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Alberto Farber 23/07/2021 23:14
    Uma Travessia para celebrar a Amizade e recuperar Confiança.

    Uma Travessia para celebrar a Amizade e recuperar Confiança.

    Travessia realizada em 29 e 30/05/2021, partindo do Cânion Laranjeiras e finalizando no Cânion do Funil, realizada de maneira independente.

    Trekking

    ATENÇÃO

    Tenho buscado com os relatos que publico no AB não falar somente sobre estatísticas de km's percorridos, lugares visitados, custos e informações mais genéricas, mas sim tentar passar o que de fato senti, qual foi a experiência, o aprendizado e a interação que vivenciei com outras pessoas e com o ambiente.

    ps: este relato representa apenas a minha perspectiva dos fatos.

    Se esse tipo de relato não te interessa, talvez você não queira dar sequência na leitura.

    COMO TUDO INICIOU

    Um longo período sem nenhuma aventura, um longo período sem nem mesmo sair de casa para outro motivo que não fosse o trabalho. Essa foi a minha realidade e provavelmente a de muitos outros aventureiros durante praticamente todo o ano de 2020.

    Bastante esgotado mentalmente, cansado de noticias ruins e também necessitado de um tempo ao ar livre, com ar puro, no carnaval de 2021, decidi ainda que com um pouco de receio (pandemia) sair para fazer alguma atividade. Encontrei um casal que promove corridas de montanha, trekkings e outras atividades em Urubici (talvez o meu lugar preferido em Santa Catarina) com uma proposta bem legal para o feriadão e resolvi arriscar. Nessas atividades conheci o Marlon, um mineiro recém chegado em Santa Catarina, que iria fazer as mesmas atividades junto comigo. Trocamos muita informação, ele me contou um pouco sobre MG e eu sobre o que já havia feito e ainda pretendia fazer em Santa Catarina.

    Ph.1 - No Cânion Espraiado, durante o Carnaval 2021.

    Ph.2 - No Cânion Espraiado, durante o Carnaval 2021.

    Passado algum tempo após o Carnaval, o Marlon apareceu com a ideia de fazer a travessia entre os cânions Laranjeiras e Funil em Bom Jardim da Serra. A primeira sugestão era de contratar um guia ou entrar em algum grupo já formado com datas já pré-agendadas. Conhecendo os 2 Cânions em momentos diferentes, observando o valor cobrado pelos guias e com uma vontade grande de melhorar meus conhecimentos de navegação, sugeri para o Marlon realizarmos a travessia de maneira independente. Desta forma, discutimos primeiro as datas que cada um tinha disponível, o número de dias na trilha e outros pequenos detalhes do gênero.

    PREPARATIVOS

    No meio tempo entre o contato do Marlon e o final de semana da trilha, certamento movido pela vontade e necessidade de socializar com outras pessoas, reencontrar amigos e consolidar novas amizades, lembrei de alguns parceiros de aventura (Helô, Edson, Leandro, Murilo...) e os convidei para participar. Como veremos mais para frente no relato, de um grupo inicial de 6 pessoas, acabamos realizando a travessia em apenas 3 viventes.

    Com um período bom de tempo para estudar e planejar bem a trilha, busquei algumas informações e relatos, aqui mesmo no AB, wikiloc e na WWW. Sempre quando começo a estudar e planejar alguma coisa assim me lembro do livro do Amyr Klink "Cem dias entre céu e mar", uma verdadeira aula sobre vontade, persistência e sobre como o planejamento pode garantir o sucesso de uma aventura.

    Ciente da necessidade de melhorar meus skills de navegação e assim ter mais confiança e autonomia para futuras aventuras, estudei diversos tracklogs, encontrei cartas topográficas bem detalhadas da região (https://aventurebox.com/sobre-mapas/onde-encontramos-os-mapas), aprendi mesmo que de última hora com a ajuda do Edson a usar um GPS para navegação. Com um cronograma bem definido de quanto caminhar, possíveis locais de acampamento, pontos de água e etc, me sentia confiante e preparado.

    O inverno em Bom Jardim da Serra é dos piores, assim a única pêndencia que ainda havia para resolver era o investimento em um bom Saco de Dormir. Em experiências passadas no proprio Canion Laranjeiras (https://aventurebox.com/farberalberto/bikepacking-urubici-e-bom-jardim-da-serra/report) onde peguei temperaturas de -5°c e não consegui dormir, este era uma fato que não queria repetir. Acabei comprando o Saco de Dormir da Helô, que nas próximas aventuras (férias inverno 2021) se mostrou o melhor investimento em equipamento que já fiz.

