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Bruno Negreiros 12/07/2019 14:22
    Travessia Solo dos Lençóis Maranhenses (Leste - Oeste) | MA

    Travessia Solo dos Lençóis Maranhenses (Leste - Oeste) | MA

    Travessia Leste - Oeste no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, saindo do Canto de Atins e indo até Santo Amaro, no Maranhão.

    Trekking

    Travessia Solo dos Lençóis Maranhanses (Leste - Oeste)

    Tipo de Aventura: Trekking (Travessia) com pontos de apoio.

    Duração: 5 dias, entre os dias 19/06/2019 e 23/6/2019

    Ponto de Início: Atins - https://goo.gl/maps/5eqhoghN1Tqan1Hx7

    Ponto Final: Santo Amaro - https://goo.gl/maps/EZBBGFxsJr8QL9GF9

    DICAS:

    • Transfer do Aeroporto de São Luís para Barreirinhas, já deixando no cais para pegar o barco para Atins: Jorge Arruda Levatur - (98) 999694544 (Van = 60,00 + Barco = 70,00);
    • Transfer Santo Amaro - São Luís: Denilson viagens (98)988089190 (Van = 60,00);
    • Faz muito calor, não há necessidade de equipamentos para frio;
    • A alimentação e o pernoite ocorre nos oásis localizados no meio do Parque. O valor cobrado é de 40,00 por pernoite e/ou cada alimentação;
    • Se você for em grupo, ajude o crescimento da comunidade local, contrate um bom guia.
    • Não deixe seu lixo nos oásis, a logística para recolhimento é muito difícil.

    ROTEIRO:

    Dia 1: São Luís - Barreirinhas - Atins - Canto de Atins.

    Dia 2: Canto de Atins - Baixa Grande.

    Dia 3: Baixa Grande - Queimada dos Britos.

    Dia 4: Queimada dos Britos - Betânia.

    Dia 5: Betânia - Santo Amaro.

    RELATO

    Dia 1 - 19/06/2019

    Saí do Rio de Janeiro por volta das 19:45, em um vôo com conexão em Guarulhos e chegada em São Luís por volta das 2:00. Já no Maranhão, fiquei aguardando no aeroporto até às 4:00, horário agendado com o Jorge Arruda, da Levatur, para pegar o transfer para barreirinhas. A viagem de van foi tranquila, deu para descansar um pouco e comer um delicioso bolo de tapioca na parada feita pelo transfer. Chegamos em Barreirinhas por volta das 8:00, já em frente à loja de turismo onde pude reservar o barco para Atins.

    Barco de Atins reservado, optei por pegar a opção que faz paradas no caminho pelo Rio Preguiça. Saímos aproximadamente às 9:00. O barco fez paradas em vassouras e no Farol do Mandacaru. Eram pontos muito turísticos e com muita gente, apesar de bonitos, não era exatamente o que eu estava esperando para a viagem. Fiquei triste em saber que o farol não estava aberto para visitação por conta de problemas estruturais. A última parada do barco foi na praia de Caburé, ideal para almoçar e tomar um banho. Saí da praia aproximadamente às 13:40, chegando em Atins às 14:00, aonde, efetivamente, começaria a caminhada.

    Mochila ajustada, dois aparelhos de GPS testados (a travessia era solo, então optei pela redundância), escolhi por um deles e iniciei a caminhada até o Canto de Atins, passando pelas casas da vila. Era 14:30 e o sol castigava. Confesso que estava com uma sensação estanha, um conjunto de calor extremo, cansaço da viagem e medo do que estaria por vir. Mas segui andando e passando casa por casa, seguindo o caminho marcado pelos veículos 4x4 que cruzavam, tirando tinta da minha camisa. Na real, eu estava me sentindo só, queria ter alguma companhia para dividir aquela emoção.

    Os minutos foram passando, tomei alguns "corres" de cachorros e cheguei nas dunas. Ah, sim. Agora sim, as dunas dos Lençóis maranhenses se erguiam na minha frente. Gigantes de areias brancas e reluzentes. Um segundo sol, refletindo tudo que vinha de cima. Coloquei a bandana no rosto, o chapéu na cabeça, passei protetor solar e cruzei duna por duna, pisada após pisada, até conseguir avistar o ponto final do dia. Antes disso, passaram alguns quadriciclos por mim e pude sentir o pensamento dos que pilotavam: "o que esse mlk tá fazendo aqui sozinho?".

