Trilhando o Tour du Mont Blanc (TMB) 2019
Relato sobre um dos mais populares trekkings de montanha do verão europeu
Montanhismo Trekking Longa DistânciaNo meu post anterior - https://aventurebox.com/priscila-matias/planejando-o-tour-du-mont-blanc-tmb/report - eu falei um pouco sobre o processo de planejamento para o Tour du Mont Blanc, e as circunstâncias que me fizeram mudar totalmente meu planejamento para fazer o trekking de forma guiada com agência. Esse relato é para discutir os prós e contras dessa decisão.
Após muita pesquisa - e um pouco de desespero pelo valor cobrado pelas agências - acabei fechando o tour guiado de sete dias com a Altitude Montblanc, uma agência sem referência nenhuma, e com pouca info sobre, fora o próprio site da empresa (que é muito organizado e bem feito) e que cobrava menos da metade que a maioria das outras empresas. Segui a coisa que mais confio no mundo, que é o meu instinto, que me disse para arriscar e seguir com a empresa. Graças a Deus essa acabou sendo não só uma decisão acertada como fundamental para que eu e minha mãe pudéssemos finalizar essa aventura de mãe e filha com a moral lá em cima e muita felicidade pela incrível experiência. Grande parte do nosso sucesso se deve a essa figuraça chamada Pascal, nosso guia nessa empreitada.
Pascal pousando do alto do La Dotse.
Como a Altitude Montblanc é uma empresa francesa e eu não falava um A em francês, perguntei por email se poderia ser disponibilizado um guia que tbm falasse em inglês. A empresa respondeu que não teria problema e isso seria feito, o que me deixou mais tranquila.
Bom, chegou o dia do tour e seguimos para a estação de trem de Le Montroc, onde encontramos com o resto do grupo - outras nove pessoas - e nosso guia, o Pascal, um ser humano agitado, que não para de falar - em frânces - e me confessou que não sabia falar muito bem o inglês, mas iria fazer o seu melhor... Bom, foi o melhor que conseguiram, então está bom pra mim. O resto do grupo era todo de falantes de francês (franceses, suiços e belgas) e, com exceção de uma mulher, eram todos casal. Ninguém falava muito bem inglês, o que tornou a comunicação intra-grupo pra mim a pior parte do tour, e algo muitas vezes bem frustante. Minha mãe, coitada, não fala nem francês e nem inglês, então praticamente entrou muda e saiu calada, mas não porque quis, já que a mesma é extremamente comunicativa. Todo dia era um processo de ouvir um monte de coisa em francês, depois tentar entender a tradução em inglês precária do Pascal, e em seguida traduzir o que conseguia em português para a minha mãe. Cansativo.
Nosso primeiro dia seria curto e relativamente fácil, saindo da estação de Le Montroc, seguindo para a cidade de Le Tour e subindo por mais duas horas e meia até o Col de Balme, a fronteira entre a França e a Suiça, para depois descer para a cidade de Trient (Suiça), onde pernoitariamos no Auberge Mont-Blanc (chegamos em baixo de chuva leve). Já começamos o dia subindo, na tora, e praticamente todos os dias esse cenário se repeteria pela próxima semana: começando o dia já com subidas intermináveis de pelo menos três horas de duração, seguido por descidas equivalentes. Lembrando que, nesse roteiro, percorremos o TMB no sentido horário, que é o contrário do sentido que a grande maioria das pessoas escolhe (anti-horário), de forma que estávamos sempre no contrafluxo. Começávamos a andar entre 7h30 e 8h da manhã, e chegávamos nos refúgios aproximadamente às 16h, com pouquissimas paradas nesse meio tempo.
Mapa que mostra o percurso que fizemos com a Altitude Montblanc, no roteiro de sete dias, sentido horário. Os trechos em amarelo marcam as partes em que utilizamos algum tipo de transfer para poupar tempo.
Nesse primeiro dia pude sentir que estávamos muito atrás do resto do grupo em termos de performance. Nunca pensei que teriamos o mesmo condicionamento físico de europeus que passam o fds subindo montanha nos Alpes - moramos em Recife e nossas trilhas locais não possuem grandes desniveis, e apenas podemos ir para montanhas maiores no Sudeste nas férias, isto é, uma vez por ano. Por isso nos preparamos bem fisicamente (pelo menos pensavamos assim) para não ter problemas quando partissemos para o TMB e não ficássemos muito atrás. Grande ilusão, que os três primeiros dias do TMB iriam moer e cuspir na nossa cara.
