º Camping Piedra Grande

    No primeiro dia acampamos na Piedra Grande, que é o segundo ponto de camping para quem vai subir o Cerro Plata, gastamos duas horas de caminhada depois de passar pelo Camping Verguitas, como chegamos cedo tivemos tempo para reforçar nosso cantinho com várias pedras para proteger do vento. Decidimos subir um pouco mais para ir aclimatando, deixamos a barraca lá sozinha, erámos as únicas pessoas no camping, e subimos até o ponto conhecido como El Infernilho, até a Piedra Grande já tínhamos passados por alguns pontos com neve, mas depois de sair do ponto de acampamento a brincadeira começou a ficar mais séria e nem era mais possível desviar dos pontos de neve, a neve dos dias atrás ainda estava muito presente e em alguns pontos nossa perna afundava até o joelho. Depois de subir por alguns metros após a placa que indicava o “El Infernilho” que é uma subida cheia de pedras soltas voltamos ao nosso acampamento para passar a noite e decidir o que fazer, já que não estávamos com todos os equipamentos ainda.

    El Infernilho

    No segundo dia notamos que era possível descer até o abrigo pegar os mantimentos e equipamentos necessários para tentar o Cume do Cerro Plata e voltar para acampar no Salto, que fica acima do Infernilho. Nossas indas e vindas estavam sendo suficientes para a aclimatação necessária e logo cedo demos início ao plano. Voltamos até o abrigo, e trocamos as botas de trekking pelas botas duplas, como a maior parte do caminho estava coberta de gelo achamos uma melhor opção já partir do abrigo com as botas duplas, pegamos o restante dos mantimentos e equipamentos necessários e voltamos até nossa barraca que ficou na Piedra Grande, comemos um lanche rapidamente (Rap10 com queijo e um tipo de salame argentino), e partimos para o Camping do Salto, estávamos acompanhando a previsão do tempo para os próximos dias que voltava a piorar mas decidimos arriscar assim mesmo. Depois do meio dia, hora em que terminamos de desmontar nosso acampamento e partimos para o próximo o vento começou a aumentar muito, segundo a previsão os ventos chegariam a picos de 115km/h, na hora das rajadas se não parasse de caminhar e se apoiasse nos bastões a chance de ir para o chão era grande, conforme o vento ia aumentando e ganhávamos altitude a temperatura ia caindo cada vez mais, como estava em movimento frequente não tive problema com o frio, mas minha esposa precisou parar e colocar a blusa de pluma que tinha alugado pois ela não estava mais aguentando, como a temperatura caiu demais até a minha água que estava dentro da mochila chegou a congelar, tinha uma garrafa térmica com chá que tinha feito na Piedra Grande, mas como costumo beber muito líquido nas caminhadas não foi o suficiente para chegar no próximo ponto de acampamento, essa parte foi a única em que posso dizer que passei dificuldade.

    Acampamento Salto de Água.

    A última subida antes do ponto de acampamento é bem desafiadora, por isso levamos nosso tempo para subir, sem pressa pois notamos que até próximo as 20:30 ainda costumava ter bastante claridade da luz do sol. Chegamos no Camping por volta das 18:30, e para surpresa de zero pessoas o mesmo estava coberto de neve, lá encontramos com três canadenses que estavam esquiando nos picos próximos dali, eles estavam acampados a três dias e ainda iriam ficar mais cinco, para nossa sorte um deles (Willian), nos ajudou a montar a barraca pois o local de acampamento era muito exposto e com os ventos fortes estavam com grande dificuldade de conseguir montar a barraca sem que ela fosse levada pelo vento, rs.

    Não era uma panelada de arroz como um amigo meu pensou.

    Com tudo no lugar foi hora de derreter um pouco de neve para poder me hidratar e cozinhar, uma panela igual essa da foto acima com quase 1,5l de neve depois de derretida ficava com aproximadamente 600ml de água e como não tinha um fogareiro do tipo JetBoil, demorava quase 30 minutos pra derreter (lição aprendida).

