Parque Nacional Hornopirén
Três dias neste bonito parque pouco visitado. Uma das razões é a trilha de acesso de 7 km um tanto perrengosa.
Trekking Mountaineering CampingAo chegarmos de Cerro Castillo (ver relato) na rodoviária de Puerto Montt, mal saindo do desembarque nos encontramos com o casal de amigos Cristina Macedo e Fabio Dal Gallo, que vieram de SP para trilhar conosco. Fomos rapidamente ao guichê da empresa Navegadores e compramos as passagens para Hornopirén no bus de 13:30, dando tempo assim para almoçar.
Após quatro horas de viagem (que incluia uma travessia de ferry boat) chegarmos na simpática cidade. Eu e Cris fomos buscar uma hospedagem, enquanto Fabio e Lucia cuidavam das mochilas na pequena rodoviária. Achamos uma cabaña para quatro com cozinha, pertinho da rodoviária. Uma cabaña para um grupo maior sai mais vantajoso: 50.000 pesos pelos quatro. Eu e Lucia pagávamos isto geralmente numa habitacíon matrimonial num hostal. O dono era bem solícito e gentil.
Muitas cabañas e hostais na cidadezinha. Mas alguns estavam fechados porque não era mais alta estação.
Saimos para compras no supermercado e no final da tarde passeamos um pouco pela cidade e sua orla marítima.
Orla marítima. Cris achou que estava diante de um lago devido as montanhas circundantes.
De lá fomos para um restaurante onde comemos Fish and Chips com um chopp artesanal.
Tivemos uma noite divertida.
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Na manhã seguinte conseguimos um fletero para nos levar até o início do sendero que vai até o parque nacional (10.000 pesos). Carrinho pequeno mas coube o quarteto fantástico e suas mochilas. Por volta das 11 horas fizemos o registro na caseta de controle da Conaf. A entrada é gratuita porque não há concessão neste parque.
Foto oficial no início da caminhada. Para alcançar o parque teríamos que andar 7 km por uma trilha em terras privadas até sua entrada.
A trilha começava bem, atravessando um belo rio numa ponte pênsil, seguida de troncos dispostos no chão e passarelas para evitar a lama.
Mas a alegria logo acabou. Tinhamos que constantemente pegar desvios ao lado da trilha para não afundar os pés na lama. Estes desvios eram em meio ao matorral. Isto diminuia muito o ritmo.
O sendero segue direto por área sombreada de floresta. Aquele lameiral deve levar muito tempo para secar. Não sabe o que é uma rara "floresta temperada pluvial"? Visite o PN Hornopirén!
Muita lama!
Algumas poucas escadas ajudaram bastante nesta subida de 7 km até a entrada do parque. Basicamente só subida. Algumas ladeiras de terra estavam bem escorregadias.
E haja lama!
Vimos duendes em sua casa no tronco de uma árvore. Eles existem nesta bonita floresta encantada!
A trilha passa quase só por floresta. Apenas passamos por duas pequenas áreas de pastagem.
Pequena clareira com pastagem.
Alguns troncos caídos na trilha, enormes, obrigavam a pegarmos desvios.
Ritmo lento. A trilha não era fácil e estava bem enlameada. Percorremos os 7 km e resolvemos acampar justo na entrada oficial do parque porque chegaríamos no escuro no lago Pinto e Concha (que seria nosso destino) 4 km adiante. Praticamente não há áreas que se prestam para acampar no caminho, devido a floresta e ao terreno acidentado.
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Dia seguinte levantamos cedo. Lucia, enquanto calçava as botas, com pés para fora da tenda, viu de relance um vulto passando. Achou que era gente. Porém pouco provável, considerando o horário da manhã.
Seguimos e a trilha continuava subindo, agora com aclive menor, por um lindo bosque de alerces. O tronco reto com galhos e copas bem no alto da árvore são bem característicos. É a árvore símbolo do Chile.
Grupo compacto de alerces.
Llovizna chata nos acompanhou até o lago Pinto e Concha onde fica a casa dos guardaparques (fechada) e um refúgio em mal estado.
Fomos para a área de camping onde escolhemos lugar para as tendas a vontade.
Eramos os únicos ali. Este parque não é muito frequentado porque os 7 km iniciais desestimulam muito os visitantes, embora o lugar seja muito bonito.
A chuva e o frio tem o seu charme. Lago Pinto e Concha, com sua praia de areia e pedras vulcânicas.
Friozinho bom!
Fomos para uma cozinha coberta, que os chilenos chamam de quincho, também em mal estado. Haviam também mesas e bancos cobertos no camping mas o telhadinho coberto era pequeno e a chuva batia.
O frio e a llovizna não abalaram o bom humor neste lugar lindo.
