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Parque Nacional Pumalín - Douglas Tompkins
Viagem maravilhosa pelo começo da Carretera Austral e três noites no PN Pumalín, belo legado do Douglas Tompkins.
Trekking MountaineeringTerça de Carnaval, 04/03/2025. Pegamos um ônibus saindo cedo de Puerto Montt rumo a Chaitén, para visitarmos o Parque Nacional Pumalín - Douglas Tompkins. Saltamos em Caleta Gonzalo, após 6 horas de viagem e três ferry boats.
Um dos ferries.
Este trecho inicial da Carretera Austral é tão acidentado que não há condição de uma estrada seguir de forma ininterrupta por esta área. É onde as montanhas dos Andes encontram o Oceano Pacífico, formando uma série de enseadas e fiordes. Montanhas a pique margeiam estes canais. Os Andes, desde a Colômbia, nunca antes encostaram no mar.
Em um destes ferries (bem confortáveis e limpos), saindo de Hornopirén, a travessia levou cerca de 3 horas. Chuva e vento acompanharam a navegação. Cascatas caiam no mar descendo do alto das montanhas. Imagens maravilhosas. Se me mostrassem apenas um vídeo sem dizer onde era, diria ser um fiorde norueguês.
Chegamos em Caleta Gonzalo no meio da tarde (considerando que só escurece 20:30) com o tempo bem melhor, o sol deu as caras.
Caleta Gonzalo. Casa da CONAF a direita.
Fizemos um lanche no restaurante e pagamos a noite de camping à concessionária que explora aquele setor do Parque Pumalin.
Após cruzarmos o Estero (rio) Gonzalo numa ponte pênsil entramos no lindo camping.
Bem cuidado, com locais abrigados para fazer comida e mesas. Mas nenhum banheiro com ducha quente. E a concessionária mete a faca: cobraram 28 mil pesos (cerca de US$ 30) por uma diária no camping.
Nosso cafofo.
Tem também um alojamento, com quartos individuais e coletivos. Um grupo de cinco ciclistas argentinos teve que se alojar lá pois não tinham tendas. Se queixaram do preço: 180 dólares a diária do grupo. Em meio a uma grande horta orgânica uma bonita casa de madeira. Creio que ali viveu Douglas Tompkins, fundador das empresas TNF e Patagonia e, posteriormente, criador do parque Pumalín (entre outros parques).
Alojamento e horta orgânica.
Estero Gonzalo logo antes de desembocar no fiordo Largo.
Na manhã seguinte acordamos sem pressa. A trilha principal havia sido fechada pela CONAF devido as chuvas (ficou muito resbalosa segundo o guardaparque) só restando uma pequena trilha bate-e-volta de duas horas que percorri.
Pequena trilha.
Deste modo decidimos pegar o ônibus de 14 horas para Chaiten (a mesma linha que ontem usamos – só há um busão diário).
Pegamos o ônibus. Notamos que há uma sincronia do horário deste com os ferries. Transitamos maravilhados por uma área linda, bem montanhosa e cercada de florestas virgens, cruzando por dentro do parque Pumalín numa estrada de rípio (há vários trechos ainda não asfaltados da Carretera Austral). Lucia olhou pela janela e viu três jovens doidos tomando banho numa cascata ao lado da estrada. Felizes dentro daquela água gelada.
Neste trecho há outra área de camping, Cascatas Escondidas, que não visitamos. Esta é a grande vantagem de ter um veículo na Carretera Austral: pode parar aonde quiser.
Com mais duas ou três horas chegamos a Chaitén. Numa oficina de informaciones peguei dicas de hostales perto do pequeno terminal de ônibus.
Ficamos bem alojados pertinho do terminal (55.000 pesos). Conhecemos Augustín, chileno, hospedado no mesmo lugar, que também queria conhecer o Parque Pumalín Sector Amarillo.
Dia seguinte, novo ônibus, desta vez para um trajeto de apenas uma hora de duração até a entrada do Sector Amarillo. Saltamos os três do ônibus. Na caseta da Conaf, na entrada, estava uma placa “Cerrado” pendurada, com o horário de almoço deles.
Decidimos entrar no parque caso contrário teríamos de esperar uma ou duas horas pela volta do almoço do guardaparque. Estranhamos, pois a estrada de terra na entrada estava também fechada por correntes, impedindo o acesso de veículos. Uma placa na corrente também dizia cerrado.
Supus que era por causa do horário de almoço, suposição otimista pois já conheço a CONAF de outras viagens: por qualquer coisa fecham trilhas e parques.