    O LOCAL

    Bom Jardim da Serra fica localizada no planalto serrano catarinense. Dentre os vários atrativos, se destacam a mundialmente famosa Serra do Rio do Rastro, Cânion Laranjeiras, Cânion do Funil, Cânion da Ronda e o Parque Eólico.

    O Cânion Laranjeiras é enorme, com parte dele no território de Bom Jardim da Serra e outra em Orleans. Várias propriedades rurais tem parte de suas terras no cânion ou bem próximas dele. Já o Cânion do Funil, onde fica o mirante principal, pertence à apenas um proprietário.

    A travessia ligando os 2 cânions, com uma distância aproximada de 27-30km, passa por 4 propriedades privadas, sendo indispensável solicitar autorização e pagar as taxas que cada um cobra. Nesse ponto quem me ajudou a entrar em contato com os proprietários e organizar as permissões foi a Faby, da FABYTOUR em BJS, super recomendo. As taxas cobradas são bastante divergentes, alguns cobram muito barato, outros exploram, mas só esse tema seria motivo para uma discussão à parte.

    A TRAVESSIA

    Na última semana os preparativos começam a sair do papel. Hora de arrumar os equipos, efetivar o pagamento das taxas, planejar alimentação, transfers, pousada e principalmente bater o martelo nos participantes. O Marlon, que deu a ideia da travessia não pode participar, o Edson e o Murilo também não. Restaram no grupo Eu, o Leandro (amigo escoteiro) e a Helô (amiga trilheira).

    Havia uma previsão de muita chuva até sabado por volta das 6h da manhã e depois disso, principalmente a noite, previsão de bastante frio.

    Eu e o Leandro saímos de Videira-SC na sexta-feira após o almoço, planejamos viajar com calma e chegar em BJS com tempo para revisar alguns detalhes e descansar. Aproveitamos o tempo de sobra em BJS para comprar uma copa e um queijo colonial para levar na trilha. A Helô, por causa das fortes chuvas e pelo fato de ter de subir a Serra do Rio do Rastro, optou por sair sábado cedo de Torres-RS. Nos encontramos no sábado de manhã na Pousada Rota da Kombi, onde deixamos os carros e pegamos o transfer com a FABYTOUR até o ponto de início da trilha.

    Ph.3 - Samuel (Fabytour) fazendo nosso transfer. Carro todo higiênizado e respeitando o uso de máscaras. (Ph. Helô)

    Ph.4 - No caminho para o início da trilha. Céu nublado. (ph - Helô)

    A previsão do tempo foi cirúrgica(https://ciram.epagri.sc.gov.br/ e https://www.ventusky.com/). Exatamente por volta das 6h da manhã parou de chover, ficou nublado até meio da tarde e depois o tempo limpou e a temperatura caiu.

    SÁBADO

    Começamos a caminhar por volta das 9h da manhã. Me sinto animado, apreensivo, empolgado, preocupado, tudo ao mesmo tempo, pois é a primeira vez que vou guiar em uma travessia assim, e com a responsabilidade de mais duas pessoas. Eu estava com um arsenal de equipamentos para navegação, GPS Garmin, GPS da bicicleta, carta topográfica, wikiloc, só não tinhamos uma bússola porque o Leandro acabou esquecendo.

    Saindo da propriedade, caminhamos por volta de uns 30min por uma área de mato, mas com um caminho bem demarcado até a borda do Cânion Laranjeiras. Jack Chan ficaria orgulhoso com tanto "coloca casaco / tira casaco". Nessa área de mato alguns equipamentos não funcionaram direito, pela dificuldade de sinal (GPS bike e Wikiloc).

    Ph.5 - Caminho inicial, saindo da fazenda. (Ph. Helô)

    Ph.6 - Saindo da área de mato, conferindo os equipos de navegação e a carta topográfica. (Ph. Helô)

    Da borda do Cânion Laranjeiras a direção é basicamente sentido sul. Confesso que estava um pouco apreensivo em ser o responsável pela navegação, uma responsabilidade que eu queria compartilhar e não assumir. A minha maior preocupação era pegar uma viração daquelas em que não se enxerga um palmo na frente do nariz, mas caso isso acontecesse tinha um plano "B" claro, armar acampamento e esperar passar. Ainda ganhando um pouco de confiança no manuseio dos equipamentos e na leitura da carta e na ânsia de seguir precisamente o tracklog, logo de cara peguei um traçado errado e molhamos os pés nas turfeiras. Isso me deixou incomodado, não os pés molhados, mas senti como se o GPS limitasse a minha capacidade de analisar o meio e tomar as decisões baseado nos meus instintos. Mas como essa experiência era realmente uma oportunidade de aprendizado, fui tomando notas mentais sobre o que fazer diferente nas próximas vezes. Em alguns determinados pontos a navegação com a carta ficou um pouco confusa, faltou experiência, mas se mostrou um recurso bastante útil, quero aprender mais.