    A noite foi a mais intensa que já passei em uma montanha, mesmo tendo amarrado as maiores pedras que encontrei na barraca os ventos ainda arrastaram a barraca durante a noite, algumas das cordas acabaram se partindo o que acabou piorando a situação, durante a noite tentando manter a barraca o mais estável o possível segurando com as mãos e apoiando as cargueiras mas era inútil, resultado se cada um dormiu 40 minutos foi muito. Passei a noite lembrando que aquilo não ia durar pra sempre e que durante o dia nossas energias seriam renovadas, porém os ventos não deram trégua nem durante o nascer do sol, segundo minha esposa o xixi dela foi tão longe que voou até a barraca dos canadenses (desculpe Willian), a previsão é que os ventos seriam ainda piores e chegariam a 135km/h, tendo isso em mente optamos por tomar a decisão mais segura e retornar para o abrigo.

    Cansados de uma noite praticamente sem sono, descemos em passos lentos e chegamos no abrigo de montanha por volta das 17:00 horas.

    Subida para o Adolfo Calle.

    Queria aproveitar os dias o máximo que fosse possível e já no dia seguinte optei por ir até o Adolfo Calle, para chegar nele é preciso ir até o Camping Verguitas e de lá seguir para o Verguitas Superior, a subida estava com uma grande quantidade de neve, em alguns pontos meu bastão de caminhada desaparecia na neve e não encontrava o chão.

    A subida até ele não apresenta grandes dificuldades mas a vista do caminho é espetacular, O Adolfo Calle e o Stepanek, ficam lado a lado formando uma espécie de vale entre eles.

    O único ponto negativo dele, é que você chega no Cume é já fica de olho em outros maiores.

    Ainda me restava mais um dia no abrigo e optei por fazer a montanha de um dia que seria a mais desafiadora, o Cerro Franke, o Cume dele fica a 4.810 metros, saindo do abrigo que fica um pouco abaixo de 2.900 seriam quase 2.000 metros de altimetria para serem vencidos em pouco mais de 7km de distância.

    Placa que fica na bifurcação depois do camping Verguitas.

    Além do grande desnível do Cerro Franke, outro ponto que gerou uma dificuldade foi a questão dos desmoronamento de rochas, são muitas pedras soltas em todo o trajeto e isso dificulta a caminhada e a localização do melhor caminho a seguir já que em muitos pontos não existe uma trilha demarcada ou a mesma fica soterrada por essas pedras. De todas as montanhas que fiz essa foi a que estava com menos neve mas mesmo assim depois que passei dos 4.500 já começaram a aparecer diversos pontos.

    Cume Cerro Franke

    O Cume dele é bem estreito e é preciso fazer um “cavalinho” em algumas rochas para chegar até a placa, brinquei com um Francês que encontrei pelo caminho que parecia até com o caminho do Matterhorn.

    Não marquei os horários mas entre ida e volta gastei pouco menos de 10 horas de caminhada. No dia seguinte era hora de partir de volta para o centro de Mendoza onde ficamos mais alguns dias antes de retornar para o Brasil, nossa intenção era realizar as atividades de aventura que fosse possível nos próximos dias, porém o mesmo vento que pegamos na montanha desceu para a cidade, fenômeno que os argentinos chamam de vento Zonda, e é tão grave que até já matou pessoas na cidade em acidentes.

    Por causa do vento as agências estavam cancelando todas atividades, só conseguimos realizar um Rafting na parte da manhã, nossa única alternativa foi passar os últimos dias na cidade comendo, chamei de turismo gastronômico. Dos pontos que conhecemos recomendo dois um restaurante chamado La Passion, e uma pizzaria chamada Bigalia, nunca fui até a Itália, mas imagino que as pizzas lá sejam iguais a dessa pizzaria.

    Voltei para o Brasil 1,5kg mais pesado de tanto comer nos últimos dias e agora estou aqui terminando esse relato depois de correr 12 quilômetros para queimar parte das calorias, e ainda faltam muitas mais…

    Case Aquino
    Case Aquino

    Published on 12/08/2023 18:40

    Performed from 11/03/2023 to 11/11/2023

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    Case Aquino

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    Guia de Turismo de Aventura apaixonado por Montanhismo. Instrutor do GPM e proprietário da empresa Roots Raízes da Aventura.

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