    Em alguns momentos me recordei do curso de Fundamentos de Educação ao Ar Livre - FEAL que fiz em abril de 2019 com a Outward Bound Brasil. Pensei o quanto aqueles ensinamentos e ferramentas de auto liderança me fizeram amadurecer e ganhar confiança para esse novo desafio solo.

    Chegando no Canto de Atins, reservei a minha rede na Dona Luzia. Escolhi um local que pudesse dormir vendo as estrelas. Comi a comida que levava, pois, o orçamento era curto, descansei e resolvi subir as dunas mais próximas para ver o Pôr do sol. Foi magnífico. Comecei a me dar conta do que estaria por vir: solidão, uma beleza indescritível, autorreflexão e autorrealização. Retornei, comi mais um pouco da minha comida, escrevi um pouco e apaguei.

    Dia 2 - 20/06/2019 - Meu aniversário

    O dia começou bem cedo, acordei às 3:30 para ganhar terreno sem o forte sol do Maranhão. O café já estava servido no redário, algo bem comum, já que os caminhantes geralmente saem de madrugada. Conheci algumas pessoas que também iriam fazer o mesmo trajeto, comi e bati um papo. Às 4:15 da manhã eu coloquei tudo nas costas e saí no meio da madrugada. Eu estava morrendo de medo. Sair sozinho no meio da escuridão, em um lugar que não conhecia, sem ter ideia do que esperar. Foi meio tenso, mas fui. Caminhando sentido praia, sempre seguindo os rastros de veículos e as pegadas no chão.

    A lua estava cheia, algo que me ajudou muito, já que conseguia enxergar bem e manter a lanterna ligada na potência mínima. Quilômetro atrás de quilômetro, seguindo o caminho mapeado rumo à Bonzinho, local onde a maioria dos grupos inicia a travessia.

    Certa hora, comecei a sentir uma sensação de plenitude. Cara, era meu aniversário. O medo desapareceu e deu lugar a confiança e à felicidade. Comecei a gravar vídeos para guardar de recordação. Foi engraçado como as coisas mudaram repentinamente. Seguindo adiante, percebi os primeiros raios de sol no horizonte, trazendo reflexões e saudades, afinal, era um dia de comemoração, porém, cercado de solidão.

    Com o sol nas costas, comecei a enxergar a praia e a triste percepção da quantidade de lixo trazida pela maré. Um ponto triste na travessia, que traria os mais belos cenários nos dias que se seguiriam. Certa hora, já com o pé descalço (desisti da bota na primeira hora de caminhada), senti um prego entrando no meu pé. Só consegui pensar que estava tudo acabado, antes mesmo de começar para valer. A sensação foi de agonia, até eu perceber que o prego tinha entrado de raspão. Ufa, que sorte, não era nada grave.

    Cheguei em Bonzinho por volta das 7:00, onde a travessia deu uma guinada para sudoeste, sentido às dunas. Nesse momento já podia enxergar ao longe pessoas caminhando. Já não estava tão só, mesmo que a companhia fosse somente uma sombra no horizonte. Mais alguns minutos de caminhada e lá estavam as dunas. Chega de sujeira, chega de praia, a travessia começava pra valer. Sobe duna, desce duna, cruza lagoa, toma banho (destaque para a que fica depois da Caiçara), faz vídeo, tira foto. Sei lá o que me deu, esse dia eu estava meio empolgado com aquilo tudo que estava acontecendo. Mano, eu estava mesmo fazendo a travessia dos Lençóis Maranhenses sozinho.

    Por não estar em grupo, conseguia caminhar em um bom ritmo. Mais algumas horas, e, aproximadamente às 10:30 eu já avistava o oásis da Baixa Grande, onde eu ficaria naquela noite. Cheguei, acertei com o seu Moacir o redário (40,00), me alojei e optei por comer a comida que carregava para economizar. Fiquei bem feliz com o meu desempenho, já que o dia que parecia ser o mais difícil, durante o planejamento, foi superado sem dificuldades técnicas ou físicas.