Já nessa primeira subida para o Col de Balme, pude sentir que esse era um nível de trekking mais puxado, não estava esperando algo assim logo de cara. Junto com o calor inesperado (era setembro, deveria estar pelo menos fresco), foi uma subida sofrida. Odeio fazer trekking no calor, e nas poucas vezes que passei um pouco mal em trilhas, foi por causa do sol (que ironia, para quem mora no Nordeste). Fiquei um pouco preocupada se todo dia teria um clima parecido, o que seria um pesadelo pra mim. Felizmente, o sol escaldante foi exceção desse dia, e os proximos foram marcados por clima nublado, chuvas ocasionais e um ou outro dia de tempo (muito) bom, com clima fresco, sem neblina e com alta visibilidade. Durante toda a subida, em que nós duas (mãe e filha) estávamos no estado de queria estar morta, bem atrás do resto do grupo, Pascal nos acompanhou pacientemente, sempre nos motivando e elogiando o nosso desempenho. Foi nesse dia que surgiu seu onipresente bordão: "Slowly, but surely", que significa ir devagar mas contante, que era o que a gente estava fazendo (por necessidade mesmo, não conseguiamos ir mais rápido que aquilo).
Momento do almoço, em um trecho de relva no Col de Balme - a orgia de comida foi um dos pontos altos da viagem guiada.
Quando chegamos ao Col de Balme, fizemos a segunda parada do dia para comer. As oito horas diárias de percurso eram feitas praticamente de forma direta, com apenas duas paradas prolongadas feitas pelo grupo, ambas para comer. A primeira era feita pela manhã, como um ótimo complemento ao café da manhã dos refúgios (que era no máximo simplório); esse complemento na maioria das vezes era o meu verdadeiro café da manhã. À tarde parávamos para fazer o almoço, e tinha COMIDA DE VERDADE - todo dia era um prato novo: exemplo - tabule; macarrão com atum e tomate seco; os pratos principais eram complementados com muito queijo maturado (bom!), pão artesanal, salame artesanal, chocolate, um monte de patês, homus, bolo, dentre outros, e sempre tinha café e chá. Nesse quesito a Altitude Montblanc está de parabéns e NUNCA NA MINHA VIDA EU COMI TÃO BEM EM MONTANHA, foi uma verdadeira ostentação gastronômica.
No segundo dia, seguimos de Trient para Champex sob chuva leve (na verdade, arredores de Champex, para o refúgio Relais d'Arpette), seguindo a variante "fácil", um longo, interminável e chato percurso com nada interessante pra ver pelo o que posso lembrar, com mais de 1000 m de subida e quase o mesmo de descida. A variante com vistas gloriosas para as montanhas é a que passa pelo Fenetre d'Arpette, o ponto mais alto do TMB, junto com o Col des Fours, porém ela é mais puxada em termos de desnivel, especialmente subida, e o terreno é considerado bem ruim, muito pedregoso. Pascal disse que essa variante é apenas "para quem é atleta", por isso iríamos percorrer a variante mais "fácil" (hahaha), mas tenho certeza que ele apenas disse isso porque sabia que naquele momento eu e minha mãe sofreriamos demais para fazer a variante dificil, já que nossos corpos ainda não estavam acostumados com aquele ritmo da montanha.... o resto do grupo conseguiria fazer a variante do Fenetre d'Arpette sem problema. De toda forma, recomendo que, desde que as condições de tempo permitam (não era o caso nesse dia, que choveu) e que você já tenha adquirido seu "fitness de montanha", se escolha a variante dificil mesmo, porque de toda forma você vai se lascar, então é melhor se lascar olhando para lindas e magnificas paisagens de montanha (que dizem ser uma das mais bonitas do trekking), e não bosques sem graça como da variante "fácil". Atenção: de jeito nenhum escolha a variante difícil se o tempo não estiver absolutamente perfeito e se vc ainda estiver se adaptando ao esforço fisico do TMB, pois essa é considerada a etapa mais dificil de todo o tour, podendo levar 10 horas de caminhada dificultosa em terreno ruim para ser concluida.
