AventureBox
Crie sua conta Entrar Explorar Principal
Alberto Farber 27/12/2021 15:00
    Ciclo - Trekking - Pico do Rinoceronte

    Ciclo - Trekking - Pico do Rinoceronte

    Uma mistura de bikepacking + Trekking de Bom Jardim da Serra até o Pico do Rinoceronte e de lá com destino ao RS.

    Trekking Cicloviagem

    ATENÇÃO

    Tenho buscado com os relatos que publico no AB não falar somente sobre estatísticas de km's percorridos, lugares visitados, custos e informações mais genéricas, mas sim tentar passar o que de fato senti, qual foi a experiência, o aprendizado e a interação que vivenciei com outras pessoas e com o ambiente.

    Caso esse tipo de relato não te interesse, talvez você não queira dar sequência na leitura.

    Obs: Em uma sequência cronologica, a aventura relatada abaixo aconteceu após Uma Travessia para Celebrar a Amizade e Recuperar Confiança.

    - - -

    O SONHO CONTINUA...

    O sonho de fazer uma cicloviagem rumo aos confins do mudo ainda é real em mim (O Prisma da Vida). Conhecer pessoas, lugares, costumes, o desconhecido, tudo isso me intriga, me motiva e me faz ter a vontade de colocar as tralhas na bicicleta, na mochila, trilhar alguma estrada, algum caminho que me traga vida, experiências, amor e muitas lembranças e histórias.

    A aventura que vivenciei com o Leandro e a Helô na travessia do Canion Laranjeiras - Canion Funil serviu brilhantemente ao seu propósito, trazer a minha confiança para aventuras de volta. Fazer todo o planejamento, organizar a logistica, permissões, navegação e monitoramento do clima/tempo foi exatamente o que estava faltando para me motivar. A companhia dos amigos foi fundamental e o sucesso da travessia a cereja do bolo.

    Foto 01 - Travessia Canion Laranjeiras - Canion do Funil

    Exatamente 1 semana depois da travessia iniciaria o meu período de férias, depois de adiá-la por 2 vezes pela pandemia, o momento se apresentava oportuno. Escolhi fazer uma mistura de bikepacking e trekking, diferente do que me propus a fazer em 2019 (uma grande cicloviagem), traço pequenos objetivos, quebrando aquele roteiro original em pequenas partes, com locais de apoio e mesmo utilizando o carro para cobrir distâncias maiores quando necessário. O plano era não ter um plano, estar aberto a mudanças e ir ajustando as coisas conforme as oportunidades apareciam.

    Para contar melhor as experiências de tudo que aconteceu nos 30 dias de férias, vou separar esse período em relatos diferentes, a seguir está a 1° parte.

    - - -

    DESACELERANDO...

    Videira > Lages > Bom Jardim da Serra

    Bicicleta, bolsas de bikepacking, mochilas de trekking, botas, roupas, tudo dentro do carro. Uma casa provisória pelos próximos 30 dias.

    Uma segunda-feira de manhã, dia de viajar para Lages e de lá para Bom Jardim da Serra e dar inicio a primeira pernada da trip. Um dia nublado, angustiante, difícil, alguma coisa prende meus pensamentos em casa, mas sigo, tentando deixar para trás tudo que já não quero mais.

    Quando chego em Lages o tempo é de chuva e a previsão é seguir assim, resolvo por ficar 1 dia alí, na casa da minha irmã, até o tempo melhorar, o que acabou sendo 2 dias e meio depois. Apesar de atrapalhar um pouquinho meus planos esses dias em Lages foram bons, preguiçosos na frente da TV e um exercício de paciência. Na quarta-feira, com o tempo um pouco melhor continuo a viagem para Bom Jardim da Serra, colocar o corpo e os pensamentos em movimento e ver como as coisas acontecem lá.

    Em Bom Jardim o tempo também está fechado, um raio de sol aqui, outro acolá. Logo que chego na pousada 2 cicloviajantes passam pela rodovia, com certeza devem ter tomado chuva um pouco antes, seguiam em direção a Serra do Rio do Rastro, me animo em pensar que logo seria eu na bike. Tiro o restante do dia na pousada para montar todas as coisas na bicicleta, revisar os equipamentos, alguns ultimos ajustes e está tudo pronto, preparado para viver bons momentos, criar novas memórias, eu, minha bicicleta e minha mochila, juntos para o que der e vier.