    Encontrei os amigos paulistas que tinha conhecido durante o café da manhã e fiquei conversando/descansando a tarde toda. Às 15:00 resolvi tomar um banho rápido de rio, seguido pela subida das dunas para ver o pôr do sol. Mais um espetáculo da natureza. Desci e resolvi me dar de presente um jantar (40,00). Nossa, parecia que eu não comia bem há anos. Comi tudo: arroz, macarrão, feijão e peixe. Estava delicioso. O melhor presente que poderia me dar.

    Após o jantar, mais um pouco de bate papo com os locais e a subida para ver o nascer da lua, aproximadamente ás 21:00, entre as nuvens, mas incrível. Desci e segui para as redes para descansar. Não havia dormido bem nas duas noites anteriores e não precisaria acordar tão cedo no dia seguinte. Então, pensando nisso, fui dormir feliz e sem muitas preocupações. Foi o que aconteceu, consegui dormir muito bem e recuperar todas as minhas energias.

    Eu nunca tinha passado um aniversário sozinho na vida. Foi muito estranho, porém bem introspectivo. Deu para refletir muita coisa sobre os meus 29 anos. Claro, senti saudade de muitas pessoas. Queria uma festa no meio dos Lençóis, mas sabia que isso era impossível. Talvez com o passar dos anos, eu lembre dessa experiência como algo renovador e necessário. Algo que possa ter sido um marco na minha vida.

    Dia 3 - 21/06/2019

    O dia começou um pouco mais tarde, acordei às 6:00 e fui direto comer um ótimo café da manhã disponibilizado pela Baixa Grande (já incluso no preço da rede). Uma ótima tapioca com ovo frito.

    Arrumei as coisas e segui rumo às mesmas dunas onde apreciei o pôr do sol e o nascer da lua no dia anterior. Cruzei ela e logo em seguida passei pelo Rio Negro. Senti que estava transpondo a imensidão do mesmo em um local específico e que, em outras épocas, talvez eu tivesse que dar uma volta enorme para conseguir passar. A caminhada voltou a seguir no sentido leste, indo em direção à Queimada dos Britos.

    Após algum tempo de caminhada, percebi que os tracklogs que tinha ativado no meu GPS seguiam caminhos diferentes, um mais ao norte e outro mais ao sul. Resolvi então seguir a minha própria experiência, guardei o GPS e apontei na bússola o sentido leste, me surpreendendo por conta própria com cada experiência e as vezes sendo auxiliado por algumas pegadas que rastreava nas dunas. Claro, uma ou duas vezes a dúvida tomou meus pensamentos. Nessa hora, confesso que analisava os tracks no GPS pra verificar se não estava fazendo nenhuma besteira. Não estava, o sentido estava certo, mas o caminho percorrido era só meu, com direito a banho em umas cinco lagoas magníficas que achei. Eu estava usando um short, sunga e uma camisa dry, ou seja, não precisava de um grande processo para isso, era só largar a mochila e se jogar na água. O destaque do dia fica para o Mirante do Piador, com vista 360º para o infinito de dunas e lagoas.

    O caminho do dia foi curto. Aproximadamente às 11:00 eu já estava avistando a bandeira que sinalizava o caminho por dentro do oasis que levava até a Queimada dos Britos. Cheguei, acertei com o seu Raimundo a minha estadia (40,00), comi minha comida e descansei um pouco. Daí, tomado pelo tédio da tarde, resolvi caminhar pelo oásis para conhecer os outros redários. Foi legal conhecer a Dona Maria e a Queimada dos Paulos ainda de dia, já que na manhã do próximo dia, eu já saberia o caminho por dentro das águas que eu teria que tomar, sem me assustar ou me perder.

    Depois disso, resolvi retornar para as dunas que havia cruzado naquele dia. Peguei a minha caneta e meu caderninho e subi para escrever um pouco. Aproximadamente há 1 km de distância do ponto de apoio, achei uma duna bem alta, com uma lagoa azul transparente em seu pé. Sentei, refleti um pouco sobre tudo e escrevi esse texto abaixo:

    "Em Busca de um Oásis

    Eu tive que me retirar por algum tempo do ponto onde ficam os redários da Queimada dos Britos para escrever esse texto. Caminhei até o topo de uma das dunas mais altas que vi pela frente. Eu precisava de um tempo a sós para me inspirar com tamanha beleza e, claro, tomar mais um banho de lagoa para refrescar os pensamentos.