O terceiro dia foi o mais emblemático para nós... foi o dia em que duvidei que iriamos concluir o TMB, especialmente por causa da minha mãe. Esse dia envolvia pegar um transfer do refúgio para um ponto fora da cidade de La Fouly, isto é, uma etapa inteira do TMB (de Champex até La Fouly) foi eliminada pelo transfer. Pelos relatos em livros e blogs, esse é um trecho mais fácil do TMB, com pouco desnivel (comparado com os outras dias), e talvez seja por esse motivo que todas as agências que fazem esse roteiro de sete dias decidem eliminar essa etapa do trekking. Então, começamos efetivamente o dia em um lugar um pouco depois de La Fouly, subindo (pra variar); menos de vinte minutos depois de começarmos a subir, pegamos um caminho alternativo a direita, que levou aos momentos mais agoniantes da minha vida passados em uma montanha. Esse era um caminho exclusivo feito pela agência (naquele momento, eu não sabia disso), paralelo (fora) ao percurso tradicional do TMB, e levava ao cume do La Dotse (2492 m). A subida é bem pesada (dá pra sentir só de olhar as curvas de nível no mapa), e não existe trilha definida, o ideal é subir em estilo zig zag para poupar o fôlego... que acabou logo. Chegou a um ponto em que não conseguia dar mais de quatro passos sem parar para recuperar o ar para os pulmões, minhas pernas doiam muito, e já estavam entrando em fatiga profunda. Minha cabeça doia pelo esforço e apenas o mental mantinha o corpo funcionando. Minha mãe estava atrás de mim, na mesma situação. Enquanto isso, o resto do grupo seguia beeeeem na frente sem maiores preocupações, em ritmo forte e constante... acho que nunca me senti tão frustada na minha vida pela meu desempenho, sentia vergonha por estarmos atrasando um grupo homogêneo de ótimo desempenho, aqueles europeus danadinhos. Mas nada me deixou mais preocupada do que no trecho, relativamente próximo ao cume, em que minha mãe, um pouco abaixo de mim, perdeu o controle das pernas devido à fatiga e caiu no chão - dois passos atrás dela tinha um penhasco, seria uma queda feia. Nessa hora dei um grito de medo e do nada surgiu o Pascal, que levantou minha mãe e a ajudou a subir até o cume, que chegamos uns 40 minutos depois; eu segui atrás deles. Já estava de mal humor e sem paciência, não conseguia ver sentido em fazer algo que parecia estar bem acima da nossa capacidade física, não tinha visual que compensasse aquela sensação. Quando finalmente cheguei ao cume, Pascal me deu um abraço, nos parabenizou e disse que o resto do dia seria mais tranquilo, predominantemente de descida.
O cume do La Dotse, um percurso fora do TMB tradicional. A cruz é uma homenagem a um esportista que morreu devido a uma avalance no local, mas poderia também marcar o local do meu último suspiro na face da terra.
Por problemas de comunicação inglês/francês, até aquele momento eu não sabia que estávamos fazendo um percurso "alternativo" ao TMB tradicional (que, inclusive, seria algo relativamente comum durante toda o trekking)... até que olhei pra baixo e vi o povo andando, tranquilo, pelo caminho principal do TMB, que parecia ser uma subida suave... naquele momento eu fiquei muito fula da vida; saber que poderia não ter passado por aqueles momentos medonhos e, ao contrário, ter feito um caminho bem mais tranquilo me deu muita raiva. Nesse ponto eu entrei em contato com a principal desvantagem de se fazer uma viagem guiada, que é a falta de autonomia no planejamento da sua rota. Fazer parte de um grupo com o condicionamento fisico bem melhor que o seu, e que caminha rápido e com pouquissima pausa para contemplação também afetaram negativamente minha percepção da viagem. O TMB não estava sendo algo divertido para mim.
O resto do dia foi marcado por uma descida que parecia in-ter-mi-ná-vel (sério) por uma série de zig zags em penhascos; o cenário era de uma beleza INDESCRITÍVEL (meu humor melhorou um pouco por causa disso) mas evitava levantar a cabeça e passei o maior parte do tempo olhando para o chão porque QUEM DIABOS NESSE MUNDO FAZ TRILHA EM BEIRA DE ABISMOS, esses europeus são um bando de filho da puta suicidas. Me bateu uma vertigem absurda (nota: quem faz o percurso no tradicional sentido anti-horário não terá problema nenhum porque estará subindo, em vez de descendo como nós, e portanto a visão do "abismo" ficará para trás) mas mesmo assim essa segunda parte do dia foi muito boa, e ajudou bastante a levantar a moral. Foi nesse dia que cruzamos a fronteira da Suiça e passamos para a Itália, via Col Ferret. No final do dia, perto das 17h, chegamos ao Hotel Chalet Val Ferret, que pelo o que li na internet não fica propriamente no caminho principal do TMB, mas eu vou te dizer, vale MUITO a pena fazer qualquer pequeno desvio pra se hospedar lá, melhor hospedagem e comida de todo o TMB disparado, com visual arrebatador das montanhas.