Ficamos papeando, bebendo e comendo. Trouxemos vinho e pisco que compramos no supermercado da cidade.
Quando estiou fomos para o lago tirar fotos. No verão, em dias ensolarados, o pessoal acampa ali na extensa praia lacustre.
Com aquele tempo nublado e chuvoso não dava para subir ao mirante do vulcão Yates. Ficaria para o dia seguinte.
Fomos dormir cedo.
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Dia amanheceu lindo. Coisas da Patagônia!
Eu, Cris e Fabio decidimos subir até o vulcão. Lucia preferiu ficar no acampamento. A placa indicava 4 horas de caminhada.
A trilha começa puxada pelo bosque, para depois de uma hora sair da linha das árvores e entrar em terreno vulcânico. Fabio me mostrou uma pedra levíssima, considerando seu tamanho. Ela estava cheia de bolhas de ar, aprisionadas no último processo eruptivo que a formou.
Quase saindo da linha das árvores.
Pircas e marcas amarelas mostravam o caminho. A trilha em zigzag não tinha trechos muito íngremes. Passamos por uma pequena cratera secundária sem atividade.
Pedi para seguirem em frente pois precisava fazer o número 2. Ao terminar, cadê o papel na minha pequena mochila? Teve que ser com musgo e água do Platyplus. Bem ecológico...
Chegamos no mirante com hora e meia de esforço. Não era o cume, que ficava mais afastado, sobressaindo de uma grande geleira da qual podíamos ver algumas gretas. O cume do vulcão Yates por este lado é uma ascensão técnica, haviam algumas geleiras cuja progressão segura exigia piolet e crampons. Bom lugarzinho para acampar num treinamento de alta montanha. Água, só derretendo gelo.
Lá embaixo o bonito lago Pinto e Concha.
Dava para ver a cidadezinha de Hornopirén a Oeste, a beira do mar (centro, ao fundo, logo atrás de mim). Foto da Cris.
Cris e Fabio tirando fotos para divulgação dos malabares.
Depois do lanche iniciamos a descida. Chegamos no acampamento cerca de 14:30. Lucia já havia desarmado nossa barraca e colocado as coisas para secar. Comemos algo. Cris e Fabio rapidamente desarmaram a deles. A ideia era avançar os 4 km até a entrada do parque e lá acampar outra vez no que restava do dia, ficando os 7 km até a estrada para o dia seguinte, o que permitiria chegarmos para almoço na entrada do parque (havia um pequeno restaurante lá).
descemos admirando outra vez a floresta.
O acampamento na entrada do parque foi outra vez tranquilo.
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Dia seguinte baixamos até a portaria Conaf (estrada). Mas a lama continuava. Este não é um lugar bom para calçados não impermeáveis. Eu uso tênis de trilha auto drenantes. Mas demoram muito para secar num ambiente destes.
Cris e Fabio foram na frente. Almoçaram e combinaram com um fletero para subir e nos pegar as 16 horas. Deu tempo de sobra para eu e Lucia chegarmos e almoçarmos. Bebemos todos um bom vinho da casa em copos comuns. Difícil é achar um vinho ruim no Chile. Fabio comparou o vinho com aquele que os pais dele produzem nas Dolomitas, na Itália.
O fletero era motorista nas horas vagas e fotógrafo especializado em festivais de música eletrônica. Na conversa com ele, Cris e Fabio descobriram que já frequentaram alguns festivais em comum pelo mundo (eles fazem malabarismo de fogo nestes eventos, o Taturana Circus). Muito simpático, ele fez um desvio para nos mostrar a bonita natureza da região, antes de nos levar a Hornopirén.
Belíssimo rio.
Voltamos a mesma cabaña em Hornopirén onde passamos mais uma noite. Decidimos no dia seguinte voltar para Puerto Montt e subir para o Norte, para Chillán, porque o prognóstico ainda indicava tempo fechado no Sul da Região de Los Lagos, onde estávamos. Pulamos Cochamó, nosso planejamento inicial (Cochamó, o Yosemite chileno, é um vale lindíssimo mas com nuvens baixas ia tirar as magníficas vistas).
Queria voltar ao Valle das Águas Calientes, nas Termas de Chillán, lugar que visitei ano passado com Lúcia e adorei (vide "Andanças pelo Chile 4"). Desejava mostrar aos amigos que o Chile não é apenas frio e chuva. Fica para o próximo relato.
Ultima foto tomada por Cris, antes de embarcarmos no bus e sairmos da cidade.































Belo relato e fotos lindissimas! Patagônia tá no meu radar há anos, que lugar especial!!!
Vale muito a pena Marcelo!
Trekking maravilhoso. Também digo que vale a pena de mais!!!