    Não sei explicar o que me deu, acho que só precisava organizar minhas ideias. Minha cabeça tem sido um turbilhão de pensamentos e sentimentos durante toda essa caminhada. Eu optei por largar tudo que as pessoas normais consideram como "seguro" para estar aqui sozinho. Até as pessoas que encontrei por aqui me olham com surpresa e espanto. O que eles realmente não sabem é que, na verdade, não estou a sós. Estou com alguém que raramente consigo desfrutar da companhia. Estou comigo mesmo.

    Ao subir, observo a perfeição à frente da minha vista. Isto vem me acompanhando por toda essa viagem. Uma sútil composição do branco das dunas, que se afinam a cada passo, e o azul quase que transparente de lagoas que merecem nunca sumir. O que falar do céu? Um vislumbre de vida. Algo que me invade por dentro em cada pequeno pedaço do meu corpo quando o sol nasce pela manhã, iluminando toda aquela escuridão que me cerca na madrugada.

    Se posso definir a solidão, penso nas árvores retorcidas e sufocadas pelo avançar das dunas na paisagem. Elas estão imóveis, eu não estou. Eu estou seguindo pegadas e caminhos para chegar em algum lugar. Sinto meu pé afundando a cada passo. Mas não só afundando fisicamente, me sinto mergulhando dentro da minha alma. O pé é somente a entrada de um processo reflexivo profundo. Quem realmente sou ou pra onde quero caminhar? Qual caminho seguir? Parece que estou falando da travessia, mas estou falando da vida. Reflexões que somente a solidão podem trazer.

    Em resumo, é isso que todo esse processo me traz: uma mistura de solidão absoluta refletida em poucas cores e a felicidade da grande realização. Estou procurando meu oásis. Meu ponto de vida e simplicidade no meio do deserto. Um local onde não se precisa de muito. Onde um simples sorriso e um forte abraço valem mais do que qualquer coisa. Um local onde o verde invade o branco, porém, sem perder a plenitude e a paz."

    Para minha surpresa, no retorno para o ponto de apoio, encontrei um grupo de 13 pessoas se direcionando para o mesmo local. Uma galera que já tinha topado no Canto de Atins, mas sem perceber ao certo quem eram os membros. Quando cheguei de volta no redário, percebi que algumas pessoas do grupo eram meus amigos de caminhadas passadas. Foi fascinante encontrar rostos conhecidos depois de dois dias de pura solidão. Passamos a tarde toda batendo papo e tomando cerveja. Foi Magnífico.

    Umas 17:00 subi de volta as dunas para ver o pôr do sol. O grupo tinha subido antes de mim, mas não foi difícil rastrear os seus passos e encontra-los tirando infinitas fotos no alto de uma das dunas mais altas. Me juntei a eles para aproveitar daquele momento. Piadas e risadas davam o tom da convivência. Na volta, jantamos e ficamos batendo papo até tarde, acompanhados pelo céu estrelado daquela noite. Fomos descansar pensando na dificuldade do próximo dia.

    Adendo: Nesse dia comecei a sentir um sentimento estranho vindo de algumas pessoas do grupo mencionado. Aparentemente os que organizaram o trekking estavam incomodadas com a interação com os meus amigos, e com novos que fiz por intermédio deles. Isso ficou mais claro nos próximos dias, não era somente uma sensação descabida. Uma pena, já que, ao invés de sentimentos bons, a convivência com outras pessoas começaria a me trazer alguns problemas que serão relatados mais à frente. Ah, estar sozinho tem suas vantagens.

    Dia 4 - 22/06/2019

    O dia 4 começou às 3:30 da manhã, pois a caminhada seria longa. Acordei e fui tomar café junto dos amigos que encontrei. Foi quando passei por uma situação chata. A pedido do guia do outro grupo, fui proibido de comer com os outros e tive que comer separado. Não queria confusão ou algo do tipo, então, engoli minha raiva e me isolei no canto. Alguns minutos depois, a organizadora do evento do outro grupo deixou claro que não queria minha companhia durante a caminhada. Algo que nem ceguei a cogitar, já que realmente queria caminhar sozinho. Realmente ela não sabe que não preciso dela pra nada.

