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Peter Tofte 12/09/2018 12:43 com 1 participante
    BARBADO

    BARBADO

    Trilha subindo o Barbado (maior ponto do NE com 2.033 m) com uma galera muito boa e divertida do Bushcraft BAHIA.

    Montanhismo Trekking

    7 de setembro

    Chegamos em Piatã por volta de 8 horas. A cidade com cerca de 20.000 habitantes é a mais alta da Bahia. O altímetro indicava 1.330 metros e fazia um pouco de frio. A van fretada já estava esperando na rodoviária.

    O grupo Bushcraft Bahia organizou esta trip para o feriado de 7 de setembro. Escolhemos subir o Pico do Barbado, 2.033 metros (o mais alto do Nordeste) via Mata dos Frios, ou seja, ascender pelo lado Sul. Um guia de Catolés, o Francisco, mostraria o caminho para os 11 integrantes do grupo: Lucas, Lígia, André, Alexandra, Sergio, Eric, Alex, Junior, Fael, Duca e eu.

    Alguns já conheciam o pico. Esta seria minha terceira vez. No grupo havia até uma pareja que casou no topo do Nordeste (Lígia e Lucas).

    A van nos levou de Piatã para Catolés onde saltamos na caixa d'água do vilarejo, o ponto mais alto onde o veículo podia chegar, e botamos o pé na trilha. Nosso objetivo era subir para o vale do Guarda Mor onde começava um vale lateral, da Mata dos Frios.

    Na partida. Atrás, da esquerda para a direita: Francisco (guia), Alexandra, André, Eric, Alex, Fael, Duca e Sérgio. Agachados, Lígia, Lucas, eu e Júnior.

    Após cerca de uma hora de caminhada chegamos na cachoeira do Guarda Mor, lugar bonito, mas sem muita água (estávamos no mês mais seco). Muitas fotos e um lanche a título de café da manhã.

    Seguimos e alcançamos uma estrada de terra que nos conduziu para algumas casas em sítios no fundo do vale. Área ainda sem especulação imobiliária, só há moradores nativos (ao contrário de Lençois e Capão).

    Quaresmeira em flor (foto do Eric).

    Após passarmos por uma bonita e tradicional moenda de cana (de tração animal) pegamos uma trilha a direita subindo vigorosamente por dentro de uma bonita mata (a Mata dos Frios), num vale estreito que delimita ao Sul o Barbado. Seguíamos a direita (margem verdadeira) de um riacho que desce o vale em direção ao Guarda Mor.

    Passamos pela entrada de uma pequena trilha que levava ao templo dos Imutabilistas, uma seita esotérica que realiza seus encontros e rituais aqui. Estávamos com pressa e não fomos conhecer o local.

    Repondo água.

    Apenas subida até alcançar os 1.700 metros, onde há um divisor de águas. Ali o vale começa a descer e temos outro riacho, o rio do Bicão. Com um pouco de caminhada alcançamos um platô que reconheci como o ponto aonde baixamos na descida do Barbado efetuada em março de 2017 (vide relato "No topo do Nordeste - Pico do Barbado, 2.033 metros").

    Mata dos Frios.

    Cruzamos o rio do Bicão por uma ponte de troncos e galhos caídos e saímos num pasto de braquiária. A trilha passa intercalada entre pastos e matas. Um paredão de pedra cerca o vale a esquerda.

    Por volta de três da tarde chegamos num grande pasto com uma casinha fechada. O rio Bicão já estava maior neste ponto. O gado, pensando que estávamos trazendo sal, correu em nossa direção, o que aumentou a adrenalina de alguns membros do grupo.

    Vaqueiro valente, correndo atrás dos bois ou sendo corrido? Foto do Lucas.

    Logo após uma cerca paramos para montar acampamento, na cachoeira dos Frios, belo lugar com uma boa visão das montanhas a Oeste. Não tinha muita água devido a seca mas o banho no poço superior da cachoeira era legal.

    Vista do poção no topo da cachu.

    Poção superior (foto do Eric)

    Tivemos que nos espalhar porque não havia terreno plano suficiente para acomodar todos juntos. O acampamento ficou dividido entre o Alphaville (tendas - Lucas, Lígia, André, Alexandra, Alex, Fael, Duca, Sergio e Francisco) e o Alphavela (tarpas - eu, Sergio e Junior).

    Eu na Alphavela. Foto do Lucas.

    O banho no rio teve alguns gemidos, mostrando porque o local era conhecido como Cachoeira dos Frios. Belo pôr do sol. O paredão de rocha acima do acampamento ficou com uma coloração laranja.

    Vistaço do acampamento.

    Eu preparei o jantar cedo porque trouxe apenas o fogareiro de gravetos. Depois da janta fizemos uma fogueira comunal onde rolou muita conversa, gargalhadas, vinho rosé, o famoso cravinho do Terreiro de Jesus (mistura bem baiana de aguardente, cravo e extrato de guaraná). Ficamos acocorados junto da fogueira porque um vento frio descia o vale, vindo do Leste. Estávamos a 1.530 metros segundo o altímetro.