Nessa noite eu e minha mãe decidimos que no próximo dia - o quarto dia do TMB - nós não iríamos caminhar com o resto do grupo. A idéia, dada inicialmente por Pascal, era pegar um ônibus (tem um parada de ônibus bem pertinho do hotel) e seguir para Courmayeur, onde poderiamos descansar e nos encontrar com o resto do grupo às 16h na rodoviária da cidade, de onde pegaríamos outro ônibus (esse já previsto no roteiro) que nos deixaria próximos da nossa hospedagem do dia - o mui agradável Refugio Monte Bianco CAI Uget. Minha panturrilha estava completamente destruida e achei que um descanso mesmo improvisado como esse seria importante para nós; minha mãe, coitada, estava bem cansadinha, e realmente fazia questão desse descanso improvisado - naquela noite Pascal ainda tentou persuadir a gente a fazer o percurso do dia seguinte junto com o resto do grupo, alegando que seria um dia mais fácil que o anterior e com desnivel mais suave, mas isso não nos convenceu, queriamos mesmo descansar.
No café da manhã do dia quatro, um dos colegas de grupo, o Oliver, vendo que a gente estava meio derrubadinha, disse que o dia anterior "tinha sido dificil para todo mundo"; agradeci pela tentativa de melhorar nosso humor, mas não continuei a conversa, ainda estava meio mals pelo dia anterior. Fiquei pensando se o resto do TMB for como o que a gente tinha passado até aquele momento (especialmente aquele terceiro dia), seria dureza terminar, especialmente para minha mãe. Até aquele momento, o restante do grupo praticamente não interagia com a gente (mas falavam bastante entre eles), e eu não sabia se era por que eles realmente não queriam nada conosco, ou se era problema com a lingua mesmo. Com o fim do TMB, pude constatar que eram sim pessoas bacanas, mas com pouca familiaridade com o inglês, de forma que era muito dificil levar qualquer conversa além do ultra básico.
Enquanto o grupo seguia para o estágio do TMB do dia (dia quatro), eu e minha mãe seguiamos uma curta e relaxada caminhada até o ponto de onibus, cercadas por aquelas montanhas maravilhosas e um clima agradável. Pensei como as coisas poderiam ter sido diferentes se tivessemos feito o TMB por conta propria, sem pressa, sem correria, sem ficar constrangidas pelo desempenho ruim em meio a um grupo tão forte, parando quando quisesse, sem fazer esforço fisico absurdo de forma desnecessária... Isso é algo que definitivamente tem que se levar em consideração na escolha entre fazer o TMB dentro de um grupo guiado ou por conta própria. No nosso caso, eu não tinha escolha devido às limitações fisicas e principalmente psicologicas da minha mãe, era fazer o TMB com guia ou não fazer com ela.
Enfim, pegamos o ônibus e quarenta minutos depois estávamos na linda e agradável cidade de Courmayeur, onde muita gente decide tirar um dia off para descanso (mais do que merecido). A cidade é a maior do percurso, e tem bastante estrutura. Comemos, descansamos em banco de praça até a chegada do restante do grupo na rodoviária às 16h, como marcado. À medida que as pessoas foram chegando, eu percebi como foi uma decisão acertada não ter caminhado naquele dia - todo mundo voltou super vermelho de queimadura de sol - o calor castigou nesse dia - e com aparência cansada (pela primeira vez!). Pegamos o ônibus e descemos poucos minutos depois, já fora da cidade, num trecho de estrada. Fizemos a pé uma subida curta na estrada de cerca de 20 minutos até o Refugio Monte Bianco CAI Uget, momento no qual pude perceber como fez diferença aquele breve descanso, já não sentia tanto a panturilha quanto no começo do dia. O refúgio é lindo, cercado por montanhas majestosas, e o clima estava bom para descansar ao sol no pátio, antes de começar a soprar o vento gelado usual. A moral começava a ficar melhor.