    Movido pela raiva, saí 20 minutos depois, cruzei o rio algumas vezes e, no breu da noite, resolvi tomar o caminho mais difícil. Ao sair da região dos Oásis, ao invés de pegar um caminho mais ao norte, fugindo de dunas de mais de 90 metros, resolvi subir todas as que vi pela frente. E fui passando uma por uma. Parecia que eu conseguiria tocar as estrelas no meio daquela escuridão.

    Em uma das dunas, resolvi sentar e esperar o nascer do sol. Acho que fiquei alí sentado uns 40 minutos contemplando e pensando sobre a vida. Voltei a andar e entrei numa imensidão ainda mais branca e alta que nos dias anteriores. O mesmo valia para as lagoas, ainda mais azuis. Mesmo errando algumas vezes, acho que foi o trajeto mais bonito de toda a caminhada. Fui me perdendo e me achando em lagoas incrivelmente belas. Me emocionei algumas vezes.

    Depois de alguns corres de gaivota, encontrei um local incrível. Mais um mirante, ainda mais bonito que o do Piador, só que não marcado no GPS. Uma visão 360º de todo aquele infinito. Não vou tentar expressar mais uma vez em palavras esse ponto da trilha, acredito que seja melhor mostrar. Por isso, coloquei o vídeo aqui no relato para todos verem o que os meus olhos viram.

    Após mais algumas horas de caminhada e infinitos banhos de lagoa, cheguei em um ponto onde encontrei um grupo que andava na minha frente. O guia desse grupo brincou chamando aquele local de "ponto de encontro". Uma gigantesca lagoa, com 4 metros de profundidade e água transparente. Alí, realmente todos os grupos pararam e confraternizaram.

    Mais alguns minutos de caminhada e uma travessia de barco pelo Rio Grande e cheguei no vilarejo de Batãnia, aproximadamente às 11:00. Um local pacato, mas já com uma grande invasão de turistas. Aproveitei o ótimo restaurante do redário para almoçar (35,00), acertar minha estadia (40,00), o barco do dia seguinte (10,00 ida e volta) para as dunas e para descansar. A tarde e a noite foram de mais conversas e brincadeiras entre os grupos. Rolaram mais algumas cervejas com a galera, o que foi bom para esquecer dos momentos chatos que ocorreram de manhã.

    Na hora de jantar, aconteceu algo muito bonito. O meu dinheiro já tinha acabado. Eu só tinha grana para pagar o transfer de volta para São Luís. Daí sentei no restaurante, tirei meu saco de comida e botei pra fora o pouco que me restava: uns 5 pães pequenos e um resto de queijo com mortadela. Bom, aceitei o fato e comecei a comer. Foi quando um rapaz que trabalhava no restaurante apareceu e me perguntou: "voce vai comer só isso?". Respondi sem graça: "acabou meu dinheiro vivo". Daí ele sumiu e apareceu alguns segundos depois com arroz, feijão e um peixe majestoso dizendo: "aqui, o importante é voce estar feliz". Na boa, me emocionei bastante nessa hora. Esse mundo não precisa de muito, apenas de mais paz, amor e solidariedade.

    A noite foi de apreciação do céu. Afinal, aquele era o meu último pernoite nos lençóis. Várias coisas passando pela cabeça. Um pouco de felicidade por saber que estava quase vencendo aquele desafio maluco e um pouco de tristeza por estar indo embora daquele paraíso.

    Dia 5 - 23/06/2019

    Era o último dia de trekking. Acordei às 5:00, tomei café da manhã e esperei o barco chegar para me levar para as dunas. Aproximadamente às 5:30 eu eu já estava cruzando de volta o Rio Grande e aproveitando o meu último dia de caminhada.

    Eu não tinha nada acertado para o transfer de Santo Amaro - São Luís, por isso fui andando em um ritmo bem rápido. Eu queria chegar o mais cedo possível para resolver essa última pendencia. Foi um dia de poucas fotos, até porque o céu estava meio fechado e não tinha uma boa luz.

    Mais alguns rasantes de gaivotas depois, comecei a avistar as bandeiras que ficam no topo das dunas para marcar o caminho que os 4x4, lotados de turistas, fazem em seus passeios. Em uma delas, a mais alta do dia, resolvi sentar e fazer minha última contemplação e agradecimento por tudo que estava vivendo. Por tudo que tive a oportunidade de ver com meus olhos.