Acreditava que no Camping Grande encontraríamos pessoal da CONAF e ali poderíamos fazer o registro de entrada,
Percorremos os cerca de 5 km pela estrada de terra em meio a bosques e gramados lindos, mas caindo uma llovizna chata. Sem nenhuma carona porque o parque estava fechado para veículos.
Depois de um bosque denso chegamos numa área gramada muito bonita. Era o Camping Grande. Decidimos ficar ali e não ir neste dia ao Camping Ventisqueiro, mais adiante.
Vimos pessoas acampadas dentro dos abrigos e diante do banheiro encontramos um chileno que disse que a CONAF havia fechado o parque devido as chuvas, permitindo que eles ficassem ali no Camping Grande pois mal haviam chegado quando houve a decisão de fechar. Tivemos sorte pois a caseta de controle na entrada estava fechada. Se houvesse alguém teria nos informado e impedido nossa entrada.
O chileno também avisou que o Camping Ventisqueiro, duas a três horas de distância dali, estava fechado. Impossível chegar lá porque o rio ficou muito caudaloso pelas chuvas (é necessário vadeá-lo, não há ponte). E a trilha, eles percorreram um pequeno trecho, estava com água no meio da canela.
Também disse que não teríamos que pagar nada de entrada pois era baixa estação. Observamos que quando a área não estava concedida a alguma concessionária é bem mais barato ou não se cobra entrada.
Não havia guardaparques no local. Costumo dizer que os guardaparques da CONAF preferem uma oficina calentita a um bosque frio e chuvoso.
Decidimos acampar nos quiosques devido as chuvas finas intermitentes. Cada quiosque (abrigo) comportava uma mesa, dois bancos e espaço para montar a barraca. Delícia ter um lugar assim num tempo chuvoso. Augustín escolheu um próximo ao nosso. Havia cerca de 5 abrigos. Se o parque estivesse aberto, provavelmente não acharíamos algum vago.
Nosso hotel 5 estrelas.
Tratamos de montar as barracas. Embora o gramado fosse lindo, com chuva seria muito menos confortável.
Tomamos uma ducha fria nos banheiros. Estava até gostando da água gelada e desenvolvi uma técnica: primeiro meter a cabeça na água gelada, depois o resto do corpo. Na hora de ensaboar, apenas cabelo, axilas, pés e “área de serviço” (como dermatologicamente recomendado). Assim o enxague seria rápido. Depois ainda conto trinta segundos debaixo da ducha fria antes de fechar a água. Impressionante como revitaliza e previne gripes. Apenas o choque inicial não é muito agradável...
Os banheiros, digno de nota, são limpos.
Preparamos a janta junto com Augustín que desceu para nosso abrigo. Ele usou um sistema interessante da DAFF chilena. A comida da DAFF, encontrada nas lojas outdoor chilenas, vem num pacote plástico/aluminizado. Não é desidratada, mas é deliciosa. Ele comprou o sistema de aquecimento deles: um pouch com um produto químico onde se adiciona água até uma marca e começa uma reação química que aquece o pacote plástico da comida que é inserido dentro do pouch. Em 10 minutos está pronta. Presenciamos muito vapor saindo do pouch, reação poderosa! Para uma ou duas noites de trekking acredito que o peso do sistema é vantajoso. Estes produtos da DAFF são os adotados pelo exército chileno.
Eu já provei várias comidas da DAFF, todas muito boas. Apesar de ter trazido liofilizada do Brasil eu comprei também um Teriaki de Salmão deles. Cerca de 4.500 pesos cada.
Lucia no restaurante.
Após a janta e a conversa fomos cada qual para seu cafofo. Noite confortável.
Final de tarde.
Dia seguinte amanheceu também nublado e chuvoso. Eu e Augustín decidimos ir ao mirante do Ventisqueiro por uma trilha que começava na estrada 1 km abaixo de onde estávamos. Lucia preferiu ficar no quentinho tomando conta da tenda.
O sendero entra por um bosque bonito com ascensão lenta até chegarmos no pé de uma montanha e ali começa uma subida bem mais íngreme de cerca de uma hora. Isto debaixo de llovizna e de lluvia.
Quando finalmente chegamos aos mirantes, cadê a vista? Tudo nublado, nada do ventisqueiro (geleira). Descansamos um pouco e descemos pelo outro lado (a trilha é circular). Esta descida é mais curta.
Augustín com capa amarela. Mas cadê a vista?
Chegamos no acampamento após 3 horas fora. Vimos diversos carros chegando. A CONAF havia decidido reabrir o Sector Amarillo.