    Mas não foi no dia seguinte !! o tempo amanheceu nublado, com chuva leve e mais uma vez a previsão do tempo seguia não sendo favorável. Um pouco de desconforto faz bem, mas estou em busca de bons momentos e passar o dia todo com chuva pedalando ou trancado dentro da barraca não me trariam isso. Assim, resolvo mais uma vez postergar a saída. Mais tarde no mesmo dia, após o almoço vou turistar no Mirante da Serra do Rio do Rastro, mesmo sabendo que estaria tudo fechado com serração. Na volta do mirante paro na Cascata da Barrinha, desço e por alguns instantes escutando o barulho da queda d'água minha mente viaja em pensamentos e na sensação de paz, depois de alguns minutos desperto e volto para a pousada. No final de tarde o sol timidamente aparece.

    Foto 02 - Cascata da Barrinha em um dia nublado.

    BOM JARDIM DA SERRA > PICO DO RINOCERONTE

    Caramba !!! que dia longo !!

    Caramba !!! que dia lindo !!

    Caramba !!! que dia perfeito !!

    Depois de 4 dias de chuva finalmente o sol despontou radiante. Fico curtindo uma preguiça na cama até a hora do café da manha, mas já sabendo que o tempo lá fora está ótimo e que enfim vou conseguir sair.

    Tomo meu café quase sem pressa, avisando a família de que vou sair e ficar alguns dias sem comunicação. Sem mais delongas e super animado saio com minha magrela, tudo funcionando certinho, bem preso, bem seguro. De arrancada já começo a subir valendo, bom para esquentar o corpo e dar aquele susto nas pernas. O caminho segue a estrada para São José dos Ausentes, + - uns 7-10km de bom asfalto e estradas bonitas. Na sequência começa a estrada de chão, alguns trechos bons, outros ruins, muito sobe e desce, algumas subidas bem duras, precisei empurrar a bicicleta em apenas 1 espantosamente.

    Foto 03 - Terminando o trecho de asfalto.

    Foto 04 - Iniciando o trecho de estrada de chão.

    A cada 2-3km ou 10-15 minutos paro a bicicleta para tirar uma foto ou fazer alguma filmagem, me sinto como se tivesse ficado trancado por muito tempo, e de fato todos ficamos. A cada curva, a cada top de morro uma paisagem linda.

    No caminho, um dos lugares que me chama muito a atenção é o Rio Púlpito, que espetáculo !! Em alguns dias, quando tudo der certo voltaremos a nos encontrar. Logo depois uma cachoeirinha e um mini-canion me despertam a curiosidade, paro e tiro algumas fotos, subo na bike para desmontar uns 50 metros na frente e explorar, por trás do morro uma baita cachoeira, esplendorosa, um lugar que certamente só conheci porque estava de bicicleta. Mais tarde descubro que esse lugar é chamado de "Perau dos Cabritos", um ponto turistico de BJS, mas sem nenhum indicativo ou placa.

    Foto 05 - Rio Pulpito, maravilhoso.

    Foto 06 - Chegando no Perau dos Cabritos.

    Foto 07 - Pequena queda d'agua e Mini Canion. Vista Lateral

    Foto 08 - Explorando com calma. O enorme Perau e a cachoeira. Qualidade da foto ruim, mas feliz.

    Mais algum tempo de pedal e chego na Fazenda Papagaios, local onde está o Pico do Rinoceronte. Chego por volta da 14h, momento de comer um lanche de almoço e mudar as coisas da bike para a mochila, em menos de 30 minutos começo a caminhar, cansado do pedal, mas ainda tenho 8-9km de trilha para fazer e achar um bom local para erguer acampamento.

    Foto 09 - Parada no caminho. Água para todos os lados.

    A caminhada também revela muitas surpresas, a abundância de água, as quedas d'agua se formam de punhados, com água limpa e cristalina. Tento não perder muito tempo, as horas passam rápido e a trilha é bem puxada. Depois de 2 horas e meia chego no tal Pico do Rinoceronte, e não é que se parece mesmo ?!?! Que magnifica formação da natureza, que obra de Deus !! Com o céu azul de brigadeiro, consigo observar a barragem na parte de baixo da serra, as cidades e o parque eólico em Bom Jardim da Serra.

    Foto 10 - Vista de cima da Serra, no Pico do Rinoceronte.