    Supreendentemente, o tempo abriu. Acho que esse foi o presente perfeito que a natureza me deu, já que isso aconteceu exatamente em uma das últimas lagoas do trajeto. Uma gigantesca lagoa azul só minha. Sem fotos, sem outras pessoas, sem registros aqui. Esse visual só eu vi.

    Após quase 1 hora parado (esqueci de tudo alí), caminhei por mais ou menos 1 hora até encontrar muitos carros e pessoas vindo de Santo Amaro. Mais alguns minutos e alí estava eu, chegando no destino final. EU CONSEGUI. EU ATRAVESSEI OS LENÇOIS MARANHENSES SOZINHO. Algumas pessoas me abordavam na chegada, perguntando se eu realmente tinha feito tudo aquilo sozinho. Foi bem engraçado.

    Já em Santo Amaro (10:30), consegui encontrar um transfer (Denilson) saindo às 12:30. Até tomar um banho ele me deixou. Foi perfeito. Tive tempo para dar uma volta na cidade, almoçar (aceitava cartão - PF 15,00), encontrar todos os amigos com que esbarrei na caminhada e comemorar que tinhamos conseguido. Encontrei até outros amigos do RJ, que estavam fazendo uma rota de 4 dias.

    Bom, meu transfer saiu às 13:00 rumando para São Luís. Uma viagem com cruzamernto de rios e passando por buracos, porém tranquila. Era o fim daquilo tudo. Era o fim daquela jornada. Mas eu tinha uma certeza, todas as vezes, por um bom tempo, que eu fechasse meus olhos, eu veria uma suave combinação de branco e azul.

    Bruno Negreiros
    Bruno Negreiros

    Publicado em 12/07/2019 14:22

    Realizada de 19/06/2019 até 23/06/2019

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    21 Comentários
    Bruno Negreiros 05/06/2021 19:13

    Grande Divanei... Fico extremamente honrado em saber que meu relato ajudou você. Espero que você viva grandes histórias lá e nos conte por aqui também. Sobre os guias, faz parte... Depois fiquei refletindo como os guias ágio do sudeste chegam igual vampiros tomando tudo por aí! A parada é curtir o máximo possível!!!

    Divanei Goes de Paula 05/06/2021 19:23

    Pois é, eu procuro também algo diferenciado , nada de roteiros engessados , tanto que pretendo estar totalmente independente, até sei que metade do que eu levar não será usado , mas faz parte e vai me dar a liberdade de mudar a direção quando é para onde eu quiser .

    Bruno Negreiros 05/06/2021 19:24

    E isso!! Apesar de ter os redarios como objetivo, eu tinha equipamentos para estar autossuficiente e independente!! Tô te mandando as melhores energias do mundo amigo!!!

    Divanei Goes de Paula 05/06/2021 20:01

    É isso, melhor ter e não usar , do que precisar e se ver em " "maus Lençóis " Hahahahahaha . Valeu muito obrigado.

    Divanei Goes de Paula 16/07/2021 21:12

    Voltei dos Lençóis com minha filha . Fizemos um roteiro selvagem, sem ver um só caminhante pela travessia , ninguém, zero . Só vimos os moradores nos Oásis e 2 turistas com quadriciculo em Queimadas e claro , alguns carros entre Betânia e Santo Amaro . Dormimos uma noite nas dunas , a um dia do lugar mais próximo que se pudesse ver uma face humana. Foi mágico, foi surpreendente, foi encantador .

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    Bruno Negreiros 16/07/2021 21:17

    Nossa, eu fui lendo o seu comentário e imaginando, Divanei!! Felicidade pura!!

    Divanei Goes de Paula 16/07/2021 21:23

    Chorei, mesmo que escondido da minha minha filha , me emocionei, pelo lugar, pela companhia , pelo momento único na vida, como pessoa, como pai , que oportunidade, minha nossa , voltei pra casa , mesmo porque, não é possível ser feliz pra sempre. Foi a maior travessia da minha vida .

    Bruno Negreiros 16/07/2021 22:00

    Nossa, que irado!!! Divanei, te admiro pra caramba... Parabéns!!

    Bruno Negreiros

    Bruno Negreiros

    Rio de Janeiro

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    Engenheiro ambiental e montanhista com o sonho de contribuir para a disseminação dos esportes ao ar livre e de aumentar a conscientização ambiental e social no mundo outdoor.

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