Resolvemos almoçar algo quente e deixar o lanche para a noite.
Pela tarde percorri sozinho a trilha “Ranita de Darwin” com um percurso de 2 horas de duração. A Ranita (rã) é espécie endêmica e se assemelha a uma folha caída no chão. Tão bem camuflada que é mais fácil ganhar na loteria que enxergar uma.
Na minha ausência a Lúcia me disse que chegou um casal de mochileiros e o rapaz ficou olhando para nosso abrigo com olhar triste. Não havia mais abrigos disponíveis. Lucia fez cara de paisagem diante do olhar pidão do moço. Não havia como botar duas tendas debaixo daquele telhado. Eles teriam de montar a barraca no gramado
Felizmente o tempo melhorou no final do dia.
Dia seguinte, bem ensolarado. Augustín saiu mais cedo, iria mais ao sul, para o PN Queulat, onde fica o famoso ventisqueiro colgante (geleira pendurada). Resolvemos não visitar este parque porque soubemos que a trilha mirante do ventisqueiro estava fechada para manutenção, tirando o maior atrativo do parque.
Ao chegarmos perto da entrada do parque olhamos para trás e tivemos a visão linda do ventisqueiro, negada pela chuva e nuvens nos dois dias anteriores.
Voltamos para Chaitén numa “carona paga”. Pensávamos ser uma carona free mas ao ver outro passageiro carona do carro oferecer uma soma à condutora ao saltar, aprendemos que é prática comum aqui oferecerem uma carona, mas esperando uma retribuição (gorjeta), isto entre as pessoas mais humildes.
Voltamos ao mesmo hostal e saímos para um restaurante, tudo na mesma orla marítima de Chaitén. Comi uma paila de mariscos deliciosa, mas alguns dos moluscos se recusavam a abrir a concha facilmente. Quase pedia um pé de cabra ao garçom.
E a cerveja artesanal desceu muito bem. As cervejas da Patagônia são muito boas. Nada de baixa qualidade como as cervejas da Ambev.
Após, visita ao supermercado para repor alguns itens. Chegando no hostal, sentamo-nos ao lado da salamandra (forno de aquecimento a lenha) e botamos itens molhados para secar. A dona, muito simpática e prestativa, colocou parte das roupas, que lavamos na pia do banheiro, numa máquina secadora em sua área de serviço.
Voltamos a sentar diante da salamandra para beber um vinho e acessar a internet.
Dia seguinte pegamos o busão de 11 horas para Coihaique, 8 horas de distância dali.
Definitivamente a Carretera Austral é uma das estradas mais cênicas do mundo! Neste outro trajeto, rios, lagos, geleiras, montanhas e fiordes, todos sensacionais, visíveis para quem a percorre. Vale muito segui-la, seja de ônibus, carro, moto ou bike. E muita gente de motor home. A estrada, em si, já vale a viagem. O sul da região de Los Lagos (abaixo de Puerto Montt) e a região de Aysén são as mais belas do Chile.
Nosso objetivo, ao descer mais para o sul, era fazer a travessia las Horquetas no PN Cerro Castillo. Fiz esta travessia nove anos atrás (ver relato "Cerro Castillo, Aysén, Chile - Patagônia" de 2016) e queria que Lucia conhecesse este que considero um dos mais belos parques da Patagônia, com uma world class trail (las Horquetas).
Chegamos de noite em Coihaique. Na verdade, a viagem de ônibus durou 9 horas porque o motorista, um velhinho cauteloso, não dirigia rápido, e em alguns trechos montanhosos a estrada era de rípio e cheio de curvas.
Chuva e tarde (21 horas) de um domingo, não havia taxi na rodoviária, mais afastada do centro da cidade. Fomos num pequeno hostal próximo, que ficava pertinho (vi no Google Maps), Muito simples, sem banheiro privativo, 40.000 pesos. Mas não havia opção. Tivemos sorte de encontrar vaga.
Dormimos após fazer um lanche com o que dispúnhamos. Não havia restaurantes abertos por perto.
Dia seguinte fomos bem cedo a rodoviária para pegarmos ônibus para las Horquetas. Havia lugar no pequeno bus para a vila Engº Ibañez, que não chega na vila de Cerro Castillo mas passa por las Horquetas, onde inicia o trekking.
Este sendero merece um relato por si só, que publicarei em seguida.
Rapaz, Peter, que relato rico! Fiquei com vontade de conhecer ao me sentir transportado para amo sendero! Parabéns pelo relato! Depois conversarei contigo para pegar as dicas! Abç!