    O fogo, sempre hipnotizante. Foto do Eric, de celular!

    Fui dormir cedo porque a noite anterior, num busão, foi desconfortável. Alguns ficaram conversando mais um pouco.

    Durante a noite o termômetro caiu para 14ºC. Devido ao vento, que não deu trégua, com o chilling factor a sensação térmica deve ter ficado entre 10 a 12º C. Senti frio, não deveria ter dispensado o saco de dormir. Levei apenas o saco de bivaque, um liner e roupas agasalhadas.

    8 de setembro

    O pessoal estava de pé em torno de 6 horas. Deveríamos deixar o acampamento por volta de 9 horas. A caneca com o famoso café de Piatã (um dos melhores do Brasil), corria de mão em mão.

    Amanhecer.

    Mochila nas costas, começamos a subir, seguindo a trilha em sentido contrário ao de ontem. O ponto para subir o Barbado havia ficado para trás no dia anterior. Ontem avançamos para nosso local de acampada porque era o melhor ponto (cachoeira e um visual incrível).

    Após meia hora chegamos no ponto e pegamos um pequeno vale lateral por onde descia um pequeno riacho. Subimos por cerca de duas horas este vale até um ponto de descanso, a Lapa Grande, local excelente para bivacar, normalmente usado por caçadores.

    Lapa Grande

    Enquanto comíamos, André botou em ação o seu drone, mas o vento forte atrapalhou, ocasionando algumas colisões. Era uma correria e risadas na hora que o aparato voador ameaçava bater em alguém. O legal seria usá-lo no topo do Barbado mas o vento forte provavelmente o impediria de voar (e não deu outra).

    Após o lanche partimos e cinco minutos depois deixávamos o vale, com uma pequena escalaminhada. Duca perdeu o pé e caiu para trás, mas a vegetação amorteceu a queda e o segurou. Ficou caído, inclinado para baixo, sem conseguir se erguer. Teve que soltar a mochila para conseguir levantar. Após o susto o restante do grupo passou com respeito por aquela subida, sem outro incidente.

    Dali fomos para um pequeno platô de onde tivemos a majestosa visão do paredão Sudoeste do Barbado. Andamos por uma trilha bem apagada até chegarmos num platô que reconheci como o local de acampamento quando descemos do Barbado em março de 2017. Naquela ocasião descemos por um caminho bem diferente e difícil em relação ao que agora subíamos. A vantagem do guia é que não precisamos explorar e procurar por um caminho (route finding). Vamos direto pelo mais fácil. Mas ao meu ver é menos divertido.

    Júnior no platô. O cume do Barbado aparece a esquerda, bem trás da formação rochosa ao centro.

    Parada para descanso e foto.

    Francisco pegou então um vale estreito subindo para um selado, rumo Norte.

    Na descida, ano passado, fomos pela esquerda deste vale, rota também bem mais difícil. Havia água, onde reabastecemos. No selado fizemos um lanche, passava pouco de meio dia.

    Vale estreito. O Itobira ao fundo.

    Para sair do selado rumo Noroeste (direção do cume) fizemos uma pequena subida com alguma escalaminhada e chegamos logo no extenso platô da parte superior do Barbado. Ali bastou mais meia hora para estarmos no topo, assinalado por um marco geodésico do IBGE, datado de 1967.

    Apontava algo quando o Júnior tirou esta foto.

    Vista desimpedida, céu claro. O Pico das Almas e o Itobira (2ª e 3ª montanhas mais altas do NE) nos quadrantes Sudeste e Sul, respectivamente. A Leste a Serra da Tromba e mais atrás desta os Gerais de Mucugê e a Serra do Sincorá (Parque Nacional da Chapada Diamantina).

    Itobira ao Sul, destacado ao centro desta foto do Eric.

    Vista para Oeste (Serra da Tromba). Bem ao fundo, na linha do horizonte, a Serra do Sincorá, na altura de Ibicoara.

    Lígia, Lucas e Francisco desceram para uma toca no lado Oeste, perto do cume, abrigados do vento, onde prepararam um café, o café mais alto do Nordeste. A maioria preferiu ficar no topo, tirando fotos, descansando e lanchando. Fael posou no cume com a bandeira do Esporte Clube Bahia. O comentário geral foi que só assim o clube conseguia chegar no topo.

    Galera descansando. A pedra atrás de mim (de verde) é o ponto mais alto do Barbado.

    Após uma hora no teto do Nordeste, tiramos as tradicionais fotos do cume.

    Cume! O Itobira aparece proeminente a direita. Lucas não aparece porque ele tirou a foto. Até o Homem Aranha apareceu para prestigiar o feito!

    Iniciamos a descida, para o lado Leste, rumo a Forquilha da Serra, entre o Barbado e o Elefante. Esta é a rota normal utilizada para subir e descer a montanha.

    Descida íngreme, forçando os joelhos, merecedora de atenção. Como o caminho é mais utilizado, totens de pedra e desgaste nas rochas indicavam tranqüilamente a rota a seguir.

    Descendo para a Forquilha da Serra. O Elefante aparece ao fundo.