Dia cinco do TMB foi o melhor dia de todo o percurso - foi pra isso que eu gastei meu rico dinheirinho; continuando o arrebatador visual do lado italiano do TMB (de longe o mais bonito de todo o percurso, Itália arrasa em tudo, te amo Italia), passamos um dia muitissimo agradável com desnivel manejável; a partir daí acabou o sofrimento, seja porque o caminho parecia mais fácil, seja porque nossos corpos FINALMENTE tinham se acostumado com o ritmo de montanha, não me importo, mas foi a partir do dia cinco que finalmente o TMB fez sentido pra mim. Acho importante fazer essas colocações sobre percepção fisica da trilha porque li muitos relatos e não me lembro de nenhum em que as pessoas tenham colocado de forma explicita como se adaptaram fisicamente, apenas afirmações de forma genérica sobre a dificuldade da trilha. Nesse dia vimos beeeeeem de pertinho um digníssimo ibex, muitas águias, ouvimos uns guichos de marmotas (não consegui ver as danadas, sou meio tabacuda para essas coisas), vimos lindas flores, passamos pelo Lac Combal, ouvimos um monólogo interminável do Pascal em francês do qual apenas consegui identificar as palavras "marmota" e "hibernação" (nessa altura ele já estava de saco cheio de tentar traduzir as coisas para o ingles, e eu de saco cheio de não conseguir entender metade das coisas que ele falava, de forma que apenas aceitava que as coisas eram assim e vida que segue). Gostaria de repetir o dia cinco em loop
Olha o ibex aí geeeennteee!
Visão dos riachos que seguem o Lac Combal
Ainda durante o dia cinco, cruzamos a fronteira da Itália para seguirmos para a França, passando pelo Col de la Seigne, e pernoitamos no único refúgio de montanha tradicional do roteiro, o simpático Refúgio des Mottets, no qual chegamos cedo, de 15h30. O destaque ficou para o jantar, que foi bastante animado devido a uma apresentação musical não usual, com uma caixa de musica antiga que nunca vi na vida (não sei nem dizer se tem nome em portugues, em inglês se chama wind-up music box).
Dia seis do TMB tinha tudo para ser igualmente épico, mas infelizmente foi prejudicado pelo mal tempo, com uma neblina pesada que dificultou a visualização dos cenários, e uma chuva mais chatinha que caiu na primeira metade do dia. Esse foi um dia beemmmm longo de caminhada, com uma descida nível hardcore de 1500m que acabou com os meus joelhos. Nesse dia fizemos a variante dificil, que corta caminho pelo Col des Fours, o ponto mais alto do TMB (junto com o Fenêtre d'Arpette), cuja subida foi bem puxadinha mas breve; depois dela foi descida intensa até o fim do dia.
Estado do Col des Fours quando a gente chegou - dá pra ver que o clima não está bom. P.S. TINHA NEVE!!! PRIMEIRA VEZ QUE VI NEVE DE TÃO PERTINHO
O dia todo foi praticamente sob pesado nevoeiro.
"Pra baixo todo santa ajuda" - a acabar com o joelho, só se for. Uma das intermináveis descidas do dia seis do TMB.
Nesse dia, passamos ainda pelo Col de la Croix du Bonhomme, pelo Col du Bonhomme, e seguimos por uma antiga estrada romana pedregosa em que muita gente deu altas escorregadas com a bunda no chão até o Gîte Le Pontet, em Le Contamines. Foi nesse refúgio em que, no horário do jantar, o grupo se reuniu para fazer uma homenagem mais do que merecida ao Pascal, nosso guia. Não sei exatamente como, mas o povo tinha elaborado durante os dias anteriores um verdadeiro MUSICAL em que narrava as peripécias do nosso grupo pelo TMB e o carinho, dedicação - e os cacoetes - com que o Pascal cuidava do grupo. Todos tiveram sua parte na cantoria, inclusive eu e minha mãe - decoramos umas frases em francês, que cantamos direitinho (orgulho). Pascal teve um cuidado MUITO intenso com minha mãe, muitas vezes a levando pelas mãos nos trechos mais complicados, e os dois, mesmo sem poder se comunicar com palavras, acabaram bem próximos.