    Ph.7 - Leandro e o Pinheiro anão na borda do Laranjeiras.

    Atravessamos pelo meio de um vale enxarcado com florestas nos dois flancos, subimos um pequeno morro e começamos a ter as primeiras visadas das bordas da Serra Geral. Conforme seguiamos caminhando aproveitava para comparar os dispositivos e tentava localizar os pontos de referência na carta topográfica. Caminhamos juntos em ritmo confortável, por vezes nos espaçavamos um pouco, cada um ao seu modo aproveitando para curtir a experiência.

    Ph.8 - O vale, as florestas e o morro ao fundo. (Ph - Helô)

    Ph.9 - Procurando os pontos de referência na Carta Topográfica. (Ph. Helô)

    Antes do meio dia passamos por dois pontos mais difíceis, uma subida de reflorestamento que exigiu um pouco mais de esforço físico e outro ponto onde a navegação ficou um pouco confusa, mesmo com o GPS, acabamos demorando alguns minutos para encontrar o caminho certo. Quando terminamos de subir o reflorestamento e fazemos uma pausa para um lanche, levo um susto, meu celular começa a tocar e é minha irmã ligando. Instintivamente pensei que boa noticia não poderia ser, mas na verdade ela estava preocupada devido as fortes chuvas que causaram vários estragos em várias cidades do estado. Para nossa sorte, não pegamos um pingo de água de chuva na trilha.

    Ph.10 - Helô na base da subida do reflorestamento.

    Ph.11 - Local em que ficamos confusos com a navegação.

    O vento, na direção oeste-leste por diversos momentos sopra forte e gelado, fazendo com que todas as nuvens fiquem aprisionadas na parte de baixo das paredes dos Cânions, criando uma sensação de estarmos caminhando sobre elas, uma sensação de paz, de bem-estar, de felicidade!

    Ph.12 - As escarpas da Serra Geral e as nuvens.

    Haviamos planejado caminhar cerca de 12-15km no dia, escolher um bom local de acampamento com calma e ainda ter um pouco de luz do dia para aproveitar, ou seja, por volta das 15h, já que no inverno na região o sol se põe muito cedo. Por volta desse horário chegamos em um dos possíveis locais de acampamento mapeados, extamente antes do Campo de Pouso, deixamos nossas mochilas e vamos explorar o local para escolher o melhor terreno, abrigado do vento, o mais seco e plano possível e perto de algum ponto de água.

    Acampamento montado, hora de preparar um café, trocar roupas quentes, tirar umas fotos e tirar uma soneca. Por volta das 19h abrimos uma garrafa de vinho que havia levado, para comemorar e compartilhar um bom momento entre amigos. O Leandro prepara um queijo colonial e uma copa lombo, um verdadeiro glamping!! ehehehhe. Secamos a garrafa de vinho, trocamos conversas, risadas e experiências, observamos um céu estrelado que há tempos não via e quando o frio bate valendo, cada um vai para sua barraca. Hora de preparar a janta, acabei levando pouca comida, tinha noção disso mas a falta de prática dos últimos tempos contribuiu para isso. Ainda em casa preparei uma paçoca de pinhão deliciosa, no acampamento só precisei esquenta-lá. Como minha janta com sangue nos olhos em pouquíssimos minutos. Escovo os dentes, lavo a louça e é hora de deitar. Eu e o Leandro, que pela praticidade optamos por dividir a barraca conversamos mais um pouco, olhamos umas fotos e nos ajeitamos para dormir.

    Ph.13 - Leandro separando seu pijama. Só pra zuar um pouco hahaha (Ph. Helô)

    Ph.14 - Leandro preparando a tampa de frios. (Ph. Helô)

    Ph.15 - Local de acampamento. Ao fundo os platôs que percorremos no dia. (Ph. Helô)

    DOMINGO

    A Helô queria levantar cedo para ver o nascer do sol, eu também queria, mas sempre tenho muita preguiça de sair do saco de dormir e na maioria das vezes acabo perdendo o momento. As 6:00h da manhã meu celuar desperta, rapidamente desligo e me finjo de morto, ta uma friaca grande fora da barraca. Como ninguém se mexeu ou falou nada volto a cochilar. Com o saco de dormir que comprei da Helô e com algumas roupas novas de inverno me sinto pronto para encarar qualquer frio. E isso realmente aconteceu, foi a 1° vez que dormi bem e confortável em um acampamento, sem pés gelados, em alguns momentos até passei calor.