    Ovento forte sopra gelado, hora de voltar, arrumar as coisas e descansar um pouco. Com 30 minutos o acampamento está pronto. O corpo está cansado, a mente e o espirito estão felizes.

    Foto 11 - Acampamento.

    O dia seguinte desperta cedo, as 6h já estou acordado, aquela espiada pela barraca revela um céu limpinho. Mais 5 minutinhos para criar coragem para sair do saco de dormir quente e encarar o frio e o vento para assistir o nascer do sol lá em cima no Pico. O vento lá em cima não para e MUITO GELADO. Fazia muito tempo que não tinha essa felicidade de ver um nascer do sol e um lugar que certamente tem as mãos de Deus.

    Aquela fera, pacata e serena, repousando, esperando o sol aquecer sua face, fazendo guarda de todo lugar que a vista alcança. Parece que a qualquer sinal de perigo aquela fera vai se levantar, movendo uma montanha de pedras e ferozmente avançar contra tudo e qualquer um.

    Foto 12 - Nascer do Sol no Pico Rinoceronte. Onde está Wally?

    Depois desse momento, calmamente começo a desmontar acampamento, colocando a barraca para secar, tomando café e por ai vai. As 9:20h inicío o caminho de volta para a fazenda. O que foi o sucesso de ontem foi o fracasso de hoje, primeiro resbalo e vai um pé até a altura do tornozelo por barro abaixo, pouco depois pego o desvio errado e vou parar no meio de uma turfeira, aí é um abraço pro gaiteiro, 2 pés molhados logo cedo.

    Por volta das 11:40h estou de volta na fazenda, encontro o Sr. Roberto, o proprietário da fazenda passando as instruções para um grupo que estava chegando para ir acampar, e no caminho já havia passado por mais umas 10 pessoas. Tive o privilégio de ter o acampamento e o visual exclusivamente para mim. Vou arrumando as coisas na bike e quando é meio dia começo a pedalar novamente. A estrada é pior que a do dia anterior, muita pedra solta, muita costeleta, sigo devagar para não furar nenhum pneu, mas principalmente porque as pernas estão cansadas.

    Foto 13 - Novas estradas.

    Depois da descida para entrar no estado do RS, vem uma subida constante por + - 10km, não são subidas duras, mas com as pernas cansadas e com o peso da bike fica bem mais difícil. Quando avisto a placa de 7km no entrocamento para a entrada no Canion Montenegro dou um grito " EU SABIAAAA !!!", estava esperando esse momento faz tempo. No primeiro bikepacking que fiz nos campos de cima da serra, fiquei imaginando de onde viria essa estrada, e depois de 5 anos estava percorrendo esse caminho até então desconhecido.

    Deste ponto em diante a estrada é um sobe e desce até chegar na entrada para o Camping/Hostel Toca da Onça, local onde eu iria estabelecer acampamento pelos próximos dias para explorar mais um pouco a região. Quando finalmente chego no camping, há um fogão com comida quente e uma cerveja gelada, almoço sem pressa, depois escolho um lugar para colocar a barraca, um banho quente, uma cochilada e a noite mais um chopp para comemorar esse primeiro trecho da trip concluído com sucesso.

    Foto 14 - Acampamento em São José dos Ausentes.

    Alberto Farber
    Alberto Farber

    Publicado em 27/12/2021 15:00

    Realizada de 11/06/2021 até 12/06/2021

    Visualizações

    861

    4 Comentários
    Ciclotrekking 29/12/2021 08:04

    Ótimo relato, meu camarada! Rachei o bico com o "abraço ao gaiteiro"...kkk

    1
    Alberto Farber 29/12/2021 09:16

    Ciclotrekking  precisamos agendar a nossa presepada em 2022 !! grande abraço !!

    Ronaldo Morgado Segundo 30/12/2021 22:36

    Ótimo relato Farber!!! Sempre Alerta!

    1
    David Sousa 01/01/2022 15:46

    paisagens e pôr do sol incríveis 

    1
    Alberto Farber

    Alberto Farber

    Videira - State of Santa Catarina,

    Rox
    465

    Engenheiro Agrônomo, apaixonado por esportes e por qualquer tipo de atividade ao ar livre.

    Mapa de Aventuras


    Mínimo Impacto
    Manifesto
    Rox

    Fabio Fliess, Peter Tofte e mais 450 pessoas apoiam o manifesto.