Cruz de Pedra, entalhada em rocha, que marca o meio da travessia entre os distritos de Itatiaia e Chapada.

TRAVESSIA OURO BRANCO - OURO PRETO

TRECHO 2: Itatiaia até Lavras Novas, passando pelo povoado da Chapada

Extensão aproximada: 19,5 km

Itatiaia até Chapada

Iniciamos a caminhada na pousada Villa Real, no distrito de Itatiaia. No final da rua, onde tem início uma mata, há duas trilhas: a da esquerda leva até a MG-129 e a da direita até a estrada para Santa Rita de Ouro Preto (Estrada Mário Leandro). Pegamos esta última até o asfalto e seguimos margeando a pista, passando por uma praça com esculturas em pedra sabão no entroncamento das duas rodovias que marca o acesso para Santa Rita de Ouro Preto, seguida de uma ponte. No local também há um marco da estrada real e uma placa que identifica erroneamente o curso d’água como Rio Cachoeira. Na realidade, trata-se do Rio da Ponte, que marca o limite dos municípios de Ouro Branco e Ouro Preto. O rio Cachoeira, onde está localizada a Cachoeira de Itatiaia, é um afluente que desagua nele alguns metros a jusante, depois de um resort em construção.

A partir da ponte, fomos obrigados a prosseguir pelo asfalto, em um trecho sinuoso da MG-129 com um fluxo intenso de veículos. No dia anterior, verificamos que há uma antiga trilha que corta um trecho de mata a partir do outro lado da pista, que poderia ser reaberta, o que reduziria a necessidade de caminhar pela rodovia.

Em seguida, a partir do trecho inicial da estrada que segue para o Bico de Pedra, Fazenda Caveira e para o distrito de Rodrigo Silva, subimos um trecho da serra por um caminho parcialmente calçado, possivelmente um antigo trecho da Estrada Geral da Corte, que nos leva até a Ponte do Calixto, preservada à margem do asfalto, uma das muitas que compõem o patrimônio histórico e cultural desse trecho da Estrada Real, caracterizada por uma imponente construção em pedra com solução estrutural em abóboda semicircular. Conseguimos resgatar o texto original da placa fixada ao lado da ponte, hoje em dia com a inscrição totalmente apagada:

Ponte do Calixto

Esta ponte, também conhecida como ponte da Alegria, foi parcialmente destruída por uma grande enchente, em meados do século XIX. Em 1867 foi arrematada por 3 contos de réis pelo Major José Luiz d’Oliveira, que assumiu o compromisso de construí-la da forma mais resistente possível. Optou-se pela técnica francesa que unia as pedras com argamassa, areia e cal. Mas, opiniões discordantes surgidas entre o arrematante e o engenheiro responsável pela obra, Francisco de Paula Aroeira, resultaram em uma ponte que se diferencia das demais desse trecho da Estrada Real. A ponte do Calixto é a única que não exibe arco pleno de cantaria. Imponente, ela marca a paisagem com seu vão duplo, denominado na época “arco de alvenaria tosca”.

Pelos próximos 1.000m o caminho segue paralelo à rodovia, até uma segunda ponte antiga, chamada de Bueiro Curvo, onde é possível pegar uma trilha lateral que se afasta um pouco do asfalto, até a proximidade do acesso para a cachoeira do Véu Negro (ou Escondida), onde somos obrigados a caminhar novamente pela MG-129, até uma área reclamada como usucapião, cujo morador (Sr. Paulo) vem criando dificuldades para a passagem das pessoas no local. Uma cerca construída à margem da estrada agora bloqueia o caminho tradicional, utilizado há séculos pelos moradores da região.

Uma picada recém-aberta no início da cerca possibilita o acesso à trilha original, que leva à Cruz de Pedra, elemento emblemático encontrado no interior do Monumento Natural Estadual de Itatiaia, construída com a utilização de técnicas de cantaria e que se encontra caída no meio do campo, em um colo situado entre a formação principal da Serra da Chapada e uma formação secundária.

A partir da Cruz de Pedra, partem algumas trilhas, uma delas para o topo da Serra da Chapada / Itatiaia (há que se verificar os limites da Zona Intangível da UC). Outra segue o caminho das torres da linha de transmissão que cruza a região. A trilha mais à esquerda é o caminho mais rápido para o povoado da Chapada. Depois de um pequeno curral, deve se pegar uma picada pouco evidente à direita, que leva até um córrego encachoeirado com alguns pocinhos.

Um pouco mais à frente, uma pinguela foi instalada sobre as águas cristalinas do ribeirão Falcão, que segue por um leito encaixado entre paredes de rocha, na forma de um pequeno e belo cânion.

Antes da subida final para o povoado da Chapada, a trilha passa pela cachoeira do Castelinho, que tem sua beleza ofuscada pela visitação desordenada e pela quantidade de lixo espalhado pelos frequentadores. Um contraste triste para quem acabou de percorrer uma região de grande beleza cênica. Apesar da sinalização proibindo o acesso à cachoeira com coolers, churrasqueiras e outros itens, a norma é totalmente ignorada. Sem coleta de lixo regular e diante da falta de educação dos frequentadores, o problema tem sido debatido pela comunidade local, que se desdobra na busca de uma solução. Realmente uma pena.