    Quando a Helô nos chama já são 7:00h, começamos a arrumar algumas coisas e vamos em direção aos paredões para ver o sol. Nessa manhã gelada, a parte mais difícil foi calçar as botas e meias molhadas do dia anterior. A paisagem está deslumbrante, um mar de nuvens na parte de baixo da serra, o sol iluminando e pintando de dourado os campos secos de inverno, mais um momento para agradecer, sentir a energia e só aproveitar com os amigos. De volta ao acampamento, tamamos café e arrumamos as mochilas. Saímos super tarde, quase 10:00h, fiquei até um pouco preocupado, mas tentei entrar no clima de curtir e ser um pouco mais flexível.

    Ph.16 - Mar de nuvens.

    Ph.17 - Campo de Pouso, minha foto preferida.

    Subimos o Campo de Pouso, que vista e lugar maravilhoso. Neste momento agradeço mais uma vez por ter a oportunidade de ver essas belezas e poder contempla-lás.

    Seguimos a caminhada rumo ao Cânion do Funil, o caminho é um pouco mais fácil que no dia anterior, com exceção de um ponto em que precisamos descer o Campo de Pouso e passar por uma área de mata, a navegação também é bem mais tranquila. Quando avistamos o Funil, vimos uma quantidade enorme de pessoas na borda do Cânion, teriamos que dar uma volta enorme só para chegar na borda e como saímos tarde do acampamento, o tempo ficaria um pouco apertado. Desta forma, resolvemos sentar por ali mesmo, fazer um lanche e aproveitar a vista dalí mesmo. Depois cortamos caminho e fomos direto para o local combinado com o transfer. Chegamos na entrada do Cânion do Funil as 13:45h, fechando com chave de ouro a travessia. Sem perrengues, com ótimas lembranças e histórias.

    Ph.18 - Helô e Leandro puxando a caminhada.

    Ph.19 - Cânion do Funil

    Ph.20 - Final de trilha, esperando o resgate.

    Voltamos para a pousada para pegar os carros, trocamos roupas limpas e vamos almoçar. Comemos, rimos e nos despedimos. Leandro e eu temos 4h de viagem de volta para Videira, a Helô umas 3h de volta para Torres. O caminho de volta para casa foi quase dormindo depois da barrigada de comida no almoço.

    Chegando em Videira deixo o Leandro em casa e começo a saga para conseguir tomar um banho. A chuva forte de sexta-feira derrubou 3 torres de transmissão de energia, várias cidades ficaram sem luz durante todo o final de semana. Videira estava com rodizio de energia entre os bairros. Felizmente tenho minha irmã que me socorre emprestando um chuveiro. Quando chego na casa dela meu sobrinho Olavo vai me receber na porta, todo curioso me da um abraço e vai comigo até o banheiro e fica contando história enquanto tomo banho. Sem dúvida outro ótimo momento do final de semana.

    - - -

    Considerações Finais.

    Finalizei esta travessia com um sentimento de felicidade muito grande, por poder compartilhar os momentos com os amigos, por estar mais uma vez fazendo atividades ao livre, por estar em um lugar maravilhoso, porque não tivemos nenhum problema ou imprevisto, por conseguir testar alguns equipamentos novos e também porque consegui praticar algumas habilidades que ainda me deixavam um pouco inseguro. Novamente identifiquei pontos em que preciso e quero melhorar com o tempo e isso já me deixa com vontade de sair para novas aventuras. Agradeço a companhia, parceria e confiança da Helô e do Leandro!!

    Alberto Farber
    Alberto Farber

    Publicado em 23/07/2021 23:14

    Realizada de 29/05/2021 até 30/05/2021

    Visualizações

    775

    4 Comentários
    Douglas Dessotti 24/07/2021 04:03

    Baita 🤟👏👏

    Edson Maia 24/07/2021 08:58

    Muito massa, meu camarada! Até bateu um arrependimento de não ter conseguido ir junto nessa... Quando fizermos uma trip, já sei que a navegação é contigo! Forte Abraço!

    Alberto Farber 26/07/2021 09:27

    Boa Edson!! uma pena mesmo não ter ido. Vamos esperar o inverno abrandar um pouco e marcar aquela do Tabuleiro. Abraço.

    1
    Ana Retore 27/07/2021 22:07

    Demaaaais! 👏🏻🤘🏻

    Alberto Farber

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    Videira - State of Santa Catarina,

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    Engenheiro Agrônomo, apaixonado por esportes e por qualquer tipo de atividade ao ar livre.

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