    O Francisco, nosso guia, conversava e contou que fazia 12 anos que era vegetariano e que há um ano praticava o frugivorismo. Durante toda a trilha carregou um saco plástico apenas com frutas. Fiquei impressionado. Ele pratica corrida de montanha e estava em excelente forma. Não imaginava que uma dieta assim conseguia manter alguém, diante do esforço físico exigido por trilhas em montanhas e o grande consumo de calorias (+4.000 calorias/dia).

    Chegamos na Forquilha da Serra com 40 minutos. O córrego que nasce e cai para o lado Noroeste estava seco. Não daria para acampar ali. Descemos o selado rumo a casa do seu José, sítio com água garantida, passando por uma bela mata e pisando num calçamento de pedras bem antigo, do caminho do ouro que ligava Jacobina a Rio de Contas.

    Quatro da tarde estávamos no terreiro em frente da casa do seu José. Soubemos que agora pertencia ao seu Neuzinho. Seu José, de idade avançada, não tinha mais condições de morar lá e vendeu a terra. De fato, em março de 2017 encontramos ele descendo a serra com o filho, porque havia passado mal. O conhecia desde a primeira vez que estive no Barbado, em 2007.

    O sítio estava cheio de pés com laranjas e limões rosa maduros. O cafezal estava bem grande mas não era época de café. Armamos os abrigos. Dividi minha tarpa novamente com o Júnior. Sergio resolveu ser purista no seu bivaque. Não armou o toldo e dormiu com um teto de estrelas.

    O banho foi de panela. Pegamos água numa torneira que trazia água por gravidade de um córrego montanha acima.

    Jantar tranqüilo, noite estrelada e fria. Senti frio outra vez. Acho que também jantei calorias de menos e assim o corpo esfriou mais rápido pela madrugada.

    9 de setembro

    Demorei para acordar. A faina do café já estava rolando há algum tempo. O novo dono do sítio apareceu com a filha e o neto. Iria levá-los para o cume do Barbado. Deve ter tido uma surpresa quando chegou e se deparou com aquela quantidade de tendas armadas em frente a sua casinha. Mas ele foi muito amigável e puxou conversa com o pessoal. Numa pilha, bem na frente dele, a prova do crime: dúzias de cascas de laranja, que foram devoradas pela galera.

    Ele levou parte do pessoal para conhecer um poço no córrego onde captava água, suficiente para uma pessoa se banhar.

    André botou o drone para sobrevoar o sítio mostrando nosso acampamento. Desta vez não ameaçou escalpelar ninguém.

    Acabamos de desarmar o acampamento e seguimos para Catolés de Cima, onde a mesma van viria nos resgatar as 13 horas.

    Prontos para partir.

    Levou menos de um hora para alcançarmos o terreiro do Seu Raimundo e sentarmos num barzinho, mandando descer umas cervejas bem geladas.

    A van parou em Catolés para comermos na casa de D. Selma. Comida boa, farta e barata, com direito a uma cachacinha de entrada, um suco delicioso de maracujá selvagem e wifi. Ainda permitiu que tomássemos banho num banheiro coletivo para hóspedes. Simpatia só.

    Chegamos em Catolés antes das 16:30. Nosso ônibus seria as 17:30. Chegou com atraso e quebrou pouco depois de partirmos de Piatã. Chegamos em Salvador com 5 horas de atraso. A Novo Horizonte confirmando que é uma péssima empresa de transporte intermunicipal.

    Mas a trilha em si foi excelente, com uma galera muito legal, divertida e boa de trilha!

    Nosso agradecimento ao grande guia! Ao fundo a Pedra da Baleia, no platô superior do Barbado.

    As fotos aqui postadas foram cedidas gentilmente pelo grupo.

    Recomendações & Infos

    O Francisco é excelente guia. Contato (71) 99405-6389 ou chicorollo@hotmail.com.

    A Selma, em Catolés, além do restaurante tem quartos. Não tenho o telefone mas é só perguntar na vila.

    Melhor época, o inverno, época seca, com menos nuvens no topo do Barbado (para ter uma vista livre 360º).

    Viação Novo Horizonte faz a linha Salvador - Piatã. Também faz São Paulo - Piatã. Mas não é uma empresa boa.

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 12/09/2018 12:43

    Realizada de 07/09/2018 até 09/09/2018

    1 Participante

    Lucas Andrade

    Visualizações

    2766

    4 Comentários
    Fael Fepi 12/09/2018 21:29

    Massa Peter. Foi um prazer está com essa galera. Fico muito grato pela oportunidade. Que venha próximas caminhadas.

    Lucas Andrade 13/09/2018 07:15

    Verdade, uma trilha com muita gente boa e valente!🏅💪🏻🙏🏻🍀👍🏻

    Diego Morais 31/01/2021 07:56

    Ótimo relato, estou me baseando pra subir o barbado próximo mês.

    Peter Tofte 31/01/2021 15:24

    Obrigado. Vale a pena Diego! E subir por Catolés de Cima não é dificil. E tem tambem a opção via Mata dos Frios.

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    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
    3829

    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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