Dia sete - ultimo dia do TMB - foi um trecho sem nada de interessante para relatar, feito predominantemente em bosques e que me lembrou a chatisse do dia dois. Mais uma vez fez neblina, mas dessa vez prejudicou pouco porque não tinha mesmo nada pra ver. Li em algum blog que algumas pessoas decidem eliminar esse dia do itinerário e já começar em Le Contamines (quem faz o sentido anti-horário) e tendo feito esse trecho, achei que faz muito sentido. Não sou purista de percurso, então acho que vale a pena passar a régua se for possivel em coisas que não vão te agregar em nada. Fizemos a variante mais fácil, por Le Champel, que passa pelo Col de Voza; a variante dificil, que passa pelo Col de Tricot tem desniveis de 1300m e 1500m de subida/descida. Também teve outra decida filha da puta já no final do dia que acabou de moer com os meus pobres joelhos. Já vi que terei trabalho agora para reabilitá-los e fortalecê-los. Os únicos pontos altos do dia foram: passar pela ponte estilo Himalaia (um dos simbolos mais conhecidos do TMB) e conhecer o lago que fica em frente ao glaciar de Bionnassay.
"Manhê, a gente vai passar pela ponte do Himalaiaaaa!!!!!"
Terminamos o dia ao chegar no teleférico de Prarion, em Le Houches, onde o grupo ainda tirou um tempinho para tomar uma pós TMB. Depois da cerveja, todos se despediram e seguiram seu caminho.
Fotinho do grupo todo reunido no cume do La Dotse <3
Saldo final foi altamente positivo, com sensação de dever cumprido e vontade de voltar um milhão de vezes. Os Alpes são lindos, e existem múltiplas possibilidades de trilhas no local, desde percursos simples de um dia a travessias tão ou mais exigentes quanto, como a que liga Chamonix a Zermatt (Walker's Haute Route), e proporciona a vista de ambos Mont Blanc e Matterhorn. Além de (excelente) preparação física, creio que a resistência mental tbm é um fator importantíssimo nesse tipo de trilha, e pode fazer a diferença entre completar ou não a jornada.
Esse era para ser um breve relato dos meus sete dias e acabou virando isso aqui, paciência pra quem vai ler ^^
Parabéns por essa realização! E principalmente pelo ânimo da sua mãe em participar e você por flexibilizar a viagem para viabilizar para as 2!
Oi Priscila! Nossa gostei bastante do seu relato! Ninguém avisa a gente das dificuldades desse tipo de trekking. Tivemos uma experiência parecida, mas com o peso das mochilas. E a propósito, suas fotos estão incríveis! Esse lugar é mágico. Grande abraço! Marcos e Gabriela (fériascontadas.com)
Oi Marcos, obrigada pelo retorno! O propósito do meu relato foi justamente esse, expor de forma mais explícita as dificuldades (fisicas e psicologicas) de um trekking longo com grandes desníveis. Nunca estive numa situação antes em que duvidasse que poderia terminar um trekking, isso simplesmente nunca me passou pela cabeça em nenhuma trilha que fiz; tbm foi novidade me sentir tão abaixo do rendimento padrão do grupo, e com certeza isso afetou o meu mental. Essa trip mexeu demais comigo, foi muito mais do que "apenas" um trekking. E sim, os Alpes são lindos demais, o que eu acho mais incrivel é a sensação de estar em casa, como se aquilo fizesse parte da minha vida desde sempre; é extremamente dificil eu me sentir confortável em locais estranhos, por isso eu prezo muito essa experiencia que tivemos nos Alpes. Sim, li todo seu relato sobre o Walkers Houte Route e não vejo a hora de vcs postarem o resto, expectativa grande aqui! Um grande abraço!
Excelente o teu relato, Priscila! Estou à tempos planejando fazer o TMB, e lendo teu relato e tb tuas dicas de planejamento me animei... Muito bom vc ter contado das dificuldades e perrengues, assim a gente já vai preparada psicologicamente pra isso... Abração e boas aventuras!!
Olá Priscila, bom dia Que baita relato detalhado e rico em informações. Muito obrigada Somos 5 amigos e estamos planejando a ida para o TMB em setembro/24 e estou inclinada em falar com a cairntrekking conforme tua indicação. Mais alguma orientação que possa me dar para nos ajudar? Obrigada pelo seu tempo
Vixe Amanda, eu só vi seu comentário agora, o Aventurebox não me avisa mais quando comentam os meus relatos. Desculpa, ainda posso te ajudar?
Olá Priscila, muito obrigada pelo seu retorno, baseada nos seus relatos acabamos fechando com a cairntrekking, vamos na última semana de agosto. Estou tentando estar preparada. Foi muito bom ler sua experiência e obrigada pelo gentil retorno Qq sugestão adicional é bem vinda, vamos tentar aproveitar o que o dinheiro permitir na Suiça.