Já o povoado da Chapada é encantador, com sua igreja restaurada em meio a um quadrado gramado, cercada pelo casario antigo e com dois bares para relaxar por alguns momentos, comer e beber algo. É possível pernoitar por lá, em pousadas ou camping, mas o recomendável, para quem faz a travessia em três dias, é seguir até Lavras Novas, reduzindo assim a extensão a ser percorrida no dia seguinte.

Cabe aqui um esclarecimento. A serra que divide os dois povoados é chamada de serra de Itatiaia pelos moradores de Itatiaia e serra da Chapada pelos da Chapada. Na carta do IBGE é denominada como serra da Chapada.

Chapada até Lavras Novas

Há dois principais caminhos para percorrer o trecho entre os povoados de Chapada e Lavras Novas: o primeiro, cruzando uma região formada por campos e colinas, drenada pelos córregos da Chapada e do Mulato, que abrigam alguns pequenos pocinhos e cachoeiras, dentre elas a do Rapel, que despenca pelas escarpas e desagua no rio Mainard, com opções de trilhas mais longas e atalhos mais curtos, sem grandes dificuldades de navegação. O outro caminho segue pela serra do Trovão, também conhecida por serra do Buieié que, sem sombra de dúvida, é a melhor opção de trajeto.

A trilha pela serra é linda, cercada de belas paisagens e formações rupestres. Apesar de um pouco mais acidentada, é bastante curta e acaba sendo percorrida lentamente, devido às muitas paradas obrigatórias feitas em seus mirantes de rocha projetada, nas duas vertentes. São cerca de 7,5 km de trilha bem marcada, que pode ser percorrida calmamente em menos de duas horas. A trilha termina na entrada de Lavras Novas, próximo a uma tirolesa instalada no local.

Lavras Novas é um pequeno distrito de Ouro Preto, com pouco mais de 1500 habitantes, situado à 19 km da sede e a 120 km de Belo Horizonte, na porção sul do Quadrilátero Ferrífero. Formado no início do século XVIII, o povoado tem suas origens atreladas à exploração do ouro nas Minas Gerais. Ainda hoje, mantém muitas de suas características originais, com boa parte das casas distribuídas no entorno da igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, com os cavalos e cachorros soltos na rua. A atmosfera pacata do local só é quebrada aos finais de semana e feriados, quando o povoado é invadido por uma horda de turistas.

Distâncias aproximadas:

- Início da trilha em Itatiaia até a Ponte do Calixto: 2,3 km, percorridos em 40 minutos;

- Início da trilha em Itatiaia até a Cruz de Pedra: 5,4 km, percorridos em 1h e 30min;

- Início da trilha em Itatiaia até a Chapada (igreja): 11,8 km, percorridos em 3h e30min;

- Trecho entre a Chapada e Lavras Novas pela serra do Trovão: 7,5 km, percorridos em 1h e 40min;

- Trecho entre Itatiaia e Lavras Novas: 19,5 km, percorrido em cerca de 5h. .

Trecho da travessia Ouro Branco - Ouro Preto entre Itatiaia e Lavras Novas, passando pelo povoado da Chapada.

Trecho inicial da caminhada pelo asfalto (MG-129) que poderia ser evitado com a abertura de uma pequena trilha na mata ao lado.

Caminho na serra pelo antigo calçamento da Estrada Geral da Corte, seriamente comprometido pela passagem das motocicletas.

Ponte do Calixto, próximo à cachoeira homônima, de onde se tem uma bela vista da Serra de Itatiaia / Chapada. Cerca de 200m à frente há uma outra ponte antiga, chamada de “Bueiro Curvo”.

Serra da Chapada / Itatiaia, observada a partir do mirante da Ponte do Calixto e a nova ponte sobre o Córrego da Cachoeira, na MG-129.

Próximo ao colo entre a formação principal da Serra de Itatiaia / Chapada e uma formação secundária, onde está localizada a Cruz de Pedra.

Cruz de Pedra, com a Serra de Itatiaia / Chapada ao fundo. Há uma trilha que leva ao topo da serra, onde tremula uma bandeira de MG.

Trilha que segue em direção à Chapada, com a Serra da Chapada ao fundo.

Cachoeira do Castelinho. Visitação desordenada, muito lixo e sujeira espalhados pelos frequentadores.

Foto do grupo em frente à Capela de Santana, no povoado da Chapada.

Trecho inicial da subida da serra do Trovão, partindo do povoado da Chapada.

Formações rupestres e belas paisagens no alto da serra do Trovão.

Vista do distrito de Lavras Novas a partir da serra do Trovão, também conhecida como serra do Buieié.

Já próximo a Lavras Novas, com o maciço do Itacolomi ao fundo.